quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Pena de morte pra quê? e uma breve discussão acerca dos muçulmanos franceses ou que moram na França.

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2015 mal começou e tivemos diversas notícias trágicas para escurecer nossos dias... Assassinato de jornalistas na sede de um jornal satírico francês. O primeiro brasileiro condenado à pena de morte foi executado na Indonésia, BBB teve sua pior estreia e tirando essa última notícia, as duas primeiras geraram comentários de todos os lados, que provocaram uma tempestade de pensamentos em minha mente.

Alguns deles, acho que vale a pena expor.

Nunca antes na história da França um evento moveu tantos civis às ruas, quanto o assassinato dos jornalistas do Charlie Hebdo logo no início do ano por muçulmanos extremistas que não gostavam das charges publicadas no jornal. Não só na França, em todo o mundo só se viam pessoas tirando fotos e postando em todo e qualquer lugar com plaquinhas, desenhos ou cartazes com as 3 palavras, que logo se transformaram numa representação do anti-terrorismo.

No entanto, eu sempre olho para esse tipo de movimentação popular com muito cuidado, afinal, olhando para isso tudo daqui é uma coisa, outra bem diferente é olhar isso tudo de lá, da França.

Para continuar, devemos ampliar nossa visão sobre a sociedade francesa como um todo, talvez até sobre a sociedade europeia e resgatar algumas informações recentes sobre o país. Há algumas décadas, o número de imigrantes têm aumentado nos países franceses, vindos de todas as partes do mundo, mas devido à proximidade e os conflitos existentes nessas regiões, há um número muito maior de pessoas vindas da África e do Oriente Médio.

Apesar da proximidade, as culturas dos países africanos e dos países árabes é muito distinta (lembrando que alguns países africanos também podem entrar na classificação de países árabes) da cultura europeia, gerando, naturalmente, um choque de culturas, tanto em quem já mora lá e de quem está indo morar lá.

Mais uma vez, olhando do ponto de vista do Brasil, isso não parece ser um grande problema, pois nós somos o melhor povo do mundo um povo muito receptivo e adoramos conhecer, misturar e adotar a cultura de outros povos (Você já deve ter visto uma família sem o menor traço oriental tirar os sapatos antes de entrar em casa ou uma família sem o menor traço africano ou nordestino preparar e admirar uma deliciosa feijoada), o que não acontece em países europeus, onde as pessoas são muito mais fechadas, até mesmo para os seus vizinhos de rua e onde qualquer passo diferente dado na rua é visto como estranho ou até mesmo bizarro.

Essa falta de receptividade gera um isolamento muito grande para as pessoas "diferentes", o que acaba resultando na criação de "guetos" (bairros ou regiões onde se concentram um tipo só de pessoas, como bairros de negros, bairros judeus, bairros chineses) e isso você já não vê no Brasil, por que aqui as pessoas conseguem manter a sua própria cultura e ainda interagir com a cultura dos outros ou a mais popular e tradicional.

Com os negros, muçulmanos, judeus, asiáticos e qualquer outra denominação que você conseguir achar para um grupo de pessoas que vêm de uma cultura diferente da do europeu, acontece exatamente isso na maior parte da Europa: isolamento. Eles se isolam em suas comunidades pequenas, mas que ainda assim não conseguem se sustentes sozinhas, afinal, nenhum homem é uma ilha e nenhuma comunidade é um país, por maior que seja.

Então, em uma certa quantidade de tempo, essas pessoas de outras culturas têm que interagir com outras pessoas, sair de suas comunidades e isso incomoda aqueles que pertencem à cultura mais tradicional. Incomoda ainda mais quando essas "comunidades" crescem vertiginosamente, como a de muçulmanos ou de nigerianos.

Alguma coisa deve ser feita para contê-los, já dizia Hitler, mas o líder nazista foi por um lado selvagem demais, totalitário demais, então a melhor maneira de contê-los é adotando formas mais "sagazes", porém igualmente agressivas, mas não uma agressividade física e sim moral ou psicológica.

Dessa forma são criadas políticas mais rígidas para a entrada de estrangeiros nos país, regras que proíbem a expressão das "pequenas diferenças" dessas culturas e, claro, a ridicularização deles. Tudo em nome da liberdade de expressão ou da segurança pública.

