domingo, 31 de maio de 2015

Dica musical: "Músicas para churrasco volume 2" de Seu Jorge (2015)

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Continuação do álbum volume 1 de 2011, "Músicas para churrasco volume 2" foi lançado esse ano, mostrando que Seu Jorge ainda sabe agitar uma festa como nenhum outro artista brasileiro.

O legal e surpreendente em Seu Jorge é que ele não é um artista preso a ritmos. É claro e óbvio que ele é inspirado pelo samba, que ele cresceu ouvindo, mas tem muita coisa além disso, puxando influências do soul, disco e jazz, por exemplo.

Em "Músicas para churrasco volume 2" encontramos um álbum cheio de narrativas, todas relacionadas a festas de domingo, regadas a cerveja, futebol, mulheres e amigos, formando uma roda de samba para passar o tempo e esquecer que amanhã é segunda.

Isso faz com que o álbum seja meio que um "álbum conceito", o que aumenta o seu valor artístico, mas o que surpreende mesmo é a sonoridade, tão única e inigualável que ele cria aqui.

Enfim, mesmo se você não goste muito do gênero, não tem como não gostar, ao menos um pouco, das músicas de Seu Jorge, que é, provavelmente, o único artista que toca nas rádios brasileiras e que eu admiro.

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sábado, 30 de maio de 2015

Dica televisiva: "Demolidor" (2015)

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Por culpa do trabalho e outras questões, não estou conseguindo manter o blog atualizado e é por esse motivo que estou postando apenas agora a dica de "Demolidor", a série da Marvel na Netflix.

Demolidor conta a história de Matt Murdock, um garoto, filho de um lutador de boxe, que sofre um acidente com material radioativo na infância, ficando cego, a partir de então. Após a morte de seu pai, ele passa a viver sozinho e a contar com a supervisão não declarada de pessoas que logo se tornam seus mentores e ajudam na criação de sua personalidade idealista e ao mesmo tempo implacável em busca de justiça. Já adulto e formado como advogado, após perceber que nem sempre o caminho da advocacia é o caminho da justiça, ele decide esconder seu rosto e usar suas habilidades de luta e seus sentidos apurados para combater o crime durante a noite, como o Demolidor.

Ao longo de seus 13 episódios, a série apresenta todo esse enredo, que eu fiz parecer simples, mas não é.Também são spoilers, mas não tão grandes assim, visto a dimensão dessa série, que apresenta mais os personagens secundários do que o próprio Demolidor em alguns episódios. Assim, a série não apresenta apenas um herói, mas diversos heróis e anti-heróis, dando espaço para o espectador criar empatia com cada um dos personagens, dos mais brilhantes aos mais estúpidos e entediantes.

No começo, isso parece ser algo ruim, mostrando-se útil apenas após o quinto ou sexto episódio. Por falar em começo, o primeiro episódio é simplesmente chato. Não há palavra melhor para explicar a tremenda perda de tempo que é assistir ao primeiro episódio de Demolidor, que começa de forma genial contando o início da história do personagem em 3 minutos. É a melhor história de origem que você vai ver, por enquanto.

No entanto, com o final do segundo episódio, não há como não se interessar pela série, que com um exímio toque de genialidade faz referência à Oldboy e cria a melhor cena de ação que eu já vi numa série de TV. É simplesmente incrível.

No entanto, alguns toques de originalidade são gritantemente irritantes, como os cenários sempre muito escuros e os diálogos, que não soam muito atraentes e se sustentam na "muleta" de que é baseado em quadrinhos, então não dá pra se levar a sério.

Algo que eu considero uma falácia, por que eu não estou lendo um quadrinho, estou assistindo a uma série, que não é, nem de longe de comédia e que, sim, se leva a sério e tem momentos excelentes, aliados a momentos insignificantes, gerando uma mistura muito boa, mas que não chega a ser excelente, como outras críticas querem me fazer acreditar.

Por falar em mistura, eu nunca vi uma série passar de censura livre para +18 em tão pouco tempo, tendo cenas de luta que escondem os socos e na cena seguinte, um cara jogando sua cabeça contra uma estaca de ferro afiada. No entanto, isso não é ruim, pelo contrário, é muito legal, por que a série te impressiona de verdade, de forma fácil, tenho que reconhecer, mas é eficiente.

Enfim, "Demolidor" surpreende como série, mas não é nenhuma obra prima, merecendo ser assistida ainda assim, pois é, provavelmente, uma das melhores séries de ação que iremos ver em muito tempo.

4 pontos

domingo, 24 de maio de 2015

Dica cinematográfica: "Koyaanisqatsi - Uma vida fora do equilíbrio" (1982)

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Um clássico cult, "Koyaanisqatsi" é o primeiro da trilogia de filmes experimentais "qatsi".

Trata-se de uma obra de arte, sustentada apenas com as belíssimas imagens feitas pelo diretor de fotografia Ron Fricke e a lendária trilha sonora composta por Philip Glass, orquestrada e concebida pela direção genial de Godfrey Reggio.

"Koyaanisqatsi" começa nos apresentando o mundo natural, o modo como ele foi concebido por Deus, um ponto azul único no meio do universo e logo prossegue para nos mostrar como transformamos esse mundo, retirando o que ele tem de mais precioso para usufruir pouco ou nada disso, vivendo uma existência que clama por outro estilo de vida.

Tudo isso num filme sem diálogos, apenas imagens, aceleradas e incrivelmente traduzidas aos nossos sentidos com a trilha sonora fenomenal.

O diretor explica a falta de diálogo dizendo: "Não é por falta de amor à linguagem que este filme não têm palavras. É, por que, do meu ponto de vista, a linguagem está num constante estado de humilhação. Não descreve mais o mundo em que vivemos".

