sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Dica cinematográfica: "Short Peace" (2013)

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Short Peace é um projeto cinematográfico de Katsuhiro Otomo, o autor de Akira, o clássico dos clássicos de ficção científica.


O filme é na verdade uma compilação de quatro curtas, mais uma abertura de poucos minutos, contando histórias diferentes envolvendo tradições e temas que remetem ao Japão. Também envolve um jogo, mas esse eu nem conheço.


A abertura do filme começa com uma garota brincando de esconde-esconde com  uma amiga e ao abrir os olhos quando a amiga diz que ela já pode olhar, depara-se com um mundo completamente diferente e divertido, para ela.


A primeira história do filme é sobre um viajante perdido numa floresta, enquanto chove, indo procurar abrigo em um templo, com uma sala, apenas. No entanto, ele descobre que essa sala pode ser moradia de coisas muito misteriosas.


No segundo curta, apresentado com um desenrolar de um rolo de papel, somos apresentados à trágica história de Owaka e Matsukichi, um casal prometido desde a infância um para o outro, mas quando Matsukichi é desonra sua família e é deserdado, os pais de Owaka não perdem tempo para achar outro marido para a menina. No entanto, os planos dela para a sua vida são bem diferentes.


A terceira história é sobre a batalha entre um ogro vermelho que anda aterrorizando uma família real japonesa e o protetor da família: Um urso branco gigante.


E a quarta e última história é sobre um esquadrão anti-bombas munidos com armas a laser e armaduras tecnológicas em uma Tóquio pós-apocalíptica onde os robôs desejam acabar com a humanidade.


Todos os filmes, apesar de serem feitos por diretores diferentes, foram feitos embaixo das asas de Katsuhiro Otomo e portanto, contam com as mesmas qualidades técnicas, sendo feitos num estilo pouco convencional, a animação 3D com uma finalização 2D, ou seja, você percebe que os personagens foram feitos em programas de modelagem 3D, mas eles contam com linhas grossas em torno de seus corpos, delineando detalhes em seus corpos, excluindo o trabalho de textura e profundidade que os animadores teria ao fazer um filme em 3D. Não é algo novo, é até bem utilizado em animações americanas, como a do Hot Wheels e em jogos nipônicos, como os jogos do Naruto ou os novos Pokémon. No entanto, eu nunca tinha visto esse estilo de animação sendo apresentado com tanta qualidade.


Os personagens parecem meio paradões, mas isso logo é quebrado com o desenrolar do filme. As cores e a movimentação de um modo geral (desde as roupas e os fios de cabelo) são muito bem feitos e característicos, dando um ar meio cartunesco à animação, mas que não atrapalha. Muito pelo contrário, acrescenta qualidade ao filme, sendo um deleite aos olhos assistir à alo que soa tão original como esse filme.


A trilha sonora não se destaca, no entanto, também não é ausente, sendo desnecessário comentá-la.


Já as histórias, essas merecem muitos comentários. Pelo fato de serem curtas, já são entregues personagens prontos e que não se perdem em enrolações desnecessários, então logo vemos a "ação" de cada história, algo extremamente agradável para quem assiste.


Enfim, "Short Peace" é um projeto ousado e até ambicioso, mas que cumpre muito bem o seu papel, sendo mais um ponto positivo no currículo desse mestre dos mangás que é Katsuhiro Otomo.


4 pontos e meio

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Dica cinematográfica: "A vida marinha com Steve Zissou" (2004)

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Ontem assisti à esse filme que é considerado por alguns como o melhor filme de Wes Anderson.


O filme conta a história de um documentarista chamado Steve Zissou, que após a morte do melhor amigo, registrado no seu último documentário, lança um filme que é um fracasso, descobre que tem um filho bastardo, fato que faz sua mulher abandoná-lo, recebe um ultimato de um executivo do estúdio ao qual trabalhava e sofre terríveis críticas de jornalistas do mundo todo. Nessa situação frustrante, Steve decide fazer mais um documentário, com o objetivo de encontrar o tubarão que matou o seu melhor amigo.


Basicamente, essa é a história, que se desenrola com certa lentidão, cheios de histórias paralelas, que nascem e crescem ao longo de toda a película. É um filme de Wes Anderson e assim como todos os seus filmes as tomadas são amplas, os cenários ricos em detalhes, personagens inexpressivos e perturbados, ás vezes chatos e um certo humor negro em todas as passagens da história.


