quinta-feira, 27 de julho de 2017

Dica gamística: "Pokémon Sun" (2016)

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Descobri um meio de desbloquear o meu 3DS e finalmente consegui ter acesso a caralhada de jogos que eu queria jogar e um deles, obviamente, é o novo jogo Pokémon; Pokémon Sun! Não é o melhor jogo Pokémon que já joguei, mas é uma adição muita boa para a franquia.

O jogo já começa com uma premissa diferente, aqui você não é um treinador Pokémon buscando ser o melhor do continente, mas apenas um garoto que se mudou de Kanto (se não me engano) para um país inspirado no Havaí, um conjunto de ilhas, que ainda não tem um sistema competitivo para treinadores Pokémon definido. Você, como um treinador Pokémon muito competitivo resolve desafiar os treinadores mais fortes de cada uma das ilhas na busca por se tornar o primeiro campeão de Alola e assim definir, de vez, o sistema de campeonato que essa região irá seguir dali em diante.

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Além disso você terá que enfrentar uma equipe de vilões, o ridículo e inútil Time Caveira, uma organização que planeja preservar os Pokémon chamada Aether e descobrir os mistérios dos Pokémon lendários de cada ilha, além das Ultra Bestas, espécies de Pokémon de outra dimensão.

É um enredo diferente e muito mais elaborado do que qualquer outro jogo Pokémon, apesar de ser bem infantilizado e sem muita profundidade ou maturidade, mas isso é por causa da faixa etária que o jogo pretende atingir. É bom, porque muita gente pode acabar se divertindo com o jogo, pessoas que incluem crianças de 9 anos a marmanjos de 45. No entanto isso também tem o seu lado ruim, porque você acaba preso a uma história desestimulante por boa parte do começo do jogo. Pra você ter uma ideia, após duas horas de jogo é que você aprende a como capturar um Pokémon e isso é muito irritante, principalmente se você já jogou outros jogos da franquia.

Já passou da hora de Pokémon ter duas opções de jogo, uma para jogadores iniciantes e outra para jogadores experientes.

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Outro ponto negativo é a dificuldade do jogo, que nunca se encontrou num nível tão baixo. É simplesmente ridículo o nível dos Pokémon dos personagens que você enfrenta (e que nem são tantos assim e isso é outro problema, a ausência de NPC’s que lutam com você), o que resulta num ganha muito baixo de experiência para o seu time. É fácil virar campeão nesse jogo, mas é difícil chegar ao nível 100.

Voltando ao enredo, existem opções de fala agora, mas elas não parecem alterar significativamente o que acontece dentro do jogo, os novos iniciais não são legais (o de água, principalmente, parece ser o rascunho daquela ideia ridícula que você teve quando já não podia mais ter ideia alguma), alguns eventos mais para o final do jogo parecem ter sido feitos na cocha, como ganhar o Icium Z, você simplesmente o acha numa caverna e, do nada!, você aprende a dança para ativá-lo. Não convence.

Por falar em Icium Z, esse é o Z power do gelo. Z Power são outra adição aos jogos que deixam os seus Pokémon mais fortes, dessa vez não alterando a forma dele, como as Megaevoluções, mas alterando um ataque de um determinado tipo. No exemplo usado, o Icium Z, ele altera os golpes de gelo, o que faz com que mais de um Pokémon possa carregar diferentes cristais Z, seu Pokémon não precisa ser necessariamente um Pokémon de gelo para usar o Icium Z, basta ele ter aprendido um golpe de gelo. Essa é uma adição legal, assim como as megaevoluções foram, mas eu gostaria que a GameFreak se concentrasse em uma apenas. Acho que os poderes Z é o mais viável, mas é legal ver os Pokémon mudando de forma também.

Além dessa há outras mecâncias adicionadas no jogo, mas nenhuma tão legal. A Rotomdex, por exemplo, é legal até que você pensa profundamente no que ela significa, é literalmente um Pokémon preso dentro de um objeto e isso é meio perturbador. Outra mecânica que não é legal e, muito pelo contrário, é revoltante, é a exclusão das HM’s. Agora não existe mais Fly, Cut ou Surf, você ganha um item que invoca Pokémon para essa função. Achei isso ridículo, desnecessário e idiota. As HM’s eram coisas legais, objetos escondidos, difíceis de serem encontrados e aumentavam a dificuldade do jogo, pois eram golpes que não poderiam ser esquecidos e você tinha que pensar com cuidado em qual Pokémon iria aprender o golpe.

