domingo, 28 de junho de 2015

Dica musical: "Goon" de Tobias Jesso Jr. (2015)

packshot2Ouvi o álbum de estreia de Tobias Jesso Jr. logo quando saiu, mas não gostei muito das canções, embora tivesse achado uma das demos que ele lançou no youtube muito boa e por isso adeixei no meu celular. No entanto, quando fui escutá-la, não a achei tão legal assim e acabei deletando-a. Meses depois, a Pitchfork lança um excelente documentário acompanhando a sua apresentação no Conan e eu ouvi aquela música que tanto gostei de novo, descobrindo que ela fazia, na verdade, parte do seu álbum de estreia. Ouvi novamente o álbum, com mais atenção e descobri que a música era "Leaving L.A." e até agora estou viciado nela.

"Goon" é um álbum extremamente pessoal, nos moldes de Natalie Prass, mas com um pouco mais de "consistência",eu diria, já que é também um álbum que nos apresenta uma narrativa, que guia nossos ouvidos e atenção, além da sua sonoridade ser melhor trabalhada também.

Tobias Jesso Jr. é um músico que se mudou para a Califórnia no início de seus 20 anos, com o sonho de ser uma grande figura na cena musical de lá. Acabou que ele ficou trabalhando por anos e anos fazendo jingles para propagandas e esse tipo de coisa. Há alguns anos (2 talvez, não sei), ele voltou para sua terra natal, o Canadá, por que sua mãe estava com câncer (ela morreu) e também por que ele havia terminado com sua namorada (uma das cantoras do grupo Haim). Lá, ele começou a tocar teclado, pela primeira vez, após um sonho apocalíptico e sentiu-se tão inspirado que criou algumas músicas, postou-as no YouTube, seus amigos o incentivaram a continuar tocando e ele decidiu gravar um álbum, que gerou "Goon".

Toda essa história está disposta no álbum, de forma não linear, algumas contando os fatos da forma como eles, supostamente, aconteceram e outras tomando liberdade para soar apenas como uma adaptação dos acontecimentos que se sucederam no período em que ele se desencantou com Hollywood e o período em que ele começou a elaborar suas primeiras canções nos teclados.

É um álbum muito bom e não se deixe enganar pela inexperiência de Tobias junto aos teclados. Ele pode nunca ter tocado em um até dois anos atrás, mas ele tem um talento natural para a coisa. Além de, como eu já disse, é um álbum muito bem trabalhado, com vocais de apoio e acompanhamento de percussão, instrumentos de corda (uma das canções é inteiramente tocada num violão) e instrumentos de sopro, o que disfarça a falta de experiência de Tobias, muito bem, por sinal.

Mas também é um álbum que requer um certo estado de espírito para ouvir, pois assim como Natalie Prass, Tobias não é um músico de seu tempo. Ambos soam como artistas que décadas passadas, ela como um cantora de singles e trilhas sonoras de filmes dos anos 20 ou 30 e ele como um pianista de alguma banda avant-garde dos anos 60 ou 70. Recomendo ouvir primeiro Natalie Prass, que faz uma música um pouco mais fácil e íntima de nós, público comum, e quando você já estiver perdidamente apaixonado pela voz dela, ouça "Goon" e encontre um caminho para seus sentimentos.

4 pontos e meio

Falaremos de Father John Misty depois.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Dica musical: "The Beyond/Where the Giants Roam" por Thundercat (2012)

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Mais u álbum de jazz "cabeçudo" no blog.

Thundercat é a alcunha de Stephen Brunner, um baixista tido como extremamente talentoso e que foi uma das colaborações principais no álbum "The Epic" de Kamasi Washington. Este mês, ele lançou esse mini álbum, que contém seis músicas, o que o faz ser muito grande para os padrões de EP's, porém muito pequeno para os padrões de um álbum.

