sábado, 28 de fevereiro de 2015

Dica cinematográfica: "Tokyo Tribe" (2014)

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Finalmente voltando a postar, depois de uma semana sem internet, após me mudar para outra casa e com uma excelente dica para o seu final de semana.

"Tokyo Tribe" é um filme japonês de 2014, dirigido por Sion Sono e adaptado de um mangá de mesmo nome.

Em Tokyo Tribe, conhecemos uma Tóquio alternativa, toda dividida em gangues que se autodenominam tribos. Mera, o líder da tribo "Wu-Ronz" decide conquistar toda Tóquio, mas acaba encontrando a interferência dos "Mushashino", uma tribo liderada por Kai e baseada na paz e amor entre as pessoas. Ideais não compartilhados por nenhuma outra tribo de Tóquio.

Já deixo claro que você não pode esperar muito desse filme, afinal trata-se da adaptação para filme de um mangá, que fez certo sucesso entre o público alternativo de mangá e foi adaptado em anime também, o que vale uma explicação sobre o que significa "sucesso" para o mundo dos animes e mangás.

Para começar, tenha em mente que nenhum anime/mangá de sucesso é bom. Se vende bem, se figura na lista dos mais vendidos do Japão, se é lançado por uma editora grande como a Jump, se tem várias temporadas por ano, se faz sucesso no mundo otaku, então é puro lixo. Só que assim como Hollywood, o mercado de mangás e animes também tem o seu público alternativo e aí se concentra os trabalhos bons mesmo, mas também são diversificados. Você tem os mangás e animes com um cunho mais intelectual e contemplativo como Kotonoha no niwa. Também existem os mangás mais centrados na mensagem positiva e na atmosfera que querem passar para a audiência, aí se encaixando os filmes do estúdio Ghibli, por exemplo. Ainda temos os mangás e animes que se concentram no primor artístico que seus criadores idealizam para eles, colocando nessa cesta Ghost in the shell ou Cowboy Bebop. Outrossim, temos os mangás e animes que aplicam-se a fazer uma crítica social, deixando de lado o primor artístico, utilizando de artífices que procuram chorar a audiência, no entanto chamam a atenção pela mensagem (muitas vezes duras) que passam, sendo condizente com essa classificação o controverso (e incrível) mangá "Onani Master Kurosawa". E ainda, temos os mangás e animes que buscam criar novos caminhos em uma mídia recheada de fórmulas, como é o caso de "Tokyo Tribes", o mangá que deu origem ao anime e a este filme.

Não li o mangá ainda, portanto não posso falar muito da história, mas sei que é a arte é, no mínimo, incomum no meio dos mangás, sendo também extremamente estilosa. Personagem sempre com roupas de mano, paredes pichadas ao fundo e caras de mau, lembrando as imagens de divulgação de algum CD de um grupo de rap dos anos 90. É um mangá que se concentra em passar essa atmosfera da cultura do hip hop para aqueles que se atrevem à lê-lo.

E o filme também têm essa intenção, a de construir uma atmosfera que remete à cultura do hip hop.

A película é, na verdade, um musical, mas um musical de rap. Não um filme com rap, mas um musical baseado em rap. Então prepare-se para ouvir beats e samples de hip hop no lugar de música ambiente, atores cantando rap ao invés de conversarem como personagens normais de um filme e uma ambientação típica da cultura do hip hop (paredes pichadas e roupas largas por exemplo). Por falar em ambientação, o filme também não deixa de lado o teor teatral. Todos os cenários são montados para lembrar os cenários de uma peça teatral e o próprio é apresentado dessa forma, então você não é um telespectador invisível e onisciente, você faz parte da platéia e eles sabem disso, por isso encaram a câmera tantas vezes.

Além de tudo parecer falso (e é), mas aí eu já não sei se é de propósito ou se é falta de verba mesmo, até por que os efeitos especiais são muito ruins (do nível de novela da record mesmo).

