quinta-feira, 6 de abril de 2017

Dica musical: "Sick Scenes" do Los Campesinos (2017)

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Hoje a dica além de musical, é nostálgica, não por se tratar de uma banda antiga, mas por que seu som traz boas lembranças...

Los Campesinos é uma banda formada em Cardiff, País de Gales, em 2006 e passou por baixo do meu radar todos esses anos. “Sick Scenes” é o seu sexto álbum de estúdio e representa diversos marcos para a banda. A começar, é o primeiro álbum totalmente independente deles, em 2013, após o lançamento do quinto álbum,  “No Blues”, a banda entrou num hiato indefinido (como muitas outras bandas boas dessa geração) e cada membro decidiu seguir uma vida normal, com trabalhos ordinários e afazeres cotidianos e só voltaram a se reunir em 2016 para a gravação desse álbum. Outro marco é o aniversário de 10 anos da banda, que inspirou a união dos 7 amigos que formam a banda e mais 8 amigos da banda na produção do álbum como um todo, dos instrumentos a mais, a produção e a elaboração da arte da capa (muito bonita por sinal). E por fim, o álbum foi gravado ao longo de 4 semanas e meia em Fridão, Portugal.

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E então, vamos a parte que interessa: por que esse álbum merece uma dica?

Porque esse álbum é um legítimo álbum indie, honrando a tradição criada pelos músicos de Nova Iorque, iniciando lá no começo dos anos 2000 com The Strokes, passando por Yeah Yeah Yeahs, Vampire Weekend, Yeasayer, Beach Fossils e claro, Clap Your Hands, Say Yeah!. Essa banda não é de Nova Iorque, mas o som que eles criam poderia se enquadrar em qualquer filme indie de romance que se passe na cidade de Nova Iorque, filmado entre 2008 e 2012, é um ode a essa geração tão gostosa e acalentadora e que, infelizmente, não voltará mais.

Numa análise mais fria, o som é ordinário, se não medíocre, é um indie pop comum e nada mais, porém, não se fazem mais músicas assim hoje em dia e isso não é papo de velho, basta você procurar os artistas de indie hoje em dia, as bandas não tocam mais rock, os grupos de indie pop não ligam mais pra guitarras e o som está cada vez mais alienado das bases criadas lá no meio pro final dos anos 2000.

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E “Sick Scenes” junta todos esses elementos musicais ao longo de suas 11 canções, com letras românticas, irônicas, bem humoradas ou simplesmente encatadoras. Não há nada de mais aqui, mas às vezes não precisamos de algo a mais, bastam umas três ou quatro notas tocadas num teclado bem afinado, com os vocais no lugar certo, a guitarra distorcida na medida ideal e um baixo e uma bateria fazendo a sua parte pra manter o ritmo e pronto, lembramos daquelas tardes frias de inverno com nossos amigos no intervalo do colegial, na escadaria da Igreja Matriz, comendo e observando uma gostosa de salto alto passar do outro lado da rua e todo mundo babar em cima dela. Mude a melodia, insira umas palmas, com um ritmo mais dançante na outra canção e pronto, lembramos daquela festa em que estava tocando Franz Ferdinand e aquela loira gordinha da sala de repente parecia a menina mais bonita e você a beijou como nunca havia beijado ninguém. Rasgue a guitarra na canção e voilá, as memórias de quando seu amigo idiota tocava a campainha de uma casa qualquer e vocês tinham que sair correndo feito loucos pela rua num calor insuportável. É o tipo de música que te faz ter vontade de usar um Adidas Superstar, com calça jeans apertada e uma camiseta gola V listrada.

Como um álbum, “Sick Scenes” nem sólido é, pois não há algo que una todas as músicas em torno do álbum, como um tema ou uma história, porém esse desprendimento, que faz cada música ser um fim em si mesma, por si só, já respeita e honra essa entidade que é a música indie. Enfim, se me dissessem que esse álbum é de 2007 ou 2010 ou mesmo 2012 eu acreditaria, apesar dele conter alguns elementos que só viriam a ser explorados na música “mainstream” anos depois, como os trompetes e a percussão, por exemplo, mas é um álbum que nos remete a essa época.

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E essa deve ter sido a intenção da banda, ao criar um álbum que celebrasse seus 10 anos, nada melhor do que um álbum que os lembrasse do passado, desses 10 anos de estrada que tiveram tanta influência em seu som e, provavelmente, importância pessoal para cada um deles. Portanto, é um álbum que alcança sucesso no que busca e por essas e outras vale a pena escutar.

3 pontos e meio