segunda-feira, 27 de julho de 2015

Dica cinematográfica: "Himizu" (2011)

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"Himizu" é um filem dirigido por Sion Sono de 2011. Li em algum lugar que trata-se da adaptação de um mangá de mesmo nome, mas como não li o mangá, não irei fazer comparações e resenharei apenas o filme, independente de ser uma adaptação fiel, ruim ou não. De qualquer forma, ao contrário do resto da filmografia do diretor, este é um dramalhão sincero e tocante, com uma mensagem metalinguística arrepiantemente inspiradora.

O filme conta a história de Sumida Yuichi, um garoto normal que não tem expectativa nenhuma para o seu futuro, além de tocar o negócio da família, uma "empresa" de aluguel de barcos, que é, na verdade, uma casinha com alguns barcos a disposição na beirada do lago da cidade onde mora. Sua mãe sempre chega em casa com algum homem diferente e seu pai só volta para casa para pedir dinheiro emprestado ao garoto. Keiko Chazawa estuda na mesma classe que Sumida e é apaixonada por ele. Tentando se aproximar do garoto, descobre que a mãe dele sumiu com um homem levando todo o seu dinheiro e um mafioso aparece atrás do pai de Sumida, cobrando uma dívida de seis milhões de ienes. Aos poucos, Sumida começa a mudar, mesmo com o apoio de seus amigos perdedores (um grupo de desalojados que moram em cabanas no quintal da casa de Sumida) e Keiko, caminhando cada vez para um destino trágico.

Num primeiro momento, o dramalhão gera um estranhamento no espectador acostumado com as pirações de Sion Sono, no entanto, todos os elementos de seus filmes estão ali. O enquadramento e o arranjo do cenário perfeccionistas, a distribuição de tempo de filme para os diversos personagens, dando tempo de explorar a personalidade de cada um e, é claro, os elementos absurdos que dão um característico humor negro a toda a película. Sendo assim, apesar de ser um dramalhão bem longo (são mais de duas horas), o filme não cansa e há surpresas a todo momento.

A mensagem metalinguística do final é mais facilmente compreendida quando se conhece a história por trás das filmagens. O projeto de adaptar o mangá (que, pelo que li, conta com um cenário pós-apocalíptico) estava na cabeça de Sion Sono por muito tempo, mas ele parecia não encontrar motivos para prosseguir com o projeto (problemas criativos, além de financeiros, já que o filme teria que contar com um alto orçamento). No entanto, quando terremotos destruíram a costa do Japão em 2011, ele encontrou não só o motivo, como o cenário ideal para filmar "Himizu".

Ao final, Sion Sono não apresenta uma belíssima mensagem de superação e motivação, de forma tocante e genial, sendo capaz de tirar algumas lágrimas de almas mais sensíveis.

5 pontos

domingo, 26 de julho de 2015

Dica cinematográfica: "Why Don't You Play In Hell" (2013)

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Mais um filme do meu diretor favorito de todos os tempos, Sion Sono, dá o ar da graça no blog e esse filme é ao mesmo tempo uma paródia, uma homenagem e uma crítica ao cinema de vanguarda, o cinema japonês e todas as suas influências.

Há uma guerra rolando na história de "Why don't you play in Hell?", mas essa guerra entre yakuzas não impede que os Fuck Bombers, um grupo de cineastas juvenis de vanguarda de produzir a sua obra prima que entrará para a história do cinema (mesmo que essa ideia não tenha saído da mente do líder do grupo em 10 anos). 10 anos atrás, um sub-chefão yakuza chamado Muto liderou uma invasão a casa de seu inimigo, Ikegami, apaixonando-se platonicamente pela sua filha, Mitsuko, uma aspirante a atriz. Após vingar-se, a esposa de Ikegami foi presa e 10 anos depois, tudo o que o líder yakuza deseja é produzir um filme, em que sua filha seja a atriz principal, para apresentar à sua esposa, no dia em que for libertada. Após uma série de eventos extremamente suspeitos, os Fuck Bombers se preparam para gravar a batalha sangrenta final entre duas gangues yakuzas em fenomenais 35 mm.

