quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dica cinematográfica: "Waking Life" (2001)

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Waking Life é um desses filmes que têm que ser digerido por várias horas depois de ser assistido, talvez dias, quiçá semanas e só então pode-se falar dele. É um filme de Richard Linklater, um brilhante diretor de filmes cult como "Jovens, Loucos e Rebeldes" e "Slacker", então pode-se esperar não apenas um filme, mas uma obra de arte, que impulsiona experiências não só audiovisuais, como filosóficas também.

O filme conta a história de um garoto que se vê preso no mundo dos sonhos. Ele acorda de um sonho e percebe que continua em outro, encontrando-se com as mais diferentes pessoas, rebeldes, loucos, velhos, jovens, professores, donas de casa, diretores de cinema e líderes religiosos. Todos conversam com o garoto sobre os mais diversos temas que, provavelmente, ninguém achará respostas e por esse motivo nunca nos cansaremos de debatê-los, como o livre-arbítrio, a evolução da sociedade, o contato humano, nossos relacionamentos, nossa vida em sociedade, a liberdade de cada um, os nossos limites, a relação entre amor e desejo, o que é o bem, o que é o mal e o que há após a morte. Esses e outros temas são apresentados e discutidos em poucos minutos, conforme o garoto se encontra com as pessoas, até que ele percebe que não consegue acordar e passar a viver um sonho lúcido.

O filme é simplesmente muito bom, sendo uma dessas animações que não é feita para crianças, aliás, animação que surpreende. O diretor filmou primeiro o filme com pessoas reais e depois pediu para o diretor de arte, Bob Sabiston, transformar o filme que havia feito em uma animação, desenhando por cima o que se tornou Waking Life, algo muito inteligente.

Não há um só estilo na animação apresentado, ás vezes os personagens são apresentados de forma cubista, outras de forma realista, ou ainda de forma totalmente surrealista, desmanchando-se no meio da tela, enquanto o cenário ao fundo muda e, por vezes, a arte com a qual eles são representados combina com as discussões filosóficas que eles debatem com o protagonista, gerando uma combinação perfeita entre imagem, som e roteiro. Uma verdadeira obra de arte, digna de ser admirada.

No entanto, o filme não chega a ser pretensioso. É claro que os diálogos são inteligentes, papo cabeça mesmo, mas a forma como cada diálogo chega ao espectador não é desnecessárias, aliás a temática do filme favorece isso. Como num sonho, em que os acontecimentos chegam a nós e não nos lembramos como o sonho começou, às vezes nem como acabou, o filme também é assim. Cada personagem diz o que t~em que dizer e some, tão rápido como chegou, deixando você pensando em tudo o que ele disse, ou não... Afinal são só ideias.

Enfim, o filme é uma obra de arte maravilhosa, que merece ser assistida e admirada, fazendo eu me tornar, aos poucos, fã de Richard Linklater.

5 pontos

terça-feira, 29 de julho de 2014

Dica cinematográfica: "Watership Down" (1978)

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"A grande aventura" na tradução brasileira é um filme de animação do ano de 1978.

Conta a história de um grupo de coelhos, que sai da coelheira onde viviam, por que um deles teve a visão de um desastre que iria acontecer; mais pra frente ficamos sabendo que a floresta onde viviam havia sido loteada e construíram um condomínio por lá. Quando um pequeno grupo de coelhos foge, eles entram em uma grande aventura, enfrentando todos os inimigos naturais que têm, além de enfrentar outros coelhos, que não gostam nada dos "estrangeiros" até alcançarem a paz tão procurada em uma colina, a "Watership down" do título.

O filme é uma adaptação de um livro homônimo e é uma dessas histórias adultas mascaradas de história infantil, não se deixe guiar pelo desenho singelo e belo, típico de livros infantis do século passado e suas vozes fofas, a história é dura e segue uma abordagem meio "naturalista"; apesar do filme dar características humanas aos animais, eles ainda são guiados por instintos e agem como os animais que são, sendo agressivos e brutos em alguns momentos. Aliás, o filme não poupa em brutalidade, tendo muita situações assustadoras para crianças e até para adultos também.

