domingo, 30 de novembro de 2014

Dica literária: "Koe no Katachi" (2014)

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"Koe no Katachi" é um mangá escrito e desenhado por Yoshitoki Ooima, serializado entre Agosto de 2013 e Novembro de 2014.

O mangá conta a história de Nishimiya Shouko, uma garota surda que se muda para uma nova escola, de ensino primário. Pelo fato dela ser surda, acaba sendo alvo das brincadeiras de mau gosto de Ishida Shouya, até que ela é forçada a sair da escola. Como resultado, Ishida acaba sendo ostracizado por todos os seus colegas de classe, durante todo o resto da sua vida escolar primária. Anos depois, já no colegial, arrependido do que fez, ele procura se reencontrar com Nishimiya, buscando redenção pessoal.

Agora que acabou, sinto-me livre para falar desse excelente mangá, que começou como um one-shot e depois foi serializado. No one-shot somos apresentados a toda a história de Ishida zoando Nishimiya em algumas páginas, finalizando com o seu reencontro em uma estação de trem. Já na serialização todo o primeiro volume do mangá é dedicado a mostrar a infância de Nishimiya e Ishida, aprofundando em seus relacionamentos com os parentes e os amigos, centrando-se mais em Ishida, mostrando que ele é um garoto que, simplesmente, não quer ficar entediado e por isso se mete em loucuras como pular da ponte e zoar Nishimiya, chamando a atenção de todos. No entanto, ele, no fundo, não tem amigos, que só se aproximam dele por que não vêem outra opção e por isso, acabam fazendo Ishida ser alvo de ostracismo, após a saída de Nishimiya da escola.

No final do primeiro volume, a série pula alguns anos e Ishida já está no colegial, ainda sem amigos ou expectativas para o futuro. Ele passou os últimos anos dedicando-se a aprender a língua de sinal, até o dia em que se reencontra com Nishimiya e, então, ele dedica-se a tornar-se amigo dela, surpreendendo a garota.

A partir daí, o mangá desenvolve as relações de Ishida com Nishimiya e as pessoas do seu lado, mostrando como Ishida volta a confiar nas pessoas e descobre-se apaixonado pela garota. Conhecemos também o passado de Nishimiya e sua relação com a família, que mostra-se bastante complicada também.

Como todo mangá, infelizmente, as relações amorosas não são aprofundadas (não rola nem um beijo entre os dois), mas não é longo o suficiente para enjoar os leitores. Sem contar que o desenvolvimento de personagens é impressionante, dando a atenção necessária para que os leitores criem empatia com cada um deles, até mesmo os secundários, que também são bem explorados e necessários para o desenrolar da trama.

Um dos pontos que me chamou a atenção foi o fato do autor ter contado com o auxílio da "associação japonesa para pessoas com deficiência auditiva" (ou algo assim, não sei qual seria a tradução exata) para fazer os sinais exatos da língua de sinais no mangá. Algo que é muito interessante, por que funciona para atrair o interesse dos leitores á língua de sinais e conferir mais realismo à história, principalmente quando ela começa a ser contado do ponto de vista da Nishimiya.

A arte também é muito boa, não sendo espetacular, mas sendo muito competente e bem equilibrada.

Enfim, "Koe no Katachi" é um ótimo mangá, já finalizou então leiam sem medo de ser cancelada ou virar uma porcaria.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Dica cinematográfica: "O menino e o mundo" (2014)

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"O menino e o mundo" é um filme brasileiro de animação lançado nos cinemas nacionais no ano de 2014.

O filme conta a história de um garoto, que sentindo falta do pai, decide sair de casa para procurá-lo, descobrindo um mundo cheio de máquinas bizarras com aparências animalescas, sociedades futuristas e vidas de pessoas diferentes, com seus próprios dramas, hobbies, sonhos e esperanças.

O filme não tem falas, ou melhor, até tem, mas não são inteligíveis. Ainda não sei se eles falam alguma língua diferente, com a qual não estou familiarizado, ou se suas vozes são tocadas de trás para frente (opção mais plausível). Toda a história é contada sem que saibamos os nomes de seus personagens, alguns que mais parecem alegorias de tipos que encontramos no nosso mundo, como morador de favela que vai pro trabalho antes do sol nascer e só volta para casa depois que o sol se põe, até mesmo o pai do garoto, que é a personificação do homem do interior que vai para a cidade grande procurando uma oportunidade de melhores condições de vida.

No entanto, a falta de diálogos é compensada pela trilha sonora, simplesmente sensacional, com tons muito originais, em sua maioria instrumental (apenas uma canção é cantada, pelo incrível Emicida, também de trás para frente), traduzindo para os nossos ouvidos quais as sensações que o menino está sentindo em cada um dos momentos de sua aventura por esse mundo mágico.