De acordo com Sion Sono, é um filme cheio de similaridades com Kill Bill (e de fato há alguns pontos em comum aqui), mas toda a estrutura lembra os filmes independentes produzidos nos anos 90, como "Sexo, mentiras e videotape", "Pulp Ficiton" e "Jovens, loucos e rebeldes", mas indo além, criando uma espécie de metalinguagem, onde as filmagens feitas pelos Fuck Bombers se confundem com a realidade do filme e alguns elementos, que não estão na tela à toa.

Fora isso, é um filme que, apesar de longo, e apresentar uma história cheia de ramificações que se misturam e se completam, não perde o ritmo e nem perde o espectador, que em nenhum momento fica confuso. Muito pelo contrário, o filme até engana o espectador, jogando, vez ou outra, um elemento clichê, fazendo o espectador imaginar o que virá a seguir, mas apresenta um resultado completamente diferente do esperado.

Não há muito o que se discutir do andamento do filme, qualquer ponto contado levaria muito tempo para ser explicado, já que cada cena está intimamente conectada com o resto do filme, sobrando apenas contar que o filme é extremamente bem dirigido, usando takes e enquadramentos soberbos, que enchem os olhos mesmo; sendo, também, um filme para ser admirado. Sion Sono é também um perfeccionista (percebemos isso quando reparamos no tempo que seus filmes perdem em pré e pós-produção), criando cenários ricos em detalhes e muito belos, contribuindo para a formação de seu universo único.

O final é uma chuva metalinguística otimista e engraçada, mais pela ironia e absurdo de toda a situação criada.

Enfim, "Why Don't You Play in Hell?" é, na minha opinião, um dos melhores filme de Sion Sono e entra fácil na minha lista de favoritos de todos os tempos.

5 pontos

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Dica musical: "Tudo em vão" de Fábio de Carvalho (2015)

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Me deparei com esse álbum fuçando os reviews da semana no site da MonkeyBuzz e que surpresa boa descobrir um artista brasileiro tão bom.

Fábio de Carvalho é um compositor/cantor/guitarrista mineiro de apenas 18 anos e que lançou esse ótimo álbum no final do mês passado.

É difícil falar desse álbum, por que, na real, é uma bagunça, como já é de se esperar vindo de um adolescente que faz terapia e teve seu primeiro ataque de ansiedade ano passado. Na verdade, há um certo imediatismo que só pode ser encontrado em mentes juvenis, mas que não são propriamente rebeldes. De fato, não há muito rebeldismo, apesar de haver uns atos fora da lei aqui e ali (como fumar maconha e se embebedar a madrugada toda), mas nada rebelde e contra cultura, de verdade (afinal não há nada mais encravada na cultura popular do que fumar maconha e se embebedar a noite toda, achar que isso é contra cultura ou rebelde apenas demonstra uma ingenuidade sem fim).

Esse imediatismo fica claro em diversos momentos do álbum, da composição das letras até a sonoridade em si, que é bem lo-fi, me lembrando dos bons tempos de Wavves, mas ao mesmo tempo com umas pitadas de bossa nova e até jazz, com uns acordes mais elaborados e melódicos, fazendo o Fábio ser mais fácil de ser comparado com caras como King Krule.

No entanto, ao contrário do ruivo britânico, não há muito planejamento nesse álbum e isso fica claro conforme nos aproximamos do fim dele e nos deparamos com letras mais truncadas, como se o cantor estivesse forçando (e ele está) uma letra a encaixar em uma melodia.

Ainda assim, é um ótimo álbum, afinal o imediatismo, as letras e a bagunça lo-fi que acompanham ele todo faz "Tudo em vão" soar como um grito desesperado de um pedaço deslocado de uma geração que parece perfeita demais. Algumas passagens deixam esse sentimento claro, como quando o eu-lírico (podemos chamar assim?) se assusta, enquanto passa mal e seus colegas riem ou quando ele se admira e se apaixona por um belíssimo nascer do sol, mas ninguém partilha dessa mesma emoção. É uma alma que não se encaixa de verdade nessa realidade, mas é uma realidade com espaço para todos, mesmo que não seja o espaço que todos querem ou desejem.

Enfim, é um álbum que alimenta muito os seus pensamentos, apesar de ser meio imaturo, mas isso não é problema, de forma alguma, para quem se identifica, ao menos um pouco, com os relatos intimistas de Fábio de Carvalho.

