quarta-feira, 13 de maio de 2015

Dica musical: "The Epic" de Kamasi Washington (2015)

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A história é mais ou menos a seguinte: Um homem, idoso, guarda os portões de uma cidade do topo de uma montanha. Ele olha para baixo e vê um dojo, cheio de de jovens treinando, enquanto o homem aguarda ansioso o dia em que um deles irá derrotá-lo e assumir o seu posto, pois este é o caminho natural da vida.

Um dia, três desses jovens aparecerem no seu posto de guarda a fim de o desafiar. O primeiro é rápido, mas não é forte o suficiente. O segundo é rápido e forte, mas não é sábio o suficiente. O terceiro espera e vence o homem, assumindo o seu posto de guarda.

Então o homem acorda e olha para baixo, em direção ao dojo e ele vê guerreiros treinando. No entanto, são todos ainda crianças e o homem percebe que no dia em que eles forem grandes o bastante para desafiá-lo, ele já terá, a muito, desaparecido.

Partindo dessa premissa, Kamasi Washington elabora “The Epic”.

Kamasi Washington é um saxofonista, que conta com mais de uma década de carreira, estampando seu nome em álbums como “You’re Dead” do Flying Lotus e “To Pimp a Butterfly” do Kendrick Lamar. Neste álbum, ele elabora uma epopéia jazzística com mais de 3 horas de duração, dividido em 3 CD’s, que parecem ser mais uma trilha sonora da história contada acima, mas não se deixe enganar, não é apenas música para acompanhar uma história, é a música sem a qual a história não existiria.

O título pode parecer pretensioso, mas Kamasi entrega exatamente o que promete, um épico, liderando 20 membros de um coral, 32 membros de um conjunto de corda, dois bateristas, dois baixistas, um pianista, um tecladista (sim, há diferenças!), um conjunto de sopros, vocalistas de R&B e, é claro, o seu saxofone, figura central em muitas músicas, seja abrindo com uma explosão de som ou finalizando de forma majestosa algumas canções.

“The Epic” é um álbum de jazz e não espere nada mais além disso, um álbum de jazz puro, que não fica à sombra de outros álbuns clássicos, nem fazem Kamasi ficar à sombra de músicos consagrados, muito pelo contrário, “The Epic” representa mais uma evolução do jazz, assim como “To Pimp a Butterfly” representa uma evolução do hip hop, usando de todo tipo de influência, do jazz mais puro e comum ao fusion e suas nuances surpreendentes, às vezes decepcionantes, mas sempre inovadoras.

Mas não espere encontrar uma narrativa sólida ou que você vá entender tudo claramente nesse álbum. Algumas canções parecem estar perdidas no meio de alguns CD’s e o primeiro e o segundo são infinitamente melhores que o terceiro, mas não por que algumas músicas são “misteriosas” demais ou não entregam uma explicação numa bandeja de prata para você engolir. São exatamente as canções mais claras e “óbvias” que agradam menos.

Ainda assim, esse projeto de Kamasi Washington é incrível de se escutar. Ouvidos mais despreparados estranharão, mas dê uma segunda chance ao álbum, até uma terceira ou quarta e logo você perceberá que esse é um álbum muito mais fácil de se visualizar do que de ouvir. Uma experiência musical épica.

4 pontos e meio