De fato, ao ver as exuberantes imagens naturais, em contraste com o frenesi urbano, constata-se que a linguagem não teria como descrever o que é impensável, o que é tão absurdo e errado que espanta e assusta.

"Koyaanisqatsi" é, sem sombra de dúvida, umas das maiores obras de arte que a humanidade já viu.

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sábado, 23 de maio de 2015

Dica cinematográfica: "Sonhos à Deriva" (2014)

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Com esse péssimo título brasileiro, começamos essa dica sobre um dos melhores filmes do ano passado e que eu só assisti recentemente.

A película conta a história de Sam Manning, pai de Josh Manning, que morreu como causa de um trágico incidente acontecido na faculdade onde estudava. Dois após o acontecimento, sau ex-mulher lhe entrega diversos objetos pessoais de Josh, entre os quais um caderno com várias letras de músicas que ele havia composto e diversos CD's com suas criações musicais. Para honrar sua memória, Sam decide tocar uma das músicas do filho num bar, o que acaba resultado em sua entrada, mesmo que sem intenção real, numa banda.

A primeira vez que ouvi falar desse filme fiquei muito receoso de assisti-lo, pois ouvi dizer que era meio folk, com uma grande carga dramática e se tem um estilo musical que eu não curto é folk. No entanto, se tem uma coisa que esse filme não é, é folk.

As músicas que Josh criava podem sim serem consideradas folk, mas nada de violinos, vozes finas e quase estourando seus ouvidos aqui, apenas um violão e uma boa voz juvenil, no melhor estilo Bob Dylan de ser. Quando Sam entra na banda, as músicas viram um pop rock gostoso de se ouvir.

Mas não é só na ótima trilha sonora que o filme se sustenta, a história e o desenvolvimento dos personagens é também muito boa. Nós nunca sabemos de verdade o que aconteceu com o filho de Sam e quando descobrimos, é uma surpresa muito impactante.

Aliás, nada neste filme é entregue de bandeja para quem está assistindo, tudo é muito sútil e fica à deriva para o espectador adivinhar algumas coisas.

Eu falei que o filme é dirigido pelo excelente William H. Macy? Pois é... Simplesmente, assista.

4 pontos e meio

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O que eu perdi #2: "American Football" de American Football (1999)

a3216079630_10American Football foi (ou é?) uma banda de indie rock/rock alternativo/emo/fusion (?) formada em 1997 pelos amigos de faculdade Mike Kinsella, Steve Lamos e Steve Holmes, quando alguas das bandas em que eles participaram não deram muito certo.

Quando a banda foi formada, eles estavam curtindo o início da faculdade, ainda no segundo ou primeiro ano, lançando já no ano seguinte o EP de mesmo nome da banda, lançado pela Polyvinyl Records. No ano seguinte, eles começaram a gravação de seu primeiro (e o que se tornaria o único) álbum de estúdio da banda, também chamado de “American Football”, já no final de seus anos na faculdade, o que durou apenas 3 meses de gravação, no final do verão. Logo após isso, a banda decidiu transformar o álbum num projeto de estúdio e então se separaram de vez.

No entanto (e isso era algo que eles não tinham como prever), conforme o tempo foi passando, o álbum foi ganhando cada vez mais reconhecimento e foi ouvido por um número cada vez maior de pessoas que logo se tornaram fãs instantâneos da banda, que não mais existia, fazendo de “American Football” um dos CD’s mais influentes na história da música independente.

Afinal, não é para menos. O álbum mescla de forma única, sem precedentes ou procedentes, elementos do math rock, com emo e momentos jazzísticos, criando uma atmosfera sonhadora, irreal, até mesmo etérea para o álbum.

Mas não se engane achando que se trata de um álbum desprovido de propósitos, pois basta uma olhada rápida nas letras para perceber que “American Football” se trata de um álbum muito pé no chão, por assim dizer.

Suas letras evocam um senso de possibilidades e descobertas juvenis, porém não adolescentes. Letras que são de fácil identificação principalmente para aqueles que estão no começo dos seus 20 anos, correndo atrás do primeiro emprego, abandonando velhos amigos e perdendo o interesse em antigos sonhos de infância.

O álbum começa com uma batida brincalhona de bateria e vozes ao fundo, indicando o sentimento de urgência que a banda estava vivendo no momento das gravações do álbum, o que deu ao álbum inteiro um certo ar de amadorismo, mas sem ser pretensioso ou relaxado. Ele simplesmente foi feito desse jeito.

Nomeada de “Never Meant”, a primeira canção trata de esquecer o que aconteceu no passado e seguir em frente, o que foi basicamente o que os membros da banda fizeram e o que muita gente na idade deles tem que fazer, mesmo não querendo. Afinal a vida, e todos os elementos a ela submetidos, são feitos de fases, idas e vindas, entradas e saídas.

Para quem escuta pela primeira vez, parece se tratar de uma música emo qualquer, sobre amores perdidos, mas não é, principalmente se colocada dentro do contexto do álbum.

A segunda canção, “The Summer Ends” revela uma certa complexidade que nenhuma banda emo jamais conseguiu alcançar e poucas bandas dentro do cenário onde American Football está inserido conseguiram chegar perto. Um trompete é o personagem principal da canção, guiando todo o ritmo que ela vai seguir, mesmo que perca espaço para a voz de Mike Kinsella, que canta indecisões ao fim do verão, situação comum para todo mundo que tem que fazer decisões por conta própria, mas sem ter um rumo certo, tendo que decidir que caminho seguir, sem saber para onde ele vai levar. É algo que todos passamos.