A animação é bem ruinzinha se for analisar com olhares do século 21, tendo quadros parados no meio do filme, mas nesses momentos os quadros se tornam bem detalhados e bonitos, impressionando pelo realismo usado no filme, mas fica claro que o cenário foi feito de um jeito e os personagens animados por cima. No entanto, isso não atrapalha em nada a diversão.

Enfim, "Watership Down" é um filme muito recomendado, até mesmo para crianças mais velhas, pois trata de forma sensível e delicada temas como o abuso da Terra pelo homem e brigas mesquinhas por territórios, sendo um filme muito profundo e divertido.

4 pontos

sábado, 26 de julho de 2014

Dica musical: "Honeyblood" do Honeyblood (2014)

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Honeyblood é uma dessas bandas que te pega de surpresa pela originalidade, ousadia e qualidade de suas canções, sendo uma banda independente, sem apoio de ninguém e com consciência de suas limitações.

Honeyblood é uma banda formada por 2 garotas, de Manchester (acho) e seu som pode ser definido como um post-rock meio gótico meio noise. Elas já haviam lançado um EP, muito legalzinho pelo Bandcamp com algumas músicas que estão presentes nesse CD e ano passado lançaram outro, só que dessa vez por uma gravadora, mas com produção totalmente independente; pra voc~e ter uma ideia, elas gravaram o EP num banheiro, então o som é cheio de ruídos, você mal entende o que a vocalista está cantando, mas tudo foi só um "esquenta" para este CD, que conta com 12 canções que falam de garotos sendo idiotas e mulheres que querem achar o seu espaço, a canções que servem como terapia.

Como dá pra perceber não é um CD excepcional, mas há nele um frescor que bandas mais antigas e que servem como influências para elas, seja liricamente ou musicalmente, perderam a muito tempo e por esse motivo não conseguem mais fazer álbuns melhores que medianos, tornando-se bandas de um álbum só ou pior, bandas de uma música só.

Por esse motivo é gostoso ouvir o álbum de estréia de Honeyblood, um dos que eu mais aguardava esse ano e o penúltimo do ano; mas se Honeyblood vai continuar me encantando, fazendo-me gostar do som delas, isso só o tempo poderá dizer.

3 pontos e meio

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dica musical: "Live Versions" do Tame Impala (2014)

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Este está sendo um ano ruim para a música. Enquanto que ano passado tivemos lançamentos ótimos e bons, este ano estamos tendo lançamentos medianos e ruins, a não ser por um ou outro artista que quebra a monotonia do "mais do mesmo" e da prepotência artística e acaba lançando uma jóia rara não só no cenário musical de 2014, como no cenário musical da história (ouça "Luminous" do The Horrors e "Rooms of the house" do La Dispute para entender o que eu estou falando).

Em um cenário tão monótono, nada mais justo do que ver "mais do mesmo" sendo interpretado com toques de genialidade. Essa é a proposta do Tame Impala com esse belíssimo CD chamado simplesmente de "Live Versions".

Neste CD, lançado exclusivamente para o Record Store Day, estão incluídas 9 músicas do último trabalho de estúdio da banda e uma não tão inédita, o jam session que eles fazem em todos os shows e que por isso não é mais jam session e ganhou um nome. As nove músicas já foram ouvido e re-ouvidas por todos os fãs da banda, mas nessa gravação ao vivo, ocorrida durante um show na cidade de Chicago em Outubro do ano passado, a banda dá uma renovada no espírito de cada uma das músicas, adicionando mais efeitos, improvisando nos solos e prolongando sua duração, além do uso de instrumentos diferentes.

Através dessas 9 faixas dá pra se ter uma ideia do som ao qual a banda se encaminha, cada vez mais psicodélico, cheio de sintetizadores, com uma bateria potente e o baixo sempre marcante, ou seja, cada vez mais originais e geniais.

