segunda-feira, 13 de julho de 2020

Hoje eu faço 26 anos

cats

Faço 26 anos. Ano passado foi o melhor ano da minha vida e esse tem sido um dos piores.

A tirinha ilustrando essa postagem é bem significativa para mim, pois ela exibe nas sombras aquilo que as luzes não aceitam no seu meio. Essa tirinha foi escrita em 1989, é a última dentro de uma série de tiras que contam como a família do Calvin foi roubada e, na última tira da saga, a mãe reconforta-se em pensar que perderam bens materiais, mas eles mantêm aquilo que importa, eles mesmos.

O que a tirinha não mostra é uma lição para os tempos em que vivemos e o motivo de minha tristeza: esquecemos de nós mesmos, esquecemos o que realmente importa. Por culpa do Covid-19 pessoas que eu considero muito têm reagido de forma histérica, paranoica e surrealista. Elas evitam que eu entre em contato com elas, não me abraçam, não me beijam, exigem que eu tome banho toda vez que volto de casa após ir à padaria a apenas 100 metros de casa. Elas não me escutam, não importa a quantidade de dados que eu apresente a elas, as citações de prêmios Nobel de química, de estudos científicos e dados brutos, elas não acreditam em mim. Preferem acreditar no que o jornal diz, preferem ver o copo sempre meio vazio e preferem se isolar. Se eles se isolassem do mundo, estaria tudo bem, mas eles se isolam de mim e isso é o que mais machuca.

Hoje meu psicólogo me diz que eu devo ficar quietinho em casa, sozinho e encontrar formas de me encontrar com as pessoas que amo em outras dimensões, dizendo que isso é o “novo normal”. Ano passado, se tivesse dito para ele que prefiro me encontrar com pessoas que amo em “outras dimensões” e achasse isso “normal”, ele teria me enquadrado em algum transtorno psicológico que exige atenção. E pela primeira vez sinto que ir ao psicólogo tem piorado a minha saúde psicológica.

Outro dia vi que as mortes não chegam a 5% do total de infectados, com grande chance desse número ser ainda menor. Vão dizer que são 70 mil brasileiros que tiveram suas vidas ceifadas e perguntar até quando a morte será relativizada? Mas eu digo que só no primeiro mês 60 mil empresas foram fechadas, impactando diretamente a vida mais de 100 mil brasileiros, 100 mil vidas que foram jogadas ao desemprego, a pobreza e, por fim, a morte. Até quando iremos relativizar a miséria?

Até quando iremos colocar uma focinheira de pano toda vez que saímos de casa? Até quando eu não poderei abraçar meus queridos parentes, amigos e outros entes queridos? Nos prometeram um pico em maio, depois junho, já falaram em agosto, mas hoje quando eu digo que não tenho esperança que as coisas melhorem até o final do ano, acham normal. Toda essa apatia e aceitação cega do que supostas “autoridades” nos dizem me machuca muito. Não importa que essas autoridades tenham errado desde o início de todo esse drama, simplesmente irão me dizer que cada um está fazendo o melhor que pode pra poder lidar com essa situação.

Mas que “melhor” é esse que se afasta dos outros? Que exige um comportamento anormal e histérico das pessoas que supostamente ama? Que “melhor” é esse que, no melhor cenário, aliena as pessoas e, no pior, machuca, fere e ignora o sofrimento dos outros? Com certeza, os alemães que denunciavam judeus também estavam fazendo o seu melhor e é pensando nisso que eu proponho um novo ditado: de “melhores” o inferno está cheio.

Por trás de todo discurso politicamente correto que pede que eu faça o meu melhor, que eu fique sozinho em casa, que eu passe a interagir com quem amo em “outra dimensão”, eu vejo um misantropo escondido e isso me fere, me machuca e me faz sofrer.

Hoje eu faço 26 anos e o único presente que eu posso pedir é que me escutem, por favor. Eu tenho coisas a dizer e que não são loucuras, eu tenho coisas a dizer que tem comprovação científica, eu tenho opiniões sinceras, que, por mais absurdas que possam parecer, são reais, vem direto do meu âmago e representam uma parte de mim. Essas coisas, por mais absurdas, irreais, insensíveis e crueis que possam parecer são apenas parte da minha incessante busca pela Verdade.

A Verdade não se encontra nos jornais, nas opiniões de "especialistas", na "ciência" como entidade abstrata, mas nos estudos que dão trabalho para ler, nos grandes clássicos de ficção com linguagem arcaica, nas opiniões ousadas e que fazem os ouvidos doerem, a Verdade se encontra quando você nada contra a corrente e apenas a Verdade pode nos levar a realização de nossas vidas, pois a Verdade liberta.

O único presente que eu posso pedir é para que busquem a Verdade e se libertem comigo.