“The Summer Ends” também é carregada de elementos do math rock, com suas notas de guitarra repetitivas e a bateria bem marcante. Bem diferente da primeira canção.

Então chegamos ao magnum opus do álbum, uma canção que se tornou tão pessoal para, praticamente, todos os fãs da banda e para mais um monte de gente que já a escutou.

Em “Honestly”, Mike Kinsella já começa a canção dizendo que “honestamente, eu não me lembro dos meus sentimentos adolescentes, nem dos seus sentidos” e que eles “parecem claros demais para serem verdadeiros”. Uma enchurrada de metáforas em dois versos nos atingem e então uma explosão de notas agudas de guitarra sobre um riff repetitivo de baixo e a bateria sempre tão bem marcante.

É algo que toda pessoa que teve que fazer decisões importantes muito cedo passou. De repente, aquele sonho de adolescência que você está perseguindo não faz mais tanto sentido. Aquela carreira não é mais tão satisfatória, aquela CNH não parece ser mais grande coisa, aquele título de eleitor não parece ter peso, aquele video game não é tão divertido, aquele aparelho de som não é tão potente assim, aquela roupa não é assim tão bonita... É natural, nós mudamos o tempo todo, para que lutar contra isso? Além dessa interpretação, a canção tem outras, ela se enquadra em muitos momentos dos seus vinte e tantos anos, basta pensar um pouco.

O mais interessante é que essa canção segue por caminhos tortuosos, indo de um início contemplativo, porém com um pegada até dançante, indo para uma explosão de guitarras distorcidas, riffs de baixo e “socos” de bateria para terminar de forma lenta, gradual e calma.

A quarta canção é “For Sure”, uma música quase instrumental, que começa novamente com o trompete como elemento principal e líder da banda, até ceder espaço para a voz de Kinsella, que assume um falsete até estranho, fazendo desta a canção mais melancólica (e por que não melódica?) do álbum.

“You Know I Should Be Leaving Soon” é a música com mais elementos math rock do álbum, mas não é aquela coisa chata e irritante de se escutar que é o math rock, muito pelo contrário, ela é bem melódica, harmoniosa e gostosa de ouvir, mérito dos vários instrumentos que dividem os quase 4 minutos com as guitarras, a bateria e o baixo. Desta vez, Mike Kinsella não canta, mas nem precisa, pois é uma canção de passar emoção, energia e evocar seus pensamentos mais profundos apenas pelas notas musicais. Pessoalmente, eu também acho esta a música mais “redonda” do álbum, pois se encaixa em qualquer momento, finalizando com o clássico “fade-out”.

“But The Regrets Are Killing Me”, além de continuar na pegada math rock da canção anterior, também revela a continuidade de uma narrativa, mostrando que American Football não é uma banda ingênua, sem planos ou ambições nenhumas para o seu álbum. Aqui, ouvimos a canção mais pessoal do álbum. A voz de Mike Kinsella é quase inaudível no começo, ganhando mais espaço, conforme as quebras de ritmo se tornam mais frequentes e marcantes ao longo da canção.

“I’ll See You When We’re Both Not So Emotional” termina a “trilogia” de canções pessoais do álbum, claramente sobre algum relacionamento amoroso que não deu certo e, apesar de não ser uma continuação clara da música anterior, repare como Mike Kinsella se revela muito mais a vontade com o microfone do que na canção anterior, apesar de sua voz não ser capaz de acompanhar tanta acomodação (a desafinação é demais). É uma canção de decisões firmes, maduras e minuciosamente pensadas, não deixando espaço para fraquezas ou dúvidas, exigindo, dessa vez, que Mike termine o verso ao final dela.

“Stay Home” tem epopeicos oito minutos e assim como “Honestly” viaja por caminhos tortuosos, começando de forma calma, porém excitante, quase como se dissesse que aí vem outra explosão, que se concretiza e abre espaço para um ritmo mais melódico e repetitivo, acompanhado da voz de Kinsella, novamente um pouco mais tímida que na canção anterior. Ele só canta uma frase ao longo da canção inteira, pois mais de 4 minutos: “Esta é a vida, tão tão curta”. Uma espécie de mantra para lembrar de que não adianta mais encarar as coisas como o fim do mundo, se colocar no centro de tudo e achar que todos estão contra você, isso é coisa de pessoas imaturas. Nem tudo acontece por um motivo e essa é a vida.

“The One With The Wurlitzer” é outra canção instrumental, de novo com o trompete assumindo o papel instrumental e contando com o auxílio de notas saídas de um sintetizador. É uma canção lenta, porém de efeito relaxante, terminando novamente com o clássico “fade-out” e se o álbum estiver para tocar no replay, você irá perceber que a transição entre o final e o começo é imperceptível, como se ele formasse um círculo, que existe em si mesmo e é perfeito assim.

Quando American Football fez sua “reunion tour” em 2014, fazendo considerável sucesso inclusive, li em alguns lugares especulações sobre um possível segundo álbum, mas eu não acreditei e sequer apoiei a ideia, porque American Football não é apenas uma banda, American Football é um CD, algo feito uma vez e que existe ali e somente ali e a decisão de terminar a banda talvez tenha sido muito sábia.

Enfim, “American Football” é um grande clássico, extremamente influente para uma ampla gama de artistas, além de ser atemporal, pois seus letras e arranjos nunca irão envelhecer, pois ele não representa apenas os pensamentos, anseios e desejos de uma geração, ele representa os pensamentos, anseios e desejos de uma fase da vida. “American Football” é o que melhor descreve o começo dos 20 anos de qualquer pessoa, talvez com maior ou menor intensidade, mas todos podem achar espaço para se identificar nas letras certeiras de American Football.

sábado, 16 de maio de 2015

Dica cinematográfica: "White God" (2014)

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"White God" é um filme húngaro de 2014, premiado no festival de Cannes, de forma muito justa.