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E por falar em mecânica, é hora de falar da pior mecânica, não só da história de Pokémon, mas da história dos videogames: a ajuda aos pokémon selvagens. Nesse jogo, quando um pokémon se encontra numa situação difícil ele clama por ajuda e aparece um outro pokémon para ajudá-lo, podendo ser da mesma espécie ou não, alguns inclusive são exclusivos dessa mecânica, ou seja, só aparecem no jogo quando chamados por outro. Essa mecânica é um lixo, primeiro porque os pokémon podem usá-la indefinidamente, quantas vezes quiserem e sempre após o seu turno, ou seja, além deles te atacarem, eles ainda chamam por um ajudante. Segundo, você não pode lançar pokébolas enquanto o pokémon ajudante estiver em campo, você até pode capturar o ajudante, mas o pokémon tem que estar sozinho no campo. E terceiro, é simplesmente muito chato isso, tinha que ter limites pra essa mecânica ser usada, tira muito da graça do jogo e enche o saco. Enfim, espero que não utilizem isso nunca mais em nenhum jogo da franquia. Perdi a conta das vezes em que eu tive vontade de quebrar o 3DS porque o pokémon que eu queria capturar não parava de chamar ajuda.

Voltando aos pontos positivos do jogo, o enredo, apesar de iniciar de maneira irritantemente didática, melhora depois da 2ª ilha (e não, não é a metade do jogo, é mais um quarto do jogo), dando mais liberdade para o jogador, desenvolvendo os mistérios do jogo, até culminar num plto twist que é meio óbvio se você for muito observador, mas pode surpreender. O jogo acaba melhorando muito e te surpreende, pois o início detona as suas expectativas.

Outro ponto positivo é a arte do jogo, o character design, as animações e os cenários estão muito bonitos e ouso dizer que nunca estiveram tão bonitos. É impressionante como os jogos ainda conseguem melhorar, mesmo depois de X e Y, que eu achei que seria o ápice que Pokémon conseguiria chegar. O trabalho junto a trilha sonora também está muito interessante, com uma gama maior de instrumentos, efeitos sonoros e até falas de Pokémon.

Finalizando essa dica que já está longa demais, o jogo vale a pena ser jogado. Tem muitos defeitos, não é o melhor jogo Pokémon, mas é uma adição boa à franquia, com personagens carismáticos, uma atenção gigantesca ao enredo e uma beleza que continua a crescer. Apesar dos pesares, não me arrependo de ter jogado.

2 pontos e meio

terça-feira, 25 de julho de 2017

Dica Musical: "Dada" de B Boys (2017)

Sequer conhecia essa banda até que vi o videoclipe de “Energy” no canal do Captured Tracks (a gravadora dos caras) e gostei, aguardei pacientemente o álbum e tive uma enérgica surpresa com a sonoridade punk fantástica de B Boys em seu 3º álbum (se não me engano, contando um EP), “Dada”.

https://www.youtube.com/watch?v=Yzr7PtasKS8

O álbum é uma mostra muito boa de punk rock puro, elaborado por um trio que não foge dos três instrumentos básicos do gênero, guitarra, baixo e bateria. Esses três instrumentos ocupam um papel de igual importância, cada um deles tem seu momento e seu destaque em diferentes canções ao longo do álbum.

E a sonoridade não fica estagnada, ao contrário, é diversa, mesmo contando com um número tão restrito de instrumentos. Eles conseguem criar sons mais acelerados e agressivos e também sons mais melódicos e arrastados, sem perder o fôlego de punk rock forte e estrondoso. Eles criam uma atmosfera sônica que é misteriosa e, ao mesmo tempo, aconchegante, você se sente em casa ouvindo o álbum (se gosta de punk rock puro, claro).

