domingo, 28 de setembro de 2014

Dica cinematográfica: "Love Exposure" (2008)

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"Love Exposure" é um filme de 2008, impossível de ser classificado em um gênero só, escrito e dirigido por Sion Sono e dura 3 horas e 56 minutos.

O filme conta a história de Yu, um jovem japonês católico que tenta viver uma boa e devota vida, após a morte da mãe, que pediu para que ele encontrasse uma mulher como Maria, entregando para ele uma estátua da Virgem Maria. Seu pai, viúvo, decide virar padre, mas logo que se torna famoso na comunidade pelos seus sermões, acaba se envolvendo com uma mulher problemática, que o abandona semanas depois. Arrasado, o pai de Yu exige do filho confissões, forçando o garoto a entrar em uma vida pecaminosa, cometendo crimes com seus novos amigos, como roubar roupas, puxar brigas com estranhos e tirar fotos por baixo das saias das mulheres na rua. Após perder uma aposta, Yu sai vestido de mulher pelas ruas, encontrando uma garota em perigo, cercada por dezenas de valentões. Ainda vestido de mulher, Yu salva a garota, que também luta contra os valentões e se apaixona por ela, beijando-a e caindo fora logo em seguida. No entanto, Yoko, a garota indefesa, se apaixona pelo alter-ego de Yu, Miss Scorpion.

Essa é a abertura do filme, aquela cena curta que aparece antes do nome do filme ocupar a tela inteira... Só que não nesse filme. Essa sinopse retrata apenas a introdução do filme, que dura, incríveis, 53 minutos, aparecendo em seguida o nome do filme ocupando a tela toda.

Realmente, é uma maratona assistir "Love Exposure", mas que acaba valendo a pena, por que conta uma história muito boa, recheada de personagens, do jeito que eu gosto, desenvolvendo cada um com muita paciência. Separada em capítulos, a historia muda de pontos de vista, mas é essencialmente uma história de amor, no caso de Yu pela Yoko.

Inclusive, esse é o ponto negativo do filme: É uma história de amor. Não se engane pelas 53 minutos iniciais, que apenas servem para apresentar Yu e seu drama pessoal, mostrando-o como fez para chegar onde chegou. O filme conta com boas lutas, uma primeira hora excelente, que não te cansa de forma alguma, mas em seguida, vira uma verdadeira novela, com triângulos amorosos, desentendimentos familiares, uma conspiração religiosa e claro, aquela velha história de amor do cara que se apaixona por  uma careta, que começa bem o filme, mas na última hora do filme, só serve pra gritar e chorar.

No entanto, ainda assim a história tem suas razões. O filme se trata de uma história de amor, afinal e não é, de forma alguma, uma história rasa e bobinha, muito pelo contrário, é uma história muito bem desenvolvida, aliás. Yoko, por exemplo, que começa forte, independente e misândrica vira frágil, fraca e chorona no final; mas isso não é algo repentino, nem desnecessário à história. Ele foi abusada e usada por uma ceita religiosa em ascensão na cidade e acabou ficando desse jeito. Eu, particularmente, achei um problema se tratar de uma história de amor, pura e simplesmente por que eu não gosto de romances, mas isso é gosto, que não se discute, só se lamenta.

Em relação à parte técnica, este filme está muito bem servido. Existe uma certa granulação nas imagens que foram adicionadas como um estilo estético ou algo assim, chamando a atenção e agradando, dando uma certa tonalidade pastel à algumas cenas. Também é um filem muito estiloso, com câmeras paradas, intercalando com câmeras em movimento, além das letras sobrepostas nas cenas. Tudo isso aliado á uma ótima coreografia, com cenas de luta simplesmente incríveis.

E claro, há a trilha sonora, fenomenal, cheia de tambores, diversos instrumentos de percussão, instrumentos de sopro e de cordas, além do piano, muito usado nas cenas dramáticas e de amor, o que é meio chato, mas funciona.