O filme conta a história de Hagen, um cachorro vira-lata, adotado por um menina de 13 anos chamada Lili. Quando a menina vai morar com seu pai num apartamento, eles se veem forçados a abandonar Hagen e a partir daí começa uma verdadeira odisseia de um cachorro, que conhece a faceta perversa da humanidade, ao mesmo em que encontra dentro de si o espírito de liderança necessário para livrar os cachorros da vida mundana que levam.

Trata-se de uma obra visionária, aberta a múltiplas interpretações e com referências claras ao conto do flautista que encanta os ratos, mas sem um final cruel. Também é um filme muito bem feito, com ótimos ângulos, um jogo de câmeras incrível e um ritmo perfeito, acompanhando a trajetória de Lili e do cão, formando uma narrativa linear com dois pontos de vista.

Enfim, "White God" é um ótimo filme, merecedor dos prêmios que recebeu, podendo ser considerado o melhor "filme de cachorro" história do cinema mundial.

4 pontos e meio

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Dica musical: "Individ" do The Dodos (2015)

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The Dodos é uma banda de rock alternativo fundada em 2005 e que só agora eu descobri a existência.
"Individ" é o sexto(!) álbum de estúdio da banda e contém duas das músicas mais legais que ouvi esse ano, "competition" e "Goodbyes and endings", que se destacam no meio das 9 canções que recheiam esse álbum, cheias daquela energia e sonoridade que povoa a cena indie rock de Nova Iorque. A maioria das suas canções contém riffs pegajosos de guitarra, com um solo longo ao fundo, criando uma espécie de fusão com o ambient, vocais melancólicos e uma pitada de música eletrônica, usando e abusando de sintetizadores.
No entanto há alguns diferenciais na banda, em primeiro (e bem menos importante) a influência folk (há quem diga da banda Beirut, responsável por aquela única música legal lá de 2009 ou por aí), audível no violão, figura central de várias canções. A segunda influência mais marcante é do próprio rock, em especial de bandas de garage-rock como Japandroids, visível nas apresentações ao vivo, onde a energia emana do palco, além do som, por vezes, agressivo, que a banda assume.
Essa é a influência legal e boa, que, na minha humilde opinião, salva a banda, pois ela poderia ser só mais uma banda de rock alternativo do meio dos anos 2000, mas acaba seguindo caminhos tortuosos e bem mais interessantes do que seus conterrâneos temporais.
"Individ" não é nenhuma joia rara, muito pelo contrário, está mais para uma pérola que brilha diferente, mas que não tem um valor muito mais alto que as outras, no entanto, vale a pena escutá-los, nem que seja só por essa arte incrível na capa do álbum, que merece prêmios de melhor do ano.
3 pontos

Dica musical: "Psychic EP" do Monster Rally

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Eis que Monster Rally nos surpreende novamente. Depois do ótimo "Foreign Pedestrians", lançado em conjunto com Jay Stone, Ted Feighan lançou em meados de Abril mais um EP para alegrar os nossos ouvidos e inicia este mês um projeto junto com o site "Singles Club", que irá mantê-lo ocupado o resto do ano.

"Psychic EP" trata-se, na verdade, de um remake de músicas lançadas anteriormente. O EP foi feito para comemorar a re-impressão em vinil do LP Cristal Ball, o seu segundo álbum completo.

São músicas de projetos anteriores ao Cristal Ball, de uma época em que Monster Rally mal conhecia J Dilla (inclusive há uma música no EP que foi completamente copiada de alguma música de Dilla, ou de várias. Não que isso seja ruim, afinal, todo artista começa assim, copia os artistas que já trilharam um caminho para só depois seguir o seu próprio), são músicas sobrepostas a outras músicas e sequer haviam som de bateria, no original.

Hoje, com mais experiência (e influências), Monster Rally criou músicas que são exóticas e brilhantes, com um tom mais melancólico que os seus outros álbuns.

Enfim, vale dar uma ouvida nesse EP, que não é nenhuma obra prima de Monster Rally, mas mostra o quanto ele ouviu desde que começou a se enveredar por novos caminhos na música.

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Dica musical: “You can’t use my Name: Curtis Knight & The Squires (Featuring Jimi Hendrix) The RSVP/PPX Sessions”

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Este ano, mais um CD póstumo de Jimi Hendrix foi lançado, mas ao contrário das outras compilações que mostram músicas nunca lançadas ao público, ainda num estágio embrionário ou só ouvidas em poucas apresentações ao vivo, este CD nos mostra uma faceta nunca antes apresentada de Jimi Hendrix, a faceta de aprendiz, um músico excelente, porém controlado, esforçando-se não para ser o melhor e mais inspirador músico de sua banda, mas esforçando-se para não ser maior que os seus companheiros.

No meio dos anos 60, Jimi Hendrix trabalhou para diversos músicos na cidade de Nova Iorque, como uma forma de ganhar dinheiro, tocando em bares e casas de show diversas. Um desses artistas, Curtis Knight, um músico de blues, se interessou por Hendrix e deu a ele o espaço de guitarrista em sua banda de apoio, “The Squires”.

Na época, Hendrix estava tão quebrado que nem guitarra tinha, usando um instrumento emprestado por seu empregador.

Ao que tudo indica, os dois tinham um bom relacionamento, quase uma amizade, uma relação de mentor e aprendiz, tocando quase todas as noites juntos e passando muito tempo se divertindo em estúdio.

