quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Dica musical: "The Long Goodbye Soundtrack" (1973)

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Já indiquei aqui este filme maravilhoso chamado de "Um Perigoso Adeus". Hoje, após muita procura, desistências e mais procuras, encontrei a trilha sonora completa deste filme, que tem apenas uma música.

Alguns filmes precisam ser assistidos mais de uma vez para serem completamente admirados, pois muitas vezes estes filmes quebram várias barreiras, em diversos aspectos e somos impressionados apenas em algumas, deixando outras escaparem à atenção de nossos olhares. "Um perigo adeus" é um bom exemplo.

A primeira vez que eu assisti ao filme não reparei, mas quando o assisti pela segunda vez notei algo muito peculiar e interessante neste filme: Ele só tem uma música, batizada com o mesmo nome  do filme ("The long goodbye"), mas tocada em ritmos diferentes, por artistas diferentes, de gêneros diferentes, variando do clássico jazz, passando pelo fusion gostoso até uma versão mariachi.

A trilha sonora do filme contém 20 canções, ou melhor, interpretações diferentes da música tema, contando com umas bem exóticas como a versão mariachi, algumas apenas instrumentais e até a montagem com todas elas.

Enfim, a trilha sonora de "The Long Goodbye" é excepcional. Uma joia rara, ainda a ser descoberta pelo mundo.

4 pontos e meio

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Dica musical: "Plowing into the field of love" de Iceage (2014)

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"Plowing into the field of love" é o novo álbum da banda punk/hardcore dinamarquesa Iceage, sucessor de "You're Nothing".

"Lord's Favorite" foi a primeira música que ouvi desse novo álbum, junto com "Forever" e a primeira, sendo uma canção cheia de influências de country music, com uma letra, apesar de elaborada, soando como uma enorme piada e eu fiquei, profundamente, desapontado com essas primeiras canções, apesar de "Forever" ser uma excelente música, por que eu achei que eles iriam ser uma dessas bandas que começam incríveis e, sob o pretexto de estar amadurecendo e crescendo, acabam mudando completamente  a sua sonoridade, caindo no limbo da descaracterização completa, como aconteceu com Arctic Monkeys, por exemplo.

No entanto, já vimos bons exemplos de bandas que crescem e amadurecem e ainda assim continuam fiéis a sua sonoridade, avançando em níveis criativos, líricos e produtivos, citando nessa categoria bandas como Cage the Elephant e La Dispute.

E é com enorme prazer que eu consto que Iceage entra no segundo grupo, reforçando a tese de que essa é uma das melhores bandas de rock/punk/hardcore da atualidade, quiçá, da história.

A começar pela sua estratégia comercial, lançando "Lord's Favorite" uma música ridiculamente ruim como o primeiro single do álbum, dizendo claramente para os fãs "ESSE NÃO É O ÁLBUM DE ICEAGE QUE VOCÊ ESPERA, ELE É DIFERENTE, ESPERE POR ELE SER DIFERENTE!" e logo as suas expectativas vão lá embaixo com isso, mas logo, em seguida, lançando uma música ótima como "Forever" e te deixando com uma pulga atrás da orelha, fazendo você questionar se esse será um álbum tão ruim como você esperava.

É uma ótima estratégia, principalmente, por que o Iceage não foi por caminhos tão diferentes assim. Tá certo, eles estão com uma sonoridade diferente dos primeiros álbuns, mas não é como se a banda tivesse sofrido uma descaracterização completa. Colocando em uma analogia fácil de se compreender, é como se antes a banda estivesse caminhando por caminho tortuoso, pisando em buracos, afogando-se em poças de lama, indo para o meio do mato ao lado da estrada, dando meia volta e repetindo o mesmo caminho todo de novo. Já neste CD, é como se eles estivessem seguindo pelo mesmo caminho, mas descoberto que ele faz parte de uma estrada muito grande, que segue ao lado de outras estradas também muito grandes, desviando dos buracos, pulando nas poças de lama para se sujar um pouco e tirando sarro daqueles que estão seguindo as outras estradas ao lado.

Sendo formada por caras em torno dos seus 20 anos, que viviam na Dinamarca, um país com um cenário musical muito sólido, é completamente plausível que só agora eles estejam descobrindo estilos musicais daqueles que os cercavam na capital dinamarquesa, como o jazz, ou mesmo bandas que poderiam muito bem ter servido como influências nos antigos álbuns do grupo.