Há um senso estético muito grande também nessa banda, algo notável já pelo press release, que conta com uma pseudo-entrevista com toques fantásticos, no entanto, as músicas também apresentam isso, com guitarras distorcidas, mas sem muita firula das bandas que tentam ser progressivas demais, um baixo num ritmo marcante e que guia as músicas com maestria, uma bateria cheia de energia e os vocais que me lembram os vocais de Justin Shane em alguns momentos (deixando claro as influências). O álbum como um todo funciona como uma obra de arte modernista e minimalista que se encaixaria em qualquer fanzine punk dos anos 80.

[bandcamp width=100% height=42 album=3392244892 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=4189843247]

Não vejo esse álbum como algo de novo, B Boys não cria nada aqui, estão apenas renovando o que já foi feito um milhão de vezes antes deles e se dão muito bem nessa missão. Não consigo enxergar também nenhum caminho claro de evolução sonora, então fica a dúvida do que vai acontecer com essa banda no futuro, mas acho que vale a pena ficar de olho neles...

Resumindo, “Dada” do B Boys é um álbum muito bom e é melhor aproveitar enquanto podemos.

4 pontos

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Dica musical: "Fifteen Years" do The Early November (2017)

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Vocês não tem noção da novela que foi escrever a dica para esse álbum. Escrevi a primeira vez umas duas semanas depois de ouvi-lo a primeira vez (assim que o álbum saiu, ou seja, em Janeiro desse ano), mas acabei perdendo esse post não me lembro exatamente como. Algumas semanas depois, com a animação restaurada, escrevi ele novamente, salvei na minha pasta de posts para postá-lo numa data futura, porém, o meu HD queimou e perdi esse post também. Finalmente estou reescrevendo essa dica, dessa vez já programando-a para ser lançada numa data futura (sim, essa dica foi escrita há algumas semanas já), porque esse álbum tem que ser indicado, não tem como.

[bandcamp width=100% height=42 album=3089324062 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=1947501494]

“Fifteen Years” é o 5º álbum de estúdio da banda e o seu primeiro álbum acústico, compilando todas as principais músicas que a banda lançou nesses 15 anos de estrada, contados a partir da formação principal lá em 2002 e que perdura até hoje.

Este é um álbum interessante, contém 15 músicas, muito bem escolhidas, representantes de todos os momentos da banda e não são apenas singles, mas também se encontram aqui canções que nunca fizeram tanto sucesso, talvez pelo fato de sua fanbase ter mudado bastante desde o seu retorno de hiato em 2012, talvez pelo fato da própria banda ter mudado e essas músicas representarem hoje mais do que representavam antes.

[bandcamp width=100% height=42 album=3089324062 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=4276857586]

Esse lançamento acaba tendo um forte apelo tanto para velhos fãs quanto novos. Os velhos irão se deleitar com os novos toques dados à antigas canções, adaptadas não só para uma versão acústica, como para uma nova fase em que a banda se encontra, Ace Enders nunca esteve tão bem, com uma voz mais madura e potente, sem os falsetes característicos de um adolescente e que dá novo fôlego para cada uma das antigas canções. Os novos, como eu, irão gostar de ouvir antigas canções e conhecer essa faceta pouco explorada atualmente da banda, como o CD triplo experimental e conceitual lançado em 2006, “The Mother, the Mechanic, and the Path”.

No lado instrumental há pouca diversidade, é apenas violão e a voz do vocalista, Ace Enders, com raras aparições de instrumentos de percussão e elétricos, apenas para dar aquele toque de sofisticação às melodias, expandindo a atmosfera que a canção quer passar, ficando difícil dizer se a versão acústica é melhor que a versão de estúdio.

[bandcamp width=100% height=42 album=3089324062 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=955412991]

Em suma, “Fifteen Years” te faz ter orgulho de ser fã de uma banda que soube crescer e se renovar, mantendo-se fiel ao seu projeto inicial.

4 pontos e meio

terça-feira, 18 de julho de 2017

Dica musical: "Smidley" de Smidley (2017)

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Mais uma dica bem simples e rápida de terça para não deixar passar esse lançamento musical tão legal. O verão americano de 2017 tá rendendo, hein?