O resultado de dias e noites passando tempo nos estúdios é a origem desse álbum, que reúne, de forma nunca antes ouvida, todas as gravações que Curtis Knight & The Squires fizeram juntos com Jimi Hendrix, na guitarra.

Óbviamente, Jimi não é a figura central aqui, este é papel de Curtis Knight, o vocalista e líder da banda e este pode ser o principal ponto negativo e positivo do álbum.

Negativo, por que não ouvimos Jimi como nos acostumamos a ouvir. Aqui, ele é um mero guitarrista de blues, que nem é líder da banda, ele toca o que deve tocar, no tempo que deve tocar e sola quando lhe dão a oportunidade.

Jimi era um homem do blues, cresceu ouvindo o gênero, mas por diversas vezes, ele apresentou ser contrário à simples classificação de gêneros no mundo da música. Ele gostava de se sentir livre, misturando os gêneros na guitarra, tocando-a do jeito que melhor lhe agradava e foi desta forma que ele foi capaz de criar algo totalmente novo. Foi este o motivo dele ter impressionado tanta gente e ter se tornado o deus do rock, pai da guitarra.

Infelizmente, não vemos tanta inovação nesse álbum, no entanto, Jimi Hendrix é Jimi Hendrix e tanto talento não pode ser escondido, por melhor que seja o vocalista.

E é isso que acontece nesse álbum, em diversas canções, a guitarra de Jimi Hendrix se sobressai aos vocais poderosos de Curtis Knight, dando mais ritmo, mais poder e, por vezes, se torna a figura central da música, mesmo que por alguns segundos, apenas. E essas acabam sendo as músicas mais interessantes do álbum.

Mesmo quando Jimi Hendix não está na frente, assumindo um papel de líder (que ele odiava assumir), Jimi estava ali, marcando a sua presença com grande intensidade, lembrando a todos que ali estava um artista completo, um ser pertencente a um outro nível de excelência, até hoje, impossível de se compreender.

4 pontos

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Dica musical: "The Epic" de Kamasi Washington (2015)

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A história é mais ou menos a seguinte: Um homem, idoso, guarda os portões de uma cidade do topo de uma montanha. Ele olha para baixo e vê um dojo, cheio de de jovens treinando, enquanto o homem aguarda ansioso o dia em que um deles irá derrotá-lo e assumir o seu posto, pois este é o caminho natural da vida.

Um dia, três desses jovens aparecerem no seu posto de guarda a fim de o desafiar. O primeiro é rápido, mas não é forte o suficiente. O segundo é rápido e forte, mas não é sábio o suficiente. O terceiro espera e vence o homem, assumindo o seu posto de guarda.

Então o homem acorda e olha para baixo, em direção ao dojo e ele vê guerreiros treinando. No entanto, são todos ainda crianças e o homem percebe que no dia em que eles forem grandes o bastante para desafiá-lo, ele já terá, a muito, desaparecido.

Partindo dessa premissa, Kamasi Washington elabora “The Epic”.

Kamasi Washington é um saxofonista, que conta com mais de uma década de carreira, estampando seu nome em álbums como “You’re Dead” do Flying Lotus e “To Pimp a Butterfly” do Kendrick Lamar. Neste álbum, ele elabora uma epopéia jazzística com mais de 3 horas de duração, dividido em 3 CD’s, que parecem ser mais uma trilha sonora da história contada acima, mas não se deixe enganar, não é apenas música para acompanhar uma história, é a música sem a qual a história não existiria.

O título pode parecer pretensioso, mas Kamasi entrega exatamente o que promete, um épico, liderando 20 membros de um coral, 32 membros de um conjunto de corda, dois bateristas, dois baixistas, um pianista, um tecladista (sim, há diferenças!), um conjunto de sopros, vocalistas de R&B e, é claro, o seu saxofone, figura central em muitas músicas, seja abrindo com uma explosão de som ou finalizando de forma majestosa algumas canções.

“The Epic” é um álbum de jazz e não espere nada mais além disso, um álbum de jazz puro, que não fica à sombra de outros álbuns clássicos, nem fazem Kamasi ficar à sombra de músicos consagrados, muito pelo contrário, “The Epic” representa mais uma evolução do jazz, assim como “To Pimp a Butterfly” representa uma evolução do hip hop, usando de todo tipo de influência, do jazz mais puro e comum ao fusion e suas nuances surpreendentes, às vezes decepcionantes, mas sempre inovadoras.

Mas não espere encontrar uma narrativa sólida ou que você vá entender tudo claramente nesse álbum. Algumas canções parecem estar perdidas no meio de alguns CD’s e o primeiro e o segundo são infinitamente melhores que o terceiro, mas não por que algumas músicas são “misteriosas” demais ou não entregam uma explicação numa bandeja de prata para você engolir. São exatamente as canções mais claras e “óbvias” que agradam menos.

Ainda assim, esse projeto de Kamasi Washington é incrível de se escutar. Ouvidos mais despreparados estranharão, mas dê uma segunda chance ao álbum, até uma terceira ou quarta e logo você perceberá que esse é um álbum muito mais fácil de se visualizar do que de ouvir. Uma experiência musical épica.

4 pontos e meio

terça-feira, 12 de maio de 2015

Dica gamística: "Two Dots"

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"Two Dots" é um jogo casual para celular, disponível para iOS e Android, além de já estar em outras plataformas.


O jogo tem uma premissa básica: Você deve entrar em diversas fases, que parecem acompanhar um desenvolvimento de uma história, visto no plano de fundo. Então abre uma área cheia de pontos coloridos. O seu objetivo é juntar os pontos coloridos, acumulando-os para completar os objetivos de cada fase, respeitando o número máximo de movimentos que você pode fazer.