No entanto, o filme não é ruim. Muito pelo contrário, de todos os filmes que assisti do diretor, achei esse o melhor, o humor está bem colocado, a passagens entre os cenários é muito interessante e todos os personagens são bem desenvolvidos, da forma Wes Anderson de desenvolver os personagens, mas eu gostei.


A trilha sonora também é impecável, contando com a participação de Seu Jorge, como um dos tripulantes do navio de Steve, Pelé dos Santos, atuando e adaptando músicas de David Bowie para o português, o que ficou bom demais, afinal, o cara é talentoso pra caramba.


Enfim, "A vida marinha com Steve Zissou" é um ótimo filme, merecendo muito mais atenção do que recebe.


4 pontos

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Dica literária: "No. 5" de Taiyo Matsumoto (2000)

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Mais uma dica de um mangá escrito pelo fantástico Taiyo Matsumoto.


No. 5 é um instigante thriller de ficção científica que conta a história de Yuri, um ex-integrante do Conselho Arco-Íris e o número 5 na hierarquia do grupo. Após invadir o castelo de Número 1 e raptar uma misteriosa mulher chamada Matryoshka, Número 5 inicia uma fuga pelo mundo pós-apocalíptico, semi-utópico em que se passa a história. Enquanto isso, Número 1 pede para que os membros restantes do Conselho corram atrás do fugitivo e sua refém.


Basicamente essa história, que fica bem clara no primeiro volume e se desenrola das mais diversas formas ao longo de seus 8 volumes. Cada um dos integrantes do Conselho Arco-íris toma conta de uma região do mundo e através dos olhos deles e de Número 5 somos apresentados à todo o mundo fantástico, criado por mãos humanas após a devastação de todos os seres vivos da face do planeta. Muitos personagens são movidos pelo desejo de criar um futuro melhor, nem que seja impondo-o, manipulando as pessoas, a genética e a vida de um modo geral.


Outros personagens decidem escolher a liberdade de pensamento, de escolha e viver com aquilo que gostam, mesmo que escondidos, enquanto que a maioria simplesmente se rende ao poder maior e entram em uma melancólica indiferença em relação ao que fazem e ao que vêem outros fazendo.


No. 5 têm muito crédito narrativo, tendo quadros enormes, assim como seus capítulos, com muitas páginas; mas que não cansam quem o lê. Às vezes, a história se torna confusa, com perguntas que só são respondidas capítulos após serem colocadas a xeque, também conta com muitas reviravoltas e uma linha do tempo, em determinados momentos, não linear, o que te confunde, mas que não prejudica o todo.

Também têm muito crédito artístico, afinal é feito no característico estilo de Matsumoto, simples, sujo, parece que foi feito com caneta sem rascunho, nem nada, sem preocupação.No entanto, ao longo dos volumes é perceptível que Matsumoto têm cuidado ao fazer seus mangás, de um modo geral, eles são feitos de uma forma só, mas às vezes, capítulos inteiros são feitos como se tivessem sido desenhados com lápis, outros são feitos com traços grossos, ilustrando magistralmente cenas de batalha ferozes.

E assim, assumindo diversos estilos, criando uma história complexa, cheia de plot-twists e personagens carismáticos e, acima de tudo, humanos, Taiyo Matsumoto criou uma obra incrível de ficção científica, que merece mais atenção do que recebe, atualmente.

4 pontos

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Uma explicação pseudo-didática sobre a friendzone

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Há alguns meses, li um texto dizendo que a “friendzone” nada mais era que uma versão moderna de machismo, por que se baseava na troca de favores; garoto faz algo legal para uma garota e em troca exige receber prazeres afetivos dela. No entanto, tal afirmação não poderia ser mais errada, indicando uma profunda falta de conhecimento do que é a friendzone. Na semana passada, enquanto ouvia um podcast, acabei escutando a leitura de uma mensagem que dizia basicamente a mesma coisa, e mais, a friendzone, na verdade, não existe. Pensando nisso, notando que a muita falta de conhecimento da temida friendzone em alguns círculos da internet, decidi escrever esse texto, na esperança de que eu possa esclarecer um pouco sobre esse fenômeno, tão natural  e tão assombroso, que é a friendzone.

