terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dica cinematográfica: "Por um punhado de dólares" (1964)

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Ou "Per un pugno de dollari" em seu nome original é um remake de Yojimbo, obra clássica de Akira Kurosawa, mas que eu ainda não tive o prazer de assistir, portanto, aqui, falarei apenas desse clássico que popularizou o Western Spaghetti para sempre.

O filme acompanha a trajetória de um pistoleiro sem nome, que chega no vilarejo de San Miguel, dividido entre duas gangues rivais, os Rojos, contrabandistas de bebidas e os Baxters, contrabandistas de armas. O pistoleiro, com a ajuda de Silvanito, dono de um bar local, se aproveita dessa rivalidade para enriquecer, ora apoiando um grupo, ora apoiando outro, enquanto ajuda Marisol, uma bela mulher forçada a ser amante de Rámon Rojo, o maior pistoleiro do bando Rojo.

Este filme, além de ter popularizado o Western Spaghetti, alavancou a carreira de Clint Eastwood, a de seu diretor, Sergio Leone e a do músico responsável pela trilha sonora, Ennio Morricone. De fato, este filme é uma pedra filosofal do gênero Western como um todo, apesar de pertencer a sua vertente italiana, o "Spaghetti" (que ganhou esse nome dos críticos estadunidenses, contrários aos filmes western europeus, que "subvertiam" um gênero que os estadunidenses haviam criado e deveria ser mantido puro e intocado longe de qualquer influência externa. Os europeus chutaram o balde e bateram no peito, dizendo que são sim "spaghetti", adotaram o nome e seus filmes tornaram-se verdadeiras pérolas do faroeste).

No filme não há a luta maniqueísta e estereotipada do bem contra o mal, os brancos não são os mocinhos e os latinoamericanos não são os vilões, aqui só há vilões, que contrabandeiam e assassinam, todos na mesma medida e um anti-herói que chega apenas para se aproveitar de todos que puder, cometendo uma ou outra boa ação, mas também para poder tirar proveito da situação.

Isso é um realismo que merece ser notado nessas obras, afinal, como será que era o oeste americano na época da corrida pelo ouro? De forma estilosa e muito bem elaborada (a narrativa do filme é primorosa, conseguindo manter a atenção do espectador sem desviar os olhos por quase 2 horas), Sergio Leone conseguiu criar uma obra prima, o início da trilogia dos dólares, de forma maestral, influenciando todas as gerações de cineastas que vieram depois dele.

4 pontos e meio

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Dica literária: "Uzumaki" de Junji Ito (1998)

Uzumaki_vol._1A dica mais perturbadora do blog até agora.

"Uzumaki" é uma história narrada por Kirie, uma colegial que vive na vila de Kurôzu-cho, na margem litorânea de alguma ilha do Japão. Todos os dias, no final das tardes, ela vai até a estação de trem buscar o seu namorado, que estuda na cidade vizinha e ele o acompanha até a casa dele, mas, um dia, ele pergunta se ela topava sair da cidade com ele, fugir, por que ele está ficando paranoico em relação a cidade, que está amaldiçoada, de acordo com ele. Kirie acha isso um absurdo, mas começa a mudar de ideia quando o pai de Suichi, seu namorado, fica obcecado com espirais, chegando ao ponto de causar sua própria morte.

A partir daí, a história se desenrola explorando todos os pontos aterradores possíveis que uma espiral pode inspirar na mente humana, de lesmas a tornados. Tudo neste excelente mangá de Junji Ito é motivo para inspirar o terror na mente das pessoas, você nunca mais olhará uma lesma, ou um tornado, ou até mesmo a sua cóclea com os mesmos olhos após ler isso.

A premissa não podia ser mais absurda, afinal, o horror nesta história não é provocado por alguma coisa palpável (por mais que monstros existam, eles são sempre inspirados e lembram coisas que existem e já são, por si só, perigosas - lobo e lobisomem, por exemplo - e você deve, sim temê-las), aqui o elemento do horror é puramente abstrato, uma variante de uma expressão matemática de um objeto geométrico (reta) que é a espiral.

E seu autor não poderia ser mais genial. Junji Ito, para quem não conhece, é um mestre do horror japonês, que tem sim as suas limitações em questões de narrativas (o final de Uzumaki mesmo pode ser decepcionante), mas domina como poucos a criação de atmosferas, além de ser o dono de um dos melhores traços que eu já vi, sendo capaz de criar painéis genuinamente assustadores, seja pelo fator surpresa ou pelo fator horror, te deixando incomodado enquanto você lê suas obras.

Enfim, "Uzumaki" tem seus defeitos (eu diria que o final é um deles), mas é excelente em seu desenvolvimento, sua arte e a genialidade com que Junji Ito elabora a sua história.

4 pontos

domingo, 15 de novembro de 2015

Dica musical: "Conversas com Toshiro" de Rodrigo Campos (2015)

toshiroRodrigo Campos é um compositor brasileiro de música pop/MPB e que lançou esse ano este excelente álbum, que é o seu terceiro.

Ainda não conhecia o trabalho do artista e confesso que esse foi meu primeiro contato com ele, mas pelo que li, ele parece seguir uma linha mais experimental no som, esforçando-se para criar uma história, deixando a música como um segundo plano, na verdade um plano de fundo, a trilha sonora de suas histórias, cantadas de forma muito poética.

Aqui, ele expande os seus horizontes e vai tirar inspiração na terra do sol nascente, o Japão e narra histórias cercadas de mistérios, com forte base no folclore japonês e uma linha poética realista fantástica digna de Haruki Murakami, que, aliás, eu diria que serviu como forte inspiração para o projeto.

