sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Dica literária: "O leilão do lote 49" de Thomas Pynchon

Thomas Pynchon, O Leilão do Lote 49

Após ler meu primeiro livro de David Foster Wallace, comecei a procurar outros autores que compartilham do mesmo círculo literário (o de cabeçudos, que escrevem detalhes a rodo, incluindo um monte de informações, que podem ser ou não relevantes ao texto, mas que acabam atraindo o seu olhar) e descobri o nome de Thomas Pynchon, que logo me interessou. Como não queria logo me aventurar por um calhamaço de mais de 1000 páginas, fui atrás de um de seus livros mais famosos (e recomendados para iniciantes); "O leilão do lote 49", que acabei encontrando numa edição porca de Portugal em estado novo na Estante Virtual.

O livro conta a história de Oedipa Mass, uma dona de casa do sul da Califórnia, acho que por volta dos seus 28 anos, se entendi bem, pelo que li, que vira testamenteira de um antigo amante, Pierce Inverarity, mas acaba se descobrindo no meio de uma conspiração internacional de agências de correio rivais, que se alastra desde a idade média até os dias atuais, no caso do livro, os anos 60.

Este é o segundo livro que Thomas Pynchon lançou, tratando-se, na verdade, de uma novela (longa demais para ser um conto, curta demais para ser um livro), dividida em 6 longos capítulos. A narrativa é guiada de forma magistral, mas não é fácil, pois empreende-se muito do leitor (eu tive que reler os primeiros 2 capítulos, umas 3 vezes e agora me pergunto em que ponto Oedipa começou a notar a conspiração das agências de correio), pois o tempo salta no futuro e volta ao passado recente várias vezes ao longo da narrativa, conforme mais detalhes são incluídos na história, construindo a história minuciosamente, conforme as páginas vão fluindo.

Isso, num primeiro momento, por que logo somos apresentados a histórias paralelas, de personagens que vão entrando na história e de personagens que apresentam outros personagens, com histórias completas e complexas, como se existissem diversos contos dentro dessa história e isso também é feito de forma magistral, ocorrendo naturalmente conforme a história avança e não de forma didática e chata, como lemos por aí.

E, por fim, há aquilo que consagrou o modernismo, nós, leitores, entramos na mente da personagem principal, seguindo narrativas diferentes, conforme somos expostos à sua história e suas dúvidas.

No final, nós, leitores, também nos vemos confusos e com muitas perguntas, ao lermos o final, completamente ambíguo e fica em nossas mãos, concluir se tudo aquilo é verdade ou não.

Mas não é esse o ponto nesse livro, o final, pouco importa. O importante mesmo é o texto (ou pelo menos é dessa forma que eu vejo), a beleza aflorando através das palavras, organizadas em linhas retas, formando frases, poesias, músicas e tramas gigantes e complexas, que atravessam o tempo e o espaço. No final, o valor estético do texto sobrepõem-se ao valor literário ou narrativo (eu, sinceramente, não sei como me expressar). A forma como a narrativa é guiada é mais importante do que a narrativa em si.

Isso é subjetivo pra caramba, mas a beleza não é, por si só, subjetiva pra caramba também?

4 pontos e meio