Eu escrevi que este é um álbum de jazz cabeçudo, por que Thundercat pertence à mesma turma de Kamasi Washington, Flying Lotus e lançou este mini álbum pela gravadora Brainfeeder de Flying Lotus. Pertencendo a essa turma, seria óbvio esperar um álbum com várias mudanças de ritmo ao longo das canções, cheias de camadas e com letras tão ambíguas e cheias de referências, que fazem você pensar como é burro, por um momento e não além de um momento, já que esse flerte com referências pop obscuras, como o mangá "Lobo Solitário" ou um certo desenho sci-fi/antropomórfico famoso da década de 80 podem ser bem chatas e entediantes em alguns momentos, apesar de mostrar que o artista tem personalidade.

No entanto, a obscuridade, sempre constante, a atitude blassé exposta nas canções não deixa de dar uma cara pretensiosa demais ao álbum, que também não deixa de ser um bom álbum, afinal, eu já disse que o cara é tido como um excelente baixista?

Aliás, se há algo de excelente aqui e que, sinceramente, salva todas (sem exceção) as músicas do álbum, é o baixo de Thundercat, que é sempre marcante, ditando o ritmo e as diferentes nuances do álbum, mas que merecia um destaque maior do que recebe, cedendo espaço para os arranjos (muitas vezes, atrapalhando a música) e os vocais (que não são tão bons quanto o baixo).

Ainda assim, vale a pena ouvir o mini álbum, que mostra muito talento do baixista, mas eu sei lá se ele pode apresentar algo muito melhor do que isso.

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terça-feira, 23 de junho de 2015

Dica musical: "Natalie Prass" (2015) de Natalie Prass

Natalie-Prass-SB006-Cover-Art-Lo-Res-560x560Imagine a trilha sonora de um filme da Disney com princesas, animais falantes e temáticas infantis. Agora acrescente uma pitada de maturidade, tire um pouco da mesmice e você terá esse ótimo álbum de estreia da ótima cantora norte americana Natalie Prass.

É impossível escutar esse álbum sem lembrar de Sharon van Etten, ao menos para os que conhecem e gostam de Sharon, no entanto ao mergulhar profundamente nas letras e no significado de cada um, percebe-se que há uma grande diferença entre as duas. Natalie Prass, apesar de escrever sobre relacionamentos falidos, erros e tristezas, encara tudo isso de uma forma menos realista (afinal, a visão de Sharon não é propriamente pessimista, apenas mais melancólica) e com um certo idealismo, que não é sem fundamento.

No entanto, não são nas letras que encontramos o ponto forte do álbum, mas nos arranjos das canções, pois até as músicas mais chatas do álbum são gostosas de se escutar e o álbum todo soa mais como uma trilha sonora do que como um projeto musical de um artista ou um álbum vazio, criado por puro entretenimento.

De fato, é possível encarar esse álbum como a trilha sonora dos últimos anos de Natalie, que terminou a faculdade em Boston, morou em Nashville e trabalhou como tecladista para outros artistas até poder lançar esse álbum. Uma experiência de muita paciência para ela e que é demonstrada na forma madura como sua música é construída, sem pressa, sem anseios para chegar ao final ou mesmo para lançar a sua mensagem (é como se ela simplesmente estivesse lançando alguns pontos e fica a cargo do ouvinte pegar ou não).

Enfim, "Natalie Prass" é um ótimo CD de estreia, algo que me surpreendeu de verdade e que me pegou desprevenido, na verdade, pois logo fez eu me apaixonar pela voz maravilhosa dela.

4 pontos

sábado, 20 de junho de 2015

Dica cinematográfica: "The Monkey King: Uproar in Heaven" (1965)

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Esse filme apenas prova que a animação oriental, desde sempre, deu um banho na animação ocidental. Enquanto Walt Disney desenhava princesas vivendo com anões, numa animação, até que fluida e bem desenhada, mas cheia de lições de moral cretinas, voltadas ao público infantil, servindo apenas para criar aquela máxima imbecil de que filmes de animação são para crianças, apenas, animadores chineses criavam um filme com uma animação extremamente fluida, cheia de cores vibrantes, cenários cheios de detalhes e uma história que coloca em cheque a noção de bem e mal.