Mas isso é um CD, não um livro de poemas, então falemos da música, há aqui uma forte influência do jazz mais robusto e "brigão", aquele que servia de trilha sonora para os filmes blaxpoitation, mas a presença de instrumentos de corda e sopro japoneses é marcante, ou melhor, orientais, não sei dizer se todos os instrumentos aqui são genuinamente japoneses (até eles se confundem com os instrumentos chineses e coreanos).

Por essas e outras, indico no início dessa semana este excelente CD de Rodrigo Campos e já vou procurar os seus trabalhos pra conferir e ver se é coisa boa ou não.

4 pontos

sábado, 14 de novembro de 2015

Dica musical: "Jiberish Beat Tape" de RUMTUM (2015)

artworks-000129693684-qn4n0f-t500x500RUMTUM é um produtor musical e dj de Denver, Colorado. Ele é um cara que merece destaque por que é um dos poucos djs atuais que podem ser colocados no nível criativo de Nujabes e J Dilla (os mestres), podendo ser também posicionado ao lado de Monster Rally pela similaridade dos estilos musicais.

"Jiberish Beat Tape" é, na verdade, uma compilações que canções, ou batidas, se assim você quiser chamar com pouco mais de 40 minutos, postados no soundcloud como se fosse uma música só.

A ideia é de fazer o ouvinte escutar tudo junto, como se fosse uma fita k-7 mesmo, em que não tivesse como pular partes ou baixar apenas o pedaço que mais lhe agrada. E isso é deveras interessante.

Entre as músicas, há uma ou duas já conhecidas, feitas em colaboração com o Monster Rally, mas a maioria, me parece, serem inéditas.

Escute e acompanhe o trabalho de RUMTUM, vale muito a pena.

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4 pontos e meio

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Dica televisiva: "Regular Show: The Movie" (2015)

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Eu sei que isso é um filme, mas ele foi feito para a televisão, então tecnicamente é um telefilme, por isso vamos deixar a sua dica como televisiva, ok?

"Regular Show: The Movie" coloca os personagens do desenho animado mais legal do Cartoon Network atual no meio de uma aventura de viagem no tempo, após Mordecai e Rigby criarem, acidentalmente, um "temponado" (um tornado que viaja no tempo) no colegial, eles acabam entrando numa disputa no futuro que pode acabar com o universo. Então, o Rigby do futuro vai para o presente, pedir para que o Rigby do presente mude o passado.

Em uma época onde diversos celebram um certo filminho merreca sobre viagem no tempo, este filme chega de forma fantástica para dar um soco no estômago de todos esse nerds balofos que acham os anos 80 a melhor coisa do mundo e mostrar como um filme de viagem no tempo deve ser feito, com muitas referências fodas e aquela emanação do estilo de vida dos anos 90 que todos amamos.

Apesar da minha sinopse ter sido confusa, o filme não é confuso em nenhum momento. Provavelmente, por causa de sua duração, pouco mais de 1 hora e pelo fato de ser um desenho animado, onde tudo é mais inventivo e fácil de ser feito, sem contar o fato de que nada é explicado demais e tudo é simplesmente jogado na sua cara como uma enorme piada. Aliás, isso é algo que "Apenas um show" faz de forma magistral, melhor do que qualquer outro desenho atual.

O resultado final não poderia ser diferente, é um telefilme divertido, engraçado e com uma ótima animação, além de uma dublagem excelente, sendo fácil uma das melhores coisas feitas no mundo da animação ocidental atual.

4 pontos e meio

domingo, 8 de novembro de 2015

Dica musical: "Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos" do Boogarins (2015)

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Preenchendo a lacuna de expectativa para o rock psicodélico que o Tame Impala não foi capaz de preencher esse ano, Boogarins lança este excelente álbum se colocando a frente de qualquer banda nacional ou internacional nesse gênero, cuja essência parece ter sido esquecida.

Boogarins, para quem não sabe, é uma banda goiana de, já dito, rock psicodélico. Em 2013, eles lançaram o ótimo "As plantas que curam". Após dois anos de muito trabalho para a banda, eles lançaram esse álbum através de uma gravadora independente internacional, a Other Music Recording, me deixando muito orgulhoso, afinal, mostra um reconhecimento que poucas bandas no cenário nacional conseguem alcançar.

Mas falemos de "Manual" (melhor abreviar o nome, embora a continuação de seu nome seja essencial para entendê-lo). Este álbum é como uma colagem de músicas, ou melhor, é literalmente, como um guia, com seus capítulos separados, explicando diversos pontos, mas não de forma didática e fácil. Este seria um daqueles manuais grossos que vem junto com os carros, cheios de termos que você não entende e imagens que ninguém é capaz de compreender.

No entanto, aqui essas imagens são coloridas, oníricas e abstratas. A sonoridade exemplifica tudo isso, sendo de difícil caracterização. Como muitas outras bandas nacionais, o Boogarins mistura diversos estilos musicais em suas canções, indo de Bossa Nova a hardcore, mas mantendo-se fiéis ao seu som psicodélico único e original.

As letras, assim como as letras de um manual de difícil acesso, são cheias de palavras gigantes e, aparentemente, desconexas. Os vocais enevoados apenas reforçam essa atmosfera onírica, letárgica e delicada que envolve o álbum todo.

Enfim, Boogarins lança um excelente álbum. Rock psicodélico de verdade e muito bom de se ouvir. Escute, apenas.

4 pontos e meio