quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dica cinematográfica: "Waking Life" (2001)

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Waking Life é um desses filmes que têm que ser digerido por várias horas depois de ser assistido, talvez dias, quiçá semanas e só então pode-se falar dele. É um filme de Richard Linklater, um brilhante diretor de filmes cult como "Jovens, Loucos e Rebeldes" e "Slacker", então pode-se esperar não apenas um filme, mas uma obra de arte, que impulsiona experiências não só audiovisuais, como filosóficas também.

O filme conta a história de um garoto que se vê preso no mundo dos sonhos. Ele acorda de um sonho e percebe que continua em outro, encontrando-se com as mais diferentes pessoas, rebeldes, loucos, velhos, jovens, professores, donas de casa, diretores de cinema e líderes religiosos. Todos conversam com o garoto sobre os mais diversos temas que, provavelmente, ninguém achará respostas e por esse motivo nunca nos cansaremos de debatê-los, como o livre-arbítrio, a evolução da sociedade, o contato humano, nossos relacionamentos, nossa vida em sociedade, a liberdade de cada um, os nossos limites, a relação entre amor e desejo, o que é o bem, o que é o mal e o que há após a morte. Esses e outros temas são apresentados e discutidos em poucos minutos, conforme o garoto se encontra com as pessoas, até que ele percebe que não consegue acordar e passar a viver um sonho lúcido.

O filme é simplesmente muito bom, sendo uma dessas animações que não é feita para crianças, aliás, animação que surpreende. O diretor filmou primeiro o filme com pessoas reais e depois pediu para o diretor de arte, Bob Sabiston, transformar o filme que havia feito em uma animação, desenhando por cima o que se tornou Waking Life, algo muito inteligente.

Não há um só estilo na animação apresentado, ás vezes os personagens são apresentados de forma cubista, outras de forma realista, ou ainda de forma totalmente surrealista, desmanchando-se no meio da tela, enquanto o cenário ao fundo muda e, por vezes, a arte com a qual eles são representados combina com as discussões filosóficas que eles debatem com o protagonista, gerando uma combinação perfeita entre imagem, som e roteiro. Uma verdadeira obra de arte, digna de ser admirada.

No entanto, o filme não chega a ser pretensioso. É claro que os diálogos são inteligentes, papo cabeça mesmo, mas a forma como cada diálogo chega ao espectador não é desnecessárias, aliás a temática do filme favorece isso. Como num sonho, em que os acontecimentos chegam a nós e não nos lembramos como o sonho começou, às vezes nem como acabou, o filme também é assim. Cada personagem diz o que t~em que dizer e some, tão rápido como chegou, deixando você pensando em tudo o que ele disse, ou não... Afinal são só ideias.

Enfim, o filme é uma obra de arte maravilhosa, que merece ser assistida e admirada, fazendo eu me tornar, aos poucos, fã de Richard Linklater.

5 pontos