sábado, 31 de janeiro de 2015

Dica cinematográfica: "Interestelar" (2014)

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Finalmente assisti o tão odiado filme do diretor Christopher Nolan ou seria o mais novo filme do tão odiado Christopher Nolan?

"Interestelar" conta a história de Cooper, um piloto que vira fazendeiro após o planeta Terra inteiro entrar em colapso e toda a sua população, ou melhor, a maior parte de sua população se vê forçada a trabalhar com a agricultura para poder manter a espécie. O porém é que Cooper não aceita isso e nunca deixou de ser um entusiasta da ciência, mesmo com todo mundo dizendo que a ciência, os avanços tecnológicos e toda a história humana não passa de mitos e falsas esperanças completamente desnecessárias para a sobrevivência da humanidade. Um dia, ele acaba encontrando um drone indiano, supostamente desativado a anos, e isso o leva a descobrir que um grupo de cientistas se mantinha escondido, buscando um novo lugar para chamar de Terra, um novo planeta habitável. Cooper acaba se envolvendo com os cientistas e aceita a missão de explorar três planetas que poderiam abrigar a vida humana, mesmo sabendo que pode nunca mais ver seus filhos e enquanto isso, sua filha começa a sua própria jornada para salvar a raça humana.

Ao terminar de assistir o filme, eu posso entender por que esse filme é tão odiado e também o seu diretor. É simples, Nolan está no lugar errado. Ele é um desses caras que deveriam estar fazendo filmes para o TIFF ou para o Sundance, se encontrando pra tomar um café com Mike Cahill e não numa mega empresa como a Waner Bros. fazendo filmes com estréia mundial em Imax e o caralho a quatro, por que os seus filmes são para um público de nicho e não para o grande público, que está acostumado com blockbusters como "Os vingadores" e "Os mercenários". As pessoas esperam que blockbusters sejam todos daquele jeito, mas o Nolan não faz filmes assim.

O fato de ter "explicação demais" não é um problema, até por que isso não é o foco do filme. O fato do Nolan ser arrogante, também não, afinal um filme é uma obra de arte e ele faz o que quiser com a sua obra de arte, sem se importar com o público mesmo, afinal a obra é dele.

No entanto, o filme tem sim o seu defeito. No singular mesmo, por que é apenas um. Um defeito que se Nolan fosse amigo de alguns comediantes poderia sanar sem maiores problemas: o "timing", como foi brilhantemente exposto por Harald Stricker no cinecast de interstellar; o filme não "respira" em momento algum. São poucas as cenas que sofrem uma transição gradual ao longo do filme. Muitos diálogos são cortados bruscamente para que outro comece em outro núcleo de personagens do filme e isso é muito ruim, por que há diversas cenas tocantes ou impressionantes, mas que, pelo fato de haver esses cortes bruscos, o espectador não se dá conta do que aconteceu. O filme simplesmente não deixa a ficha do espectador cair, como na cena em que Cooper conversa com Mann (um dos cientistas que ele tinha que resgatar) e Mann expõe um diálogo incrível sobre o instinto de sobrevivência dos seres humanos e sua relação com os filhos. Era para ser uma linda linda, um desses diálogos que viram icônicos mesmo, todo o filme conspira para isso, mas não há tempo para que o espectador reflita sobre o que o astronauta disse. O filme corta para outro núcleo que já começa falando sobre a missão e cálculos, enfim, perde-se o momento.

E o filme já tem quase três horas de duração. Há muito conteúdo, há muito a ser explorado, é uma obra incrível e aí entramos na minha teoria de que "Interestelar" seria muito melhor se fosse uma trilogia. A própria narrativa conspira para isso; o filme dá saltos de tempo longos, os personagens envelhecem rapidamente e há diversos núcleos sendo trabalhados ao mesmo tempo, além dos temas explorados exigirem um certo tempo para serem completamente digeridos pelo espectador.

Enfim, o "timing" é o único defeito de "Interestelar" e que numa obra desse calibre se mostra um grande defeito e que estragou o que seria o filme perfeito. Ainda assim, é uma ótima película e pode servir como lição de como um filme também tem que "respirar".

4 pontos e meio

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Pena de morte pra quê? e uma breve discussão acerca dos muçulmanos franceses ou que moram na França.

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2015 mal começou e tivemos diversas notícias trágicas para escurecer nossos dias... Assassinato de jornalistas na sede de um jornal satírico francês. O primeiro brasileiro condenado à pena de morte foi executado na Indonésia, BBB teve sua pior estreia e tirando essa última notícia, as duas primeiras geraram comentários de todos os lados, que provocaram uma tempestade de pensamentos em minha mente.

Alguns deles, acho que vale a pena expor.

Nunca antes na história da França um evento moveu tantos civis às ruas, quanto o assassinato dos jornalistas do Charlie Hebdo logo no início do ano por muçulmanos extremistas que não gostavam das charges publicadas no jornal. Não só na França, em todo o mundo só se viam pessoas tirando fotos e postando em todo e qualquer lugar com plaquinhas, desenhos ou cartazes com as 3 palavras, que logo se transformaram numa representação do anti-terrorismo.