É uma estratégia vil, preconceituosa e antiquada, mas que ainda é praticada em grande parte do globo e engana-se quem acha que isso é coisa de países do terceiro mundo, os países, vulgarmente, chamadas de "desenvolvidos" (apenas do ponto de vista econômico, mas as pessoas entendem isso de outra forma) adotam isso aos montes e ninguém fala nada, por que? Simplesmente por que ninguém nesses países se importa, quem diria nós, que moramos do outro lado do oceano?

No entanto, vidas não deveriam ser tiradas por causa de um pedaço de papel, eu sei, mas não é por que alguém morreu que eu vou transformá-lo num mártir, ainda mais quando eu discordo tanto assim de suas ideias.

E foi notando a discordância das minhas ideias com as ideias de muitas pessoas que eu conhecia, que descobri que faço parte de uma espécie de extinção no mundo: A dos seres humanos com compaixão e que respeitam a vida, acima dos erros.

Este ano entra para a história como o ano em que o primeiro brasileiro foi executado no exterior ou ainda como o ano em que o primeiro estrangeiro foi executado na Indonésia. O motivo? Tráfico de drogas. O indivíduo? Um playboy metido de Copacabana que queria ganhar a vida fácil, aproveitando-se de tudo que podia em um paraíso tropical. A pena? Morte por fuzilamento.

Apesar de eu concordar quando dizem que o sistema carcerário é falho, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, eu não posso concordar com a pena de morte.

Primeiro; minha religião não permite que eu concorde que mãos humanas podem dar fim a uma vida.

Segundo; a pena de morte não resolve nada. Pode botar medo na população, mas se você acredita que o tráfico deixa de existir por que há o risco de ser morto caso você seja pego com drogas, então você precisa rever o seu senso de justiça.

Para começar a discutir essa questão, temos que observar os tipos de traficantes que são presos. Basicamente tem dois: O "peixe-grande" e o "peixe-pequeno". O "peixe-grande" é aquele cara que domina o tráfico numa região, ele nem bota a mão nas drogas que vão ser comercializadas pelos becos da cidade, ele só ordena, comanda um monte de pessoas para fazer o seu trabalho sujo, entra em contato apenas com os chefões de outros países e possui amplos poderes, pois detêm em suas mãos os traficantes, os drogados, os habitantes da região onde mora, os policias e, às vezes, até os juízes. E por mais que isso pareça ficção, não é. Existe um "Peixe-grande" para cada bairro perigoso de São Paulo, Rio de Janeiro e demais cidades grandes do mundo. Os filmes, séries e livros apenas tratam de dar uma "romantizada" nesses tipos, que, na vida real, não usam terno, nem falam bonito ou dão beijo no rosto de seus apadrinhados.

Agora o "Peixe-pequeno" é o pobre coitado que entra no tráfico com o sonho de enriquecer, morar numa mansão, ter todas as mulheres aos seus pés e mandar em um monte de gente, iludido não só pela imagem popular do chefão do crime dos filmes, livros e séries, mas também pelo próprio "Peixe-grande". No entanto, num corredor da morte, quantos "peixes-grande" você encontra? Eu respondo, nenhum. Primeiro, por que "peixe-grande" raramente é capturado. Segundo, quando é capturado "peixe-grande" não é morto. No máximo fica lá, mofando na cadeia, esperando o dia do julgamento que nunca chega, por que juiz nenhum quer dar um veredito na pena de um "peixe-grande".

Mas "peixe-pequeno" é fácil ser julgado, ninguém se importa com eles, advogado nenhum quer defendê-los e juiz nenhum tem medo de dar uma sentença pesada de verdade para eles.

Por esses motivos, a pena de morte não resolve o problema do tráfico de drogas, por que quem comanda mesmo o tráfico não sofre essa sentença e consegue, sim, fazer a cabeça dos jovens miseráveis que irão se tornar "peixe-pequeno", aproveitando-se da ignorância alheia.

E apesar do brasileiro executado não ser a imagem clássica do "peixe-pequeno", ele era, sim, um "peixe-pequeno". Ele podia ser um playboy, ter uma família rica e não precisava daquilo para viver bem, tranquilo e sossegado, mas ele era um "peixe-pequeno" em sua mente, um cara iludido, que achava que ia poder viver numa mansão, de frente para uma praia paradisíaca, pegando todo tipo de mulher, de todos os cantos do mundo. Era ignorante igual a qualquer neguinho morto nos morros do Rio de Janeiro todo dia, a diferença é que ele tinha bem mais dinheiro que a maioria.