Conforme você aprende mais sobre o jogo, mais recursos vão sendo descobertas e mais difícil as fases ficam. Alguns desses recursos são pagos, mas não há uma necessidade clara de compra desses recursos, porque ou eles são obtidos através de tempo corrido no jogo ou eles são obtidos por missões diárias.


"Two Dots" é a síntese dos jogos casuais. É Premium (mal dos tempos), mas você definitivamente não precisa fazer as compras dentro do jogo e isso só reforça ainda mais a sua natureza casual.


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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Dica musical: Nosaj Thing live at Music Hall of Williamsburg, 4/4/15

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Esta não é uma dica musical convencional, pois não se trata de uma dica de álbum ou EP, nem ao menos de uma música apenas e sim de uma apresentação ao vivo de um artista de música eletrônica, gênero que eu, sinceramente, não entendo mais.

O artista em questão é Nosaj Thing, um estadunidense com raízes orientais, baseado em Los Angeles, Califórnia e já produziu canções para diversos artistas de rap, alguns exemplos sendo Kid Cudi, Chance, the Rapper e Kendrick Lamar. No dia 5 de Maio, ele lançou seu terceiro álbum, "Fated", mas semanas antes, ele vinha fazendo shows ao longo de todo os EUA para divulgar seu novo álbum.

No dia 4 de Abril, ele fez um show na cidade de Nova Iorque, em uma casa de shows do Brooklyn, chamada de Music Hall of Williamsburgh, com capacidade máxima para 550 pessoas, usando um set diversificado com canções novas e canções antigas de sua carreira, além de remixes e variações de suas músicas.

Duas semanas após, enquanto estava viajando por Houston para divulgar seu álbum, todo o aparelho de som do músico foi roubado! Em termos de equipamento, o ladrão (ou ladrões) levaram 4 mochilas (com vai-saber-oque lá dentro), 4 Macbooks Pro's, um ou alguns HD's Lacie (essa porra custa mais de 2000 reais na loja de eletrônicos mais confiável da internet) e controladores MIDI.

O conteúdo de todos esses equipamentos consistiam de todas as suas sessões de gravações, ao vivo e em estúdio, e é tão valioso que Nosaj Thing postou em seu twitter uma imagem dizendo que seu equipamento havia sido roubado, oferecendo uma recompensa, sem perguntas e com um e-mail para contato claramente criado só para isso. Ele tinha em seu HD uma cópia de todos os arquivos criados para seu novo álbum, mas o HD queimou e recuperar um HD externo é uma tarefa extremamente complicada.

Para artistas de música eletrônica, perder um equipamento assim é algo muito pior do que um roqueiro perder sua Fender Stratocaster favorita, que é apenas um meio usado para criar os frutos de seu trabalho. A comparação só seria bem-feita se um rockeiro perdesse não só sua Fender favorita, mas se o estúdio onde ele estivesse fazendo o novo álbum sofresse um acidente que o destruísse por completo.

Apesar de Nosaj Thing ser um grande artista, com qualidade e criatividade suficiente para produzir mais música e mais sets como o de Williamsburgh, eu consigo sentir o desespero que ele deve ter sentido ao perceber que havia sido roubado. Ser roubado já é ruim, mas ter todos os frutos de seu trabalho feito, no mínimo, em torno de um ano, é desesperador.

E enfim, chegamos ao ponto onde eu não entendo mais a música eletrônica, pois o próprio set de Nosaj Thing é meio desesperador, músicas calmas, muito etéreas e lentas (?), algo que eu, tenho que admitir, não sabia que existia em música eletrônica. Claro que eu conheço o movimento chillwave que cresceu no meio da década passada, mas ele morreu, de certa forma e, apesar de existir artistas como Jamie Issac e James Blake que seguem por este caminho, mas eles não atraem muita atenção do cenário da música eletrônica e nem sequer se consideram artistas de música eletrônica, principalmente por tomarem suas vozes como o epicentro de suas canções. No entanto, isso não é o que acontece com Nosaj Thing, que se concentra na música em si, ao invés da voz, rara, mas presente em algumas canções.

Ou melhor, o epicentro de suas canções é, na verdade, as sensações que ela provoca no ouvinte, até por que a instrumentação nem é tão marcante (ou boa) assim. Algo completamente diferente do que estamos acostumados a ver nsa baladas ou raves ou Tomorrowlands da vida e que eu acho muito interessante, apesar de duvidar que eu iria curtir um set desses ao vivo, mas enquanto eu escuto deitado no sofá ou prestes a dormir, acho uma ótima pedida.

Fiquem com essa obra de arte perdida:

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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Dica cinematográfica: "Shaft" (1971)

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"Shaft" é um filme de 1971, pertencente ao movimento Blaxploitation, do gênero noir.

Conta a história de Shaft, um detetive particular casca grossa, que mora no Harlem e é contratado por um mafioso do bairro a fim de descobrir o paradeiro de sua filha, que ele suspeita estar nas mãos dos mafiosos italianos.

O filme é um noir completo, muito centrado em Shaft, que além de ser o estereótipo do detetive casca grossa, que bate em todo mundo, não gosta de policiais, mas nunca perde o contato com eles (até por que eles não deixam) e ainda pega todas as mulheres que quer, sem nunca se envolver seriamente com nenhuma, tem o único diferencial de ser negro.