Aliado à isso, está a arte do filme. É uma animação muito texturizada, seus personagens parecem terem sido desenhados com giz de cera, algumas partes do cenário parecem colagens de páginas de revistas e a movimentação de tudo é feita de forma a criar um ambiente lírico, aberto à imaginação do espectador, dando ainda mais originalidade à essa obra.

O único pecado que eu acho que a obra comete é ao querer aliar à ótima história uma crítica social, que, em alguns momentos, é clara e direta, como no momento em que o garoto pensa encontrar o seu pai, mas descobre estar vendo apenas uma multidão de homens iguais. No entanto, em diversos momentos a crítica torna-se confusa, como no final, em que duas aves gigantes brigam acima da cidade (esse momento é de fácil compreensão, mas uma das aves apresenta-se confusa para o espectador).

Felizmente, isso não prejudica de forma alguma o filme, que poderia muito bem existir sem essas partes.

O final também torna-se um pouco confuso para acompanhar, confesso que ainda não o entendi, mas quem disse que precisa-se entender o final de um filme para ele ser considerado bom ou não? Afinal, não é esse mistério, essa libertada dada à imaginação do espectador que faz filmes tornarem-se clássicos?

Enfim, "O menino e o mundo" é um ótimo filme, uma produção nacional digna de nota, que serve para ensinar à outras produções o que é um filme de animação bom, de verdade. Esse sim, merecia concorrer ao Oscar.

4 pontos e meio

domingo, 9 de novembro de 2014

Um texto com os meus pensamentos sobre o final de Naruto.

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Quando eu soube que o Naruto ia acabar eu fiquei eufórico, alegre de verdade, foi, provavelmente, o dia mais feliz de Outubro para mim. Basicamente, eu fiquei assim:



No entanto, eu estava muito atrasado. Acho que eu não lia o mangá desde o ano passado, pelo menos, então eu tive que ler uns 300 capítulos em uma semana, ficando assim:



Durante a minha leitura, eu lembrei por que eu havia parado de ler o mangá de Naruto. Quando Naruto explodiu (isso quando eu tinha uns 11 anos) e todos os meus amigos liam e assistiam o Naruto, eu achava aquilo o máximo, é oque me fez entrar de cabeça no mundo otaku, mas conforme você vai crescendo, ganha maturidade, você começa a questionar algumas coisas, como por exemplo, por que o excesso de peitos grandes saltando no meio da sua tela? Por que os japoneses tem um senso de humor tão ruim? Por que as lutas duram tantos capítulos? Por que os romances nunca são desenvolvidos? Por que os personagens gritam tão histericamente? Por que porcarias assim fazem sucesso com pessoas de 20 e tantos anos? À partir daí, você se toca de que a maioria dos mangás são puro lixo, produzido apenas para suprir uma demanda gigantesca de mercado.



Por essas razões, eu parei de nadar tão profundamente no mundo otaku e hoje em dia, cada anime que assisto ou mangá que eu leio passa por uma rigorosa malha fina antes de eu me atrever a assisti-lo. Após isso, parei de ler Fairy Tail, parei de comprar mangás só para ver  como eram na banca e pesquiso muito antes de assistir os 3 primeiros episódios de algum anime para decidir acompanhá-lo. No entanto, com Naruto é diferente. Naruto foi uma bomba no mundo ocidental, era o Cavaleiros do Zodíaco dos anos 2000, o Dragon Ball Z da minha geração, a maioria dos otakus entre 17 e 23 anos hoje, entrou nesse mundo através de Naruto, então muita gente dá importância para essa história, importância merecida aliás.



Então, eu decidi voltar a ler o mangá, ficando assim em alguns momentos:



Em outros, eu ficava assim:



E finalmente, alcancei o capítulo 695.



Mas finalmente, consegui alcançar o capítulo 695 e comecei a acompanhá-lo em tempo real. Mas eu estive sempre com um pé atrás em relação ao final da série. Primeiro, por que as últimas lutas foram exageradamente épicas. Entenda, não há nada de errado com lutas épicas, elas são ótimas, mas desde o final do arco da akatsuki, o mangá passa por uma sucessão de lutas épicas tão grandes que enjoa. Simplesmente, nada do que acontece ali impressiona, apenas cansa. Sem contar que os motivos dos personagens começam a perder sentido, então eu fiquei assim quando a luta final do Sasuke e do Naruto começou:



E tão rápido quanto começou, ela acabou e eu não podia estar mais desinteressado no seu desfecho quanto eu estava ao terminar de ler o capítulo 699.



Só que aquele era um capítulo duplo, então eu comecei a ler o capítulo 700, que, sinceramente, pareceu a mim muito interessante, tornando-se satisfatoriamente bom.



E eu não preciso nem dizer como eu fiquei quando vi a Hinata ao lado de sua filha com o Naruto, né?



E então a possibilidade de mais histórias do universo Naruto, mas dessa vez com os filhos dos personagens principais.



Eu estava esperando que o Sasuke morresse sim, mas se você quer saber, esse final foi muito melhor do que teria sido se o Sasuke tivesse morrido.