No entanto, até mesmo nos defeitos o filme acaba se sobressaindo, pois ele também conta com muitos efeitos práticos. Tirando o céu e alguns poucos momentos em que é destruído, o cenário é feito de verdade (apesar de dar na cara que e papelão) e como grande parte do filme se passa a noite, você nem vai se perturbar com isso. A iluminação é toda feita com lâmpadas de verdade, assim como os fogos de artificio, aumentando a estilização do filme.

As coreografias foram muito bem ensaiadas e os movimentos de dança do hip hop nunca combinaram tão bem com cenas de batalha. Isso sem contar na trilha sonora, que (obviamente) está de parabéns. Os raps são muito bem cantados, mantendo um bom flow ao longo de todo o filme, apesar de ser em japonês (uma língua que não combina muito bom rap, duvida? Então assiste qualquer vídeo de rap japonês pra você ver). As letras são recheadas de termos em inglês, como a maioria das músicas produzidas no Japão recentemente. O único defeito fica por conta da montagem final, que faz com que o rap cantado pareça estar separado da atuação dos atores (e está, mas isso geralmente é escondido na montagem final de todo musical cinematográfico).

Enfim, "Tokyo Tribe" de Sion Sono tem muitos defeitos, o principal sendo a falta de primor técnico que se espera de um filme do diretor japonês, no entanto, não deixa de ser um filme épico, estiloso, partindo de uma proposta extremamente interessante e que entretêm pra caramba.

4 pontos

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Dica cinematográfica: "Attack the block" (2011)

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"Attack the block" ou "Ataque ao prédio" é um filme britânico de 2011 e que merece muito mais crédito do que recebe pela maioria das pessoas.

No filme, um grupo de trombadinhas que, logo após roubar uma enfermeira voltando do trabalho na noite de ano-novo (eu acho), se veem numa invasão alienígena (ou não) e decidem defender o bairro em que moram com o que têm, ou seja, espadas samurais, tacos de basebol, fogos de artifício, motocas e bikes de bmx.

O filme tem uma vibe daquelas produções de filmes dos anos 80, com crianças e que eram exibidas na Sessão da Tarde, mais uma dose de ficção científica, com meteoros caindo na Terra e alienígenas saindo deles para se acasalarem no sul de Londres.

Ao ler a sinopse é inevitável a comparação com "Super 8", mas ao contrário da produção americana, que se baseava mais na câmera, esse filme se baseia mais nos personagens mesmo, no caso, um grupo de adolescentes amigos do sul de Londres.

É importante notar a região em que o filme se passa, pois o sul de Londres conta com uma cultura toda própria, pois é o local onde todos se misturam e se dão bem, desde os londrinos tradicionais metidos até os imigrantes ilegais, em comum apenas a situação econômica um pouco mais instável (o sul de Londres é conhecido por ser a área mais pobre da cidade), então pode esperar um filem recheado de gírias bem próprias da região, palavrões infantis e piadas sem nexo, mas que são extremamente engraçadas, mais pelo carisma dos personagens do que pelas piadas em si.

Os efeitos especiais são bem toscos, pra dizer a verdade. Os próprios alienígenas parecem ter saído de uma Vila Sésamo bizarra, após terem engolido um saco de vaga-lumes, mas isso faz parte do charme do filme, que não parece se propor a ser sério em momento algum.

No entanto, é aí que o filme te surpreende, pois, sem querer (ou não), o filme acaba fazendo uma críticas bem ácidas ao descaso que as autoridades londrinas têm para com os moradores das regiões mais pobres da cidade. Um crítica que não se encaixa apenas em Londres, mas que se torna universal em uma época como a que vivemos.

Com tanto pontos positivos, "Attack the Block" pode muito bem se tornar um clássico do cinema trash, dado a sua produção bem caseira, quase amadora, mas que surpreende devido à suas qualidades escondidas na atuação dos atores, na estilização do filme e na mensagem.