Enfim, "Love Exposure" merece o título de magum opus de Sion Sono, não só pela sua duração, mas por ser o melhor filme que ele fez mesmo, contando uma história de amor, cheia de frescurices e maneirismos do gênero, mas sem deixar de lado a sua marca pessoal, imposta neste filme com maestria.

4 pontos

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Dica literária: "Sandman-Caçador de Sonhos" (1999)

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O Neil Gayman pode não ser a melhor pessoa deste mundo, nem ter a mente mais sã que já se viu, mas o cara é um baita escritor e isso ninguém pode negar.

A sua obra mais famosa provavelmente é "Sandman", originalmente criado em histórias em quadrinhos, tornando-se também um dos personagens favoritos do autor e esse livro, publicado após o final da série em HQ, reconta um antigo conto japonês sobre uma raposa que se apaixona por um monge e entra no mundo dos sonhos para salvar a sua vida.

Assim como a maioria das histórias orientais, essa trata o amor de forma delicada, não se preocupando em passar uma lição de vida que se aplique em todos os aspectos da vida ou um aspecto em comum, apenas se preocupa em narrar uma história de amor, que pode, ou não, servir como guia para a sua vida. Depende do momento em que você está vivendo.

Neil Gayman, de forma magistral, adapta este conto ao universo de Sandman, colocando os personagens em suas devidas "encarnações" japonesas e antropomórficas, aliando sua incrível habilidade de contar histórias em prosa com a sutileza dos contos japoneses.

Junto com Gayman, também faz este livro Yoshitaka Amano, um artista japonês de sucesso em terras nipônicas e que fez sua estreia no mercado ocidental com este livro. Quando Gayman o convidou, tinha em mente criar uma HQ, mas Yoshitaka Amano não trabalha com arte sequencial, ele só faz painéis ilustrativos e assim, eles desenvolveram um livro ilustrado. Sua arte, muito peculiar e etérea dá o clima perfeito para a história, que se passa em grande parte no reino dos sonhos, mas também em paisagens deslumbrantes que Amano transferiu brilhantemente para o papel.

A história, sendo uma espécie de "remake", não é genial, longe disso, mas é muito boa. Leve e instigante, com toque de realismo mágico, aplicados não só a arte escrita, mas também à arte desenhada.

4 pontos

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dica musical: "NehruvianDOOM" de MF Doom e Bishop Nehru

Bishop Nehru & MF DOOM - NehruvianDOOM  Album Download

Esta seman, finalmente, saiu o tão aguardado álbum "NehruvianDOOM". Aguardado por se tratar de mais uma colaboração do maior rapper da atualidade: MF Doom e desta vez com um brilhante rapper em ascensão: Bishop Nehru.

MF Doom dispensa apresentações, desde os anos 80 ele faz rap, primeiro com um grupo que fundou com seu irmão e após a morte deste, colocou uma máscara e adotou a alcunha de "MF Doom" tornando-se uma das mais misteriosas e ilustres figuras na história do hip hop. Seu estilo lírico tornou-se único, unindo influências de todos os cantos, rimando palavras que parecem ter vindo de uma iluminação divina, fazendo você pensar "De onde diabos ele tirou isso?". Aliado ás suas rimas fantásticas, estão as batidas que ele cria, bebendo muito na fonte do jazz, dos clássicos aos mais obscuros, usando técnicas que hoje podem ser consideradas atrasadas, afinal qualquer um pode criar suas próprias batidas com um computador, apenas; mas é bom saber que algumas pessoas ainda preferem meios mais "analógicos" para criar suas batidas.

Já Bishop Nehru é um garoto de 17 anos e que vêm ganhando atenção de produtores e rappers em toda parte há alguns anos. Ele começou criando batidas para postar no fórum do OFWGKTA (o mesmo fórum de onde saiu Tyler, the creator, Frank Ocean, Earl Sweatshirt, Hodgy Beats e toda a trupe do Odd Future), sampleando músicas de jazz que ele achava na casa da avó (influência mais obscura impossível). Como todo mundo adora artistas que bebem em fontes obscuras de inspiração, ele logo ganhou atenção de sites especializados e ano passado lançou seu primeiro CD, contendo uma porrada de músicas, algumas medianas, outras incríveis, mas já criando um certo padrão de qualidade para suas canções.