No entanto, eu sempre olho para esse tipo de movimentação popular com muito cuidado, afinal, olhando para isso tudo daqui é uma coisa, outra bem diferente é olhar isso tudo de lá, da França.

Para continuar, devemos ampliar nossa visão sobre a sociedade francesa como um todo, talvez até sobre a sociedade europeia e resgatar algumas informações recentes sobre o país. Há algumas décadas, o número de imigrantes têm aumentado nos países franceses, vindos de todas as partes do mundo, mas devido à proximidade e os conflitos existentes nessas regiões, há um número muito maior de pessoas vindas da África e do Oriente Médio.

Apesar da proximidade, as culturas dos países africanos e dos países árabes é muito distinta (lembrando que alguns países africanos também podem entrar na classificação de países árabes) da cultura europeia, gerando, naturalmente, um choque de culturas, tanto em quem já mora lá e de quem está indo morar lá.

Mais uma vez, olhando do ponto de vista do Brasil, isso não parece ser um grande problema, pois nós somos o melhor povo do mundo um povo muito receptivo e adoramos conhecer, misturar e adotar a cultura de outros povos (Você já deve ter visto uma família sem o menor traço oriental tirar os sapatos antes de entrar em casa ou uma família sem o menor traço africano ou nordestino preparar e admirar uma deliciosa feijoada), o que não acontece em países europeus, onde as pessoas são muito mais fechadas, até mesmo para os seus vizinhos de rua e onde qualquer passo diferente dado na rua é visto como estranho ou até mesmo bizarro.

Essa falta de receptividade gera um isolamento muito grande para as pessoas "diferentes", o que acaba resultando na criação de "guetos" (bairros ou regiões onde se concentram um tipo só de pessoas, como bairros de negros, bairros judeus, bairros chineses) e isso você já não vê no Brasil, por que aqui as pessoas conseguem manter a sua própria cultura e ainda interagir com a cultura dos outros ou a mais popular e tradicional.

Com os negros, muçulmanos, judeus, asiáticos e qualquer outra denominação que você conseguir achar para um grupo de pessoas que vêm de uma cultura diferente da do europeu, acontece exatamente isso na maior parte da Europa: isolamento. Eles se isolam em suas comunidades pequenas, mas que ainda assim não conseguem se sustentes sozinhas, afinal, nenhum homem é uma ilha e nenhuma comunidade é um país, por maior que seja.

Então, em uma certa quantidade de tempo, essas pessoas de outras culturas têm que interagir com outras pessoas, sair de suas comunidades e isso incomoda aqueles que pertencem à cultura mais tradicional. Incomoda ainda mais quando essas "comunidades" crescem vertiginosamente, como a de muçulmanos ou de nigerianos.

Alguma coisa deve ser feita para contê-los, já dizia Hitler, mas o líder nazista foi por um lado selvagem demais, totalitário demais, então a melhor maneira de contê-los é adotando formas mais "sagazes", porém igualmente agressivas, mas não uma agressividade física e sim moral ou psicológica.

Dessa forma são criadas políticas mais rígidas para a entrada de estrangeiros nos país, regras que proíbem a expressão das "pequenas diferenças" dessas culturas e, claro, a ridicularização deles. Tudo em nome da liberdade de expressão ou da segurança pública.

É uma estratégia vil, preconceituosa e antiquada, mas que ainda é praticada em grande parte do globo e engana-se quem acha que isso é coisa de países do terceiro mundo, os países, vulgarmente, chamadas de "desenvolvidos" (apenas do ponto de vista econômico, mas as pessoas entendem isso de outra forma) adotam isso aos montes e ninguém fala nada, por que? Simplesmente por que ninguém nesses países se importa, quem diria nós, que moramos do outro lado do oceano?

No entanto, vidas não deveriam ser tiradas por causa de um pedaço de papel, eu sei, mas não é por que alguém morreu que eu vou transformá-lo num mártir, ainda mais quando eu discordo tanto assim de suas ideias.

E foi notando a discordância das minhas ideias com as ideias de muitas pessoas que eu conhecia, que descobri que faço parte de uma espécie de extinção no mundo: A dos seres humanos com compaixão e que respeitam a vida, acima dos erros.

Este ano entra para a história como o ano em que o primeiro brasileiro foi executado no exterior ou ainda como o ano em que o primeiro estrangeiro foi executado na Indonésia. O motivo? Tráfico de drogas. O indivíduo? Um playboy metido de Copacabana que queria ganhar a vida fácil, aproveitando-se de tudo que podia em um paraíso tropical. A pena? Morte por fuzilamento.

Apesar de eu concordar quando dizem que o sistema carcerário é falho, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, eu não posso concordar com a pena de morte.

Primeiro; minha religião não permite que eu concorde que mãos humanas podem dar fim a uma vida.

Segundo; a pena de morte não resolve nada. Pode botar medo na população, mas se você acredita que o tráfico deixa de existir por que há o risco de ser morto caso você seja pego com drogas, então você precisa rever o seu senso de justiça.

