quinta-feira, 2 de março de 2017

Dica Cinematográfica: "Hacksaw Ridge" (2016)

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Rapaz, ainda bem que eu não sou crítico de cinema membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles, porque não gostaria de escolher entre “La La Land” e essa obra magnífica da qual falarei hoje.

“Hacksaw Ridge” conta a história verídica de Desmond Doss, membro da 77 ª Divisão de Infantaria e também o primeiro objetor de consciência a receber a Medalha de Honra na II Guerra Mundial, quando salvou, sozinho e desarmado, 75 homens na Batalha de Okinawa. Aliás, o filme começa já pelo final, com os parceiros de Doss retirando-o numa maca do campo de batalha e então, através de um extenso flashback, somos apresentados aos eventos mais importantes de sua infância e juventude, que o fizeram se tornar ainda mais devoto a Deus e, em especial, ao sexto mandamento; “Não matarás”. Desmond sempre esteve encantado pela profissão médica, tanto que acaba se apaixonando por um enfermeira, Dorothy Schutte. Após o alistamento de seu irmão mais velho, Doss, mesmo contrariando a vontade de sua família e de sua namorada, alista-se também, almejando tornar-se um socorrista. O único problema é que, mesmo os socorristas, são soldados e ele sofre muito quando começa o treinamento, pois recusa-se a pegar numa arma. No entanto, sua força de vontade, seus contatos e seu bom desempenho físico lhe garantem um lugar na guerra, onde Doss acaba fazendo história.

Desde os primeiros momentos, sabemos que esse será um filme de drama épico do tipo que lhe fará chorar e “Hacksaw Ridge” não deixa nada a dever aos maiores clássicos de guerra que existem. De “Sem novidade no front” a “Cartas de Iwo Jima”, passando por “O resgate do soldado Ryan”, “Nascido para matar”, “Vá e veja” e “Paisá”, esse filme não deve nada a eles. Há um subtexto poderoso, cenas brutais, uma dramaticidade enorme em cada cena (até mesmo a câmera lenta foi bem utilizada nesse filme) e, claro, aquele final com fundo preto, filmagens antigas e um textinho resumindo a vida de Desmond Doss até o final de seus dias.

A direção nesse filme foi muito bem feita e o crédito tem que ir pro Mel Gibson (inclusive, quando o filme acabou, eu fiquei indignado por ter que admitir que o Mel Gibson me fez chorar assistindo um filme!) e sua equipe de produção. Todos os elementos estão em perfeita harmonia nesse filme, os efeitos sonoros, a trilha sonora, a posição das câmeras, sua movimentação, é um filme com uma direção não apenas competente, mas surpreendente, pois algumas cenas (como a que Desmond contesta junto de sua mulher sua posição perante seus colegas de treinamento, enquanto preso ou ainda a cena em que ele contesta seu lugar na guerra e a fantástica cena final em que ele é descido da serra de Hacksaw numa maca) são tão carregadas de simbolismo, que você tem vontade de parar o filme nesses momentos só para poder analisar com calma e friamente o que aquelas imagens significam.

Vou te falar, é um filme poderoso.

Além disso, ainda temos atuações surpreendentes de atores como Andrew Garfield, que mais uma vez consegue carregar naquelas costas magrelas dele todo o peso de um papel dramático como esse (ele já o fez isso em “Silêncio”) e também de Teresa Palmer, Hugo Weaving e Vince Vaughn (a maior surpresa).

O filme não é perfeito, apresentando algumas coisas que incomodam, mas passam batido, visto sua magnitude, como as transições entre os períodos da vida de Doss e a precisão histórica (ou falta dela) em alguns momentos, como no retrato do pai de Desmond, as circunstâncias de seu casamento e a própria batalha de Okinawa, que não foi a primeira em que Desmond participou e nem durou apenas alguns dias, mas semanas. Tudo isso cai na caixa de licença poética, porque se não o filme seria enfadonho demais e seria melhor gravar uma série, o que também não é má ideia.

Enfim, “Hacksaw Ridge” é um primor de um filme, ouso dizer uma obra prima, entra fácil na lista de maiores clássicos de guerra da história, tem um subtexto incrível e, apesar dos seus defeitos (e são poucos, é coisa boba!), deveria ter sido escolha difícil para os engomadinhos da Academia que ficaram entre “La La Land” e aquele lixo do “moonlight”, mas fazer o que, né? O que importa é que daqui uns 50 anos, as pessoas irão olhar pra trás e ver “Hacksaw Ridge” e irão chorar, porque o filme é excelente, de verdade.

4 pontos e meio