Para explicar isso, é importante voltarmos um pouco no tempo. Hollywood sempre foi muito restritiva, mas após os anos 60, não havia mais motivos para não haver negros participando e fazendo filmes. Por volta dessa época, surgiu um movimento em Nova Iorque chamado "Blaxploitation", considerado por muitos como um gênero de filmes, mas não é, por que ele foi criado com o objetivo de fazer filmes de negros para negros estadunidenses (um gênero nunca nasce com intenções tão claras). O que começou com filmes de baixo orçamento, filmado nas ruas dos bairros negros de Nova Iorque, editados de forma caseira, encontrou em "Shaft" o necessário para popularizar o movimento, pois este filme conta com um orçamento razoável para os filmes do movimento e uma ampla distribuição, tendo sido até vencedor do Oscar pela sua ótima trilha sonora.

Trilha sonora que é o ponto forte do filme, não apenas a música "Theme from Shaft", mas todo o arranjamento das canções ao longo da película. Muito jazz, com um pouco de fusion e um pé no disco, que ainda estava nascendo na época do filme, fazem da trilha sonora desse filme uma obra de arte por si só.

"Shaft" é um filme redondo, conseguindo amarrar todas as pontas soltas que cria ao longo da história e com personagens muito interessantes, mas espere moralismos ou lições de moral edificantes no final, por que, afinal, Shaft é um grande filho da mãe!

4 pontos

domingo, 3 de maio de 2015

Dica musical: "Hyperview" do Title Fight (2015)

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Title Fight é uma banda de post-punk/hardcore da Pensylvania, formada em 2003 (!).

"Hyperview" é o terceiro CD deles e segue a maldião do terceiro, em que o terceiro volume de qualquer coisa sempre é ruim, nesse caso, nem tanto, até por que eu acho que é o melhor CD deles, mas é por que muda (e muito) a sonoridade deles.

Como toda banda de hardcore/post-punk formada em 2003, as canções deles são cheias de acordes graves, vocais guturais e gritos, muita pancadaria e sangue nos shows, moshs, skate e fãs que usam o tumblr todo dia. No entanto, o Title Fight sempre teve um Q de diferente em suas canções, que tinham todos esses elementos, mas ficavam com um pé no experimentalismo, seja na forma de um inicio regado a riffs melódicos de guitarra que levavam a pancadaria usual ou o final com sons de sintetizadores. Em "Floral Green", o segundo trabalho do grupo, a canção "Head in the ceiling fan" parece ter vindo diretamente de um futuro distante do local temporal onde a banda estava naquele momento. E o futuro é "Hyperview", um álbum que, na verdade, se encontra no meio do caminho de uma trajetória que a banda está seguindo desde o primeiro CD.

É um álbum mais fácil de se ouvir, é verdade, mas isso não quer dizer necessariamente que é ruim. O sons são mais melódicos e as guitarras têm um destaque muito grande, se tornando as protagonistas da banda,se sobrepondo até mesmo aos vocais, com riffs cheios de distorção, alguns solos muito bem tocados aqui e ali, tudo isso acrescentando um ar muito bom para as canções, que se tornam perfeitas para uma tarde preguiçosa, como essa que eu estou tendo enquanto escrevo isso, ou uma caminhada noturna no início de uma noite desesperançosa.

Enfim, "Hyperview" representa uma mudança, que, na minha opinião, não é negativa, mas que pode, sim, desagradar fãs antigos da banda. Agora se você gosta da boa cena punk-rock/hardcore que parece ter ganhado um novo fôlego nos últimos anos, mas está velho demais pra porradaria, o sangue e a brutalidade adolescente, então esse CD é uma ótima pedida.

4 pontos

sábado, 2 de maio de 2015

Dica cinematográfica: "Thriller - Um filme cruel" (1974)

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"Thriller - Um filme cruel" é um filme é um filme sueco de exploitation de 1974, escrito e dirigido por Bo Arnen Vibenius.

Conta a história de Madeleine, uma garota que sofre abuso sexual, quando criança e após isso nunca mais fala. Um dia, já adulta, ela aceita carona de um misterioso homem, chamado Tony, que a mantém em cárcere privado, transformando-a em uma viciada em heroína e prostituta, enquanto envia aos pais de Madeleine cartas com mensagem agressivas, tão perturbadoras, que faz com que eles comitam suicídio. Em determinado ponto do filme, ela é esfaqueada no olho, tornando-a uma caolha. Então, Madeleine começa a salvar dinheiro para comprar um carro, afim de fugir e a tomar aulas de tiro e auto defesa, afim de se vingar.

O filme é cheio de pontos negativos, mas eles são características do próprio gênero exploitation, que é o exagero em tudo, desde as cenas de ação, gravadas em câmera lenta, o que faz o filme ser mais longo do que realmente é, até as cenas de sexo explícito, totalmente desnecessárias. No meio disso tudo, temos uma temática perturbadora e algumas cenas que podem revirar estômagos, mas o filme merece uma dica e eu já vou explicar.

Não se trata de um filme de vingança por vingança, como muitos outros filmes que vieram nas décadas seguintes e que são tão populares por aí. Esse filme tem uma história de verdade e a temática do estupro não é gratuita, como as cenas de sexo explícito. Afinal, que outro motivo deixaria uma criança muda? Que outro motivo faria uma mulher matar uma dúzia de pessoas?

Querendo ou não, este filme tem um desenvolvimento psicológico e o exagero em suas cenas de ação não são ruins. Na verdade, a câmera lenta torna-se um recurso até compreensível, visto que algumas cenas se tornam belas, dignas de serem admiradas por vários minutos, então o recurso é desculpável.

O filme tornou-se um grande influente, vide Kill Bill, por exemplo, mas nem todos os filmes trataram da temática com tanta sagacidade e pareciam mais masturbações infinitas de um mesmo estilo de filme. Talvez, pelo fato de ser um pioneiro, este filme conte com o elemento do ineditismo, uma vantagem em muitos casos, mas não dá para tirar o mérito do diretor, principalmente, que aliás, revela-se muito hábil no domínio da câmera, usando ângulos incomuns, dando uma estilisada no filme todo.