4 pontos

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Dica musical: "Currents" de Tame Impala (2015)

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Tame Impala é uma das minhas bandas favoritas, continua sendo, mas "Currents" não é capaz de chegar aos pés de seus outros dois álbuns, embora não seja completamente esquecível.

Tame Impala também é uma banda de um homem só, embora se apresente ao vivo e em fotos como uma banda de 5 marmanjos. Na verdade, Kevin Parker, o guitarrista (?) e vocalista da banda produz todos os álbuns sozinho, em casa, então os outros membros não tem voz para nada na banda, criativamente, falando.

Tame Impala é, ainda, a banda responsável pelo revival que a música psicodélica sofreu na última década, fazendo, sim, uma certa escola de músicos, principalmente australianos.

E "Currents" não se parece em nada com um álbum do Tame Impala, na verdade, ele fica de lado, como se fosse um álbum feito por uma banda nova de 2015 (e que, sinceramente, não vai durar muito após esse álbum).

Há um ponto na vida das bandas que vieram depois dos anos 2000 em que elas se cansam de fazer a mesma coisa e passam a fazer coisas diferentes, usando a falácia da maturidade e que eles estão sempre mudando (não que não estejam, mas é possível mudar e transgredir as barreiras da música pertencendo a um ritmo musical, a maioria dos grandes nomes do rock fizeram e continuam fazendo isso). Tame Impala chegou nesse ponto e caiu na maldição do 3. Este é o seu terceiro álbum, é diferente de tudo o que fizeram e é decepcionante.

Em "Currents" não há guitarras distorcidas, nem guitarras naturais, nem sequer solos no meio das músicas, simplesmente, não há guitarras (!). Se já não bastasse essa burra audácia, em "Currents" não vemos algum tema ou ideia por trás de todo o álbum como em "Lonerism". O que vemos aqui é algo novo, uma banda diferente, que busca influências em álbuns recentes como "Random Access Memories" do Daft Punk e uma pitada de psicodelia, para criar um som eletrônico, liderado por baixos e baterias.

E se há algo bom nesse álbum é isso, o baixo e a bateria, continuam, como nos dois últimos álbuns da banda, marcantes e vibrantes, dando ritmo e vida a mediocridade de "Currents".

Então, sim, vale a pena escutá-lo, a maioria de suas músicas são boas, têm um ótimo acompanhamento de baixo e bateria, mas não espere uma mudança de vida com esse álbum, ele é vazio e medíocre a níveis que não víamos desde "AM" ou "RCA".

2 pontos e meio

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Dica cinematográfica: "The Eight Diagram Pole Fighter" (1983)

The-8-Diagram-Pole-Fighter-1"The Eight Diagram Pole Fighter" é um filme de 1983, produzido pela Shaw Brothers em Hong Kong, considerado por este podcast o único filme de kung fu com história... E que história!

Com a ajuda do traiçoeiro general da dinastia Song, Pan Wei, o exército da dinastia Liao teve sucesso ao enganar o general da dinastia Song Yeung Yip e seus 7 filhos, matando cinco deles, mais o pai na praia dourada.O sexto filho retorna para casa, mas é severamente traumatizado, lutando até com sua mãe, confundindo-a com o inimigo. A mãe e suas irmãs concentram-se em mantê-lo seguro em casa, já que ele é procurado por toda a guarda imperial como traidor do império.

Enquanto isso, o quinto filho se refugia num monastério, convencido a se transformar num monge, no entanto, com a morte de um dos mestres, ele se vê forçado a abandonar seu treino como monge para voltar à batalha e colocar um ponto final nessa história, de uma vez por todas.

É uma história com uma grande complexidade e que se desenvolve aos poucos, apresentando várias ramificações aos seus personagens, envolvendo o espectador aos poucos, crescendo dentro de quem a assiste e só nos instantes finais é que é possível perceber a sua genialidade, vendo toda a sua grandiosidade e diversidade.

Há quem ache que filmes orientais antigos e, em especial, os filmes do kung fu sejam feitos com relaxo, apresentando atuações pífias e efeitos especiais à margem do cinema ocidental, mas ignorância maior não poderia ser dita sobre esse cinema tão rico, afinal, se as atuações parecem estranhas, a nós ocidentais, num primeiro olhar, é por que não estamos acostumados a uma cultura diferente, que preza muito pela interpretação gestual, principalmente em relação ao rosto. Quando aos efeitos especiais e os cenários de papelão, isso é reflexo da época, nem mesmo os filmes de Hollywood eram tão bons assim, lembrando que eles contavam com orçamentos infinitamente maiores e os produtores chineses tinham que se virar com o que tinham no país, nada de contratar estrangeiro oferecendo mansões, carros, etc... Eu particularmente, acho que os cenários pintados um charme a mais para o filme, coisa que gostaria de ver com mais frequência e não como paródia ou estilização num filme do Wes Anderson.

