terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Dica cinematográfica: "Os oito odiados" (2015)

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E eis que em 2015 Tarantino lança mais um filme e dessa vez, é bom de verdade.

Em "Os oito odiados", o carrasco John Ruth está transportando uma criminosa, Daisy Domergue, quando, no meu de uma nevasca, encontram o caçador de recompensas Marquis Warren e o novo xerife da cidade para o qual todos estão indo, Red Rock, Chris Mannix. Como as condições climáticas pioram, são forçados a pararem no Armazém da Minnie, que está vazio, com exceção de seu novo empregado, Bob e três outros desconhecidos que estão fugindo na nevasca, o general Sanford Smithers, o carrasco Oswaldo Mobray e Joe Gage, um cowboy qualquer. Aos poucos, os estranhos começam a conhecer os segredos sangrentos de cada um, levando a um inevitável confronto entre eles.

Há alguma comparações rolando entre este filme e Cães de Aluguel, mas este filme é muito melhor, devo dizer de antemão. Primeiro, por que não há muito a ver não, na verdade, acredito muito na palavra do Tarantino, quando ele diz que foi uma coincidência o fato dos dois filmes serem parecidos. Depois, este filme é muito mais profundo que Cães de Aluguel, que é só mais um filme de gangsters e por último, mas não menos importante, Cães de Aluguel é um plágio de "City on Fire" de Ringo Lam (um filme muito mais legal do que o plágio de Tarantino) e "Os oito odiados" é uma das obras mais originais do diretor, ficando pau a pau com "Bastardos Inglórios".

Neste filme há uma presença muito forte dos diálogos, que são muito bem construídos de um ponto de vista literário, prendendo a atenção do espectador, contando histórias, forçando a imaginação e guiando toda a narrativa do filme, que conta em poucos momentos com o apoio visual para ser interessante. Além disso, muitos diálogos exploram questões de poder, abuso e a velha questão racial, que as pessoas não se cansam de debater.

Nesse sentido há algo a ser dito sobre este filme: há a cena do flashback de Marquis, que acaba resultando na morte do coronel Sandford e isso pode parecer um spoiler, mas não é, por que o ponto de toda este cena não era este, o ponto de toda esta cena era mostrar que não há mocinhos ali, dentro do armazém e, na vida real, também não há mocinhos, todos temos um pouco de vilões dentro de nós, inclusive os líderes que tanto prestigiamos também não são mocinhos, apesar de defenderem causas muito corretas. Esta é a cena mais forte onde o filme explora a questão racial, mas muitas pessoas estão entendendo ela de forma errada, como se o Marquis estivesse correto ali. Ele não está, tampouco está o general Sandford, mas a questão não era nem quem estava certo ali, o filme quer simplesmente mostrar que não há mocinhos, nem vilões, a vida não é preto no branco e você não deve generalizar atitudes, nem fazer coisas erradas em prol de uma causa nobre. O final funciona como uma tremenda resposta, mostrando que não devemos nos separar, porém nos unir, se você buscar um pouco mais a fundo por baixo das camadas do filme.

Aliás, se você procurar algo mais além da superfície, irá encontrar um filme completamente diferente. Um western (aos moldes dos clássicos spaghetti), mas que toca em questões muito atuais e não é nem um pouco niilista ao ponto que ele finge ser, muito pelo contrário.

Mas vamos aos fatos, o filme está com uma qualidade ótima, os 70 mm (que infelizmente, quem mora no Brasil não poderá ver em sua gloriosidade completa) ajudam muito a criar a atmosfera do filme todo, expandindo o campo de visão e excluindo o ar claustrofóbico que o filme teria, provendo nuances sobre o cenário que de outra forma não seriam notados. No entanto, esse crédito não vai apenas para a tecnologia, mas também para o diretor, que sabe criar cenas que parecem pinturas como poucos atualmente.

A trilha sonora é um show a parte, já que conta com músicas originais do mestre Ennio Morricone, além de algumas releituras de alguns clássicos, que ajudam a intensificar a atmosfera de suspense do filme, prendendo ainda mais a atenção do espectador.

Como filme do Tarantino (e como um filme mais voltado para o lado "literário" do diretor) é cheio de diálogos e aqui eles estão tão bons quanto em Pulp Fiction e Bastardos Inglórios, sendo o grande trunfo do diretor para este filme, algo que nas mãos de qualquer outro transformaria num fardo e deixaria o filme chato, aqui se revela algo surpreendente e forte para manter o ritmo da trama e não quebrá-lo.

Enfim, não dá para ser muito conclusivo em relação ao filme sem entregar muito dos acontecimentos dele, mas tudo que você precisa saber é: este é um filmaço e é o primeiro post nota 5 do ano de 2016 aqui no blog.

5 pontos