Para começar a discutir essa questão, temos que observar os tipos de traficantes que são presos. Basicamente tem dois: O "peixe-grande" e o "peixe-pequeno". O "peixe-grande" é aquele cara que domina o tráfico numa região, ele nem bota a mão nas drogas que vão ser comercializadas pelos becos da cidade, ele só ordena, comanda um monte de pessoas para fazer o seu trabalho sujo, entra em contato apenas com os chefões de outros países e possui amplos poderes, pois detêm em suas mãos os traficantes, os drogados, os habitantes da região onde mora, os policias e, às vezes, até os juízes. E por mais que isso pareça ficção, não é. Existe um "Peixe-grande" para cada bairro perigoso de São Paulo, Rio de Janeiro e demais cidades grandes do mundo. Os filmes, séries e livros apenas tratam de dar uma "romantizada" nesses tipos, que, na vida real, não usam terno, nem falam bonito ou dão beijo no rosto de seus apadrinhados.

Agora o "Peixe-pequeno" é o pobre coitado que entra no tráfico com o sonho de enriquecer, morar numa mansão, ter todas as mulheres aos seus pés e mandar em um monte de gente, iludido não só pela imagem popular do chefão do crime dos filmes, livros e séries, mas também pelo próprio "Peixe-grande". No entanto, num corredor da morte, quantos "peixes-grande" você encontra? Eu respondo, nenhum. Primeiro, por que "peixe-grande" raramente é capturado. Segundo, quando é capturado "peixe-grande" não é morto. No máximo fica lá, mofando na cadeia, esperando o dia do julgamento que nunca chega, por que juiz nenhum quer dar um veredito na pena de um "peixe-grande".

Mas "peixe-pequeno" é fácil ser julgado, ninguém se importa com eles, advogado nenhum quer defendê-los e juiz nenhum tem medo de dar uma sentença pesada de verdade para eles.

Por esses motivos, a pena de morte não resolve o problema do tráfico de drogas, por que quem comanda mesmo o tráfico não sofre essa sentença e consegue, sim, fazer a cabeça dos jovens miseráveis que irão se tornar "peixe-pequeno", aproveitando-se da ignorância alheia.

E apesar do brasileiro executado não ser a imagem clássica do "peixe-pequeno", ele era, sim, um "peixe-pequeno". Ele podia ser um playboy, ter uma família rica e não precisava daquilo para viver bem, tranquilo e sossegado, mas ele era um "peixe-pequeno" em sua mente, um cara iludido, que achava que ia poder viver numa mansão, de frente para uma praia paradisíaca, pegando todo tipo de mulher, de todos os cantos do mundo. Era ignorante igual a qualquer neguinho morto nos morros do Rio de Janeiro todo dia, a diferença é que ele tinha bem mais dinheiro que a maioria.

Mas não é só para conter o tráfico que a pena de morte se mostra eficaz. Não é raro achar estudos comprovando, através de estatísticas, que há um grande número de condenados à pena de morte inocentes, condenados injustamente. Mesmo que esse número não represente a maioria (e há controvérsias em relação à isso), nós estamos falando de vidas humanas, ainda que fosse 1 (um) caso de condenado inocente, já teríamos que rever a pena de morte.

Então, vem aquele que diz que "Bandido bom é bandido morto", que "bandido é tratado que nem coitadinho no Brasil", "que tinha que ser que nem nos EUA, onde os policias chegam descendo o cacete em quem rouba". De fato, no Brasil tem muito bandido sendo tratado como coitadinho, assim como tem muito bandido sendo tratado pior do que animal e eu não concordo com nenhum dos dois casos.

Eu concordo que o sistema carcerário está falido, mas eu vou além e digo que não é só o sistema carcerário brasileiro que está falido, é do mundo. No mundo todo, de um modo geral, transformamos policiais em animais raivosos e transformamos presos em algo pior do que lixo, pois até o lixo recebe tratamento adequado.

Aqueles que defendem essa ideia, tratam bandidos como crianças, fazendo de tudo para protegê-los de tudo e de todos, quando, na verdade, eles deveriam era entrar em choque com o mundo que os enfrenta, para fazê-los entender que eles fizeram algo de errado e fazê-los se arrepender, de verdade, para, enfim, buscar uma vida melhor.

Para tanto, é necessário explorar os presos de outras formas, fazê-los trabalhar, mas trabalhar de verdade, não ficar fazendo crochê em uma sala espaçosa e sim ficar quebrando pedra em alguma mina (não que isso seja um trabalho ideal, mas pra preso, o que mais ele poderia esperar?). Quando um ser humano se vê em choque com uma realidade dura assim, ele passa a pensar na vida e no que ele fez para estar ali. Se ele nasceu em uma realidade dura, ele não fez nada para merecer aquilo e se rebela, mas se ele fez algo, invariavelmente, ele ganha consciência de que fez algo errado e ai se arrepende. Ele muda.

Isso também está comprovado, basta ver a quantidade de instituições espalhadas pelo globo que puderam restaurar presos através de um trabalho gradual, lento, porém eficaz de reabilitação, o que é muito mais eficiente e até mesmo rentável, pois os presos dariam um certo lucro para o país, trabalhando "de graça" e não precisaríamos cumprir um ato de barbárie que é matar alguém.

Para finalizar, saindo um pouco dos argumentos racionais (que contam) e entrando na minha ínfima experiência de vida, vou escrever algo que me motivou a terminar este texto.