Enfim, "Thriller - Um filme cruel" não é recomendado para todos, longe disso, mas merece uma dica, por se tratar de um filme muito legal, até divertido, em alguns momentos, além de muito bem feito, de uma forma que poucos são feitos, hoje em dia.

4 pontos e meioarte,

Dica cinematográfica: "There Will Be Blood" (2007)

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"There Wil Be Blood" é um filme de 2007, dirigido por Paul Thomas Anderson, do gênero drama épico, baseado na novela "Oil" de Upton Sinclair.


O filme conta a história de Daniel Plainview, um prospector, profissão daqueles que descobriam petróleo em terro nos Estados Unidos do século XX e o exploravam, vendendo a empresas maiores que produziam combustível e outros derivados com o petróleo, e sua relação com diversas pessoas à sua volta ao longo de sua próspera vida. Começando em 1898, Daniel é um mineiro, que cai num poço e quebra perna, achando uma pedra preciosa durante o acidente. O filme então salta para 1902, onde Daniel funda uma pequena empresa de perfuração. Seguindo ao acidente de um de seus trabalhadores, Daniel adota o filho, agora órfão, dele como seu, chamado de H.W. e o toma como "sócio". Em 1911, Daniel é abordado por Paul Sunday, que alega ter um depósito enorme de petróleo em Little Boston, uma pequena vila no interior da Califórnia. Daniel se interessa e compra a terra de Paul, mas logo arranja problemas com o irmão gêmeo dele, Eli, que exige mais dinheiro pela fazendo e uma doação generosa para a igreja da vila, onde ele é pastor. À partir dfaí o filme se desenvolve, mostrando as relações de Daniel com as pessoas da vila, seus trabalhadores e sua família.


A grande questão do filme e o que o torna interessante é que Daniel não é uma pessoa comum, um cara normal, ele é, na verdade, um grande cretino, que faz parte do segundo pior tipo de pessoas no mundo, o tipo de pessoa que ama o trabalho, que transformou o trabalho num hobby e só enxerga isso em sua vida, sem se importar com amigos ou família, que aliás, nem existe para esse tipo de pessoa, tornando-se um fardo para ele, na verdade. O filme mostra Daniel implacável e é impossível gostar dele, mas você não tem a sensação decepcionante que outras obras carregam, como, por exemplo, "Mil anos de solidão" ou "O cortiço", o filme não é exagerado e portanto, você apenas sente pena daquele personagem, tão lamentável.


O filme não é nenhuma obra de arte, genial ou imperdível, mas tem seus momentos, baseados no jogo de câmeras, algumas cenas são simplesmente dignas de Kubrick, mas o filme como um todo é bem mais ou menos.


3 pontos

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dica literária: "Tekkon Kinkreet" (1993) de Taiyo Matsumoto

tekkonkinkreet-cover"Tekkon Kinkreet" ou, como foi traduzido aqui no Brasil, "Preto & Branco" é um mangá lançado entre os anos de 1993 e 1994, de autoria do genialíssimo Taiyo Matsumoto, autor de outras obras, já clássicas, como "Nº 5" e "Sunny".

"Tekkon Kinkreet" se passa na cidade de Treasure Town, uma metrópole em constante expansão e cheia de elementos nefastos. No meio dessa selva cinza, dois irmãos, orfãos, Preto e Branco passam suas vidas arranjando brigas com outros delinquentes juvenis, roubando lojas e vendedores ambulantes, além de arranjar confusão com os policiais da cidade. No entanto, a vida deles começa a mudar com a volta de um mafioso poderoso chamado Rato e a chegada de um novo criminoso, que almeja dominar Treasure Town.

Este é, sem sombra de dúvida, o mangá mais famoso de Taiyo Matsumoto, apesar de só ter dado o devido sucesso ao seu criador depois do filme homônimo de 2006, mas isso é assunto para outro post. Neste mangá, Taiyo Matsumoto explora a relação de dois irmãos, órfãos, com a cidade e as pessoas à sua volta, crescendo sem um modelo para seguir, sendo forçados a aprender tudo o que sabem sozinhos, muitas vezes esquecendo as próprias ambições para continuar vivendo.

Trata-se de um mangá muito sensível e com uma grande carga dramática, na verdade, podendo ser dividido em duas partes principais; a primeira, centrada em Preto, preenche os dois primeiros volumes do mangá e a segunda parte, centrada em Branco, preenche o terceiro e último volume do mangá.

Curto, porém profundo, "Tekkon Kinkreet" tem todos os elementos que consagram Taiyo Matsumoto como um dos melhores mangakas da história, cheio de influências europeias, ele fica perdido num limbo criativo entre mangás e graphic novels, contendo o melhor dos dois mundos. De um lado, a arte rápida e empolgante do mangá, do outro o roteiro bem elaborado, diálogos longos, cheio de uma certa aura intelectual dos quadrinhos europeus. Em alguns momentos, você se sente assisitndo a um filme do Godard, provavelmente pela ambientação numa metrópole moderna, deixando o mangá ser mais realista, um realismo fantástico, na verdade.

Há ótimas cenas de ação neste mangá também, muito bem desenhadas, com ceerta influência dos quadrinhos ocidentais do nosso continente.

Some-se a tudo isso, a genialidade de Taiyo Matsumoto, sempre encaixando "plot twists" imprevisíveis no meio da história, fazendo você se surpreender a cada capítulo que lê deste ótimo mangá.

Fortemente recomendado.

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