A receita que todos gostamos da banda ainda está lá, os riffs de guitarra continuam caóticas, a bateria continua violenta e o baixo ainda continua marcante e forte em todas as suas canções, mas o vocal, antes ininteligível, selvagem e brutal, torna-se mais ameno com este CD, no entanto, não menos obscuro, afinal o vocalista da banda é dono de um belo barítono, algo que se destaca bastante nesse álbum, podendo revelar uma outra faceta das canções do grupo, uma faceta mais sombria, misteriosa e até assustadora. A mudança mais agressiva (compreenda isso em todos os sentidos) é o tempero usado pela banda, antes nem era presente, e agroa é marcado por pianos, trompetes e violões.

Todas essas mudanças abrem um novo horizonte para o som caótico, deprimente, até niilista da banda, sofisticando os seus arranjos, seus acordes, em suma, a sua sonoridade.

Para mim, "You're Nothing" foi um dos melhores álbuns que já tive o prazer de escutar e achava difícil que o Iceage pudesse superá-lo,e ainda acho que não superou, mas em tão pouco, ver um lançamento tão bom e satisfatório como esse é, realmente, incrível.

4 pontos

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Dica televisiva: "Space Dandy 2" (2014)

[caption id="attachment_857" align="aligncenter" width="212" class=" "]763822-space_dandy_2_large Space Dandy wa uchuu no dandii de-aru[/caption]

E agora, com vocês, a dica televisiva da tão aguardada segunda temporada de Space Dandy.


Pouca coisa muda da primeira temporada para a segunda, mas uma das coisas mais interessantes é que essa segunda temporada assumiu de vez que Space Dandy não é só um anime de 2014, ele é um projeto em formato anime. A primeira temporada, se você não se lembra, foi criada por Shinichiro Watanabe, imagino que nos moldes criativos com os quais Cowboy Bebop foi concebido, ou seja, cada um da equipe criativa dava ideias que iam sendo adotadas e adaptadas para o anime, mas nessa segunda temporada, Shinichiro Watanabe teria que deixar a liderança de Space Dandy para assumir o comando de outro anime, o maravilhoso Zankyou no Terror.


Sendo assim, essa segunda temporada de Space Dandy teve o grande diferencial de yer cada um de seus episódios dirigido por uma pessoa diferente, sendo assim, além de termos uma profusão de estilo artísticos diferentes (um dos grandes chamarizes da primeira temporada), também vemos essa abundância nos roteiros, ideias, conceitos e narrativas dessa segunda temporada.


É visível em alguns episódios que os personagens estão completamente diferentes da primeira temporada, em outros, a fluidez da narrativa é lenta, alguns esbanjam referências a outros animes, outros se aproximam muito da proposta espacial que foi a responsável por criar o anime, mas uma coisa que fica evidente e agora pode ser assumido como uma certeza é que Space Dandy foi criado para ser um anime sem fim, desses que ficam passando por anos e anos a fio, algo mais popularizado aqui no ocidente com desenhos como Pica-Pau e Tom e Jerry.


No entanto, ninguém sabe, infelizmente, se essa proposta será levada para frente ou não, algo que fica saliente com o episódio final, que encerra em uma batalha fenomenal a guerra entre o império Gogol e o império Jaicro, além de dar início a uma nova era de aventuras com Space Dandy,mas será que isto terá continuação?


Não sei, mas espero que sim, apesar deste temporada não ser melhor que a primeira, ela é muito interessante, como um projeto Space Dandy e espero que tenham mais e mais temporadas deste fantástico anime.


4 pontos


Obs: A trilha sonora está incrível (além de gigante) e eu já vou ouvi-la para fazer uma dica musical aqui.

sábado, 18 de outubro de 2014

Dica cinematográfica: "Super" (2010)

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"Super" é um filme de super-heróis sem poderes, nos moldes de Kick-Ass, com um pouco mais de drama, do ano de 2010.


O filme conta a história de Frank, um bunda mole, não cheira, nem fede, que após ver a sua viciada ex-mulher com outro homem, um narcotraficante sedutor, decide virar um super-herói, acreditando ter recebido um chamado de Deus para isso, combatendo o crime sob a alcunha de "Crimson Bolt", usando uma fantasia que ele mesmo criou, uma chave inglesa e sua louca ajudante "Boltie".