Quando você é criança, você não conhece o mundo e isso é o que importa, pois tudo é novo e aventureiro. Ao crescer um pouco e virar adolescente, você acha que conhece o mundo, mas você só vai começar a conhecer o mundo quando ficar adulto e sair de sua zona de conforto, pra valer. Para valer, um bom primeiro passo é começar a trabalhar, sair em busca de emprego nas ruas, conhecer gente de tudo quanto é tipo, entender por que o seu pai odeia tanto aquela mulher atrás do vidro no banco, perceber que você recebe muito mais que alguém que precisa daquele dinheiro bem mais que você, enfim... O mundo começa a se apresentar na sua frente e isso não é bonito.

Eu acabei de fazer 20 anos, não sei porcaria nenhuma do mundo, mas já vivenciei algumas experiências marcantes em que, pessoas que eu conhecia, morreram tragicamente. Não vou armar um draminha e dizer que eram meus amigos, não eram, afinal eram pessoas que eu via uma vez ou outra no trabalho, vi acompanhando a irmã de uma colega, pessoas distantes, mas que ainda assim, te fazem pensar na brevidade da vida quando a delas se vai, repentinamente.

Hoje mesmo, o sobrinho de uma das mulheres que fazem a faxina no local onde trabalho foi morto a facadas, por causa do quê? Envolvimento com drogas. O garoto tinha só 16 anos. Eu sei que eu não queria ter tido que reconhecer o corpo dele. Agora, pense nas notícias que você vê todos os dias, force um pouco a sua memória e tente se lembrar de algum caso parecido, não precisa ser na sua família, pode ser o primo de 2° grau da sobrinha da doméstica da sua casa, mas tente calcular quantas pessoas são mortas todos os dias no Brasil por que se envolveram com algum tipo de crime e então se pergunte: Pena de morte pra quê?

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Dica musical: "B4da$$" de Joey Bada$$ (2015)

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"B4da$$" é o primeiro álbum de estúdio de Joey Bada$$, lançado semana passada e impressiona, não só pela qualidade de Joey Bada$$ como rapper e compositor de músicas, mas também pelo potencial que ele aparenta ter.

Joey Bada$$ já lançou outros projetos através de seu coletivo de artistas de hip hop, o Pro-Era, como as mixtapes "1999" e "Summer Knights" e tem como premissa artística, se é que podemos chamar assim, restaurar um pouco do bom e velho hip hop, que vimos nascer e aflorar nos anos 80 e 90 nas ruas frias e sujas de Nova Iorque, usando samples de músicas de jazz, R&B e disco, além de focar as letras na mensagem que a música pretende passar, seja ela positiva ou negativa. O que Joey Bada$$ anseia fazer com suas músicas é alimentar os seus pensamentos.

Em "1999", ele entrou para o mundo da música de forma positiva, com uma mixtape recheada de canções com batidas agitadas, dançantes e um estilo lírico único, apropriando-se de suas origens caribenhas (seus pais não são de algum país da América Central), unindo palavras como os cantores de reggae fazem. Em "Summer Knights", ele decidiu lançar as músicas que não entraram em "1999", além de algumas novas, mostrando seu lado mais sério, romântico e menos festeiro, o que não agradou muito, ao menos a mim.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu, como a ascensão do seu coletivo de artistas, o Pro-Era e o suicídio de um de seus integrantes e um de seus amigos mais próximos, o que mexe com qualquer um. Então, o que esperar desse CD? Ninguém sabia ao certo e isso só aumenta a excitação, claro, mas pode aumentar a decepção também.

O que, felizmente, não é o caso neste álbum. Como esperado, esse CD é mais sombrio do que "1999", no entanto, suas letras também são muito mais recheadas de referências, a mensagem é mais profunda, Joey Bada$$ até se deixa dar uma de Shakespeare e Fernando Pessoa ao juntar palavras de suas línguas diferentes e criar um alter ego para si.

As batidas não deixam a desejar, algumas são lentas, mas a maioria são bem marcantes, agitadas ou dançantes, aglomerando diversos ritmos e é possível ver uma clara influência do reggae em várias canções, além das óbvias influências de J Dilla e Nujabes.

Conforme o CD vai se aproximando do fim, a mensagem de Joey Bada$$ vai perdendo o tom revolucionário e filosófico, para ganhar um tom mais "familiar", mas tocante, criando rimas para seus pais e seus amigos, o que gera um clima sereno, apesar das batidas continuarem agitadas e dançantes, mas sem gerar um contraste gritante e perturbador.

Por falar em batidas, Joey Bada$$ abandona um pouco o seu lado "chato", de usar apenas batidas mais "orgânicas" e clássicas (old-school, sacumé, né?) e ousa usar batidas eletrônicas, mesclando-as com a sonoridade de instrumentos analógicos, mas se dando essa liberdade, de forma criar uma música mais inventiva e ousada.

Tudo isso contribui para construir um dos melhores CD's de rap dos últimos anos, sem exagero e isso vindo de uma pessoa tão nova, mas tão consciente de seu talento e suas limitações, apenas faz "B4da$$" ser ainda melhor.

5 pontos

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Dica cinematográfica: "O pequeno soldado" (1960)

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"Le Petit Soldat" é um filme dirigido por Jean-Luc Godard em 1960, mas que só foi lançado em 1963, devido a um banimento que sofreu na época de suas filmagens.