O único ponto ruim, na minha opinião é a escolha das músicas, nesse CD apenas músicas do segundo disco estão presentes, deixando de lado obras de arte do primeiro, que foi aquele CD que abriu os olhares do mundo para o cenário musical australiano, tamanho a influência de Tame Impala por aquelas bandas, mas se a banda conseguiu elaborar um tesouro como esse com apenas algumas músicas de todo o seu repertório brilhante, imagine se ele todo estivesse incluído, seria desleal para a concorrência, aos moldes de Brasil e Alemanda na copa desse ano.

Enfim, Tame Impala é sem sombra de dúvida uma das melhores bandas no cenário musical mundial, tendo versões de estúdio brilhantes e versões ao vivo surpreendentes.

4 pontos e meio

domingo, 20 de julho de 2014

Dica cinematográfica: "A estranha cor das lágrimas de teu corpo" (2013)

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"The strange color of your body's tears" pra você que vai procurar esse filme nos torrents da vida.

O filme começa com a volta de um homem à sua casa depois de uma viagem de negócios na Alemanha. Ele não encontra sua mulher, que parece ter desaparecido há vários dias. Quando um detetive particular recusa aceitar o caso, o homem começa a procurar por pistas sozinho. Ele descobre que outra pessoa já havia sumido naquele prédio, o marido de uma mulher que morava no número 7, provavelmente fora morto por alguém no andar de cima. Enfim, o detetive decide aceitar o caso depois que a polícia descobre que a mulher do homem foi decapitada. O homem acaba descobrindo que a mulher do número 7 era uma mulher com a qual ele se relacionou há mais de 20 anos, quando ele ainda era um adolescente e, aparentemente, ela era uma louca meio pedófila, que acabou matando o marido, mas não foi ela quem matou a mulher do cara. Havia algo realmente no andar de cima. O homem morre e o detetive também e o que gostava do homem quando ele era um adolescente provavelmente o estava seguindo por muito tempo e não era a mulher do número 7.

Achou confuso? Pois é... Esse filme é confuso ao extremo, parece fazer uma homenagem a filmes italianos de terror dos anos 70, seus diretores parecem terem sido fortemente influenciados por David Lynch, além de homenagear filmes noir e o bom e velho suspense, mas só parece, por que tudo é muito simbólico, subjetivo e confuso nesse filme.

No entanto, a fotografia é magnífica, a montagem é brilhante e o filme parece ser uma obra de arte, digna de ser admirada e só... É um filme para ser admirado e só.

Enfim, eu recomendo o filme, por que no geral, é bom.

3 pontos


 

sábado, 19 de julho de 2014

Dica televisiva: "Usagi Drop" (2011)

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Usagi Drop é um anime inspirado em mangá homônimo, exibido em 2011 e que conta uma história bem legal.

O avô de Daikichi morreu e ele vai até a sua casa, onde estão reunidos todos os familiares para o enterro e tal... Tudo parecia normal, mas logo ele recebe a notícia de que seu avô tinha uma filha bastarda de apenas 6(?) anos, chamada Rin,  fruto de seu relacionamento de uma noite com uma mulher desconhecida, motivado pela "pílula azul" (daí o nome da série). Ninguém aceita cuidar da menina, então Daikichi se vê forçado a levá-la para casa e começa a cuidar dele, como se fosse um pai solteiro.

A série parte de uma premissa muito interessante e que já foi usada muitas vezes em filmes dramáticos, não só a relação pai-filha, mas também como é a vida de pais solteiros, apresentando ainda os dois lados da moeda, quando Daikichi conhece a mãe de um colega de classe de Rin, que também cuida do filho sozinha, pois seu marido (ou amante, não fica muito claro a relação que os dois tinham) a abandonou. Enfim, a história dos dois personagens rende reflexões sobre diversos temas além da relação de pais solteiros e suas vidas cotidianas, mas também os sacrifícios que eles têm que fazer em uma sociedade que não se preocupa com o que acontece em casa, mas como os indivíduos se comportam fora dela, em seus ambientes de trabalho, restaurantes, locais públicos em geral, além do tema de laços sanguíneos. Rin não sabe quem é sua mãe, apenas conheceu seu pai, além de ser filha bastarda, por isso sofre um certo preconceito da família, mas família é necessariamente um conjunto de pessoas unidas por laços de sangue ou seriam um conjunto de pessoas unidas por laços de afetividade.