Para poder iniciar o texto e para não ficar tão chato, irei apresentar um exemplo:

João é um garoto legal, inteligente, leitor de mangás e fã de filmes de ação. No primeiro dia de aula, ele conhece Maria, um  menina esbelta e bonita, mas que, assim como ele, não se sobressai sobre ninguém. Os dois são apenas dois adolescentes normais, com o rosto cheio de cravos e espinhas, preocupados com sua forma física e estudantes do ensino fundamental. No entanto, Maria chama a atenção de João e ele decide se aproximar dizendo “oi!”

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Maria diz “oi” e  com o passar dos dias, João decide se aproximar de Maria, sentando atrás dela na classe, andando com ela e suas amigas no intervalo e até saindo juntos com alguns amigos em comum.

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Os dias se tornam semanas e logo João se vê acompanhando Maria até sua casa. Ele é uma boa companhia afinal e quando as semanas se tornam meses, João flagra Maria beijando Marcos, um dos amigos em comum que os dois tinham, na festa junina da escola.

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João fica arrasado, mas tudo bem, era só um beijo, afinal. Ele teria a sua chance. Quando Maria diz a João que Marcos a dispensou para ficar com Clarinha na festa de aniversário de Gabriel, João acha que essa é a sua chance e decide confessar o seu amor para ela, da única forma que ele sabia, falando: “Eu gosto de você, Maria!”

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No entanto, Maria não gostava de João da forma como ele gostava dela. João era um cara legal e tal, mas era tão legal como suas amigas; a companhia que acompanhava ela até a sua casa, depois da escola e não um possível namorado. Essa hipótese até poderia ter passado pela cabeça de Maria, mas não naquele momento. Naquele momento, ela só queria um ombro amigo para poder chorar e dizer à ela que tudo iria ficar bem. Por isso, Maria o dispensou.

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João fica triste, óbviamente e vai para casa, ouvir Leonard Cohen, enquanto chora segurando o travesseiro.

O que João não sabia era que, assim como o humor, o amor tem o seu timing e o dele foi há cinco parágrafos atrás. O João de nossa história errou pela inexperiência e não há nada que ele pudesse fazer sobre isso, afinal essa é a vida, vivendo e aprendendo. Se ele tivesse pensado bem, saberia que Maria não gosta de filmes de ação e nem de mangás e em uma realidade alternativa, o namoro dos dois terminou após 2 meses.

A friendzone é isso, nada mais do que uma versão muito específica de amor platônico, algo que é escrito e contado há milênios e todo mundo já sofreu um amor platônico alguma vez na vida. Alguns sofreram um caso muito específico de amor platônico como a “friendzone”, outros simplesmente não tiveram seus sentimentos correspondidos de uma forma ou de outra.

O fato é que isso é algo normal e aconteceu com qualquer um sem experiência alguma com relacionamentos, por isso é mais comum em adolescentes, que, de maneira geral, entendem pouco ou nada de relacionamentos, mas também podem acontecer com pessoas adultas, que também podem conhecer pouco ou nada de relacionamentos amorosos.

No entanto, a questão a ser discutida aqui não é sobrecom quem que isso acontece, nem como evitar isso (até por que nem eu sei como evitar a friendzone, se é que tem como evitá-la). A questão é desmistificar a teoria que diz que a friendzone é algo machista.

Como você pode perceber no exemplo acima, citamos João como referência principal, mas poderíamos muito bem inventer os papéis e colocar Maria como a personagem principal, que gosta de João e acaba ficando na friendzone.

Isso só é mais difícil, por que vivemos em uma sociedade onde mulheres são menos encorajadas a tomar a iniciativa de começar um relacionamento e por esse motivo é mais conciliar a imagem da friendzone com um homem que gosta de uma mulher e não é correspondido, do que com uma mulher.

Atenha-se a outro fato, João não fez coisas boas de Maria, esperando receber prazeres sexuais em troca, ele fez coisas boas a ela, por que queria se aproximar de Maria e enfim, achar o momento ideal de dizer que gosta dela ou, quem sabe, o momento em que ela ia gostar dele. Isso, de forma alguma, pode ser classificado como machismo, se não todos os relacionamentos teriam que ser machistas, até mesmo relacionamentos entre duas mulheres. Afinal, se você faz algo para a pessoa que você ama é pensando em agradá-la, se não você não está fazendo por ela.