É 1958, plena Guerra da Argélia e Bruno, um desertor do exército francês, que vive em Genebra se apaixona por Veronica Dreyer, uma mulher que trabalha para a Frente de Libertação Nacional (FLN). Um partido de extrema esquerda ordena a Bruno matar um jornalista político da rádio suíça, mas o desertor fracassa e decide fugir mais uma vez, dessa vez para o Brasil, junto com Veronica. No entanto, seu plano fracassa e ele é preso e torturado pela FLN.

Antes de mais nada, é preciso explicar um pouco sobre a Guerra da Argélia e tentar entender o contexto em que o filme se insere. A Guerra da Argélia, também conhecida como Revolução Argelina foi um movimento de libertação nacional da Argélia do domínio francês, vigente na época. Essa guerra é lembrada por ter definido a espionagem e o terrorismo modernos, caracterizada pelos ataques de guerrilha e atos de violência contra civis.

Em "O pequeno soldado", Godard expõe um pouco dessa realidade, ao seu modo claro, mas de forma nua e crua. Mostrando que o seu próprio vizinho poderia estar mantendo um inimigo em cativeiro e você nunca iria saber, até que sua janela fosse quebrada e tiros fossem ouvidos. Ele explora também a facilidade com que os atos de violência eram cometidos e como ninguém fazia nada para impedi-los, tanto de um lado, quanto de outro da Guerra.

Mas o que mais fica evidente no filme (e isso eu já não gosto tanto) é que este filme inteiro pode ser tido como uma carta de amor a Anna Karina. Foi através deste filme que os dois se conheceram e as declarações de Bruno nada mais são do que as declarações que Godard queria fazer para ele, servindo com um bode expiatório, caso a musa não quisesse nada com ele.

Enfim, deixando a melação de lado, esse filme é interessantíssimo do ponto de vista histórico, afinal explora uma guerra que até então era inexplorada. Foram quase dez anos de conflito e, até 1960, ninguém ousou explorar isso em um filme, o que torna esse clássico um filme imperdível, apesar da melação desnecessária.

3 pontos e meio

domingo, 25 de janeiro de 2015

Dica cinematográfica: "Unbroken" (2014)

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Ou "Invencível" é um filme de 2014, mas que só foi lançado esse ano aqui no Brasil, dirigido pela maravilhosa Angelina Jolie e estrelado pelo incrível Jack O'Connel.

A trama retrata a história real de Louis Zampperini, um filho de imigrantes nos EUA, que tem sua promissora carreira olímpica como corredor interrompida bruscamente pela sua convocação como bombardeiro na 2° Guerra Mundial e, após um acidente com o avião em que estava, acaba caindo em pleno mar, ficando à deriva durante 47 dias, até ser capturado pelos japoneses.

Na primeira metade do filme, somos apresentados logo a um Louis servindo como bombardeiro (o cara que solta as bombas do avião), mas nas cenas mais desesperadoras, somos apresentados a infância e juventude de Louis, em que ele sofria por ser um estrangeiro, mas devido a insistência do irmão, acaba entrando para o time de atletismo do colégio, mudando a sua vida. A partir daí, Louis começa a fazer parte do time de atletismo, batendo recordes como corredor de longa distância e conseguindo um lugar nas Olimpíadas de 1936, a qual ele termina em 8°, mas com uma ótima recuperação na última volta, o que acaba chamando a atenção até mesmo da mídia internacional.

Desde o começo, Louis não planeja chamar muita atenção em sua primeira Olimpíadas, planejando vencer com tudo as Olimpíadas seguintes, no Japão. No entanto, devido a 2ª Guerra Mundial, sua carreira sofre uma interrupção e ele é convocado para servir. Um dia, o avião em que estava sofre um acidente e cai em alto-mar, ficando a deriva por 47 dias, algo muito explorado na primeira metade do filme, até que ele é capturado por um navio japonês e vira prisioneiro de guerra.

A segunda metade do filme é toda dedicada a mostrar a trajetória de Louis como prisioneiro, muito forte e ainda assim bela, pois; além da promessa de Louis de ser devoto a Deus caso sobreviva, gerando uma ótima metáfora visual no final do filme; essa parte do filme se concentra muito na luta pessoal dele, de se manter íntegro aos seus ideais, sempre de cabeça erguida e respeitando o próximo, mesmo que ele não te respeite.

O final termina de forma extremamente positiva e tocante, não só pelo fato de Louis ter sobrevivido, cumprido suas promessas e realizado seus desejos, mas também pela interpretação dos atores, extremamente convincentes e recheada de emoção, amor mesmo por estar trabalhando neste filme e a direção, que revela uma Angelina Jolie muito sagaz atrás das câmeras, além de Jack O'Connel mostrando que é um dos melhores atores em atividade.

A fotografia é muito boa também, gerando aquele clima clássico de filmes de guerra, com tonalidades em sépia e tal...

A trilha sonora não é nada que se sobressaia ao filme, mas acompanha muito bem as cenas, criando o clima perfeito para gerar algumas lágrimas no canto dos olhos.