Smidley é o projeto solo do vocalista da banda Foxing, uma dessas bandas de rock alternativo com pegada emo, toques de punk, unindo elementos eletrônicos e mais tradicionais em suas diversas canções. Não sei os motivos que o levaram a criar esse projeto, mas aqui ele mostra um som muito diferente do som explorado por sua banda principal e é muito bom, vindo numa onda que estou começando a identificar entre essas bandas... a de criar algo mais afirmativo, tanto musicalmente, quanto liricamente.

[bandcamp width=100% height=42 album=1729270307 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=111394194]

O primeiro single do álbum “No One Likes You” já demonstra isso, a letra obscura, esconde uma mensagem ambígua que é encoberta por uma gama de instrumentos tocando notas maiores que criam uma atmosfera divertida, pra cima e até eufórica. E a partir daí, o álbum continua criando uma atmosfera positiva para letras que podem ser negativas, mas tem um ponto ali esperançoso...

As letras chamam a atenção por serem um misto de introspecção com conceitual. Às vezes revelando um ponto de vista em terceira pessoa, mas que logo encaixam personagens e narrações em primeira pessoa, como se tivéssemos entrado em seus pensamentos e nos perdemos nos labirintos criados, enquanto tentamos encontrar uma saída, assim como eles também tentam encontrar uma saída para o que estão enfrentando. É um álbum que trata de, principalmente, uma sensação de estabilidade, encontrar aquele ponto em que você pode bater o pé e assumir uma posição de enfrentamento e prover segurança, ainda que pouca.

Mesmo com letras tão misteriosas, elas são simples, de certa forma e não revelam um gigantesco escritor, nem nada assim. O que não dizer que Conor Murphy seja um escritor ruim, ele é bom, só não é ótimo.

Porém, o que mais me chama a atenção são os instrumentais das canções mesmo, há a presença de guitarras levemente distorcidas que geram uma atmosfera leve, mas também são tocadas de maneira agressiva em algumas canções, além de instrumentos de sopro, como trompetes e de teclas, como piano, instrumentos já explorados em álbuns mais recentes do Foxing, mas que aqui ganham um destaque maior e acabam gerando uma dinâmica diferente.

[bandcamp width=100% height=42 album=1729270307 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=1522720545]

Há a presença de canções acústicas, mais lentas e cansativas, assim como canções com uma pegada mais rock, com guitarra, baixo e bateria, sem muita frescura. No todo, é um álbum bem diverso e por isso me chamou tanto a atenção.

Resumindo, é um álbum que vale a pena ouvir, não irá mudar a sua vida, mas é um projeto interessante e acho que merece a atenção.

3 pontos e meio

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Pensamentos acerca do Carnaval de Inverno

Dia 12 de julho de 2017.

Esse dia entrará para a história mundial ao lado de acontecimentos como a renúncia de Berlusconi, a prisão e impeachment de Park Geun-hye, o caso Watergate e outros tantos escândalos que apenas levaram o mundo a um lugar melhor, mais justo e belo.

https://www.youtube.com/watch?v=-Aba0lVdE2c

Ontem, dia 13, o dia até amanheceu mais lindo, o sol brilhava mais forte, os pássaros cantavam com mais alegria, as nuvens eram mais brancas e a vida era mais leve, pois no dia 12 de julho de 2017, o ex-presidente Luís Inácio “Lula” da Silva, um dos déspotas mais execráveis que esse país, o nosso amado Brasil, já viu foi, finalmente, condenado a 9 anos e meio de cadeia.

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Que alegria, meus senhores! Que felicidade senti ao receber esse maravilhoso, não! Esse maravilhosíssimo presente de aniversário antecipado do excelentíssimo senhor juiz Sérgio Moro, orgulho do meu Paraná! (Consigo até imaginar o falecido – que Deus o tenha! – Alborghetti falando isso em rede nacional)

E como foi muito bem pontuado por Felipe Moura Brasil n’O Antagonista, agora é momento de celebrar. A luta foi vencida, mas a guerra continua, Lula ainda não foi preso, ele irá recorrer da decisão, ainda existem outros processos por baixo daquela barba escrota e a corrupção brasileira, tão endêmica ao nosso território, continua a solta, mas a justiça está aí, firme e forte, caminhando sôfrega, solitária, enfrentando uma chuva ácida que corrói e nos queima, mas ela resiste. Moro resiste (como ainda têm coragem de falar mal dele, cretinos?). E portanto, deixe-nos celebrar. Que por um dia sintamos o prazer da vitória sofre a corrupção, o mau caratismo, o populismo, o socialismo destrutivo. Que por um dia sintamos esperança pelo futuro que ainda há de vir. O inverno está chegando e com ele se acabam as colheitas, mas apenas para os corruptos, para o brasileiro honesto é momento de celebração: tenhamos o Carnaval de Inverno!