O filme têm um sentido muito mais profundo do que parece. Tratando-se de um filme dramático, ele têm um personagem principal muito complexo, que se acomodou à sua vida pacata, casado com a única mulher que se interessou por ele, em um momento difícil da vida dela, logo após ela ter saída da reabilitação por ter sido viciada em drogas. Aliás, no começo do filme, Frank diz que teve apenas dois momentos felizes em sua vida, que fizeram ela valer a pena, o momento em que se casou e quando ele ajudou um policial a pegar um bandido.


Ao longo de todo o filme, acompanhamos a trajetória de Frank, tornando-se um herói odiado por todos, até que descobrem que ele combatia pedófilos, sequestradores e traficantes, tornando-se um herói amado, enfim, enfrentando os bandidos no final, perdendo muito do que ele amava, dando um desfecho surpreendente para o personagem e transmitindo uma mensagem extremamente bela para o telespectador; que você não precisa ter super-poderes, nem ser o coadjuvante de sua vida para ter uma existência significativa, de fato, Frank acaba salvando sua mulher e a vida de muitas outras pessoas simplesmente pela sua presença ali e que os momentos mais importantes de sua vida não precisam ser momentos de heroísmo grandioso ou extraordinários, um simples "bom dia", uma carona ou um "obrigado" já fazem sua vida valer a pena.


E é isso que Frank descobre no final, em uma cena incrivelmente tocante e satisfatória, fazendo deste um dos melhores filmes que eu já assisti.


4 pontos e meio

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dica musical: "Rip This" de Bass Drum of Death

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Apenas um pouco mais de um ano depois de "Bass Drum of Death", o segundo CD da banda, Bass Drum of Death retorna com mais um empolgante, dançante, agitado e surpreendente CD.


Acompanho o Bass Drum of Death desde que eles lançaram "GB City", em 2011 e sempre gostei muito do que eles lançavam. Naquele longínquo ano, a banda não tinha nenhuma grana, gravaram o primeiro álbum em uma garagem, com um microfono conectado a um computador pela entrada USB, buscando a maneira mais barata de se gravar um CD. De lá pra cá, eles fizeram um monte de turnês, aprenderam a gravar em estúdio com o auto-intitulado CD de 2013 e voltam com mais um CD carregado com 10 músicas originais e agitadas para o deleite de quem gosta de um bom rock n' roll.


"Rip This" começa um pouco desanimador, parecendo ser apenas mais do mesmo vindo de uma banda que não tem muito para apresentar além do rock de garagem juvenil popularizado no final da primeira década dos anos 2000 com bandas como Wavves e Best Coast, que é a especialidade de Bass Drum of Death, mas sem a distorção bagunçada e os "uuuhhh" e "ooohhh" do último CD.


Na verdade, pelas primeiras músicas parece mais uma banda de garagem, tentando ser rock n' roll e mostrar que estão crescidinhos.


No entanto, após "Everything's the same" (irônico? acaso?), a banda surpreende com "Sin is in 10", uma música que começa com um murmúrio, algo simples e que promete algo grande, até que a música explode em energia e vida, surpreendendo por se tratar de um rock n' roll puro, sem os "oohhh" e "uuuhhh" do rock de garagem, apesar da distorção na guitarra e na voz do vocalista ainda estar ali.


A partir daí somos apresentados a músicas cada vez melhores, sendo "Black Don't Glow" e "Lose My Mind", as melhores deste CD e, quiçá, da carreira deles, mostrando um rock um pouco mais refinado do que os dos últimos CD's, sem se preocupar tanto com maneirismos das bandas de lo-fi e do rock de garagem, indo direto ao ponto.


No entanto, e é aqui que o BDoD se destaca, eles não perdem a essência da banda, nem sofrem a descaracterização que detona tantas bandas por aí, as guitarras distorcidas ainda estão aí, a rebeldia juvenil, a bateria enérgica e, é claro, o ritmo acelerado e dançante, que é a grande marca da banda.


A criatividade em torno deste CD é tamanha que eles até se deixam entregar ao "estrelismo", colocando uma canção acústica no álbum e, surpreendentemente, os temas de suas letras não são repetitivos, nem piegas como a de muitas bandas.


Enfim, Bass Drum of Death mostram que, com esse álbum, estão prontos para seguir em caminhos cada vez maiores (ano passado, fizeram parte da trilha sonora do GTA V e suas músicas eram ouvidas nos intervalos da Nascar), podendo se posicionar, finalmente, ao lado de grandes nomes do rock n' roll.