O filme trata-se de uma animação de uma das lendas chinesas mais antigas, traçando as origens do rei macaco, Sun Wu Kong e os problemas que ele causa na corte celestial do Imperador de Jade. Depois de causar problemas suficientes no império celestial, o rei macaco se autoproclama "Grande Sábio", o que causa a fúria das divindades celestiais e é o estopim para batalhas épicas entre o imortal rei macaco e todas as divindades do grande panteão de deuses chineses.


O rei macaco, um imortal que se importa apenas consigo mesmo e com o bem dos habitantes da montanha onde vive, provoca a ira das divindades celestiais, principalmente por não aceitar o status quo mantido no reino celestial do Imperador de Jade, o que é considerado um absurdo, no entanto, vemos que não é. Afinal ele quer o bem dos macacos que vivem com ele, mas não alcançaram a imortalidade, e por esse motivo são considerados inferiores pelas divindades, mas não para o rei macaco.


Não é mostrado no filme como o rei macaco conseguiu sua imortalidade, mas fica implícito, ao longo do filme, que ele alcançou a imortalidade ao colocar a necessidade de seu povo sobre as suas e logo passa a ser uma divindade tão imponente quanto o Imperador de Jade.


É um filme que coloca em cheque as questões entre o bem e o mau, o que é bom e ruim, enfim... diria que o único defeito deste filme é o fato de rei macaco ser bem babaca, apesar de suas boas intenções, mas isso faz parte da construção de personagens mais reais.


Como eu já disse, é um filme com uma animação soberba, mas não chega a ser perfeita. Em diversos momentos, o cenário se torna estático, até as cores ficam um pouco menos vibrantes que as cores dos personagens, mas isso é um defeito da época.


Enfim, "The Monkey King: Uproar in Heaven" é um dos melhores filmes de animação do século passado, sendo uma lástima que ele não é tão conhecido quanto outros filmes *ridículos* do ocidente.


4 pontos

terça-feira, 16 de junho de 2015

Dica cinematográfica: "Kumiko - A caçadora de tesouros" (2014)

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Tido como o melhor filme indie do século por algum crítico aí, "Kumiko - A caçadora de tesouros" é um filme baseado numa lenda urbana que surgiu nos EUA e impressiona muito.

Kumiko é uma office lady em Tóquio, que, após assistir o filme "Fargo" dos irmãos Coen, decide ir para os EUA e procurar a maleta enterrada no meio da neve em algum ponto rural próximo a cidade de Fargo.

O filme não esconde a influência da cinematografia dos irmãos Coen, com personagens que vão surgindo e desaparecendo em torno da personagem principal, começando de forma bem lenta, ao explorar a tediosa vida que Kumiko leva no Japão, até finalizar de forma completamente surreal e surpreendente, ficando a cabo do espectador a interpretação do final para a história, possivelmente trágico.

A atriz que interpreta Kumiko lidera muito bem o filme todo, interpretando uma mulher deprimente, mas ao mesmo tempo sonhadora e completamente interessante.

Enfim, "Kumiko - A caçadora de tesouros" é um filme impressionante, com uma qualidade técnica fenomenal e com um final surpreendente, que deve ser assistido. Não sei se é o melhor filme indie do século, mas com certeza é um dos melhores filmes que assisti.

4 pontos e meio

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Dica literária: "Rocksling" (2015)

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"Rocksling" é uma fanzine criada por Guilherme .MATCH, vendida através de encomenda por e-mail e é muito boa.

Conta, em poucas páginas, a história de Aivy, num futuro pós-apocalíptico, onde todos devem aprender a lutar por sobrevivência desde muito cedo. Aivy já é diferente, além dele lutar pela sua sobrevivência, ele adora ler livros, emprestados a ele por Eruk, um senhor de idade, que mora numa casa cheia de livros.

Acompanho os trabalhos de .MATCH há um bom tempo já, mas nunca li nada que ele escreveu, provavelmente, por que faz um bom tempo que ele não escreve alguma coisa, mas logo que vi em seu instagram que ele estava vendendo essa fanzine me interessei e pedi uma, sabendo que, se a história não fosse boa, os desenhos iriam valer a pena.