Isso pode até ser confundido com o comportamento daqueles caras que dão caronas, pagam bebidas e compram presentinhos para mulheres esperando que elas deixem-os entrar em suas casas à noite e fazer o que quiserem com elas. No entanto, são comportamentos completamente diferentes.

Uma coisa é você dar uma carona para uma garota, esperando obter um passe livre para o quarto dela e enfim, o que se esconde entre suas pernas. Outra coisa é você dar carona para uma garota, por que está querendo conhecê-la melhor e se convencer de que ela pode ser a garota da sua vida.

Admito, há uma linha muito tênue separando os dois comportamentos, os dois parecem seguir o mesmo caminho, o “chaveco” usado pode até ser o mesmo, mas a diferença se encontra no objetivo. Em um, o cara quer só passar uma noite com  a garota para poder se gabar com os amigos, no outro, o cara quer realmente construir um relacionamento duradouro com a garota, quem sabe que até dê frutos, por que não?

E o primeiro cara, o que deve ser combatido e repelido pelas mulheres, não vai cair na friendzone, por que assim que ele perceber que está difícil demais, ele vai cair fora e buscar conforto em outro terreno, algum que leve menos tempo para ser conquistado. O segundo cara não vai desistir tão fácil, ele vai continuar até ser dispensado e se ele respeita a sua opinião, mesmo que depois de uma discussão, então ele não pode ser culpado na história.

Na verdade, em um caso de “friendzone” não há culpados, muito menos vítimas, apenas pessoas, que se encontraram, no lugar errado e, principalmente, na hora errada. É o famoso caso do “não era pra ser”, sabe?

A friendzone nada mais é do que um fenômeno que acontece quando alguém ainda não aprendeu a expressar seus sentimentos da maneira correta para alguém, não é machismo, não é sexismo, é apenas parte da vida. Algo que deve ser levado a sério (mas não tão a sério assim) e deve ser considerado parte de todas as lições que iremos aprender ao longo dessa coisa estranha que chamamos de vida.

 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dica literária: "Domu: A child's dream"

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"Domu: A child's dream" é um mangá de Katsuhiro Otomo, mesmo criador de Akira, publicado antes de sua obra mais conhecida, sendo um mangá one-shot do gênero horror e suspense.

O mangá começa com um grupo de policiais e detetives investigando o suicídio de um homem em um complexo habitacional, que havia pulado de um lugar ao qual ele não poderia ter acesso. Logo o detetive responsável pelas investigações descobre que o responsável por essa e outras mortes misteriosas é um velho chamado "Old Cho", um idoso senil, cuja maior diversão parece ser passar os dias sentado em um banco do complexo habitacional vendo as crianças brincarem, porém, a noite, o velho usa seus poderes extra sensoriais para assassinar pessoas e ficar com seus "tesouros" pessoais, objetos que ele usa à sua volta e acaba matando o investigador de polícia. Ao mesmo tempo que o investigar chefe muda, uma garota com poderes extra sensoriais se muda para o prédio e descobre o que "Old Cho" estava fazendo, exigindo, ao seu jeito, que o velho pare com o que está fazendo, pois ela sabe o que é certo e errado.

O mangá é muito bom, com uma estrutura narrativa incrível, fazendo o leitor acompanhar os quadros e a história contada como se fosse um filme, tamanho o realismo e a maestria com a qual a história é guiada por Katsuhiro Otomo. Existem muitos personagens ao longo de toda a história, cada um com seus momentos, suas falas próprias, levando a conclusão de que o próprio complexo é um personagem na história, um objeto sem vida, porém que abriga diversos outros seres pensantes, criando o seu próprio micro-cosmo. As cenas de batalha são incríveis, surpreendendo quem lê. Impossível não vê-las e imaginar um filme rolando na frente dos seus olhos.

O tema dessa história é mais focado no horror mesmo, tendo algumas cenas gore ao longo de toda a narrativa, no entanto, é uma ótima leitura, com muito suspense e ação acontecendo, fazendo o tempo passar rapidamente e quando você se dá por si, pronto a história já acabou, apesar de conter mais de 200 páginas.