Mas não é só para conter o tráfico que a pena de morte se mostra eficaz. Não é raro achar estudos comprovando, através de estatísticas, que há um grande número de condenados à pena de morte inocentes, condenados injustamente. Mesmo que esse número não represente a maioria (e há controvérsias em relação à isso), nós estamos falando de vidas humanas, ainda que fosse 1 (um) caso de condenado inocente, já teríamos que rever a pena de morte.

Então, vem aquele que diz que "Bandido bom é bandido morto", que "bandido é tratado que nem coitadinho no Brasil", "que tinha que ser que nem nos EUA, onde os policias chegam descendo o cacete em quem rouba". De fato, no Brasil tem muito bandido sendo tratado como coitadinho, assim como tem muito bandido sendo tratado pior do que animal e eu não concordo com nenhum dos dois casos.

Eu concordo que o sistema carcerário está falido, mas eu vou além e digo que não é só o sistema carcerário brasileiro que está falido, é do mundo. No mundo todo, de um modo geral, transformamos policiais em animais raivosos e transformamos presos em algo pior do que lixo, pois até o lixo recebe tratamento adequado.

Aqueles que defendem essa ideia, tratam bandidos como crianças, fazendo de tudo para protegê-los de tudo e de todos, quando, na verdade, eles deveriam era entrar em choque com o mundo que os enfrenta, para fazê-los entender que eles fizeram algo de errado e fazê-los se arrepender, de verdade, para, enfim, buscar uma vida melhor.

Para tanto, é necessário explorar os presos de outras formas, fazê-los trabalhar, mas trabalhar de verdade, não ficar fazendo crochê em uma sala espaçosa e sim ficar quebrando pedra em alguma mina (não que isso seja um trabalho ideal, mas pra preso, o que mais ele poderia esperar?). Quando um ser humano se vê em choque com uma realidade dura assim, ele passa a pensar na vida e no que ele fez para estar ali. Se ele nasceu em uma realidade dura, ele não fez nada para merecer aquilo e se rebela, mas se ele fez algo, invariavelmente, ele ganha consciência de que fez algo errado e ai se arrepende. Ele muda.

Isso também está comprovado, basta ver a quantidade de instituições espalhadas pelo globo que puderam restaurar presos através de um trabalho gradual, lento, porém eficaz de reabilitação, o que é muito mais eficiente e até mesmo rentável, pois os presos dariam um certo lucro para o país, trabalhando "de graça" e não precisaríamos cumprir um ato de barbárie que é matar alguém.

Para finalizar, saindo um pouco dos argumentos racionais (que contam) e entrando na minha ínfima experiência de vida, vou escrever algo que me motivou a terminar este texto.

Quando você é criança, você não conhece o mundo e isso é o que importa, pois tudo é novo e aventureiro. Ao crescer um pouco e virar adolescente, você acha que conhece o mundo, mas você só vai começar a conhecer o mundo quando ficar adulto e sair de sua zona de conforto, pra valer. Para valer, um bom primeiro passo é começar a trabalhar, sair em busca de emprego nas ruas, conhecer gente de tudo quanto é tipo, entender por que o seu pai odeia tanto aquela mulher atrás do vidro no banco, perceber que você recebe muito mais que alguém que precisa daquele dinheiro bem mais que você, enfim... O mundo começa a se apresentar na sua frente e isso não é bonito.

Eu acabei de fazer 20 anos, não sei porcaria nenhuma do mundo, mas já vivenciei algumas experiências marcantes em que, pessoas que eu conhecia, morreram tragicamente. Não vou armar um draminha e dizer que eram meus amigos, não eram, afinal eram pessoas que eu via uma vez ou outra no trabalho, vi acompanhando a irmã de uma colega, pessoas distantes, mas que ainda assim, te fazem pensar na brevidade da vida quando a delas se vai, repentinamente.

Hoje mesmo, o sobrinho de uma das mulheres que fazem a faxina no local onde trabalho foi morto a facadas, por causa do quê? Envolvimento com drogas. O garoto tinha só 16 anos. Eu sei que eu não queria ter tido que reconhecer o corpo dele. Agora, pense nas notícias que você vê todos os dias, force um pouco a sua memória e tente se lembrar de algum caso parecido, não precisa ser na sua família, pode ser o primo de 2° grau da sobrinha da doméstica da sua casa, mas tente calcular quantas pessoas são mortas todos os dias no Brasil por que se envolveram com algum tipo de crime e então se pergunte: Pena de morte pra quê?