***


Num outro momento, mais cedo do que essa maravilhosa notícia, senadores aprovaram o texto integral da reforma trabalhista e, coisa engraçada, não vi argumentos contrários, apenas vi piadas, memes e uma atitude sínica ruidosa e destrutiva no meio daqueles que são contra a reforma, em sua maioria por pura ignorância.

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Na aula de ontem, ouvi comentários chamando aqueles que celebram a aprovação de tal reforma como “ignorantes”, “vítimas de uma lavagem cerebral” ou, simplesmente, “mau caráter”. No entanto, gostaria muito de saber, quem deles leu o texto integral da reforma? Quem deles entende o mínimo de história e conhece a trajetória da CLT em nosso país? Por quais meios eles se informam? Jornal Nacional? Carta Capital? Veja? Qualquer link do Facebook?

Se for assim é melhor se informar pelo Youtube.

Não vou tentar combater argumentos (a área de comentários está aí pra isso), vou apenas apresentar os meus argumentos, que são, sim, a favor da reforma trabalhista, apesar dos pesares.

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Apesar dos pesares, porque eu não gosto dessa reforma trabalhista, não a acho ideal, mas é um passo para o ponto perfeito. Eu acho, sim, que as leis brasileiras precisam ser revistas, porque são falhas, mas para mim, a CLT que se exploda e criemos algo novo no lugar, algo mais simples, de fácil acesso e compreensão.

Isso, essa reforma não faz, não chega nem perto disso, mas ela coloca em ordem alguns aspectos urgentes que precisam ser modificados.

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O primeiro deles é, claro, o poder dos sindicatos. A intensão dos sindicatos é boa, em teoria eles funcionariam que é uma beleza, mas em teoria tudo funciona que é uma beleza. Em teoria o socialismo é uma maravilha, o comunismo é lindo e o anarcocapitalismo é extremamente funcional. Mas na vida real, ah, meus amigos, aí é outra história. Na vida real, sindicato é massa de manobra, prejudica não só o trabalhador, mas o cidadão de bem e é caminho fácil para o enriquecimento pessoal.

Uso como exemplo, o meu querido Paraná, onde nos últimos meses tem sido vítima da movimentação sindical por todos os lados, especialmente em relação a educação. Escolas e universidades entram de greve, os sindicalistas continuam recebendo e passam o dia todo sentados atrás de um gabinete (ou tomando tereré na calçada), enquanto os alunos ficam em casa, ociosos. Para alguns, isso é férias, mas para alguém, como eu, que só quer terminar a faculdade é uma enorme dor de cabeça. E nem preciso falar do uso cretino que eles fazem do dinheiro de professores, pagando viagem pra manifestante ir em Curitiba, fazer um barulhinho e depois passear nas ruas da capital.

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Os sindicatos, no Brasil, são tóxicos. Pra começar, não deveria nem ser trabalho, sindicato é uma organização, é algo que deveria surgir espontaneamente e que não deveria ser fonte de renda pra ninguém. Você deveria assumir um sindicato por paixão aquilo, porque quer representar seus colegas de trabalho. É assim que deveria funcionar, mas não funciona e por isso a reforma acaba sendo bem-vinda.

Além disso, a reforma flexibiliza as relações entre empregado e empregador, incentivando o diálogo entre as duas partes, pois não há mais necessidade de se ter um acordo aprovado pelos sindicatos e o que é previsto num contrato escrito entre o empregado e seu patrão passa a ser a única prova necessária para a comprovação de alguns processos.

