domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dica cinematográfica: Robocop (2014)

robocop_2014.jpg-largeOntem fui assistir o novo Robocop e sai do cinema com a conclusão que esse é um baita filme!

Mas já devo deixar claro, assim como "Hannibal" (o qual eu gostei da série, mas nunca assisti nenhum de seus filmes ou li os livros), não me lembro do Robocop. Eu assisti quando criança em alguma dessas sessões de filmes na TV aberta, provavelmente Record, talvez no SBT, mas não lembro de nada do filme, apenas algumas poucas coisas que não ajudam muito a lembrar da história.

Uma das coisas que me lembro é o tema original do filme e ouvi-lo tocar logo no começo do filme e mais umas duas vezes durante a projeção do filme me deixou com um sorriso nostálgico gostoso de sentir no rosto.

O novo Robocop funciona como um remake do filme original, com um brilhante toque de José Padilha.

Na história, uma empresa de tecnologia com atuação em diversos setores do mercado quer expandir sua influência em equipamentos de guerra para as ruas dos EUA, mas uma lei os impede. Nesse momento é decidido usar um homem, inválido, com possibilidade de interação com máquinas de última geração para lutar nas ruas de Detroit e dessa forma surge Robocop.

O filme não apresenta apenas um ponto de vista, apresenta diversos, conta a história do dono da empresa, mostra o drama existencial do cientista responsável pelo projeto Robocop, conta a história do policial que se torna Robocop e sua relação com a família, agora abalada pelo seu novo estado e a rede de crime e corrupção da cidade de Detroit, com traficantes e policiais lutando lado a lado.

Com cada uma dessas histórias sobre apresentados a diferentes temas que provocam discussões diversas entre políticos, cientistas, religiosos e filósofos, desde políticas de esquerda e direita e o tema já abusado pelo cinema da corrupção da lei até temas mais obscuros como o poder da mente de um ser humano e a fusão entre homem e máquina, acompanhada de suas discussões morais e éticas.

Assim como em Tropa de Elite, José de Padilha não se aprofunda nesses temas a ponto de deixar claro uma opinião para quem está assistindo e o final é súbito, porém emocionante. O único problema fica por conta da cena final, que é desnecessária, quase broxante e faz com que todo o brilho que o filme conseguiu construir até então se perca, um pouco.

Enfim, "Robocop" de José Padilha é um bom filme, uma agradável surpresa, principalmente se você manter suas expectativas baixas, provavelmente não irá representar grande coisa na história do Robocop, mas é um grande feito na carreira do diretor brasileiro, além de ser um desses filmes que será amado e odiado na mesma medida e assim o objetivo de Padilha, provavelmente, foi alcançado.

4 pontos

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Você não PODE fazer o que ama!

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"Faça o que você ama". Esse é o doce e adorável mantra mais repetido das redes sociais nos últimos anos. Ganhando fôlego da boca de artistas bem sucedidos, figurões de empresas de tecnologia, estudantes descolados de alguma cidade hipster mundo afora e, claro, adolescentes e jovens adultos com computador com internet em casa.

Só que, infelizmente, esse mantra é uma tremenda armadilha. Uma bomba relógio implantada em nossos pés, pronta para explodir a qualquer momento.

O FOQVA não passa de uma justificativa egoísta, beirando o narcisismo, preguiçosa e bonita de uma parcela elitista da sociedade que tenta justificar sua falta de méritos usando um discurso nobre (porém falso) de auto-aperfeiçoamento.

E eu vou explicar isso de uma maneira fácil, porém não rápida, de se entender.

A cultura do FOQVA basicamente diz que todo ser humano deve fazer aquilo que gosta, como se o trabalho fosse algo divertido, como se você tivesse que passar a maior parte da sua vida fazendo algo prazeroso e só. Elevando o trabalho a um patamar no qual ele não pertence; o patamar acima do divertimento e da alegria, o patamar do prazer.

Entenda os patamares básicos do estado de espírito do ser humano:

No primeiro andar você têm as coisas mundanas; como trabalho, prazeres provenientes de vícios, obrigações de diversas formas.

No segunda andar você têm coisas mais interessantes, como piadas, livros, filmes, coisas que irão te proporcionar um determinado prazer por um certo período de tempo.

E no último andar você encontra coisas que têm fim nelas mesmas. Coisas que lhe proporcionam prazer simplesmente por você tê-las, ou melhor, por ter a oportunidade de vivê-las, como por exemplo, o casamento, uma amizade legal,essas coisas.

É claro que existe os andares subterrâneos, que acabam com você, mas não precisamos entrar nesses detalhes.