O que eu encontrei foi uma história tão boa, que até ofusca os desenhos. Apesar das poucas páginas, os diálogos breves, a história de "Rocksling" é carregada de uma profundidade misteriosa e madura, que deixam o leitor com uma pulga atrás da orelha ao final da fanzine. Não fica claro exatamente o significado das últimas passagens, mas o leitor pode interpretar como quiser e tirar suas próprias conclusões.

Quanto aos desenhos, eu disse que eles ficam ofuscados, mas também estão muito bons. É uma história toda em preto e branco, com vários tons de cinza e desenhados num estilo meio rabiscado, o que em certos momentos deixa o desenho um pouco feio, principalmente no fundo das cenas. Também senti falta de linhas de movimento nas cenas de ação, mas isso é por que eu sou um cara criado no mundo dos mangás.

Ao fazer o pedido, ganhei um sketch bonitão de Zhaev, um dos personagens da história, além de um desenho lindão dentro do fanzine com a dedicatória. O envelope também tem Rocksling escrito a mão, então você é forçado a guardar tudo, por que cada detalhe contém um pouco de personalidade do autor, carregando a produção de significado. Tudo isso pela bagatela de 20 reais. Eu pagaria bem mais, sinceramente.

Enfim, comprem "Rocksling", vale muito a pena.

4 pontos

domingo, 14 de junho de 2015

Dica musical: "I Don't Want to Let You Down" da Sharon Van Etten (2015)

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Depois do CD marrommenos-marrommenos do ano passado, a, sempre irresistível, Sharon Van Etten lança um EP, que funciona mais como um complemento do último CD, fechando a fase de ressentimento e desilusão amorosa iniciado em "Are We There".

O EP conta com 5 faixas, totalizando quase vinte minutos de duração, mas, como era de se esperar dela, é carregado de uma emoção que o coloca a par com álbuns recheados de canções e com quase uma hora de duração. De fato, este EP é melhor que se último álbum, apesar de contar com a mesma instrumentação pedante, que parece que ela não vai abandonar tão cedo, infelizmente.

Mas, se a instrumentação continua a mesma, os temas, ou melhor, a maneira com que os temas são abordados, mudam de figura, uma mudança para melhor. Neste EP, Sharon assume uma imagem mais decidida. Se em "Are We There", o eu-lírico  está entrando e enfrentando uma desilusão amorosa extremamente forte, causada pelo término de um relacionamento, aqui o eu-lírico está conformado com isso e entendeu que ele já fez o que poderia fazer e para expressar essa ideia da forma mais clara que encontrou, Sharon recorre mais uma vez à metáforas que apenas engrandecem a composição de suas letras.

"I Don't Want to Let You Down" pode não acrescentar muito se você gostou do último álbum da cantora, mas é muito significativo para fãs mais antigos, que encontram aqui a variedade que faltou em "Are We There", mas que com ela, o álbum perderia um pouco o seu conceito.

4 pontos

sábado, 13 de junho de 2015

Dica gamística: "Agar.io" (2015?)

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Vou aproveitar que esse jogo está se tornando mais conhecido, mas ainda tem um status indie legal em torno dele para fazer essa postagem.

"Agar.io" é um jogo online, disponível diretamente no seu navegador, através do site agar.io, cujo objetivo é, sendo você uma célula, comer outras célula e se tornar a maior célula do jogo.

Conheci este jogo através do canal do *genial* Mau Jogador e logo o agar.io se tornou o meu jogo favorito das horas procrastinadoras no trabalho. É simplesmente fenomenal! Com uma premissa tão simples quanto os seus gráficos, o jogo te cativa de uma forma que poucos jogos conseguem. Sua célula é controlada simplesmente pela direção do cursor do mouse, o que o torna extremamente intuitivo e até aqueles que mais apanham do computador entendem o controle do jogo em poucos segundos.

Para se tornar uma célula grande, você deve comer outras células, mas o jogo é cheio de "massas", pedaços de células pequenos que servem para que você possa crescer sem ter que correr atrás das células de outras pessoas. Massas que são restauradas a todo momento, em diversos cantos do mapa. Há também um placar com as 10 maiores células no momento no canto superior direito da tela para inflar o ego dos saudosos jogadores de agar.io.