É possível que a própria autora tenha uma ideia meio conservadora ou talvez infantil sobre o tema, mas o modo como todas essas questões são abordadas ao longo de todo o anime provocam a reflexão em quem assiste, afinal tudo é muito sútil e leve nesse anime, nada é imposto a força ou explicado demais, as coisas simplesmente acontecem, às vezes sem terem uma resolução, mas é desse jeito que a vida é... Deveria ser diferente, mas não é...

Enfim, Usagi Drop é um ótimo anime, estou ciente que o mangá é horrível, com a imposição de algumas ideias ridículas, incluídas apenas para criar uma certa polêmica e chocar os leitores, mas ele é dividido em 2 fases: A primeira, com a Rin criança e a segunda com a Rin já adolescente. O anime adapta a primeira parte do mangá, que é muito boa e provavelmente essa série é um raros exemplos de que o anime supera em todos os quesitos o mangá, seja pela falta de maturidade da autora ou pela sagacidade dos criados do anime.

4 pontos

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Dica musical: "Além daquilo que te cega" do Pense

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Pense é uma banda de hardcore de Belo Horizonte, formada em 2007 e esse ano lançaram esse CD aí, contando com a ajuda de fãs que apoiaram a banda no catarse.

Como diz o nome da banda suas canções não existem simplesmente por existir. Elas existem para fazer um convite á reflexão, todas elas abordam temas que merecem e devem ser discutidos por todos, convidando o ouvinte a pensar de maneira diferente do comum, do que é aceito pela sociedade. Tudo isso é feito através de abordagens que parecem se tratar da descrição de apenas mais um dia na vida deles, de apenas um rolê, mas que resulta em horas de reflexão antes de dormir, causada por algum acontecimento diferente ou simplesmente pela ficha que acaba de cair perante tudo que acontece, todos os dias, nesse mundo em que vivemos.

Assim estreou a banda Pense, com seu primeiro CD "Espelho da alma", fácil de se encontrar para download na internet e assim segue esse segundo CD, contando com uma pitada a mais de "cotidiano", já que alguns temas são debatidos da visão de alguém que vive aquilo que discute e não apenas vê e mantém-se fora do que acontece.

No entanto, de certa forma, esse parece ser um CD inferior que o primeiro, ao menos nos temas abordados, afinal este é um CD mais curto, seja no número das canções ou pela duração das mesmas, é um CD mais curto. Menos temas são abordados e a banda até se deixa criar uma música mais "romântica", que é disfarçada, claro, pela gritaria e os instrumentos.

E por falar nisso, se as letras são um pouco mais fracas que o primeiro CD, a parte técnica se supera neste, afinal o CD foi feito com mais "profissionalismo", em um dos melhores estúdios de BH, com equipamentos de primeira e uma ótima produção, não poderia ser ruim, mesmo que eles quisessem.

Aliás, para quem acompanha a banda, sabe que eles não fazem nada por fazer, esse CD foi inspirado, depois guardado, deixado para crescer, amadurecer e enfim, pensado novamente, resultando em um registro único na cena do rock nacional, um CD que surpreende, seja pela qualidade da música, seja pelo tratamento que sofreu, refletido na arte e nas mudanças que a banda exerceu em seu site, seu canal do youtube ou seja pela sua duração, que pode deixar a desejar se comparada com o primeiro, mas te instiga a ouvir mais, deixando uma vontade de ouvir tudo de novo e de novo e de novo...

4 pontos

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dica cinematográfica: "Jodorowsky's Dune" (2013)

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Alejandro Jodorowsky divide opiniões, é amado e odiado por alguns, mas para a maioria é só mais um diretor de cinema que fez fama com alguns filmes malucos e sem nexo. Eu me incluo na maioria.