O que eu quero dizer com essa rápida explicação é que o trabalho não é algo para ser prazeroso, não pode ser, você pode se divertir no trabalho, nada te impede disso, mas não por causa do trabalho, mas por causa das pessoas que estão lá, por causa do seu chefe, por causa das situações que você vive lá. Enfim, você, no máximo, pode encontrar divertimento no trabalho, mas não prazer.

Se você encontra prazer, então você não está trabalhando, está praticando um hobby.

Encontrar prazer no trabalho, transformá-lo numa fonte de prazer com fim nela mesma é tão perigoso que pode fazer acabar com casamentos (Já ouviu aquela história da mulher que não aguentava o marido que só pensava no trabalho?), influenciar negativamente a vida de uma pessoa (História antiga da criança que cresceu sem a presença dos pais) e acabar com a sua própria vida (História clássica do workaholic que é demitido e se mata, por que não tem mais nada a perder).

No entanto, todas essas causas são "pessoais", afinal envolvem problemas familiares internos, atingindo no máximo, problemas com seus familiares.

O problema é que o FOQVA não depende mais apenas de uma mudança de consciência. Esse maldito discurso está impregnado em diversos setores industriais, comerciais e até mesmo governamentais, com mais ou menos influência.

Li não faz muito tempo sobre o problema de se fazer um trabalho de graça, problema que atinge mais artistas, que por estarem no início de carreira, fazem pequenos trabalhos a troco de nada ou no máximo, uma recomendação para algum empresário mais poderoso. Isso pode ser considerado um problema do FOQVA, afinal, se você está fazendo o que ama, por que receber por isso não?

Sua satisfação pessoal não é o bastante? Dinheiro não parece ser algo muito mundano para se obter em troca de algo que você colocou sua alma, horas preciosas do seu dia e suór? Você está fazendo aquilo que ama, certo?

As únicas pessoas que podem se dar ao luxo de fazer trabalhos de graça em troca de contatos, status social e uma recomendação para algum figurão são pessoas que já possuem posses. Pessoas filhas de pais ricos, pessoas que podem, quando acabar o dinheiro, voltar para a casa dos pais e viver lá por mais um tempo. Pessoas que podem arriscar 4 anos de faculdade mais 1 de estágio mal remunerado em uma cidade longe de casa pensando que se não der certo, assume o posto do pai na empresa da família.

Pessoas hipócritas e cretinas que não reconhecem o trabalho de centenas de milhares de pessoas que se sacrificam todos os dias para dar o que elas necessitam para sobreviver.

E aí chegamos ao pior problema do FOQVA. Um discurso motivacional tão cretino que consegue ser um tiro no próprio pé ao desvalorizar todo o sistema de mercado em que vivemos.

Pense por um  momento, quando Steve Jobs (o mais influente e recente divulgador do mantra) defecou seu famoso discurso para os alunos de Stanford naquela tarde fatídica e disse que "vocês devem fazer o que amam", quem foi o responsável por conseguir fazê-lo chegar até onde estava? Ele não construiu o império Apple sozinho. Ele não fez o design inovador do iPod (copiado milhões de vezes até hoje por empresas chinesas), ele não construiu o primeiro iPhone e com certeza não desenvolveu os materiais que fazem do Macbook Air um laptop tão leve.

Isso é trabalho de pessoas que não seguiram seus sonhos, pessoas que agarraram a primeira oportunidade de emprego para sustentar suas famílias ou elas mesmas e não abandonaram isso. Pessoas que se dedicam à sua arte, a sua família e aos seus amigos, mas sabem que trabalho não é sinônimo de prazer e que tudo têm sua hora e momento.

Com a propagação do discurso do FOQVA, a maioria dos trabalhadores do qual a sua vida depende são desvalorizados, não só economicamente, mas socialmente também, o que é ainda pior. Você não deve sentir prazer no seu trabalho, mas tem que,no mínimo, achar sentido naquilo que faz, saber que o que está fazendo é reconhecido por todos, pela sociedade e isso não se reflete apenas no quanto você recebe, mas no quanto você é aceito por fazer o que faz.

Você pode chegar sujo e suado em algum lugar, mas se as pessoas te olhassem e dissessem: "Como foi seu dia, pedreiro?", provavelmente você se sentiria melhor naquilo que faz.

Ironicamente, trabalhos nos quais a sociedade dá mais valor, também sofrem com esses tipos de comentários. Afinal, fale isso para um advogado e veja como sua pergunta soa, no mínimo, sarcástica e cruel aos ouvidos dele.