No entanto, o maior diferencial de agar.io está em sua comunidade. Por se tratar de um jogo pequeno, pouco conhecido, mas em constante crescimento, ainda não há regras contra certos comportamentos, então você pode encontrar desde uma célular com o nome "Saudo-teJesus" até "Satãémaior" e tudo o que você puder imaginar no meio, o que inclui "tomeinopopoti", "chuchudaserra", "meupauqtlevanta", "aiqdelicia", "nadaaverirmão", etc... É uma zuera sem limites que faz do jogo uma utopia anarquista. Uma pena saber que tanta liberdade que gera incontáveis risadas um dia irá acabar, já que logo, logo, o desenvolvedor irá criar políticas contra certos nomes, alguns bem justos, mas até que é legal correr atrás das célular nazistas e engoli-las com uma separação sagaz.

Enfim, "Agar.io" é uma das melhores coisas dessa internet, que já pode ser fechada este ano, após este jogo e o excelente clipe "ao vivo" de "'Cause I'm a man" do Tame Impala.

5 pontos

segunda-feira, 8 de junho de 2015

E as séries do CW, como foram?

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Neste post preguiçoso apenas apresentarei reações com relação às séries longas que acompanhei; "Flash" e "Supernatural".

Que merda de último episódio foi esse de "Flash"? O drama foi tão forçado que eu tive que parar de assistir o último episódio três vezes para não vomitar de tão ruim que foi.

Fazer um último episódio bom é ótimo, mas saber que a próxima temporada será cheia de episódios fillers e um draminha cujas flores já deram flores que já apodreceram faz com que eu abandone, de vez (finalmente!), a série mais prostituida da última década. Adeus Supernatural.

Nunca vi Arrow, mas ouvi falar que é um lixo.

domingo, 7 de junho de 2015

Dica literária: "Penadinho - Vida" (2015)

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Finalmente mais uma Graphic MSP sai, a primeira do ano e, mais uma vez, não decepciona, como certas Graphic MSP's que saíram aí.

A história dessa vez se passa no núcleo sobrenatural da Maurício de Sousa Produções, em que a Alminha vai reencarnar e Penadinho fica incumbido de contar a notícia para ela, mas Alminha é sequestrada e Penadinho deve resgatá-la, enquanto arranja coragem de dizer que ela é o amor de sua morte.

Mais uma vez é uma história simples, direto ao ponto, mas ao contrário de seus antecessores é a Graphic MSP mais infantil de todas, não que outras não fossem para crianças (elas são!), mas essa é a primeira voltada diretamente ao público infantil, apesar de tratar de temas sobrenaturais complexos, como reencarnação, por exemplo. Temas que não são tratados com profundidade e que por isso podem deixar o leitor com um pé atrás.

Mas, se o roteiro e a narrativa decepcionam um pouco, a arte é simplesmente fenomenal, perdendo apenas para a brilhante arte de Shiko em "Piteco-Ingá" no meu quesito de preferência e isso por que, em algumas partes, a arte se torna tão escura que é difícil identificar os elementos das páginas.

Ainda assim vale a pena a compra, muito mais que Astronauta - Singularidade e a Graphic MSP do Chico Bento, por exemplo.

3 pontos e meio

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Dica musical: "Imbue" do The Early November (2015)

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The Early November é uma banda de Nova Jersey, EUA, formada no ano de 1999. Após algumas demos, lançaram em 2003 seu primeiro álbum, que fez um relativo sucesso na cena emo/hardcore/rock alternativo/pop punk a qual a banda pertence. Em 2006 lançaram um ambicioso álbum de três CD's e logo após isso veio o hiato de 6 anos da banda. Em 2012, eles voltaram com "In Currents", um excelente álbum para uma banda que não tocava junta há uma meia dúzia de anos, mas diante desse novo álbum, "In Currents" cai de joelhos, não passando de um bom disco.

"Imbue" é um álbum cheio de camadas, eu diria, cada uma mais "negra" que a outra, sendo melódico, romântico, agressivo e niilista, ao mesmo tempo, mas não de imediato. Cada camada tem seu momento ou canção e essa é uma ótima qualidade da banda, que sabe dar espaço para as diversas camadas de suas canções. A maioria delas começa de forma melódica, criando o ritmo aos poucos, até explodir em agressividade, com guitarras distorcidas, uma potente e marcante bateria e gritos do vocalista, muito mais sólidos do que no disco antecessor.