Enfim, "Unbroken" é um ótimo filme, um dos melhores filmes de guerra que já assisti e que merece muito, mas MUITO mais atenção do que está recebendo.

4 pontos e meio

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Dica gamística: Pokemon Omega Ruby & Alpha Saphire

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Enfim, estou jogando Pokemon Omega Ruby desde o ano passado e, finalmente, decidi fazer uma dica deste jogo no blog, que o remake da bem sucedida terceira geração de jogos Pokémon (que inclui o Pokémon Ruby, Saphire e Emerald). Para mim, a última geração que vale a pena dos jogos Pokémon.


Como um remake, esse jogo impressiona, sendo melhor ainda que X e Y, que se sustentavam como um dos melhores jogos da franquia, apenas pelas suas inovações, mantidas nesses jogos.


A história é a mesma dos jogos originais, que por fim é a mesma de todos os outros jogos da série, com a diferença de que aqui você chega em uma cidade pequena, vindo de outro continente, Johto, criando uma relação com a geração anterior, mas não tão bem feita como na segunda geração. No entanto, temos muita surpresas aqui, como um novo arco de histórias no pós-game, que não existe nos jogos originais, mas perdemos a Battle Frontier, algo que tinha nos jogos originais da terceira geração e era aguardada com grande expectativa pelos fãs.


Outra mudança, ou melhor, mudanças, são os novos sistemas que incrementam a experiência de jogo, como o sistema de localização de pokémon, o sistema de aproximação furtiva, o sistema d ebatalhas incrementado (agora além dos treinadores encontrados ao longo da jornada buscarem revanche, sua IA permite que seus pokémon evoluam de batalha em batalha, criando oponentes cada vez mais fortes e para sempre disponíveis), as bases secretas, a habilidade "planar" dos lendários Latios e Latias, que pode ser utilizada independentemente da presença deles ou não no seu time, enfim... São tantas novidades, que você se pega mais interessado em explorá-las do que em coletar insígnias de ginásios, objetivo que acaba ficando em segundo plano mesmo, já que é dada uma atenção ainda maior aos pokémon lendários, como Kyogre e Groundon, cercados de "mistérios" (que não são realmente já que sabemos o que eles podem ou não fazer e o que vai acontecer com eles).


Por falar em lendários, uma penca deles está disponível para ser capturada no jogo, como Ho-oh, Lugia, Deoxis, Reshiram, Azelf, enfim... uma penca deles, em locais específicos de Hoenn, às vezes, horários também. Algo que só incremente ainda mais a experiência positiva com o game.


Mas claro, estamos falando de um jogo da Nintendo, então ele não pode ser perfeito, muito menos para brasileiros. Se você quiser capturar Latios e Latias (os dois), você precisa de um ticket especial que só é distribuído em lojas certificadas pela Nintendo ou através do maldito Street Pass (uma funcionalidade brilhante e que funciona muito bem em locais onde a Nintendo quer construir um público, mas num local como o Brasil? Esquece...).


Também é possível notar que o jogo foi feito para um hardware mais potente que o do Nintendo 3DS, pois é notável a presença de lags em determinados momentos de jogos, como nas batalhas rotatórias, e isso desconectado da internet.


É interessante notar que os jogos de Pokémon estão abandonando a mesmice cansativa e inovando, para melhor, adicionando recursos interessantes que incrementam a experiência de jogo, aproximando a Nintendo ainda mais de seus contemporâneos.


Enfim, Pokémon ORAS consegue entrar facilmente no topo dos jogos Pokémon, ao lado dos outros remakes Heartgold/Soulsilver e Firered/Leafgreen, um lugar que não é conquistado apenas com inovações tecnológicas, mas com inovações úteis dentro do jogo.


5 pontos

domingo, 18 de janeiro de 2015

Dica cinematográfica: "Whiplash" (2014)

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"Whiplash" é um filme de 2014 e, provavelmente, um dos poucos filmes que realmente mereciam estar no Oscar (ao lado de Princesa Kaguya que eu ainda não assisti, mas com certeza é melhor que qualquer filme de animação CG feito no ano passado).


O filme conta a história de Andrew, um solitário estudante de música no melhor conservatório do país, que sonha em ser o melhor de sua geração e marcar seu nome na música, assim como seus ídolos. Para tanto, ele precisa entrar com o melhor e não pensa duas vezes ao ser convidado pelo reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher para a orquestra principal do conservatório, uma experiência que exige uma mudança profunda de Andrew, tanto profissionalmente como pessoalmente.


Já garanto de antemão, esse filme é demais, com uma trilha sonora impressionante, enquadramentos perfeitos, uma fotografia deslumbrante e uma cena final que merece entrar na história, fazendo uso de uma excelente metáfora para levar ao final glorioso, mostrando o amor puro entre pai e filho e suas consequências milagrosas, criando paralelos com a trajetória do herói e o crescimento do homem, sendo necessário um amor fraterno e puro (vindo do pai), porém um amor desafiador, incompreensível e sujo (vindo do mentor), para que você possa crescer.