Pelo menos posso rir um pouco dessa situação ao constatar que esse mesmo discursinho também quebra a própria indústria do qual faz parte. Afinal, em empresas de tecnologia, design ou outra atividade artística ou intelectual, é comum ouvir chefes dizendo que se o trabalho de seu empregado não foi reconhecido é por que ele não se esforçou o suficiente.

Engraçado também constatar que é esse tipo de pensamento que gera, cada vez mais, "trabalhos de graça" para pessoas que estão ingressando agora no mercado de trabalho.

Também é engraçado notar que a maior parte desses trabalhos é preenchido por mulheres, afinal pertencem à áreas que sempre foram dominadas por mulheres e essas mulheres, recebem cada vez menos.

Ainda mais engraçado que esses trabalhadores, o que fazem aquilo que amam, são os mais explorados. Pois além de serem explorados, não receberem nada e fazerem um bom trabalho, ainda sorriem e se gabam dizendo que "fazem aquilo que amam", enquanto mantém um odioso status quo de monopólios dominantes e abusadores, que consideram pessoas engrenagens para manter esse sistema funcionando.

Do outro lado da moeda, escondidos e silenciosos como ratos, se encontram aqueles trabalhadores, com carga horária reduzida, trancafiados em cartórios, bancos ou empresas estatais ou de companhia mista ou mesmo particulares, com trabalhos puramente burocráticos para fazer e que enchem seus bolsos com salários até maiores que o de presidentes, como se o estado ou a empresa fosse obrigado a lhe pagar pelo tédio que você sofre e não pela qualidade do seu serviço ou sua disciplina no local de trabalho.

Fontes:

http://www.oene.com.br/nao-se-ache-muito-melhor-porque-voce-ganha-vida-com-o-que-gosta/

http://www.oene.com.br/esse-networking-vai-acabar-nos-matando/

http://papodehomem.com.br/em-nome-do-amor/

http://contente.vc/blog/a-armadilha-do-faca-o-que-voce-ama/

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Dica cinematográfica: "Meu irmão é filho único" (2007)

mio-fratello-figlio-unico"Meu irmão é filho único" é um filme italiano de 2008 e é um desses filmes que podem ser encarados como um clássico moderno.

Sua história se centra em Accio, um garoto com pretensões rebeldes, que sai do seminário, junta-se ao partido fascista e briga com seu irmão Manrico, na pequena cidade italiana Latina, entre as décadas de 60 e 70.

O filme acompanha a trajetória desse rapaz, que apesar de não querer, não consegue ficar longe de seu irmão mais velho. Por desavenças políticas os dois se separam e com o passar dos anos, o amadurecimento da personalidade de ambos, eles voltam a se relacionar, dessa vez de forma muito mais fraterna do que antigamente.

"Meu irmão é filho único" conta também com uam excelente trilha sonora, que apesar de não me fazer ter vontade de ouví-la o tempo todo, encaixa-se como uma luva nas diferentes situações do filme, criando uma ambientação inteligente e bem envolvente.

A qualidade das imagens também é muito boa, sendo impecável para promover uma ambientação ainda mais envolvente.

Enfim, "Meu irmão é filho único" é um filem legal, com momentos engraçados e uma história que irá te prender do começo ao fim.

4 pontos

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Dica cinematográfica: Rush-Nos limites da emoção (2013)

rush-filmeUm filme que faz jus ao subtítulo, Rush-Nos limites da emoção é um filme emocionante, contando uma história baseada em fatos reais, que, por si só, não é tão interessante (ao menos para mim), no entanto, a construção da história, seus personagens e a parte técnica fazem as mais de duas horas de filme passarem rápido, como uma volta numa pista de Fórmula 1.

O filme conta a história da rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt, desde os seus primórdios na Fórmula 3 até seu ápice, na Fórmula 1, no ano de 1976.

Lauda, um corredor sério, centrado em seus objetivos e com certa experiência técnica em corridas, entra para o mundo desse esporte, contrariando a vontade dos pais, que queria que ele fosse um político ou economista.

Hunt, o extremo contrário, é um fanfarrão, que apenas queria correr por diversão, até o dia em que conhece Lauda, um corredor mais jovem, mais centrado em seus objetivos e, principalmente, mais rápido. Desse dia em diante, Hunt tenta provar, não só para o mundo, mas para si, que pode ser o mais rápido do mundo.

O final, nós já sabemos como é, mas não conhecemos apenas os seus contornos, não sabemos da sua profundidade e aí está a chave do filme para manter a atenção de todos. Conhecemos a vida de cada um dos pilotos nos seus mínimos detalhes, as relações tempestuosas com seus familiares, incluindo suas mulheres, seus amigos (ou a carência deles), seus egos e a satisfação que cada um dá à própria vida.