No entanto, no meio dos anos 70, Jodorowsky juntou-se com Jean Giraud para criar a adaptação cinematográfica do clássico de ficção científica "Dune", o seu projeto (pasmem!) mais ousado, de acordo com ele, um filme que iria mudar a consciência das pessoas, um marco no mundo, o início de algo gigante e completamente diferente. Para isso ele juntou-se com Moebius (o brilhante desenhista de histórias em quadrinhos) e elaborou um storyboard completo do filme, contendo todos os ângulos das cãmeras, os movimentos dos personagens, suas roupas, suas falas,s efeitos especiais, enfim... Um storyboard completo. Giraud compilou o storyboard de Moebius com o roteiro de Jodorowsky, as artes de Ginger (que fez Alien anos depois), os planos do diretor de efeitos especiais e a escalação dos atores em um enorme livro. Esse livro foi enviado para todos os grandes estúdios de Hollywood e até para os não tão grandes assim e continuam lá, fazendo de "Dune" de Jodorowsky o filme mais influente jamais feito.

Jodorowsky era ambicioso e queria criar um dos, se não o maior, filme que já foi feito, gigante, espetacular, mas para isso, os estúdios teriam que investir muito dinheiro, 15 milhões de dólares de acordo com Giraud, sendo que 2 milhões haviam sido gastos só com a pré-produção. O filme acabou sendo feito posteriormente, por David Lynch, sendo um fracasso total, por que era bem diferente do que a ideia original, mas o livro que Jodorowsky e Giraud fizeram ficou guardado em algum lugar especial dentro de cada um dos grandes estúdios de Hollywood, servindo de inspiração para diversos cineastas que vieram depois.

O filme faz questão de ilustrar esse ponto, colocando diversos quadros que estão no sotryboard de Jodorowsky e Moebius ao lado de cenas de diversos filmes de ficção científica, contando também com o depoimento de cineastas que ficaram encantados quando viram o livro em alguma prateleira dos estúdios em que trabalham.

O documentário é muito bom, seguindo uma narrativa muito bem bolada, que não cansa quem assiste e até emociona, por nos fazer conhecer uma história extremamente interessante.

4 pontos

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Dica televisiva: Game of Thrones 4ª temporada

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A 4ª temporada de Game of Thrones começou, acabou, muita gente já assistiu tudo, já leu os livros, então dá pra fazer uma dica aqui sem se preocupar muito com spoilers, se bem que eu nunca faço spoilers mesmo, então...

Comecei a assistir Game of Thrones ano passado, gostei da série, mas sempre achei ela "ok", pra não dizer "meh". Sei que existe um fandom enorme de Game of Thrones, que fica até comparando a série com "O senhor dos anéis", George R.R.Martin com Tolkien, sem contar os chatos que não aguentam nenhum spoiler... Enfim, "Game of Thrones" conseguiu, em menos de 4 anos, criar uma subcultura nerd muito popular e até irritante em alguns pontos, mas o fato é que a série não é nada demais.

Nunca li os livros, mas se depender da série, acho que ele também não é grande coisa. Os fãs de Game of Thrones adoram citar as putarias e as intrigas odiosas da série, presente tanto nos livros quanto na série, mas eu nunca achei isso um grande atrativo, pelo contrário, sempre achei que isso diminuía uma série com grande potencial.

Inclusive, era esse potencial da série que me fez assistir todas as suas temporadas, afinal não há como não simpatizar com a Arya, a Daenerys e com o Tyrion, personagens extremamente carismáticos e fortes, que fazem você esquecer das putarias e das intrigas odiosas pelo poder, além das outras dúzias de personagens que ou são simplórios, que você não dá a mínima ou odiáveis ao extremo, que te deixam com vontade de vê-los mortos o mais rápido possível.

No entanto, nessa temporada a HBO (a qual só faz séries com o máximo de sensacionalismo possível, tornando-se uma empresa querida por poucos, mas que a maioria não dá a mínima) tomou uma grande liberdade criativa e (dizem) mudou muita coisa dos livros, fazendo mais pela série em 4 anos  do que o George R.R.Martin em quase 10!