Não é necessário dizer muita coisa sobre ele, afinal o filme tem quase duas horas, mas passam como se fossem 40 minutos, por que ele consegue te manter preso na cadeira, assistindo e se deliciando com as cenas, intercalando cenas musicais (com os músicos tocando, criando um jogo de câmeras vibrante, até violento, mas que funciona muito bem, levando-se em conta a construção que leva até essas cenas) com cenas de diálogos entre personagens, apresentando seu passado, sua história e seus dramas, o que é uma maneira muito interessante de se fazer isso, pois não cansa o telespectador, que é apresentado a apenas o necessário para simpatizar com cada um dos personagens, até mesmo com o babaca do Terence Fletcher.


Enfim, "Whiplash" é uma excelente obra de arte, um filme que eleva o cinema a outro patamar, ele está em um nível completamente diferente. Ele excita e te entretêm, como as porcarias dos blockbusters gostam de pensar que fazem, mas não perde o seu valor artístico, por que afinal é isso que o cinema é: arte.


5 pontos

sábado, 17 de janeiro de 2015

Dica literária: "Klaus" de Felipe Nunes

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Klaus é a primeira graphic novel publicada através de uma editora por Felipe Nunes, o mesmo autor de Orome.


A sinopse segue assim: Klaus é um menino de catorze anos, que assim como todos de sua idade, se sente um pouco diferente do mundo que o cerca. Agora, ele precisará lidar com os meandros da passagem da adolescência para a vida adulta, enquanto descobre que suas diferenças com os outros não são meramente um acaso, mas algo estranhamente oculto que está prestes a se revelar.


Aqui está o trunfo da história, Klaus é um menino vivendo num mundo dominado pelos animais, acreditando ser um tigre com desvio de genes. Para ele, assim como para todos os outros animais de sua cidade, os seres humanos são apenas um mito, mas a visita de outro ser humano na cidade, faz Klaus questionar suas origens e buscar a verdade sobre o seu passado.


Não quero estragar a surpresa que são as últimas páginas dessa HQ, mas devo dizer que seu final é um pouco anticlímax, não que isso estrague a história, no entanto acaba levantando mais perguntas do que solucionando.


A arte do Felipe Nunes também é muito boa, sendo um traço bem limpo, porém com personagens bem caricatos, o que gera uma estranheza num primeiro olhar, mas é belo, principalmente se você parar para admirar o enquadramento que o autor utiliza, flertando com a luz e sombra (a HQ é toda em preto em branco, então isso se torna um fator decisivo para a construção da atmosfera), além da ideia de movimento e passagem de tempo, presente na movimentação das folhas das árvores e outros elementos do cenário.


Enfim, Klaus é uma ótima HQ, escrita e desenhada por um jovem autor, que prova em Klaus ter muito talento e criatividade sobrando.


4 pontos

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Dica televisiva: "Mushishi Zoku Shou" (2014)

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Já falei de "Mushishi" aqui, esta é a segunda temporada desta fantástica série.

No anime, "mushi" são formas de vida onipresentes, que se manifestam no mundo físico de diferentes formas, interagindo com os seres humanos de forma pacífica ou não. Os "mushi-shi" são pessoas com vasto conhecimento de mushi e que trabalham para restaurar o equilíbrio entre mushi e humanos, quando o mesmo é perturbado de um lado ou de outro.

Assim como na primeira temporada, acompanhamos as aventuras de Ginko, um misterioso mushi-shi que atrai mushi, como declarado na primeira temporada, e por isso está sempre fumando um cigarro, de onde sai uma fumaça que funciona como repelente de mushi. Ginko atravessa montanhas, caminha pelas praias e dorme nos mais diversos vilarejos, conhecendo pessoas interessantes, com histórias intrigantes, sempre envolvendo um mushi diferente.

É por essa narrativa diferenciada que Mushishi chama a atenção. Os episódios são fechados e raramente vemos um personagem mais de uma vez ao longo da série, sendo possível assistir qualquer episódio, sem se preocupar com a ordem (até mesmo os episódios que contam sobre o passado de Ginko podem ser assistidos fora de ordem). Em cada episódio conhecemos uma história diferente, com um significado e lição diferentes, podendo passar despercebidas num primeiro momento, mas estão presentes, com certeza.

No entanto, este tyalvez seja um dos motivos de Mushishi não ser tão popular, pois suas mensagens nem sempre são alegres ou divertidas, às vezes são duras, porém necessárias, envolvendo a responsabilidade de cada um, reconhecer nossos erros e defeitos e até a pedir perdão.

Em mushishi tudo trabalha de forma harmoniosa, a animação é bem fluida, os cenários são um pouco apagados, sem muitos detalhes ou nitidez, mas isso só reforça o ar onírico que a série pretende passar e a trilha sonora é simplesmente deslumbrante, recheada de instrumentos orientais tradicionais, tocando em um ritmo lento e ritmado, provocando a nossa imaginação.

Se existe um defeito em Mushishi é que ele é curto demais, gostaria que cada episódio tivesse 50 minutos, mas não dá. Felizmente, ainda tem um pouco de Mushishi pela frente, afinal o seu filme será lançado ainda esse ano e eu já estou no aguardo.

4 pontos e meio

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Dica literária: "A dama do lago" de Raymond Chandler

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"A dama do lago" é um livro escrito por Raymond Chandler e publicado pela primeira vez em 1943, naquela longínqua época em que se escreviam clássicos a torto e a direito.