4 pontos e meio

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Dica musical: "Zankyou no Terror OST" por Yoko Kanno

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Em mais uma parceria com o melhor diretor de animes do mundo, Shinichiro Watanabe, Yoko Kanno cria com maestria uma obra de arte musical, que cria o ambiente perfeito  para a história realista, perturbadora e, ainda assim, esperançosa de Zankyou no Terror.

Contando com a ajuda de artistas musicais da Islândia, como Arnór Dan Arnarson, a trilha sonora de Zankyou no Terror pode ser classificada com ambient, um gênero musical com ênfase na criação de um atmosfera que evoca a atenção do ouvinte, sem forçá-lo de forma alguma àquilo, ou seja, ela chama a atenção, mas para poder admirá-la é necessário a sua atenção, pois as diferenças entre uma canção e outra está em seus detalhes, pequenas mudanças de tom em seus instrumentos, que podem provocar uma mudança total na interpretação da canção. Não vou me prolongar muito no tema, que é muito ambíguo, mas devo dizer que o gênero é muito rico, não só na qualidade dos aparelhos com a qual as músicas são feitas, como também no número enorme de instrumentos possíveis que podem ser usados em uma música ambient, abrindo sempre novos horizontes para o gênero.

Enfim, a escolha de artistas nórdicos não foi à toa, talvez seja por lá que a música ambient melhor se estabeleceu, com artistas que desenvolvem músicas envolventes, evocando todo e qualquer tipo de sentimento sem para usar os instrumentos mais tradicionais ou mesmo digitais. Muito deles usam, inclusive, instrumentos regionais para elaborar suas canções, dando uma nova roupagem ao gênero, que se popularizou com o uso de sintetizadores, apenas.

Voltando á trilha sonora de Zankyou no Terror, a maioria de seus canções são perturbadoras, evocando desespero, desolação e melancolia, mas chega a ser deprimente, como muitas músicas, ela evoca alguns sentimentos ruins sim, mas as suas melodias sempre têm uma pontada de esperança, marcadas, principalmente, pelo uso do piano. Algumas adquirem tons épicos, crescendo ao longo de 2 a 3 minutos e finalizando lentamente, como se estivesse indo embora, abrindo espaço para algo novo, melhor, mais alegre.

Afinal, esse era mais ou menos o clima da série, algo masi perturbador, desolado, melancólico, porém sem nunca chegar a ser piegas, melodramático ou deprimente. Era apenas o realismo, é assim que a vida é e ponto.

Algumas canções são alegres, divertidas, abrindo um espaço vivo, alegre, gostoso no meio de tanta perdição, quase como se estivessem perdidas, fora de contexto; mas tudo isso se encaixa com a brilhante proposta da série.

Após ouvir a trilha sonora, cheguei a conclusão de que ela, antes de mais nada, é emocionante, em vários sentidos, um complemento à série, como se fosse um braço ou uma perna, um pedaço essencial, necessário para sentir a série plenamente.

5 pontos

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Dica televisiva: "Zankyou no Terror" (2014)

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"Zankyou no Terror" é um dos animes mais hypados deste ano e não é pra menos, com direção de Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop e Samurai Champloo), com character design de Kazuto Nakazawa (Samurai Champloo) e trilha sonora sob as asas criativas de Yoko Kanno (Cowboy Bebop, Ghost in the Shell e Space Dandy), além de contar com um tema atual e polêmico, esse anime têm a receita perfeita para ser um diamante brilhante no meio de tanto lixo produzido no Japão, atualmente.

E é.

"Zankyou no Terror" conta a história de Nine e Twelve, dois jovens terroristas, que usam vídeos na internet para divulgar os locais de seus atentados, assim como a hora, em formas de enigmas, denominando-se Sphinx nº1 e nº2; desafiando a polícia de Tóquio, em espacial o detetive Kenjirou Shibazaki, que havia sido transferido de cargo por causa de um caso não resolvido anos atrás, mas que parece ser o único que consegue resolver os enigmas da Sphinx. Em meio a tudo isso, também acompanhamos Lisa Mishima, uma garota que sofre na escola e em casa, mas que se deixa levar pelos sentimentos em relação ao Twelve, após ser salva por ele do primeiro ataque terrorista da Sphinx.