Enfim, "The Eight Diagram Pole Fighter" é um filmaço, faz jus a fama de clássico!

5 pontos

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Dica literária: "Vampiro Americano vol. 4"

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Compilando as histórias publicados em 2012, finalmente chega ao Brasil o volume 4 de Vampiro Americano, uma das melhores coisas que já fizeram envolvendo o mito do vampiro em todos os tempos.

Neste volume, saltamos mais uma década no tempo e estamos nos anos 50, apresentando um personagem novo na história, fazendo sua, provável, primeira e última aparição na série.

A primeira história trata-se de um retcon, bem vagabundo na minha opinião, que mostra que Skinner Sweet e Jim Book foram não só amigos, mas praticamente irmãos, já que os pais de Book adotaram Sweet quando este perdera os pais. Além disso, os dois batalharam juntos contra os índios e é mostrado ao leitor que Skinner não foi o primeiro vampiro americano, mas uma índia, que pode ainda estar viva. É uma história fraca, desnecessária e com uma arte até interessante, mas sofrível na minha opinião, já que não gostei muito dela.

Já a segunda história é o ponto alto do volume e uma das melhores sagas da série, passando-se nos anos 50, conta a história de Travis Kidd, um garoto que testemunhou a morte de sua família por um bando de vampiros em Las Vegas e virou, por conta própria, um caçador de vampiros.

A terceira história conta a trajetória de um vampiro negro que trabalha para os Vassalos da Estrela da Manhã numa viagem por uma pacata cidade do Alabama, dominada por uma espécie rara de vampiros.

Apesar da primeira história, é um volume, apresentando ao mesmo tempo o melhor e o pior de Vampiro Americano, dando alguns saltos importantes para a história principal, de Skinner e Pearl Jones, sem deixar claro, mais uma vez, que fim Travis levou.

A edição da Panini está, novamente, de parabéns, de luxo mesmo, muito bem feita e com os extras de sempre, rascunhos, esboços e explicações sobre eles.

4 pontos

sábado, 4 de julho de 2015

Dica cinematográfica: "The Limits of Control"

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Este filme conta a história de um forasteiro, um homem misterioso, cujas atividades permanecem meticulosamente à margem da lei. Prestes a terminar um trabalho, ele não confia em ninguém. Seu alvo não é revelado e seu destino continua incerto.

"The Limits of Control" não é um filme a ser assistido, é um filme a ser admirado, com um ritmo lento e, por vezes, maçante, mas que apresenta cenas e resoluções surpreendentes.

Nenhum de seus personagens têm nome e seus diálogos são soltos e desconexos, abrindo margem para múltiplas interpretações, ou interpretação nenhuma.

Então não espera uma trama complexa e bem elaborada. É apenas um trabalho de arte, com trilha sonora feita pela banda japonesa BORIS e direção de Jim Jarmusch, que já fez outros filmes bons pra caramba.

4 pontos e meio

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Dica musical: "Key Change" de Mocky (2015)

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Mocky é a alcunha de Dominic Salole, um artista musical que ganhou notoriedade na cena de música eletrônica no meio dos anos 2000 e em 2009, voltou-se para o bom e velho jazz com o álbum "Saskamodie". Esse ano, ele lançou esse álbum que estou indicando, também com uma pegada mais orgânica, usando de diversos instrumentos para produzir uma ampla variedade de sons.

Essa é basicamente a premissa desse álbum; diversidade. Há músicas com uma sonoridade mais tribal, até músicas simples e românticas, mas sempre partindo do pressuposto de ser orgânico, ou seja, feito com instrumentos de verdade, tocados por pessoas de verdade, todos tocados por Mocky.

Não há voz no álbum, são 12 canções instrumentais, muito bem feitas e produzidas, mas, de certa forma, isoladas, afinal, não há uma ligação clara entre elas.

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