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E a reforma não apresenta nenhuma perda de direitos, apenas a flexibilização deles. Acabou seu almoço? Aonde? O texto integral não fala nada sobre o horário de almoço, a não ser que você trabalhe 6 horas por dia (o que não é o caso da maioria dos trabalhadores honestos desse país), porque aí você tem a possibilidade de ter um horário de almoço reduzido de 60 para 30 minutos.

Apenas a possibilidade.

Suas férias não acabaram também, você apenas terá a opção de dividir suas férias em 3 partes. Algo excelente, porque já ouvi n vezes colegas meus dizendo que não gostam de tirar férias, porque é muito tempo sem fazer nada em casa. Eles preferem tirar uns 15 dias e receber os outros, algo feito de forma informal e que agora está prevista em lei.

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A empresa que te contratou ainda terá que te pagar ajuda de custo, gastos com viagens, assistência médica, essas coisas, mas tudo isso será pago fora do seu salário, ou seja, você receberá o valor integral dessa ajuda, sem ter que contribuir para o INSS e o FGTS, por exemplo. Mais uma vez, você se verá longe de sanguessugas do governo.

E outros pontos da reforma são bons para o empregador.

O empregador também se verá livre do sindicato, pois não terá mais que se submeter a ele para executar demissões em massa (detalhe, nessas demissões o empregador tem que receber tudo o que tem direito, ou seja, sem perdas, apenas ganhos), se for processado, ganha o processo se o empregado não comparecer a primeira audiência, no caso de micro e médias-empresas as multas serão reduzidas, a duração da jornada de trabalho e intervalos poderá ser negociada diretamente com os empregados e ainda terá a possibilidade de se criar acordos coletivos que prevalecem sobre as Convenções Coletivas.

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Vantagens para o empregador e que acabam beneficiando os dois lados, pois, de forma alguma, essas vantagens para o empregador significam desvantagens para o empregado. Os direitos do empregado continuam mantidos, mas todos eles poderão ser negociados, divididos ou convertidos em pagamentos, se as duas partes assim decidirem.

***


E para terminar, um último pensamento, que me incomodou nos últimos dias. A maioria das piadas cínicas na internet acabam figurando o empregador como uma espécie de déspota capitalista, criando a imagem do velho, branco, de terno e fumando charuto sentado numa pilha de dinheiro. É uma imagem clássica, mas algo que precisa ser urgentemente desconstruído, porém ninguém o faz e eu não sei porque.

Essa imagem, importada dos EUA, sequer representa o capitalista, pois os EUA não é um exemplo de país capitalista e sim de corporativista. Essa imagem representa o dono de negócios que adora a burocracia do Estado, pois com ela se aproveita de seus empregados e cria caminhos cada vez mais intricados para levar vantagens sobre os outros, criando monopólios.

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Isso não é capitalismo.

E mais importante que isso, o brasileiro tem que abandonar essa imagem, pois o empresário brasileiro não é assim. Não é justo colocar no mesmo balaio o dono da Vivo com o seu Joaquim, dono da padaria da esquina. Ambos são empresários, mas os dois são bem diferentes entre si. Um é aproveitador, outro é conciliador, um cria monopólios, o outro respeita o espaço do próximo, um quer se aproveitar da população, o outro contribui para a valorização da região onde mora, um se beneficia da burocracia, o outro é vítima da burocracia, um é corporativista, o outro é capitalista.

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Eu venho de uma família de empreendedores e já vi meu pai falir por que tinha um pequeno negócio, mas era julgado como se fosse peixe grande e pior, julgado pelos peixes grandes. Achou a comparação entre o dono da vivo e o dono da padaria ridícula? Tente imaginar agora um dono de um posto no início de uma cidade de interior contra um posto da Petrobrás lá entre 2002-2003... É, cara. Esse negócio de ser empresário no Brasil não é mole, não.

E por isso essa reforma não basta. É um passo, mas ainda precisamos de muito mais.

Por enquanto, celebremos o Carnaval de Inverno, que amanhã tem mais trabalho pra fazer.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Dica musical: "Murder of The Universe" do King Gizzard & The Lizard Wizard

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O segundo álbum de 5 que o King Gizzard & The Lizard Wizard pretende lançar esse ano, o décimo álbum de sua produtiva carreira e o terceiro e final de uma trilogia de álbuns que começaram com “I’m in your mind fuzz”, passaram por “Nonagon Infinity” e culmina nessa obra ambiciosa e selvagem que conta 3 histórias diferentes, mas inter-relacionadas.