Reconhecendo o talento do garoto, MF Doom decidiu produzir um CD colaborativo entre dois, resultando em "NehruvianDOOM".

Algumas canções são batidas de MF Doom, com Bishop Nehru rimando por cima, mas é notável que os dois tiveram participação igual no trabalho, seja pelas influências jazzísticas que os dois artistas têm, seja pelas rimas fantásticas e fabulosas de MF Doom ou pela criação de refrões que parte de Bishop Nehru, criando um álbum único, original, recheado de influências nerds até religiosas.

Como em todas as suas colaborações, MF Doom preferiu ficar mais "atrás", na produção, editando e mixando as músicas e batidas, dando muita liberdade para Bishop Nehru, ficando claro que ele ainda precisa crescer bastante. Não que ele seja ruim, ele é bom, mas ainda está longe do nível que suas influências alcançaram, mas um dia ele chega lá, se continuar assim e as músicas em que MF Doom não rima, acabam sendo também as mais fracas.

Enfim, "NehruvianDOOM" é um ótimo CD, aliás, um fantástico, que merece ser escutado várias e várias vezes (ao menos algumas de suas músicas) e pode se tornar um marco, mostrando a evolução de um grande talento que tem apenas 17 anos.

4 pontos


Obs: Só que eu que achei essa uma das melhores capas de um disco de todos os tempos?

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dica cinematográfica: "City on Fire" (1987)

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"City on Fire" é um filme de 1987, criado por Ringo Lam, sendo o seu primeiro filme de sucesso que não seja comédia.

A história é centrada em Chow, um policial que trabalha infiltrado em grupos criminosos, mas faz amizade com um dos bandidos, que é morto poucos depois de descobrir que Chow era um policial infiltrado. Sentindo o peso da culpa sobre seus ombros, Chow pede dispensa do seu cargo, mas seu pedido é negado até que o distrito policial consiga prender um grupo de assaltantes de joalherias. Forçosamente, Chow aceita o trabalho, suportando a culpa e a tristeza que o consome. Enquanto isso, a polícia local vai fechando o cerco em torno do grupo, sem saber que Chow é um policial infiltrado.

Este é um clássico do cinema chinês (mais especificamente de Hong Kong), tendo sido um marco também na carreira de Ringo Lam, que até então só dirigira filmes de comédia e no ano de 1986 teve carta branca para criar o que ele quisesse. De sua mente genial, saiu este filme, que é uma obra fantástica, bebendo muito na fonte dos filmes noir, sendo isso marcado não só pelos temas envolvidos, mas também pela trilha sonora e a fotografia, muito boas por sinal.

O filme têm como protagonista um clássico personagem de filmes noir. Chow é um policial, com fantasmas de seu passado que o assombram constantemente e para se livrar disso, ele deixa seu tempo ser acumulado com trabalho (mesmo nos momentos em que ele deve se divertir, como quando vai ao bar, ele está trabalhando) e os poucos momentos de divertimento se resumem a dormir ou namorar (Eis também o motivo dele não querer assumir nada com a namorada, ele não quer mais uma responsabilidade em sua vida e talvez nem possa assumir algo como um casamento). Grande parte do filme vemos ele andando pelas ruas da cidade, com um cigarro na boca e olhar perdido no horizonte, sempre trabalhando, mas a passos lentos, desleixados, tentando livrar a sua mente das preocupações que o seu trabalho gera.