No final, a série do Naruto não é nenhuma obra de arte genial, leitura obrigatória para qualquer fã de um bom mangá, mas teve um final extremamente satisfatório, se não perfeito, para uma série cheia de altos e baixos e que nos últimos anos estava tendo só baixos e fundos.


Agora que ela acabou, dá até para dar uma nota 3.


3 pontos


Estou até pensando em comprar o último volume pra ter aqui guardado, se o último capítulo tiver páginas coloridas.


Quanto às novas histórias, eu espero que sejam lançadas em volumes únicos ou one-shots mesmo, por que se não, nem compensa acompanhar. Mas eu vou ficar no aguardo e ansioso, se aparecerem os filhos dos personagens principais.


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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Dica musical: "Vibes!" de Theophilus London (2014)

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"Vibes!" é o segundo álbum de Theophilus London, um rapper/fashionista/cantor pop trinidadiano, com base nos Estados Unidos, onde mora e produz suas músicas.


Coloquei ali diferentes "títulos" para o cantor, por que é um pouco difícil clasificar sua música, ao menos em "Vibes!", como rap. Visto que não tem tantas rimas, são canções mais curtas e menos focadas na mensagem e mais no estilo, seja lírico ou sonoro.


Em "Vibes!" somos logo apresentados a esse estilo do cantor com "Water Me", uma canção curta, muito centralizada em sua batida, um tanto futurística, meio oitentista, parecendo um sampler da trilha sonora de algum filme como "Time Masters" ou "Planeta Fantástico", o que é legal, aliado a uma letra que não deixa transpor, com clareza, a sua mensagem, tornando-se, de certa forma, enigmática, sendo uma abertura brilhante para um CD tão bom.


Inclusive, a palavra "enigmático" pode ser a palavra que melhor descreve esse CD, ao lado de "sofisticado", pois é assim que ele é. Cheio de nuances, batidas certeiras, com mudanças pequenas em momentos claramente reservados para elas. Nada se sobrepõe, nada gera confusão, não existe caos aqui, apenas ordem e clareza, mas sem leveza, pois é um CD enigmático, seja em suas batidas, seja nas letras curtas.


3 pontos e meio

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Dica cinematográfica: "A dama de Xangai" (1947)

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"A dama de Xangai" é um filme policial, filmado no estilo noir de 1947.

Conta a história de Michael O'Hara, um marinheiro com passado obscuro que se encanta pela bela e jovem Elsa Bannister, mulher de um famoso advogado criminal, o sr. Arthur Bannister. Após o primeiro encontro com a mulher, Michael recebe a visita de seu marido, que o oferece um emprego em seu iate, que sairia de Nova Iorque e iria até São Francisco, passando pela baía do Panamá. Induzido pelos colegas, que também conseguiram um emprego no luxuoso barco, Michael aceita o trabalho, sentindo-se cada vez mais atraído pela mulher. Durante a viagem, conhece George Grisby, sócio de Arthur, que oferece a Michael 5 mil dólares, caso este o mate. Michael decide aceitar o plano e, com o dinheiro, tenciona fugir com Elsa, mas Grisby morre antes da hora e o marinheiro é acusado de homicídio, correndo o risco de ser sentenciado a morte.

Este é um ótimo filme policial, incluído entre os filmes noir pela sua narrativa, com voz em off de Michael O'Hara narrando o filme todo, a femme fatale e a trama surpreendente e envolvente. O filme começa um pouco mais lento, apresentando muito bem cada um de seus personagens, mas sempre com um ar de mistério para não dar na cara quais são as reais intenções dos personagens, mas logo após o assassinato de Grisby, o ritmo acelera e a narrativa deixa de ter ares aventurescos, com uma mudança constante de ambientação, para ter um ar mais soturno, investigativo, mas sem tornar-se pesado demais. Do meio para o final, todas as máscaras caem, o filme torna-se cada vez mais psicológico e os mistérios se solucionam.

Os diálogos também são um espetáculo à parte, com destaque para a parte em que Michael é convidado para sentar-se com o sr. e a sra. Bannister e se surpreende ao constatar que a ideia de diversão deles é ficar sentado ao redor de uma fogueira, enquanto todos se ofendem. Após isso, ele começa um maravilhoso diálogo em que descreve uma de suas viagens ao Brasil, onde em Fortaleza viu-se cercado de tubarões, enquanto pescava, um deles se machucou no anzol e o sangue se espalhou, atiçando os outros tubarões. Acabou que todos os tubarões acabaram se comendo, num frenesi mortal e selvagem, prevendo o que já aconteceria no final do filme.

É uma metáfora, que também serve como crítica social, ainda nos dias de hoje.

"A dama de Xangai" é um filme que me surpreendeu, principalmente por não ser um filme tedioso, mas sim um filme divertido, legal, gostoso de assistir.

4 pontos