quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Dica cinematográfica: "La La Land" (2016)

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“La La Land” é um filme musical lançado no finalzinho do ano passado e o qual eu assisti no final de semana passado, no único cinema da minha cidade que está exibindo ele... lamentável. O filme, dirigido e escrito por Damien Chazelle, a mesma mente criativa por trás do excelente Whiplash é, na minha humilde opinião, um dos 3 melhores musicais que eu já assisti em minha vida!

O filme conta a história de Sebastian e Mia. Ele, um pianista fã de jazz que vai para Los Angeles a fim de criar um bar onde músicos de jazz possam tocar jazz de verdade. Ela, uma aspirante a atriz, muda-se para Los Angeles a fim de conseguir um papel em algum filme ou série importante, enquanto trabalha num café na Warner Studios durante o dia. Acompanhamos a trajetória dos dois, do momento em que se conhecem até o desenvolvimento e amadurecimento do relacionamento dos dois, enquanto músicos, dançarinos e cantores nos apresentam um musical fantástico e exuberante, além de explorarmos um pouco do mundo do jazz com seus personagens.

É um filme sem igual.

Não sou um grande entendido de musicais e tinha um enorme preconceito com o gênero até os meus 18 anos, quando só tinha assistido “Mary Poppins”, “High School Musical” e “O fantasma da Opera”, então assisti a “Cantando na Chuva” e desde então mantenho meus olhos e ouvidos atentos a qualquer filme do gênero. A maioria são grandes porcarias, principalmente porque recebemos mais filmes hollywoodianos, que só sabem fazer grandes dramalhões como “Os miseráveis” e “Quem quer ser um milionário” e eu, confesso, nunca assisti um musical de Bollywood (sim, eu sei, estou devendo). De vez em quando, aparece uma pérola como “Tokyo Tribe”, mas o que me faz considerar um musical bom são 3 coisas. A primeira é o distanciamento da realidade, o musical é um gênero teatral e como tal, não deve ser muito crível. Nas telonas, ele deve servir como uma forma de quebrar as barreiras entre filme e teatro ou realidade (do filme) e fantasia, por isso é muito importante os elementos fantásticos. A segunda são as músicas boas, não tem como um musical me agradar se tocar música sertaneja universitária nele e a terceira coisa é a história, não adianta ser um filme super bem trabalhado se a história for um dramalhão chato, irritante e/ou meloso pra caramba. Mesmo nas competições cinematográficas, o gênero divide espaço com a comédia. Deve ser bem-humorado, no mínimo.

E “La La Land” contém os 3 elementos. Pra começar, a ambientação é fantástica, há muitas luzes de neon, as sequências são longas e a câmera se movimenta livremente. As roupas dos personagens são exuberantes, é um filme colorido, mas tudo é bem equilibrado, nada irrita os seus olhos, não é um filme alegre demais, acontece que há um equilíbrio fantástico no uso das cores nesse filme. Pense num filme do Wes Anderson, onde todos os elementos trabalham em conjunto, mesmo os detalhes, tudo contribui para que o filme nos transmita uma sensação agradável. Além disso, a edição é incrível, a iluminação é tão importante para a narrativa quanto os diálogos, a música e os personagens. E todo esse perfeccionismo te afasta da realidade em que os personagens estão inseridos, visualmente falando. Os momentos musicais surgem na obra como elementos subjetivos, não é parte da realidade em que os personagens estão, mas é algo que situa-se fora dessa realidade e isso fica subentendido no filme, através dos elementos visuais, na forma como a narrativa é guiada e mesmo nos elementos musicais (ninguém canta à toa nessa filme).

Além disso, a história é legal, ganhando tons meio negativos lá pro final, mas são, na verdade, realistas. É incrível como um filme com elementos tão fantástico e que explicitamente te entrega que são elementos fantásticos, fora da realidade em que os personagens estão inseridos, ele acabe te entregando uma história puramente realista, com uma moral implícita tão bela.

E pra terminar, é um filme bem humorado. Atente-se: ele não é engraçado (como “Cantando na Chuva”), mas você vai rir em muito momentos, porque é assim que o filme é, bem humorado!

Damien Chazelle é um fã de jazz e tem algumas opiniões bem fortes sobre o gênero e esse filme serve, mais ainda do que Whiplash, como uma válvula de escape para ele expor o que pensa. E ele pensa demais e tem muito a dizer e é muito interessante o que o filme nos ensina sobre o gênero, principalmente em relação ao “revival” que o jazz tem sofrido nos últimos anos.

Agora quanto aos atores, eu sempre me pergunto se eles cantam de verdade e se realmente levam jeito pra coisa e muitos filmes colocam rostos bonitos lá na frente e algum cantor talentoso no fundo, mas parece que nesse filme os atores realmente cantam. Não sei quanto a Emma Stone, mas Ryan Gosling canta de verdade (de fato, quase sussurra) e mostra que ainda tem jeito pra coisa (pouca gente lembra, mas em 2009 ele lançou um projeto musical com um amigo chamado Dead Man’s Bones), surpreendendo a audiência.

Quanto às canções, ela é um show à parte, passeando e honrando diversos gêneros de jazz, então, pra quem gosta, vai ser um deleite.

Enfim, já falei demais do filme, elogiei pra caramba, mas tenho que falar os seus defeitos (são poucos e quase imperceptíveis): A duração e a falta de comédia. O filme é, de fato, muito longo, são mais de 2 horas e isso acaba cansando na sala de cinema e, apesar dele ser bem humorado, como eu disse, não é um filme engraçado e nos momentos mais dramáticos, essa falta de comédia acaba fazendo falta, pois as partes dramáticas cansam bastante.

Esses defeitos não diminuem o valor do filme, que é fantástico e faço minhas as palavras de algum crítico qualquer que tem a opinião exposta num dos cartazes do filme: “Não se fazem mais filmes como esse” e não se fazem mesmo.

4 pontos