4 pontos e meio

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Dica cinematográfica: "Samurai X: O fim de uma lenda" (2014)

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Enfim, a melhor adaptação para cinema de alguma mídia impressa termina, em excelente forma, com uma obra de arte extremamente bem feita.

O filme continua do ponto que o anterior parou, Kenshin acorda na casa de seu antigo mestre e começa a aprender a técnica final. Enquanto isso, Shishio zarpa em um navio encouraçado a fim de destruir o império japonês. Várias histórias se cruzam em torno de um inimigo em comum, levando até a última batalha épica.

Já cansei de dizer que acho essa série de filmes a melhor adaptação para filme de qualquer mídia impressa (mesmo não ter lido o mangá) e esse filme prova que eu não exagero quando digo isso. Não só pelo seu roteiro ser muito bem feito, apesar de ser o que contém mais defeitos, em comparação com os seus antecessores.

O filme, no entanto, conta com uma qualidade técnica surpreendente, indo dos menores detalhes, como as partículas de fogo nas cenas de batalha, até mesmo na ambientação, nos efeitos especiais e no próprio navio encouraçado, que eu não sei se é plausível ou uma licença poética muito bem executada.

A fotografia transforma não só esse filme, como a série inteira de filmes, em uma obra de arte extremamente bela, fazendo a ambientação perfeita, que apesar de ser muito bem executada no mangá e anime, mas impressiona mesmo quando visto em live action, mostrando que a vida imita a arte.

Quanto aos pontos negativos, estes ficam restritos ao roteiro mesmo, pois alguns erros criados no segundo filme se mantém neste e atrapalham um pouco, como a inserção de alguns personagens para, aparentemente, trazer um sorriso aos lábios dos fanboys. Personagens que não ganham a devida atenção (até por que não precisam disso) e apesar de participarem de cenas extremamente bem feitas, belas e eletrizantes, perdem a utilidade fora dessas cenas.

A lenda termina de forma um pouco anticlímax também, alguns dizem até brega, mas isso não se torna um grande empecilho, até por que é o fim de uma trilogia, uma das mais bem executadas de toda a história do cinema e tem uma luta final épica, extremamente satisfatória e isso é o suficiente para te fazer admirar essa belíssima obra de arte.

4 pontos e meio

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Dica cinematográfica: "Birdman" (2014)

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"Birdman" é um filme de comédia e drama, que chamou a minha atenção principalmente por ser feito para parecer um enorme plano sequência.

Na trama, Riggan Thomson é um ator que planeja fazer a sua grande estreia na broadway com uma peça que ele mesmo adaptou e dirige em uma tentativa de recuperar a fama perdida, que obteve ao interpretar o papel de um super-herói chamado "Birdman" em filmes dos anos 90. No entanto, liderar uma equipe de atores e ainda lidar com seu ego gritando dentro de sua cabeça mostra-se uma tarefa extremamente difícil.

Como já disse, o que me chamou a atenção e eu acho que seja o grande mérito do filme é sua direção impecável, fazendo o filme parecer um enorme plano sequência, com cortes imperceptíveis (ou quase), fazendo o próprio teatro atuar como personagem da história, pois toda a ação ocorre nele e o foco salta de um personagem para outro, explorando diferentes dramas e pontos de vista.

Não podemos tirar o crédito dos atores. Seja lá quem fez a escalação dos atores foi muito feliz em suas escolhas, pois o filme conta com um elenco de primeira e que atua magnificamente em "Birdman".

A trilha sonora também é incrível, contando com uma bateria marcante, criando um ritmo quebrado, porém gostoso de ouvir, com uma pegada de jazz que todos amamos, ou não.

O final é um pouco decepcionante, mas isso é questão de gosto, tenho certeza que muita gente gostou, mas toda a construção, a trilha sonora, a direção, compensa o final mais ou menos.

3 pontos

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dica musical: "Foreign Pedestrians" do Monster Rally com Jay Stone

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Ao lado de "B4da$$", esse era o CD que eu mais estava antecipando para 2015 e conseguiu suprir a minha expectativa.