Essa constante quebra de ritmo é algo marcante do gênero pop punk e algo que foi sendo perdido ao longo dos anos. Acho que desde "Nothing Personal" (do All Time Low) eu não vejo um álbum tão bom vindo do gênero, aliás, "Nothing Personal" não chega aos pés de "Imbue". A criação crescente de um ritmo que vai se tornando cada vez mais agressivo, até explodir em agressividade é algo que "In Currents" não tinha, nem o ritmo pop e pegajoso, nem a agressividade furiosa deste álbum. Em alguns momentos, o vocalista parece estar não só gritando, como exorcizando demônios interiores numa explosão catártica de fúria.

Há algo de niilista nas letras das músicas, tratando desde de pressões externas, problemas com depressão e relacionamentos complicados, mas com uma maturidade atípica para o gênero. Em "Narrow Mouth", o "eu-lírico" procura uma forma de lidar com as pressões que vive constantemente, enquanto que em "Cyanide", ele mostra um ponto de vista esclarecido em relação ao seu modo melancólico de ver o mundo, dizendo que não é depressão, é só um modo diferente de ver as coisas. Uma espécie de filosofia realista-melancólica parece guiar as letras, algo que eu consigo me identificar muito fácil, pra dizer a verdade.

Desta forma, "Imbue" chega como uma das melhores coisas que já aconteceram na cena pop punk/emo/hardcore (e que ano para essa cena!), sendo uma pena que a banda seja tão "hipster", ficando meio escondida, atrás de nomes que ocupam um espaço muito maior do que merecem nos sites de notícias musicais e streamings de músicas por aí. De qualquer forma, "Imbue" é um excelente álbum para a banda The Early November e um dos melhores CD's que eu tive o prazer de escutar esse ano.

5 pontos

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Dica musical: "English Graffiti" do The Vaccines (2015)

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The Vaccines é uma banda de indie rock, com uma pegada noise e outra pegada pop, que chamou bastante a minha atenção em 2012 com o EP "Mellody Calling EP".

Este ano, o The Vaccines lançaram este álbum; "English Graffiti", criando uma mistura entre os dois primeiros álbums e o "Mellody Calling EP", fazendo deste o melhor álbum que eles já lançaram até agora.

É um álbum com aquele barulho característico dos dois primeiros albuns, mas sem a rebeldia, o caos e a bagunça juvenil deles, apesar dela ainda estar presente, no entanto, contida, ao lado da melodia, que ganhou mais atenção da banda.

Melodias que parecem perdidas no tempo, indo para o passado, depois para o futuro e para o passado de novo, abusando de influências óbvias como Arctic Monkeys e The Strokes, além de trilhas sonoras de filmes de ficção científica dos anos 80, isso fica evidente com os videoclipes, os melhores da banda até então.

No entanto, ainda é o mesmo The Vaccines, as letras não falam muita coisa, além de brigas com garotas, fim de namoros e revoltas inconstantes. Algumas canções continuam sendo bem bagunçadas e irritam um pouco pelo excesso de barulho criado de forma forçosa e não por que foi gravado numa garagem, cercado de caixas.

Enfim, "English Graffiti" não corresponde ao hype que se criou em torno do álbum, mas não é uma perda de tempo, muito pelo contrário, é ótimo, é o melhor álbum da banda, mas nem a pau The Vaccines é uma das melhores bandas da história mundial do rock.

3 pontos e meio

terça-feira, 2 de junho de 2015

Dica cinematográfica: "Bob Esponja - Um herói fora d'água" (2015)

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Existem diversos fatores que definem um bom filme, sua qualidade técnica, os elementos que o acompanham, sua direção, a mensagem que ele quer passar e uma dos principais fatores determinantes, e mais identificável, é a sua narrativa. Se ela é direto ao ponto ou dá voltas e mais voltas em torno de um ponto qualquer. Este filme é direto ao ponto e é um excelente exemplo de um bom filme.