Este é o anime mais devastador, em todos os sentidos de Shinichiro Watanabe até agora, que havia se resumido à animes de aventura e, no máximo, slice of life, sempre juntando influências do cinema noir, o jazz, a ficção científica e temas filosóficos, metafísicos e até religiosos; que é mérito de seus auxiliares na produção dos animes, escolhidos a dedo pelo diretor. No entanto, em "Zankyou no Terror", apesar da história  de ambientar em uma "realidade alternativa" (de acordo com as sinopses oficiais), somos apresentados à sua obra mais realista, abrangendo um tema que chama muito a atenção: o terrorismo.

Não somos apresentados às razões dos protagonistas logo de cara, de fato, este é um anime que deixa mais questões do que respostas, criando situações que se apresentam sem saída e respostas às situações que merecem uma segunda assistida para você se convencer de que essas saídas talvez sejam os momentos mais surreais no anime. No entanto, isso não é algo ruim, muito pelo contrário, aliás, aliado à trilha sonora (tocante e muito influenciada pela música nórdica), conhecemos personagens cheios de sentimentos, negativos, sim e até desoladores, mas com uma brilhante mensagem de esperança no final.

O realismo exerce uma força no anime em todos os níveis, desde as personalidades de seus personagens (e nisto inclui-se os seus sentimentos, ideais e ações) até as cenas mais emocionantes, que não chegam a ser piegas ou sensacionalistas, o que pode se mostrar decepcionante num primeiro momento (mas este não é um anime para ser analisado num primeiro momento); mas que se bem analisado se encaixa na proposta do anime, de mostrar a realidade da forma que ela é e como nós devemos encarar o mundo que nos cerca, mas sem perder a esperança, que acaba tornando-se um ponto central na mensagem final que o anime quer passar.

Quanto à parte técnica, esse anime é sim uma jóia rara. No meio de tantas animações pobres, desanimadas desculpe o trocadalho do carilho e sem emoção, "Zankyou no Terror" mostra que um anime, quando feito com paixão e planejamento, briga de igual para igual com grandes produções cinematográficas. As cores são vibrantes, porém não cansam os olhos, a animação é fluída, notando-se algumas deixas aqui e ali, esporadicamente, mas que não perturbam quem assiste e sua qualidade excepcional pode passar despercebida pelo público geral de anime.

Aliás, esse é um anime que pode não ser compreendido pelo público geral de animes, que está acostumado com animes de qualidade duvidosa tanto no roteiro quanto em sua qualidade artística como Naruto, Shingeki no Kiojin,  Kill La Kill e outras porcarias que fazem sucesso por sei-lá-qual-razãom, exatamente por exigir um pouco mais de paciência e admiração de quem assiste, como eu já disse, exigindo que você assista algumas cenas mais de uma vez e te deixando pensando sobre a vida e a realidade em que vivemos por algum tempo após finalizá-lo.

Enfim, "Zankyou no Terror" é um anime que me deixou com expectativas altas, mais pela equipe por trás dele (impressionante, demais!) do que pelo seu tema e que, apesar de seus defeitos de roteiro, me surpreendeu, seja pela sua história singular ou pela qualidade artística incrível.

Só assista e admira, meu amigo.

4 pontos e meio

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Os debates agressivos e o reflexo da sociedade no comportamento dos políticos

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Este ano será a primeira vez que eu terei que votar, um direito, que é obrigatório, então tentei conhecer as propostas políticas, aproximar-se dos políticos que saem da cidade onde moro e acompanhar os debates presidenciais.

No entanto, se eu disser que acompanhei o debate de ontem por apenas 20 minutos, estarei mentindo, por que isso foi muito. Achei simplesmente intragável o comportamento de todos eles, que dão beijo no início do programa, sorriem para as câmeras, mas estão com as armas preparadas para atacar os adversários, assim que o momento se mostra propício.

Com tanta baixaria, achei simplesmente melhor mudar de canal e assistir "A praça é nossa", que não deixa a desejar nos níveis de baixaria, mas é muito melhor, sabendo que aquilo é uma atuação e que o dinheiro que seus humoristas ganham vêm de meios honestos (em sua maioria, pelo menos).

E hoje, enquanto meditava no banheiro, acabei percebendo que isso não é um caso a ser ignorado e que o problema não está simplesmente nos políticos, mas talvez, em toda a sociedade do nosso país, que, diga-se de passagem, está podre e não é de hoje, nem ao menos desse século.