Quando se escuta as batidas do Monster Rally é impossível não imaginar algum MC fazendo um rap em cima delas. Algumas são simplesmente perfeitas sozinhas, mas outras pedem um acompanhamento lírico. Claro, que esse acompanhamento teria que estar a altura do talento de Ted Feighan e aí você pode pensar numa lista de rappers, indo do mais concebível como Earl Sweatshirt até o mais radical como MF Doom, mas só o produtor da gravadora em que está Monster Rally ouviu o CD de lançamento de Jay Stone, "Melodious Miscreant", disponível para compra no bandcamp (altamente recomendável), unindo as duas cabeças talentosas para trabalhar nesse delicioso CD.


Unindo o talento lírico de Jay Stone, com as batidas exóticas, nada ortodoxicas e tropicais de Monster Rally, "Foreign Pedestrians" é um forte candidato a melhor álbum do ano. São 14 músicas, 7 cantadas e 7 instrumentais e é incrível como a voz de Jay Stone faz diferença.


Para início de conversa, Jay Stone tem um estilo mais inventivo de fazer rimas, ele cria, facilmente, histórias em suas músicas, então não é difícil ser guiado pela narrativa que ele vai construindo ao longo da música, isso é algo a ser valorizado, já que chamar e manter a atenção, guiando o público é o único e exclusivo trabalho de um MC.


No entanto, ao ouvir as outras 7 músicas (instrumentais), novas imagens se abrem em sua mente, em algumas a sensação é completamente diferente, como em "Cognac", que tem um ar festivo e agitado na versão de Jay Stone, mas ganha um ar mais relaxado, quase improvisado nas batidas de Monster Rally.


E a diferença se torna ainda mais contrastante nas duas últimas músicas do CD, tornando este projeto ainda mais rico e interessante. Uma verdadeira joia rara a ser valorizado no cenário musical atual, não só o do hip hop, como também o cenário musical instrumental, ainda mais nos gêneros em que Monster Rally atua.


Enfim, "Foreign Pedestrians" é um incrível projeto, que sacia um pouco aquela vontade de ouvir mais deixada por Monster Rally em seu EP "Sunflower", do ano passado.


5 pontos

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Dica cinematográfica: "O conto da princesa Kaguya" (2014)

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Mais um filme do Studio Ghibli mostrando por que as animações 2-D são infitamente superiores aos filmes 3-D, além de ensinar a todos o que é um filme infantil bom de verdade.


O filme, baseado no conto do cortador de bambu, conta a história de um cortador de bambu que acha uma menina em um bambu brilhante, adotando-a como sua filha. A menina cresce mais rápido que as outras crianças e logo ganha a amizade de todos na região onde mora. Conforme seu pai descobre mais presentes em bambus brilhantes, ele se convence de que sua filha foi enviada pelos céus para se tornar uma princesa e assim ele faz, comprando uma mansão na capital, transformando sua filha numa nobre, a princesa "Kaguya".


O filme conta com a maestria japonesa na arte de animar em 2-D, sendo feito num estilo considerado por eles como ultrapassado, mas extremamente agradável aos olhos, que é o da animação manual, feita com rabiscos e pintado a mão quadro a quadro. Obviamente não fizeram isso nesse filme (eu acho), mas o filme foi feito com essa intenção, de parecer ter sido feito a mão e pintado com aquarela.


Ao contrária das animações digitais de hoje em dia, a movimentação dos personagens é muito mais fluída, as linhas de movimento só aumentam o dinamismo, além de aumentar a estilização da animação, contando também com pontos para mostrar brilho e "borrões de tinta" no meio da tela.


Apesar do final ser muito anticlímax, isso mostra-se um ponto positivo do filme, aumentando ainda mais a emoção sentida ao assisti-lo, tornando a experiência um pouco mais inesquecível.


Enfim, "O conto da princesa Kaguya" não é o magnum opus do Studio Ghibli, mas é, provavelmente, o melhor filme de animação lançado ano passado.


3 pontos e meio