A história começa com um pirata, indo até aquela ilha do início dos episódios do Bob Esponja, atrás de um livro misterioso, que conta a história de como a fenda do biquíni foi destruída, após o Plankton tentar roubar a receita do hambúrguer de siri e não sobrar mais hambúrguer nenhum na fenda do biquíni. Com essa premissa de contar uma história, dentro de outra história, somos apresentados a mais uma aventura de Bob e seus amigos, que, dessa vez, quebram a quarta barreira de forma concreta.


O filme é recheado de piadas, do começo ao fim, piadas boas, piadas ruins, piadas nonsense, piadas inteligentes, tem de tudo aqui, indo do fenomenal ao ridículo em apenas alguns segundos (Como exemplo, podemos citar a cena em que Plankton entra no cérebro do Bob Esponja, que é ridícula e até perturbadora, mas termina de forma genial). Tudo isso sem se render a piadas internas ou brincadeiras nostálgicas, caminho fácil que qualquer filme de desenho com mais de uma década de história percorreria.


Mas o ponto principal e que chama mais atenção é a sua qualidade. É notável que os produtores realmente se esforçaram para trazer algo excepcional aos cinemas, até mesmo as animações em 2D foram atualizadas, mas sem deixar de lado a texturização típica das animações da série de TV. E por falar em textura, não posso me esquecer da animação 3D do filme, quando Bob e seus amigos saem do oceano. A modelagem dos personagens não poderia ser melhor, está simplesmente de cair o queixo pra não dizer de cair o cú da bunda de tão boa que está. Os personagens foram feitos de forma a lembrar brinquedos mesmo, mas os animadores tiveram o cuidado até de criar uma textura diferente para cada personagem, é incrível ver os pelos no corpo da Sandy, os furinhos na pele do Bob Esponja, a pele mais grossa do Patrick e a textura escamosa da pele do Lula Molusco, até mesmo a camiseta do Sr. Sirigueijo contém uma textura diferenciada, a fim de dar um ar único ao personagem. Sem contar que a transposição de animação com live action ficou, simplesmente, perfeita, pé melhor do que qualquer outro filme que você já assistiu.


A trilha sonora é um ponto a parte, recheada de canções feitas especialmente para o filme, é uam das melhores trilhas sonoras de filmes de animação ocidentais que eu já vi, se não a melhor!


O filme contém uma narrativa rápida, que vai direto ao ponto, sem enrolação, muitas piadas, uma animação excepcional e somando tudo concluímos que este é o melhor filme de animação do ano e um dos melhores filmes de animação da década, se não da história. A nota não poderia ser outra.


5 pontos

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Dica musical: "This World Is Not Enough" de Marching Church (2015)

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Marching Church é uma banda formada por Elias Bender Rønnenfelt (sim, eu copiei e colei o sobrenome dele do wikipédia), inicialmente como seu projeto solo separado da excelente banda Iceage, junto com amigos de sua terra natal, a Dinamarca, também membros de outras bandas.


Há algo de muito curioso em Elias, que é a sua habilidade (ou deveria dizer teimosia?) em misturar gêneros, notável com maior intensidade no terceiro álbum de Iceage. Aqui não é diferente.


"This World Is Not Enough" é mais um álbum conceitual, do que qualquer outra coisa, não por que ele nos apresenta uma narrativa concisa e surpreendente, mas por que nos apresenta um novo olhar no mundo musical do post-punk/hardcore, adicionando uma pegada apocalíptica ao estilo.


As canções aqui não são curtas e velozes como as outras canções do gênero. São músicas com mais de 5 minutos, lentas, porém explosivas, tratando de temas comuns ao gênero, como morte, desespero, fim do mundo, enfim... É um álbum sombrio.


Isso diminui de certa forma o divertimento que o ouvinte pode ter com esse projeto, mas após o "não-tão-bom-assim" Plowing Into The Field of Love é importante ver que Elias ainda sabe como produzir o bom e velho rock hardcore, sendo um alívio para fãs que esperavam algo mais do terceiro CD de Iceage.


3 pontos