A narrativa avançou muito, além de mostrar detalhes da história que só serão contados no 6º ou 7º livro, isso se não tiver um 8º,9º ou 10º, coisa que eu não duvido.

Também foi um período de ouro para a série. A fase que foi adaptada dos livros é uma fase boa, sem muitos acordos, reina uma pseudo-paz em toda Westeros, com todo mundo fraco demais pra cometer crueldades e os personagens mais legais ganham espaço para poder fugir, se esconder e crescer (vide Arya, Sansa e até o Jaime, por exemplo). Também é um período em que alguns dos personagens mais odiosos e irritantes da série se dão mal, seja morrendo ou simplesmente encontrando-se com uma realidade dura de encarar, sendo forçados a sair de sua zona de conforto.

A HBO se aproveitou desse "período de ouro" na série e acabou adicionando mais coisas legais, como o arco de Jon Snow e o de Bran, que já eram arcos interessantes e agora ficaram muito mais.

Enfim, essa temporada é sem sombra de dúvida a melhor na série, conseguindo algo que Peter Jackson não conseguiu com Tolkien: Fazer a sua adaptação ser melhor que o original.

No entanto, não sei se todo esse entusiasmo com a série vai durar muito, os próximos livros a serem adaptados são o 4º e o 5º, que na verdade são um só, mas foram divididos pela editora original, por que seria um livro maior que Ulisses, de James Joyce (uma heresia literária) e conta com uma narrativa mais lenta e até mais odiável, personagens legais mal aparecem no 4º livro ou mesmo no 5º e alguns dos mais odiáveis personagens da série ganham mais destaque e poder do que nos livros anteriores, por exemplo, acho que o Tyrion só é citado no 4º livro, mas não tenho certeza disso.

Agora, não sei se a HBO vai tomar mais liberdade criativa com a série, o que seria ótimo ou vai produzir uma temporada mais fraquinha no estilo das 3 primeiras. De um jeito ou de outro, muitas coisas interessantes estão acontecendo no reino de Westeros, o inverno está chegando e os spoiler acabando... O jeito é esperar.

4 pontos

sábado, 5 de julho de 2014

Dica gamistica: "Pocky & Rocky" (SNES)

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"Pocky e Rocky" é um jogo de 1993, desenvolvida pela Natsume para o Super Nintendo e é um jogaço!

O jogo acompanha dois personagens: Pocky, uma sacerdotisa de um templo xintoísta e Rocky, um guaxinim que é membro de um grupo de criaturas chamadas Nopino Goblins e pede ajuda a Pocky, que há muito tempo atrás ajudou os Nopino Goblins quando eles ficaram loucos. Mais uma vez os Nopino Goblins ficaram loucos e os dois logo se vêem cercados por Nopino Goblins hostis. Nesse momento começa a aventura dos dois novos amigos para descobrir quem está deixando os Nopino Goblins hostis e derrotá-lo.

O jogo é a continuação de um jogo dos anos 80 que tinha personagem principal a Pocky e o diferencial desse jogo é a possibilidade de jogar com um amigo, um controlando a Pocky e o outro controlando o Rocky. A jogabilidade é muito interessante e bem montada, sendo que os dois amigos podem avançar ao mesmo tempo no jogo. Os personagens tem poderes parecidos, mas há diferenças pequenas, porém notáveis entre os dois, por exemplo, Pocky é mais rápida, mas os golpes de Rocky causam mais dano. Isso sem contar que o jogo é extremamente difícil para um jogador só, sendo uma missão quase impossível passar nas fases, sem check points e que borbulham de inimigos. Sério! Há inimigos por toda parte e eles não param de surgir, não é à toa que esse jogo se trata de um jogo de tiro sem arma, por que você têm que ficar atirando seus poderes a todo momento, sem muita estratégia.

Em relação à parte gráfica, o jogo surpreende muito, pois é tudo muito bem feito, os gráficos são melhores que muitos jogos atuais e a trilha sonora chega a ser emocionante.