Infelizmente nenhuma editora brasileira trouxe "Domu" para cá e as edições estrangeiras já estão esgotadas (talvez algumas ainda sejam publicadas como a japonesa), sendo considerado um item de colecionador e se você o achar algum dia em alguma de suas viagens pelo mundo, por favor,compre uma edição para mim,por que esse já é um dos meus mangás favoritos.

5 pontos

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Dica cinematográfica: "Uma noite de crime: Anarquia" (2014)

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Já falei do primeiro filme nesse post, filme que acabei gostando no final das contas, mas nunca mais o assisti depois.

Enfim, decidi assistir o segundo, já sem muitas expectativas e o filme não surpreende, sendo apenas um bom filme de suspense/terror, bom para passar o tempo, apesar de ser superior ao primeiro.

Nessa sequência, somos apresentados ao dia da purificação de 2023, um ano depois dos acontecimentos do primeiro filme, acompanhando 3 histórias paralelas e que se unem logo no meio do filme; sendo elas: Um casal se torna alvo de um grupo de delinquentes mascarados horas antes do início da purificação, ficando perdidos no centro da cidade, o ponto mais perigoso nas 12 horas de crime que se seguem. Uma família formada por um idoso, sua filha e sua neta passam por dificuldades econômicas e o velho decide vender-se para uma família rica, enquanto sua filha e sua neta se vêem presa em casa com um maluco psicopata e um grupo de assassinos supostamente contratados pelo governo para diminuir o número de pessoas pobres na cidade. E pro fim, um homem que teve seu filho assassinado, corre atrás do responsável pelo crime.

O filme é superior ao primeiro em vários aspectos. Primeiro pela narrativa, que é guiada de forma diferente ao primeiro, apresentando 3 histórias sem ligação e ligando-as logo no meio do filme, fazendo os personagens passarem por várias situações diferentes e até frustantes, obrigando-os a unirem suas forças para poder sobreviver. Também temos um pano de fundo mais interessante, ou melhor, mais explorado tornando-se mais interessante; no primeiro filme somos apresentados à uma família rica e umas críticas mais "suaves" em relação á discriminação e à políticas absurdas. Neste, as críticas são jogadas logo no começo, sendo incluído até um líder rebelde que lidera uma espécie de frente de batalha contra a purificação, que supostamente só serve à elite do país, algo que fica muito claro do meio pro final do filme.

No entanto, se o roteiro até que impressiona pela qualidade, a parte técnica deixa a desejar um pouco. Pelo fato do filme se passar mais nas ruas, provavelmente, o filme é mais escuro, tendo uma fotografia diferente, com muitas luzes de várias cores, além de um enquadramento menos perfeccionista, mas as tomadas continuam focando nas partes mais interessantes da ação.

E por falar em ação, se o primeiro filme continua dar alguns sustos e se passar por filme de terror, mesmo que de forma leve, este se entrega totalmente à ação e ao suspense, não sendo capaz de dar um susto sequer ao longo de seus 103 minutos, mas até que consegue criar uma atmosfera de tensão e suspense bem legal.

Enfim, somos apresentados aos reais motivos do dia da purificação neste filme e eu fiquei mais animado agora para ver como irão concluir essa trilogia, apesar do filme ser bem mediano, de uma forma geral.

2 pontos e meio

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Dica literária: "Under Execution Under Jailbreak" (2005)

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"Under Execution Under Jailbreak" é um mangá de um volume só (one shot) escrito e ilustrado por Hirohiko Araki, mais conhecido por escrever e desenhar o mangá Jojo's Bizarre Adventures, que foi adaptado para anime em 2012,acho...

Nesse mangá, são compilados quatro histórias desconexas umas das outras, sendo que duas delas ocupam têm mais de um capítulo. Todas elas têm uma relação com o horror, sendo histórias que podem assombrar os seus pesadelos por alguns dias ou por algumas horas, contendo cenas fortes e um roteiro que te prende ao longo de todo o mangá.

