domingo, 10 de abril de 2016

Dica musical: "Everything You've Come To Expect" do The Last Shadow Puppets (2016)

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E para a alegria geral de todos aqueles com bom gosto musical, o TLSP lançou seu tão aguardado segundo álbum (uma afirmação a qual eu tenho algumas ressalvas) e o trabalho, como já era de se esperar, não decepciona.

Muito especula-se sobre esse álbum, algumas críticas se atêm às personas de Miles Kane e Alex Turner (contestáveis desde alguns anos atrás, a de Turner desde de Sick it and See), sobre se eles conseguiriam apresentar algo "novo" através desse álbum e sobre a expectativa em cima desse projeto, mas todas essas críticas são infundadas, primeiro, por que as personas que os dois amigos assumiram são contestáveis e tal, mas isso não vem de hoje, veja as críticas feitas anos atrás dos últimos lançamentos dos dois e verá que ninguém se atentou a isso. Eu vejo essa crítica como um oportunismo sacana para esconder uma falta de talento do jornalista responsável pela crítica. Segundo, o álbum não tenta apresentar nada "novo", assim como o primeiro registro do projeto dos dois e por último, mas não menos importante, "The Age of Understatement" foi um marco, de fato, um CD excelente, mas sempre foi um projeto alternativo, algo que nenhum dos dois amigos considerava urgente, nem primário em sua lista de prioridades, então, eu mesmo, nunca esperei um segundo CD do TLSP com ansiedade, mas fiquei muito feliz com a notícia de seu lançamento.

Esclarecido esses pontos, vamos à crítica. O álbum é muito bom, continuando com aquela sonoridade mais pop, porém sofisticada, lembrando uma trilha sonora de algum filme 007 ou cantores britânicos de música pop dos anos 60 e 70, no entanto, dessa vez, eles assumem uma pegada mais vibrante, fazendo jus ao nome de Isaac Hayes, dito como principal influência dos dois amigos nesse segundo álbum. Algumas de suas canções conseguiriam caber fácil num filme blaxploitation, outras ainda conseguiriam se encaixar num filme do 007 e "Used to be my girl" parecia ter saido direto de Suck it and see.

A primeira música, "Aviation" poderia se encaixar fácil no primeiro álbum, mas logo pelo seu começo, com os violinos estridentes, marcando um tom meio sombrio, quase de filme de horror ao longo de toda a projeção da canção, já sinalizam que este é um álbum diferente, a continuação de uma trilogia, cuja terceira parte eles queriam fazer antes da segunda (o que me deixou pensando, este é a terceira parte ou a segunda? Se for a segunda, perfeito, mas não soa como uma conclusão, de forma alguma, o que daria a entender que a terceira parte já está montada, ao menos na cabeça deles ou em alguns rascunhos em suas casas).

Dessa forma, o álbum apresenta-se de maneira muito excitante e surpreendente aos nossos ouvidos, perdendo um pouco do fôlego apenas no final mesmo, quando Alex Turner parece chamar a responsabilidade para si e toca as duas músicas mais chatas do CD para finalizar com chave de tédio.

Miles Kane, o artista mais subestimado da história recente, está como de praxe, excelente neste álbum. É notável o momento em que sua guitarra entra em ação, estridente e forte, além é claro de assumir os vocais várias vezes, assim como no primeiro CD, mostrando que é tão talentoso quanto Alex Turner, talvez até mais.

Em relação às letras, elas são simplesmente fenomenais. Alex Turner, como ótimo liricista que é, cria descrições fantásticas para coisas ordinárias que sequer notamos, usa metáforas e figuras de linguagem como ninguém, criando letras poéticas ao extremo, tudo isso, usando termos dos mais diversos, até mesmo científicos para suas composições. O único ponto negativo, apontado em uma entrevista por Turner, mas sem a conotação negativa que eu acho que tem, é que eles se preocupavam menos em contar histórias com este CD, então as músicas parecem meio soltas, enquanto que no primeiro álbum elas, realmente, pareciam conectadas.

Além disso, toda a produção do álbum está muito boa, com um conjunto de cordas muito bom, que encaixa perfeitamente na temática do álbum todo, sem ofuscar os vocalistas e suas composições roqueiras.

Enfim, TLSP não decepcionou, criando a continuação perfeita para a sua "trilogia", com seus altos e baixos, Alex Turner e Miles Kane criam mais um marco na história da música, que tende só a crescer conforme escutamos mais e mais este CD.

4 pontos e meio