Basta acompanhar algum assunto polêmico em destaque no twitter, por exemplo, quando o aborto de bebês anencéfalos foi aprovado pelo governo. Todo mundo que se interessava pelo assunto foi ás redes sociais protestar ou parabenizar a decisão, atraindo rapidamente a atenção daquelas pessoas que acompanham aquelas que seguem esse tipo de assunto, por exemplo, seguidores de feministas famosas ou seguidores de canais religiosos. Em pouco tempo, esse era um dos assuntos mais comentados do Twitter, mas era, provavelmente, o menos debatido.

Nas redes sociais, estamos cada vez mais próximos e cada vez mais distantes. Sabemos instantaneamente o que disse "fulano de tal", damos a nossa resposta para aqueles que nos seguem e "fulano de tal" nem fica sabendo. E se fica sabendo, ele, no máximo, vai fazer uma réplica, no entanto, o comportamento comum à esse tipo de situação é o bloqueio da pessoa que discorda de você.

Mas espera aí, e o debate de opiniões? Ele simplesmente não têm mais espaço na nossa sociedade e é por falta de debate que vemos tanta violência gratuita nos jornais diários. Por um lado temos alguém que grita para o mundo todo ouvir as suas ideias, por outro temos aquele que discorda e assim que o primeiro consegue ser ouvido por alguém de interesse das duas partes, uma delas reage de forma violenta, seja ela através de um bloqueio no twitter ou através de uma lâmpada quebrada na cabeça em praça pública.

O que vemos simplesmente são imposições de ideias e aquele que grita mais alto e por mais tempo acaba ganhando. É como aquele vendedor chato que fica te jogando incessantemente motivos para você comprar o seu produto e você, cansado de tanto ouvir besteira, acaba comprando o produto e o vendedor vence, não por mérito próprio, mas por desistência sua.

As pessoas não entram mais em um consenso e já não faziam isso antes, afinal o nosso país sempre foi violento, é só pesquisar os conflitos regionais de nosso país, alguns considerados leitura obrigatória para vestibular até e você poderá constatar que nunca fomos muito sensatos quando o assunto se trata de diálogo. No entanto, conseguimos levar a violência á um outro nível, reagindo com palavras, expondo nossos alvos ao ridículo (estratégia que desde sempre é considerada baixa, mas que está sendo usada como nunca hoje) e quando nada disso funciona simplesmente ignoramos aqueles que discordam de nós.

Vejo muito disso no meu irmão, que tem 16 anos. Quando nós discordamos de algum assunto, ao invés de se acalmar e tentar explicar o seu ponto de vista, ele simplesmente vira as costas, balançando a cabeça e dizendo, quase cuspindo: "Tá! Tá!".

E o que eu vi nos debates foi bem isso, políticos atacando outros políticos, alguns se juntando para conseguir atacar um só político, seus seguidores fazendo o mesmo nas redes sociais e a divulgação de ideias e planos de governo que é bom, nada.

Pior, o respeito é zero.

Cito o momento em que a Dilma disse (mais ou menos) que estava ali como candidata à presidência, mas que exigia o devido respeito. Tá certo, os candidatos estão ali como rivais dela, você pode, com todo direito e respaldo da lei, discordar dela, mas ela é a presidente do país, cara! Pense em uma situação hipotética em que o seu pai trai a sua mãe, você pode e deve ficar bravo com ele e dizer o quanto ele está errado, mas ele ainda assim é o seu pai!

O pior de toda essa alienação com relação à opinião alheia é de que isso gera ódio, desprezo e desrespeito. É como uma nuvem que cobre o nosso senso de realidade, trancando-nos em nossos pequenos mundinhos, construídos pelas nossas opiniões para parecerem perfeitos.

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Eu sei o quanto é ruim ver pessoas discordando das suas ideias, talvez mais do que muitos que reclamam de barriga cheia, por que eu nado quase que completamente contra a corrente de pensamentos que estão se popularizando nas últimas décadas, no entanto, se não fosse por isso, eu não teria me tornado essa pessoa que pensa duas, três, quatro vezes antes de dizer algo que vai contra o que todos falam. Afinal, se todos estão falando, é por que é verdade, certo? Errado. Nem sempre é assim, mas é bom ponderar os dois lados antes de escolher um.


Acho que o que mais prejudica o mundo hoje em dia, em todos os setores, seja ele econômico, ambiental, político ou social, é o extremismo. Quando adotamos uma ideia e seguimos ela cegamente, convencidos de que estamos certos e todo o resto está errado, então não podemos estar mais errados, por que é assim que perdemos a razão, ao ignorar os outros, expondo-os ao ridículo e, por fim, reagindo violentamente contra eles.


E isso vale para todos.