"Under Execution Under Jailbreak" é a primeira história e eu acho que foi colocada como primeira propositalmente pois com ela já dá para se ter uma boa ideia sobre o que irá se tratar todo o mangá, contando a história de um prisioneiro condenado à morte por ter matado uma mulher e se vê preso em uma armadilha na prisão, que poderá matá-lo e isso o atormenta por mais de 50 anos. É a história mais pesada do mangá, com muito sangue, mutilação e umas coisas gore nojentas, o que resulta num enfraquecimento do terror psicológico que permeia todo o roteiro da história.

"Dolce and his master" conta a história do único sobrevivente de uma lancha que quebrou em alto-mar da perspectiva de sua gata de estimação; a Dolce. É contada em dois capítulos e guia muito bem o leitor pela insanidade do rapaz que fica preso durante uma semana numa lancha quebrada, com o corpo de uma mulher morta do lado e uma gata do outro. É a única com uma pontada de esperança no final, apesar do final trágico e muito bem bolado.

"Thus spoke Kishibe Rohan" é uma história de horror e suspense com clara influência de Edgar Allan Poe, contando a história de um mangaká que decide nos agraciar com um conto de terror que ele ouviu em sua primeira viagem á Itália.

"Deadmen's Questions" é a última e mais longa história, contando com 3 capítulos, contando a história de um homem morto, que realiza trabalhos vingativos para os vivos. Muito interessante e parece que contém uma relação direta com Jojo's Bizarre Adventure.

Nunca havia lido nada de Hirohiko Araki, nem assisti o anime que adaptou seu mangá mais famoso, mas me interessei por esse one-shot; primeiro por que é one shot (Hoje em dia é uma tarefa homérica acompanhar Jojo's Bizarre Adventure), segundo por que é terror (japoneses são os mestres nisso) e terceiro, por que a arte dele sempre me intrigou. É um estilo difícil de se classificar, com alterações fisionômicas muito acentuadas e com características masculinas marcantes, além da ênfase dada às roupas, cheias de detalhes e com muitas cores.

Não é uma arte excepcional, muito menos genial, mas tem que se admitir que é extremamente original e isso se reflete nos roteiros das histórias, que também são muito interessantes e vale a pena serem lidas.

Enfim, essa é a dica de hoje, mangá de horror, com traço original, de um autor famoso pra caramba.

4 pontos

domingo, 10 de agosto de 2014

Dica cinematográfica: "Pais & Filhos" (2013)

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Aproveitando o dia dos pais para postar uma dica de um filme que centra-se na relação de pais e filhos, mostrando a influência da figura paterna na formação dos filhos e também em como essa relação cresce independentemente da situação em que se vive.

O filme mostra Ryota, um jovem arquiteto de grande sucesso, que junto com sua jovem, bela e delicada mulher, mais o filho de 6 anos forma a família ideal para a sociedade japonesa, mas, de repente, seu mundo vira de ponta-cabeça quando ele descobre que seu filho fora trocado na maternidade do hospital com o filho de uma família pobre de um dono de uma loja e uma vendedora  de uma loja de comidas prontas (ou algo assim, não fica claro qual o trabalho dela, ainda mais por que no Japão existem trabalhos que não existem em outras partes do mundo).

O filme trata de mostrar qual a relação dos dois homens com os seus filhos e os seus ideais de família. Ryota é um homem ligado à descendência de sangue, considerando isso um filho perfeito e não consegue conciliar o amor que sente pelo filho com os ideais nos quais fora criado pelo seu pai, sua mãe e irmão. Já Yudai, o outro pai, apesar de extremamente modesto e simples,é também um cara extremamente carinhoso, um homem que perdeu muito durante toda a sua vida e agora, já na meia idade, começa a adquirir aquela boa sabedoria que só vem com a idade, considerando a sua família o maior tesouro, a única coisa que vale a pena viver, de verdade.

Os dois homens vivem em mundo completamente diferente e enquanto as estações do ano passam, eles tentam experiências diferentes com os filhos, sem grandes resultados.

O filme é mais centrado em Ryota, até por que é o personagem que mais pode aprender ao longo dessa aventura.Ele é um homem muito agarrado ao seu trabalho, às regras, à vida social e também é o que mais aprende, mesmo que da pior maneira possível, que família não tem a ver com laços de sangue, mas com laços de afetividade.