É um filme com um ótimo desenvolvimento de personagens, não só por parte de Chow, mas também pelos secundários. Seu tio, por exemplo, é um personagem muito interessante: Ele trabalha com Chow (é o chefe dele) e tenta agir como um pai para o policial, no entanto, devido a intimidade que existe entre os dois, Chow apenas o enxerga como um parceiro de trabalho ou, no máximo, um amigo mais velho conhecido há muito tempo. Outro personagem interessante é o novo chefe do distrito que trabalha junto com o tio de Chow e não pode saber que há um policial infiltrado no grupo; por essa razão, ele começa a perseguir Chow e o coloca como procurado número 1. O filme nos induz a sentir antipatia por ele, mas é impossível, pois sabemos que ele está apenas exercendo o seu dever.

Outro personagem interessante é um dos amigos criminosos de Chow, que ganha atenção apenas nos últimos momentos do filme, mas carrega uma carga dramática muito grande e a empatia do telespectador em relação à ele cresce ao longo do filme, mesmo sem sabermos qual a sua história.

Como dá pra perceber, "City on fire" é um filme com uma profundidade muito grande, mas também tem seus defeitos, em grande parte por querer tomar uma boa "liberdade poética" em toda a sua duração, com muitas cenas em que Chow fica andando pelas ruas sem rumo, além da narrativa que é bem arrastada.

No entanto, é um filme com inspirações noir afinal, ou seja, tem personagens muito interessantes, que compensam a lentidão do roteiro.

Em relação à fotografia, que eu já mencionei, está muito boa, com vários tons escuros e sombras, criando um clima urbano, porém com toques soturnos, fazendo deste um filme bem estiloso. A cena final é incrível, aliás.

A trilha sonora só complementa o filme, sendo guiada pela bom e velho jazz, muito saxofones e baterias aceleradas, criando o clime perfeito tanto para as cenas de ação quanto para as cenas mais melancólicas.

Enfim, "City on fire" é um filmaço, um clássico incrível do cinema chinês e, por que não, do cinema noir, afinal é uma história extremamente original, bem guiada, apesar das poucas falhas; mas que, de um modo geral, impressiona pela qualidade em todos os aspectos, tornando-se um desses vários casos em que o original é melhor que o remake.

4 pontos e meio

domingo, 21 de setembro de 2014

Dica cinematográfica: "Suicide Club" (2001)

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"Suicide Club" é um filme de 2001, dirigido por Sion (pronuncia-se Xion) Sono e que eu até agora não sei se o filme é muito bom ou muito ruim.

Conta a história de um monte de suicídios coletivos que assolam Tóquio e um grupo de policiais na sua jornada para descobrir o que está por trás deles.

A história se passa em 6 dias e sua narrativa é obscura, sendo negado ao telespectador a verdade por trás dos suicídios coletivos. Há também uma enorme gama de personagens, que não são bem desenvolvidos, elevando a tensão, mas também o sentimento de desolação face alguns acontecimentos ao longo do filme, como, por exemplo, a morte de algum personagem até então importante para a história, portando-se como o mocinho ou o aparecimento de um vilão, que, na verdade, não era o vilão principal, apenas queria aparecer na TV ou ainda a caminhada solitária de um jovem detetive da polícia que, aos poucos, entrega-se à loucura.

No entanto, algumas cenas são incrivelmente bem desenvolvidas, como o suicídio coletivo do começo do filme ou o segundo suicídio coletivo de estudantes ou ainda a cena em que é apresentado o vilão que só queria aparecer. São cenas fortes, mas ao mesmo são muito boas, em parte por que são chocantes, em parte por que fazem uma bela crítica social, que é outro ponto forte do filme. O filme faz uma forte crítica à vida competitiva em que os japoneses estão inseridos, questionando o por que deles viverem (trabalho? filhos? família? Ego?), sendo uma outra boa cena aquele em que a família de um dos polícias é morta e ele recebe uma ligação da responsável pelos suicídios questionando  a essência da vida dele e o por que dele estar tão desolado, mas logo que a cena acaba somos entregados à desolação maior do filme, que é ver um dos melhores personagens ser morto tão rapidamente.