Rush- Nos limites da emoção não é um filme só para amantes de corridas, é um filme para quem ama uma boa história, mesmo que você sequer goste de corridas. É um filme sobre conquistas, sobre objetivos, sobre o contentamento que cada um busca e, por que não?, sobre a amizade.

5 pontos

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Dica cinematográfica: Fruitvale Station (2013)

th"Fruitvale Station" é um filme de 2013 baseado em fatos reais que conta as últimas 24 horas de vida de Oscar Grant III, um jovem pai de família de 22 anos, que foi morto cruelmente e sem motivo por um policial local.

O filme tem uma das tomadas de abertura mais chocantes do cinema mundial, ao menos para mim, pois quando o assisti pela primeira vez me lembro de ter ficado boquiaberto por uns bons 5 minutos, já que as cenas são reais e por isso chocam ainda mais quem assiste. As cenas mostram Oscar (o verdadeiro) sendo morto na estação de metrô de Fruitvale, São Francisco, Califórnia ( EUA, se você não sabe). As cenas, gravadas por algum das dezenas de celulares que tornaram o vídeo um viral no ano de 2008.

Então a doce e amada ficção começa, mostrando um Oscar com um passado sombrio, envolvido com tráfico de drogas e que acaba de perder o emprego por puro relaxo, no entanto, ele quer mudar e a visão de um novo ano aumenta as suas expectativas, os seus sonhos, as suas promessas e os seus horizontes e nós acompanhamos tudo isso conforme o filme avança.

Somos apresentados a um Oscar que traficava drogas, mas que aprendeu a sua lição no tempo que passou preso, um Oscar brincalhão, mas que tenta manter uma postura séria diante de certos problemas, um Oscar carinhoso e atencioso com todos à sua volta, incluindo sua mãe, sua irmã, sua namorada e, em especial, sua filha.

No entanto, nós já sabemos como aquilo tudo termina, afinal não se trata de uma ficção por completo. É um filme baseado na vida de um homem de verdade, com um final, infelizmente, trágico de verdade.

Por uma besteira, um envolvimento em uma briga com um de seus rivais do passado, Oscar é detido pela polícia da estação e acaba sendo baleado nas costas enquanto tentavam detê-lo, jogado no chão. De acordo com o policial, que foi sentenciado a dois anos na prisão estadual e já está solto, sua pistola foi confundida com sua arma de choque.

Mas esse "engano" levou o fim da vida de alguém. E o filme joga isso na cara de todos, dando uma sra. Lição de Moral em todos nós que assistimos.

A vida é cruel. Nossos sonhos nem sempre se realizam. Muitas vezes não temos tempo para mudar. E fatalidades acontecem.

É um filme pesado, impecável em sua produção, com ótimos atores, atrizes, trilha sonora soberba e que te deixa pensando por horas a fio, muito depois do filme já ter acabado.

5 pontos

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Dica cinematográfica: Big Bad Wolves (2013)

Big-Bad-WolvesOu "O melhor filme do ano", de acordo com Quentin Tarantino.

O filme acompanha a corrida desesperada de um pai de família louco por que sua filha foi morta brutalmente e um detetive da polícia israelense para desmascarar um assassino e estuprador de crianças.

Um dos comentários do diretor do filme foi que esse filme foi baseado em contos de fadas, mais especificamente o da Chapeuzinho Vermelho, não em sua história ou desenvolvimento, mas sim como uma espécie de vingança por ter sido enganado pelos pais por tanto tempo, já que contos de fadas são apresentados às crianças como histórias bonitinhas e cheias de moral, mas quando crescemos descobrimos que essas histórias não eram bem assim.

O filme explora bem essa ideia, contendo várias referências aos contos de fadas, aliás a própria parte técnica do filme o faz parecer o mais próximo de uma história lúdica possível, no entanto, contém uma história e o seu próprio desenvolvimento pra lá de cruel e sombria.

"Big Bad Wolves" também conta com  uma boa trilha sonora, então é fácil se encantar com ele logo nos primeiros 10 minutos de filme, ainda mais pelo ritmo rápido das cenas e a quebra de tensão, feita de uma maneira muito inteligente e interessante, contando com muitos momentos de humor negro, algumas vezes irônico, deixando claro as influências tarantinescas.

No entanto, o final do filme acaba sendo o seu maior ponto fraco, pois é fácil, até preguiçoso se você analisar melhor, fazendo o brilhantismo do roteiro e da parte técnica se perder nos minutos finais.

3 pontos e meio