No final,  filme acaba virando um filme sobre isso mesmo, sobre a nossa verdadeira família, às vezes não somos a família de nossos irmãos, nossos pais ou mães, tios ou tias, ou avós. Somos a família de nossos amigos, de nossos parceiros que escolhemos para viver o resto da vida, nossos filhos, biológicos ou não, nossos vizinhos, chefes ou colegas de trabalho. Pessoas que amamos e queremos bem. Pessoas que nos deixam felizes quando conseguem alcançar um objetivo específico e nos entristecem quando ficam tristes.

O filme conta uma ótima fotografia, uma trilha sonora soberba e a excepcional atuação de seus atores e atrizes, até mesmo das crianças, mas tudo isso torna-se ínfimo face a mensagem que o filme passa, universal e adorável em todos os detalhes.

Enfim, assista esse filme com seu pai, sua mãe, seu irmão, seu tio, seu avô, seu amigo de classe, seu colega de trabalho, seu patrão, sua namorada ou namorado; ou seu vizinho.

Assista com a sua família.

5 pontos

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Dica televisiva: "Ping Pong: The Animation" (2014)

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Ping Pong: The Animation é um anime inspirado em mangá de mesmo nome do ano de 2014 e é muito bom.

O anime conta a história de Smile e Pelo, dois jogadores de tênis de mesa que frequentam o mesmo clube de treinamento e tem um talento natural para isso. No entanto, Peko torna-se extremamente convencido das suas habilidades excepcionais e Smile não vê mais graça no esporte. Apesar disso, o treinador da escola que os dois frequentam vê um futuro campeão em Smile, mas nenhum espírito esportivo e começa a treiná-lo com o objetivo de transformá-lo em um campeão.

O anime trata-se de um esporte que não têm muita moral no mundo: o tênis de mesa, então como ele pode ser muito bom? Simples, é um anime baseado em um mangá de Taiyo Matsumoto, o mesmo criador de Tekkon Krinkeet e Sunny, dois mangás ótimos e que merecem muito mais atenção do que recebem, tendo como trunfos a arte extremamente bela e original e a complexidade de seus personagens.

A arte é algo que chama a atenção logo no começo, "Ping Pong: The Animation" não é feito de forma convencional, assim como "Tekkon Krinkeet" (que foi feito todo a mão). Esse anime se esforça em parecer o mais fiel possível do traço fino, com detalhes semi-realistas, porém sujos de Taiyo Matsumoto, utilizando o CG apenas para as cenas em que mostram com detalhes as raquetes e as bolas de tênis de mesa; criando um anime que enche os olhos, nem tanto por ser bonito (ele é), mas o que chama a atenção é a originalidade de sua arte, além da ousadia que esse tipo de arte representa nos dias de hoje. Só para contextualizar, animar personagens e cenários com desenhos mesmo, fazendo tudo a mão, é considerada uma forma de arte atrasada e menosprezada no Japão, onde o uso de computadores e CG para animar é básico.

Outro ponto que chama a atenção, é a complexidade dos personagens. Acredite em mim quando eu digo que Taiyo Matsumoto não cria personagens rasos, todos eles são profundos, até mesmo os personagens com menos destaque, que aparecem em uma ou outra cena ao longo da série. Para começar temos dois personagens principais niilistas na história, um deles é Smile, que não vê graça no esporte, nem na vida, passando os dias jogando video-game e se escondendo dos seus problemas. O outro é Kazama, um jogador campeão mundial, mas que não está no esporte por que gosta e se diverte com aquilo e sim por obrigação, por pertencer à uma família que é dona de uma marca esportiva. Os dois perderam pessoas que amavam muito no passado e se perdem em arrogância e uma suposta superioridade em relação aos outros, mas no fundo, eles não acreditam que o esporte que praticam é útil, muito menos bom e não enxergam graça na vida. Já Peko começa como um arrogante desleixado que se convenceu de ser uma estrela, mas ao perder para um jogador chinês, chamado Weng, entra em depressão e desiste do tênis de mesa, até perceber que todos são importantes para alguém, até mesmo perdendo, o importante é a sua essência, o seu papel. Weng é um jogador chinês que foi expulso do seu país por ser um péssimo exemplo, ele é presunçoso e arrogante, apenas se importando com sua volta para a China, no entanto, ele acaba descobrindo que um pouco de trabalho e diversão são as coisas realmente importantes na vida. Outro personagem com um papel central na história é Sakama, um jogador sem talento, porém muito esforçado, mas que acaba descobrindo que não adianta você se esforçar para fazer algo que não se encaixa com você, isso nunca dará frutos. Ele começa como um personagem detestável, mas logo criamos empatia por ele, não só por ser mais uma vítima cruel da realidade, mas também por ser o primeiro a achar um equilíbrio saudável para a sua vida, tornando-se uma espécie de consciência para vários personagens.