E aí resido outro ponto fraco do filme, a profusão de ideias rondando esse filme é muito grande e apesar delas serem ideias boas, elas não são bem trabalhadas, não dando espaço para o desenvolvimento delas, nem para o desenvolvimento dos personagens. Do meio para o final do filme somos apresentados á mais uma crítica social, dessa vez voltado ao fanatismo por ídolos pop ou a utilização desenfreada de ídolos cada vez mais novos pela indústria da música pop e a mídia em geral ou talvez tenha sido uma crítica à perda da inocência pelas crianças?... Não sei.

Apesar do jeitão meio "trash" do filme, isso não é algo que atrapalha, muito pelo contrário, esse é um fato que engrandece essa película, podendo provocar risadas de quem o assiste, mas também pode servir para complementar a crítica social feita, gerando um jogo metalinguístico com o telespectador, afinal, por que gostamos tanto do grotesco, do absurdo, do sensacionalista? Ou talvez tenha sido só falta de recursos mesmo.

Enfim, "Suicide Club" é um filme cheio de problemas, mas que ainda assim parece ser impossível odiá-lo, principalmente pelo grande potencial que ele tem, então você fica sem saber o que pensar dele. O próprio Sion Sono pensou em fazer uma trilogia com essa história, mas pareceu ter desistido da ideia, fortalecendo a teoria de que esses "erros" foram postos de propósito, armando ganchos para as suas sequências. Eu mesmo não pensava em escrever essa dica, mas fiquei entre o amar e o odiar esse filme, então decidi ficar em cima do muro e achar esse filme "mediano", aceitando seus pontos negativos como parte da intenção do autor com esse filme e admirando os pontos positivos, que merecem ser muito bem admirados.

3 pontos

sábado, 20 de setembro de 2014

Dica literária: "Demolidor: Amor e Guerra" (1988)

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Mais uma hq de Frank Miller no blog e dessa vez, uma hq que merecia muito mais atenção do que recebe.

A esposa do Rei do Crime está doente. Desesperado, ele sequestra a esposa de um médico famoso para que ele dê total atenção à sua amada. No entanto, o sequestrador tem sérios problemas mentais, que acabam atraindo a atenção do Demolidor. Não demora muito para que o herói descubra o que está acontecendo e corra em socorro das vítimas do Rei do Crime.

Essa é uma hq normal, apenas mais um capítulo entre tantos outros que Frank Miller criou para o Demolidor, no entanto, há algo de diferente aqui: Bill Sienkiewicz olhei duas vezes a página da hq para escrever o nome dele. Mais uma vez, Bill cria quadros que extrapolam o senso comum de se criar quadrinhos, usando muitas tintas, texturas e técnicas variadas de pintura, sendo um desses caras que conseguem dar um fôlego novo para a indústria de quadrinhos como o Alex Ross.

Já Frank Miller se supera nessa hq. Talvez tenha sido a falta de espaço, talvez tenha sido a proximidade que o autor têm com o personagem, mas nessa hq ele se perde menos em divagações inúteis de personagens, abandona o pretensiosimo e decide criar uma história simples, rápida e, ao mesmo tempo, complexa, cheia de reviravoltas, diálogos muito interessantes e um final espetacular.

É fácil imaginar essa história como um filme, mas não um blockbuster pretensioso de Hollywood e sim um filme noir de investigação policial, cheio de personagens complexos, sem maniqueísmo e cenários obscuros, criados com maestria no papel pelo já mencionado Bill Sienkiewicz, que consegue criar uma atmosfera envolvente e delicada, mas ao mesmo tempo assustadora, depende do que se passa na história.

Enfim, "Amor e Guerra" é uma das melhores histórias em quadrinhos que li até hoje, contando com um personagem que eu quase não conheço e pode ser que essa hq não seja tão fiel à ele, mas que é uma hq espetacular, isso ela é, podendo contar com os mais variados adjetivos, de belíssima à perturbadora, de espetacular à grotesca, de foda à original.

4 pontos e meio

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Dica literária: "Ronin" (1983)

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"Ronin" é uma HQ icônica criada por Frank Miller em 1983.