Eu acho que é difícil achar alguém que tenha um Super Nintendo funcionando hoje, mais ainda achar esse jogo por aí, mesmo no mercado livre ou algo assim, no entanto é fácil de achar a ROM e algum Emulador desse jogo, com alguns bugs e o risco de um vírus ou outro, mas vale a pena.

"Pocky & Rocky" é um desses jogos marcantes, brilhantes e muito bem feitos, que mereciam receber muito mais reconhecimento do que recebem, sendo um dos melhores jogos pra SNES que já fizeram.

5 pontos

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Dica cinematográfica: "Planeta Fanstástico" (1973)

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"Planeta fantástico" é um filme francês de animação de 1973.

Conta a história do ponto de vista de Teer, um homem que vive num mundo dominado por Draags, seres azuis gigantes que alcançaram um grande desenvolvimento científico e racional, dominando vários planetas pelo universo, inclusive o planeta Yagam, terra dos Oms, a raça de Teer, que vivem em sociedades fechadas e selvagens, sendo tratados como pragas pelos Draags e também como animais de estimação. Quando a mãe de Teer é morta, enquanto ele ainda era bebê, é adotado por uma menina Draag, filha de um dos chefes de conselho dos Draags, que realizam reuniões com toda a comunidade Draag daquele planeta para discutir os principais problemas e suas prováveis soluções. Teer é tratado muito bem pela menina Draag, acompanhado-a até em seus estudos, enquanto cresce e evolui fisicamente e mentalmente. Quando sua dona alcança a adolescência, ela começa a deixá-lo de lado, assim como o resto de seus brinquedos e então Teer têm  sua chance de fugir.

O filme é muito bem feito, fazendo um crítica sútil, mas presente em todo o filme, que é a da prepotência humana. Avançamos cientificamente, mentalmente e fisicamente, mas nos esquecermos de nos desenvolver sentimentalmente, não conseguindo mais sentir apatia pelas outras formas de seres que existem em nosso planeta e até nos outros planetas. Sendo um filme da década de 70, esse tema era muito debatido e até hoje ainda é questionado, mesmo que fora dos círculos intelectuais mais "populares", no entanto, ainda é atual e merece ser refletido.

Já a parte técnica também é surpreendente, a animação é toda feita a mão, não existem efeitos computadorizados, nem digitais, tudo é feito "artesanalmente" e ainda assim consegue manter um bom ritmo, não sendo fluída como animações japonesas por exemplo, mas também não são paradas e sem-graça como muitas animações americanas da época e até algumas animações atuais (vide aquele filme brasileiro de animação que concorreu ao Oscar com aquela animação ridícula). Para um filme daquela época, a animação surpreende e os franceses já mostravam que entendiam muito do assunto, mesmo sem a técnica japonesa ou o orçamento estadunidense da Disney.

Mas há um detalhe da parte técnica que deixa até as melhores animações de hoje em dia no chinelo: A trilha sonora. Antes das animações se renderem às trilhas clássicas de filmes americanos, com violinos, tambores e violoncelos, haviam animações que exploravam os limites desse mundo pouco explorado, até hoje; e assim nasciam filmes com trilhas sonoras excepcionais, como esse, que conta com um rock psicodélico e progressivo marcante em todas as cenas, espere muitos riffs de guitarra, teclados, baterias e até trompetes e saxofones, tudo perfeitamente colocado para criar uma atmosfera surreal, digna dos parâmetros da época.

Enfim, "Planeta Fantástico" é uma pérola do cinema de animação, uma dádiva francesa, que passa uma mensagem que te deixa pensando por muito tempo, uma história muito boa, realmente intrigante e fixadora, além da trilha sonora surpreendente e apesar da sua animação ser "fraca" nos dias atuais, é usada até hoje por muitos criadores (apesar de forma porca e sem-graça na maioria dos casos) e se você pensar nos parâmetros da época, irá ter uma bela surpresa.

4 pontos e meio