Todos os personagens começam abusando de excessos, sejam eles bons ou ruins, como o complexo de inferioridade de Smile, que logo vira um complexo de superioridade, ora pecando pelo excesso, ora pela falta; esquecendo-se de que o saudável é manter um equilíbrio na vida. Esses são apenas alguns dos personagens, também temos +personagens secundários que foram tirados do esporte por abusar dos limites, personagens que nutrem paixões por quem não deveriam se apaixonar, enfim, temas mais simples, porém abordados de forma sutil e sagaz por esse que é um dos melhores autores da atualidade: Taiyo Matsumoto.

Enfim, "Ping Pong: The Animation" é um anime muito bom, contando não só com um estilo original e personagens complexos, apesar do roteiro simples, mas também com uma narrativa muito interessante, utilizando-se de todos os efeitos que puder usar para contar a história, como músicas, flashbacks e cortes não-lineares no meio da tela. Num primeiro momento, ele pode assustar, parecendo uma coisa ruim, pobre, mas logo você consegue descobrir a beleza das histórias de Taiyo Matsumoto.

4 pontos

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Dica musical: "Gist Is" do Adult Jazz (2014)

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Adult Jazz é uma banda formada em 2010 (acho) na cidade de Leeds e esse ano eles lançaram o surpreendente álbum "Gist Is".

Muito já se falava dessa banda, que lançava alguns vídeos no YouTube com pedaços de apresentações ao vivo e algumas músicas prontas, mostrando que o som deles não é algo que se pode ouvir todos os dias. E o álbum de estreia confirma isso.

O estilo musical é difícil de definir, talvez seja jazz, mas não é um jazz típico, com jam sessions longas recheadas de instrumentos e ritmos que crescem organicamente, ao longo das apresentações. É algo mais recente, com instrumentos eletrônicos, mais centrado nos vocais, que parecem ser a essência de todas as canções, afinal não é difícil ouvir músicas com murmúrios feitos pelo vocalista, guiando o ritmo que os instrumentos devem seguir, lembrando canções sofisticadas produzidas há muito tempo, seja pelos cantores de jazz ou pelos cantores de bossa-nova (que aliás também eram influenciados pelo jazz).

Os instrumentos também não são constantes, sendo muito diversos, indo da básica bateria à excêntrica clarineta, com guitarra, violão, trompete, saxofone e outros instrumentos no meio, gerando uma verdadeira "bagunça". No entanto, é uma bagunça deliciosa de se ouvir, criando ritmos que crescem e se desfazem naturalmente, sem forçar nada aos ouvidos de quem se aventura por esse álbum.

Uma aventura que fica clara se você decidir prestar atenção às letras, que tentam passar uma mensagem, mas se rendem ao ritmo, tornando-se desconexas, com meia-palavras e versos que terminam repentinamente e não continuam ao longo da música, criando mais uma vez uma ponta com músicos que buscavam algo além do sentido no século passado, sem preocupação com a mensagem, mas até onde iam os limites da música, da experimentação e do ritmo.

Adult Jazz abusa dos instrumentos, dos vocais e dos ritmos, criando um ambiente que engana os ouvidos, ilude e ficamos perdidos, mas é um álbum desses que pode te fazer lembrar como é bom ficar perdido.

Não é genial, nem brilhante, talvez nem inédito, mas é novo, ao menos na época em que vivemos e ousado, com certeza, mas ouça com cuidado. "Gist Is" não é um álbum para ser ouvido a qualquer hora, quando você estiver atrasado e  com pressa, é um álbum para ser ouvido com atenção, por que se não, a viagem que ele proporciona será confusa e caótica.

4 pontos