Conta a história de um samurai que perde seu mestre para o demônio Agat e se torna um ronin. Após a morte de seu mestre, ele corre atrás do demônio para matá-lo, mas os dois acabam ficando presos em uma espada. No final do século 21, em Nova Iorque, eles são libertados da espada por um cientista e o ronin acaba tomando o corpo de Billy, um homem sem pernas ou braços com poderes telecinéticos e que trabalha na empresa Aquarius, um enorme complexo criado no meio da cidade que serve para manter a população que vive ali dentro saudável e segura, longe dos males que assolam a cidade de Nova Iorque distópica do final do século.

É com essa história maluca que lhes apresento a dica de hoje. Ronin é icônico, todo fã de quadrinhos fala bem dessa HQ, que dizem ter sido inovadora para a mídia dos quadrinhos e uma das grandes responsáveis pelo quadrinho ser o que é hoje.

De fato, é em Ronin que percebemos muitas mudanças em relação à forma como os quadrinhos são feitos. Seja na forma como a narrativa é guiada, sem textos em off, com quadros mostrando apenas a movimentação de personagens, cheios de linhas de velocidade ou até mesmo na forma em que o traço é feito, bem rabiscado, sujo mesmo, buscando muita influência dos mangás.

E por falar em mangás, eis a maior influência em Ronin. Diz a lenda que Frank Miller só decidiu fazer Ronin, por que foi parar em suas mãos um exemplar de Lobo Solitário. Inclusive muitos quadros são idênticos ao do mangá de Kazuo Koike e Goseki Kojima, além do tema é claro. No entanto, é perceptível a influência de Katsuhiro Otomo em Ronin, principalmente em Billy, que lembra muito o velho maluco de Domu, mas também nos desenhos dos robôs e os cenários futuristas. Não é exagero dizer que Katsuhiro Otomo talvez seja a maior influência em Ronin e Ronin também é influência para Katsuhiro Otomo.

No entanto, Ronin não é nenhuma obra prima. A arte não é nada de extraordinária e o roteiro também não é grande coisa, ficando meio confuso ao longo da história e, por vezes, sendo chato. Aliás, esses são defeitos recorrentes nas obras de Frank Miller, mas que parecem não incomodar ninguém, além de mim.

Que Ronin é um clássico icônico, isso é verdade, mas ele serve mais como peça de museu, servindo apenas para mostrar o que os quadrinhos eram e no que eles se tornariam à partir dele.

3 pontos

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Dica literária: "Aquaman-Time and Tide" (1994)

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"Aquaman-Time and Tide" é uma mini-série em quatro edições escrita por Peter David e ilustrada por Kirk Jarvinen e Brad Vancata, contando uma nova origem para o herói, rei de Atlântida.


Com os novos boatos (que eu acho que nem são mais boatos) do filme da Liga da Justiça, com a participação do Aquaman (interpretado pelo Jason Momoa, que tem tudo a ver com o personagem), decidi me aventurar pela mitologia deste herói, que é tido como um bosta por todo mundo. No entanto, gostei muito dessa história, que mostra um Aquaman mais velho, contando 4 crônicas de sua vida em um livro que está escrevendo.


A sua primeira crônica é de como ele foi apresentado ao mundo da superfície, ajudando o Flash a prender um bandido e ignorando o amor que todo mundo dava à ele, visto que era um amor nutrido por hipocrisia e arrogância.


A segunda história conta as origens do herói, do momento em que ele foi parar em uma costa marinha sujeita às variações da maré, passando pela sua adoção por um golfinho fêmea e as lições de vida que ele aprendeu por puro instinto até as que ele aprendeu com sua mãe adotiva.


Na terceira história conhecemos um Aquaman meio adolescente, que decide viajar pelo mundo e acaba parando no Alasca, onde se envolve com uma esquimó, decifrando um pouco do quebra-cabeças que era a sua história, mas decepcionando as pessoas da superfície.