Phillip Marlowe é um detetive particular contratado por Derace Kingsley, um rico dono de uma marca de cosméticos, para encontrar sua esposa desaparecida há, mais ou menos, um mês. Sua esposa, Crystal, havia abandonado-o, deixando um bilhete de despedida, dizendo que fugiria com o seu amante, Lavery. Kingsley nem se importa mais com seu casamento e aceita a traição de sua esposa, mas um dia, ele esbarra com Lavery na rua e lhe pergunta como estava sua esposa, ao que Lavery responde não saber do que ele estava falando. Então Kingsley começa a ficar preocupado, pois Lavery era o tipo de canalha que gosta de se gabar de suas aventuras sexuais, então acaba contratando o detetive particular Phillip Marlowe, que vai ao lugar em que Crystal foi vista pela última vez, uma casa de campo à beira de um lago, onde ele acaba encontrando o corpo de uma mulher, mas não é o de Crystal e, sim, o de Muriel Chess, esposa do caseiro que tomava conta da casa de campo de Kingsley. Começa então a investigação de Marlowe em busca de respostas para os dois casos, que, aparentemente, não tem ligação alguma, mas são estranhamente relacionados, encontrando no meio do caminho tiras inconvenientes e corruptos, ricos muito suspeitos e uma penca de casos extra-conjugais, em uma trama extremamente intricada.


Quando eu li a sinopse do livro na contra capa e vi que se tratava de um livro de Phillip Marlowe me veio logo à mente um dos melhores filmes da história do cinema: "The Long Goodbye", então já fui logo comprando, por que queria muito começar a ler a série de filmes policias de Raymond Chandler e confirmar que, sim, eles são muito bons.


Em "A dama do lago" somos apresentados á uma trama extremamente intrincada, com 2 assassinatos e várias pistas aparecendo de todos os cantos, conectadas à um caso, à outro ou a nenhum, aparentemente.


Aparentemente, por que no final tudo se encaixa brilhantemente, criando um legítimo mind blow.


É claro que o livro parece deixar algumas pontas soltas, mas que podem facilmente serem deduzidas pelo leitor, até por que não são importantes para a resolução do caso, tampouco para a história, não diminuindo o valor deste livro excepcional.


Outro fator positivo para o livro é sua narrativa, um pouco lenta num primeiro olhar, sim, toda a ação do livro ocorre num intervalo de poucos dias, mas que nunca perde o interesse do leitor, por que quando a investigação não avança, seja por uma nova pista ou informação relevante, temos os diálogos impressionantes e bem construídos para saciar o entusiasmo com o livro.


Fazia tempo que eu não terminava de ler um livro, dizendo: "Putz grila, que livro bom!".


Enfim, "A dama do lago" está mais que recomendado, apesar de sua edição pela L&PM pocket ser bem fraquinha (tem vários erros de português, alguns de concordância devida à má tradução, imagino eu), mas que pela ótima trama, narrativa impressionante e personagens marcantes vale a pena ser lido.


4 pontos e meio

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Dica cinematográfica: "The guest" (2014)

THE GUEST


"The Guest" é um filme de 2014 do gênero suspense, com um pé no experimentalismo gostoso que faz este filme ser tão interessante.


Na trama, conhecemos David, um soldado que acabou de ser liberado pelo hospital do exército americano e vai até a casa da família Peterson, dizendo que serviu junto com o filho deles, morto em combate. Logo, ele ganha a simpatia de todos na casa e é prontamente acolhido por eles, no entanto, após uma série de assassinatos entre colegas e conhecidos da família, suspeitas começam a se levantar em torno desse estranho convidado.


O filme começa bem clichê, apresentando uma família que ainda sofre com os traumas indiretos da guerra (no caso, a perda dos filhos), cheias de seus problemas pessoais e até ordinários, típico de toda família, ao mesmo tempo em que chega um estranho, marcando o momento em que suas vidas começam a mudar, contando com a intervenção dele ou não. Apesar do olhar de psicopata que David apresenta desde o começo, é impossível não simpatizar com ele, afinal o cara é muito legal.


E à partir do meio do filme, a película começa a apresentar a sua verdadeira faceta, explorando ângulos diferentes, às vezes estranhos para cenas de ação, luzes e cores bem marcantes, às vezes contrastantes e até absurdas para o cenário em que eles estão, mas nunca é desnecessário, visto que são elementos que reforçam a criação de uma atmosfera de suspense e ação.


Por falar em ação, o filme não poupa em violência, apresentando-a de forma crua, seca, chegando a ser brutal, às vezes. Em outros momentos, é tamanha que chega a parecer cômica, isso fica mais acentuado no final do filme, que é, inclusive, um grande tapa na cara do telespectador.


O seu final, simplesmente, implora por uma continuação e eu até consigo imaginá-la, prosseguindo do ponto onde o filme parou, iniciando uma perseguição por todo os EUA, terminando no México e repetindo a história desse filme num terceiro, só que no vizinho latino dos porcos capitalistas.


Enfim, esse filme foi uma grande surpresa para mim, que não tava dando nada pra ele, mas conseguiu me divertir, me eletrizar e ao mesmo tempo me deixar esperançoso e ansioso por uma continuação.


4 pontos