Na última crônica, somos apresentado à um Aquaman mais velho, já rei de Atlântida, dando uma lição de moral em um super-vilão, mostrando também o seu lado mais paternal e familiar, visto que nessa história ele já é casado e com um filho.


As histórias são muito boas, típicas hq's de banca, que não tem um roteiro muito emaranhado, nem um arte brilhante e genial. É tudo bem básico, mas não é medíocre, de maneira alguma. A arte é bem feita, apesar de pobre, não incomodando a narrativa. As histórias são simples, há um certo humor de "A praça é nossa", cheio de "trocadalhos do carilho", mas que dá um ar divertido para as origens do herói, mostrando que o Aquaman não é um herói a ser levado à sério.


Não que isso seja ruim, afinal "Guardiões da galáxia" também não era um grupo a ser levado a sério e parece que deu certo (eu ainda não assisti). Então, eu até acho que dá pra fazer um filme com o herói, sendo ainda mais legal se a história se passar mais no fundo do mar do que na terra, o que dá espaço para cenários gigantes e lindos, cheios de cores e animais aquáticos diversos, além das lições de vida que o próprio Arthur Curry (sua identidade secreta, ou não) aprende ao longo de sua vida.


Enfim, essa é a dica de hoje, uma hq simples, divertida e interessante, de um herói que não dá pra levar a sério como o Batman ("Eu vi meus pais serem mortos na minha frente"), mas que também não é um merda.


3 pontos e meio

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Dica literária: "Bidu-Caminhos" (2014)

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Mais uma Graphic MSP foi lançada no mês passado. Desta vez, Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho tiveram a missão de apresentar a história, antes de virar história, do Bidu, o cachorro azul do Franjinha.


Nesta edição do projeto somos apresentados à história de como Bidu conheceu Franjinha, conhecendo a sua vida de cão vira-lata, fugindo da carrocinha, entrando em brigas com outros cachorros e morando num carro abandonado dentro de um terreno onde a entrada é proibida.


O mérito dessa grande história é a forma como a narrativa é guiada, sendo apresentada logo no início, de uma maneira fenomenal, o personagem, sua rotina e o ponto final onde a história irá chegar. Bidu nos fala, no final de mais um dia normal, que aquela história que ele está contando, é a história de como ele conheceu o seu melhor amigo, em uma introdução extremamente cinematográfica e, também, emocionante. À partir daí somos guiados por uma espécie de linha reta, em que mostra a trajetória de Bidu até conhecer o Franjinha, passando a morar num abrigo de cães, se perdendo no meio da cidade, encontrando outros cachorros os quais ele tem que ajudar e finalmente, concluindo a sua trajetória com um plano singelo, porém genial, de Franjinha, sem perder explicação com outros personagens e situações que podem parecer desnecessárias.


Esse é o grande trunfo da narrativa. São apresentadas personagens diversos, cada um com sua própria situação peculiar (um é um cão perdido, outro é um buldogue raivoso, um terceiro só quer aparecer), mas a história não deixa em momento nenhum de ser uma história do Bidu, tudo sendo mostrado à partir de encontros casuais com o cão azul, algo que pode ter sido feito propositalmente, pois em suas histórias o cachorro é meio egocêntrico, não dando muito espaço para outros personagens.


Já em relação à arte, o quadrinho também não deixa nada a desejar. A arte de Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho é muito boa, utilizando arte digital feita apenas com software livres, os dois conseguem criar atmosferas muito boas para suas cenas, sendo tudo muito bem colorido e belo, ao mesmo tempo em que também é bem simples.


Outro ponto de destaque neste livro são as onomatopeias, que são tão importantes quanto a narrativa e a arte para o divertimento do leitor, afinal elas foram todas inseridas à mão, saltando dos quadrinhos, complementando a ação e complementando a narrativa de uma forma muito genuína e divertida.


Enfim, mais uma edição da Graphic MSP, mais um trabalha incrível, acima da média dos quadrinhos nacionais, feito com todo o esmero e atenção que esses personagens, que fizeram parte da vida de todo brasileiro, merecem.


4 pontos