[bandcamp width=100% height=42 album=1787442871 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=3128539097]

“Murder of the Universe” é um álbum conceitual dividido em 3 partes, que contam a queda de um homem em busca de poder derivado de uma besta, a segunda parte foca na batalha entre o senhor da luz e Balrog, duas forças antagônicas que já figuravam nos CD’s passados da banda e por último, a história de Han-Tyumi, um androide que ganha consciência e se torna obcecado por vômitos, criando uma máquina que vomita, em seguida se fundindo com ela e por fim vomitando eternamente, matando o universo no caminho.

As histórias se conectam na briga eterna entre a luz e a escuridão, a busca pelo prazer, pelo engrandecimento próprio que acaba gerando destruição, as forças de Balrog contra o senhor da luz se tornam presentes em diferentes formas.

É conceitual e eu gosto.

[bandcamp width=100% height=42 album=1787442871 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=1344200685]

Musicalmente, o álbum lembra bastante “Nonagon Infinity” (meu conhecimento não pode comparar este ábum com “I’m in your mind fuzz”), retirando uma sequência inteira de riffs do álbum para isso. Restaura as gaitas, a bateria dupla, toda a energia explosiva de “Nonagon Infinity” que fez King Gizzard se tornar uma das minhas bandas favoritas nos tempos recentes.

Porém o álbum é muito longo e pode cansar os ouvidos incautos, que ainda não conhecem a banda, então é altamente não recomendável como uma primeira ouvida. Pra mim “Flying Microtonal Banana” é um álbum de entrada melhor.

Para quem já conhece a banda é um deleite para os ouvidos, é um álbum ambicioso, conceitual, com uma história envolvente, misteriosa e ao mesmo tempo bem humorada. O álbum restaura as guitarras distorcidas, as duas baterias cheias de energia e a gaita mais estrondosa de uma banda de rock ainda em atividade.

Também é legal ver que a banda não entrou nessa ideia de lançar 5 álbuns nesse ano explorando apenas conceitos estruturais (músicas com o mesmo tempo ou músicas que só usam um tipo específico de instrumento), explorando ideias que devem estar dormentes em suas mentes há muito tempo, ousando arriscar dar vida à ideias antigas num projeto que pode ser muito desgastante. Eu ainda tenho minhas ressalvas em relação à isso, mas começo a pensar que eles tem 5 cartas muito boas na manga e decidiram fazer disso um projeto para esse ano.

É psicodélico, é conceitual e acima de tudo, é um álbum muito bom!

4 pontos

terça-feira, 11 de julho de 2017

Dica musical: "Waiting on a Song" de Dan Auerbach (2017)

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Mais uma dica rápida pra não deixar passar esse álbum muito bom e que eu não vejo muita gente falando por aí.

“Waiting on a Song” é o seu segundo álbum solo e vem após um longo hiato do The Black Keys, seu projeto principal e a banda pela qual ele ficou conhecido e recebeu até um Grammy (não que isso signifique muita coisa, artisticamente falando), ou seja, ao contrário de seu primeiro álbum solo, “Keep it Hid” de 2009, aqui ele teve mais tempo para trabalhar nas composições, as letras e a atmosfera que ele gostaria de alcançar com o álbum, sem a pressão de ter que se distanciar demais e de imediato do som produzido pelo The Back Keys. “Waiting on a Song” também vem depois de um produtivo período em que o multi instrumentalista trabalhou como produtor para uma vasta gama de artistas, cada um com suas próprias qualidades e muito diferentes entre si, de Lana del Rey a Ray LaMontagne, o que, claro, adicionou muita bagagem cultural ao cara.

https://www.youtube.com/watch?v=pDoufWQns1c

Aqui, Dan Auerbach cria um som pop clássico, muito próximo da mescla de soul e blues que seu outro projeto já chegou a tocar, “The Arcs”, mas sem muito sucesso. Aqui, com toda a bagagem que Dan adquiriu nos últimos anos, o multi instrumentalista consegue executar muito bem essa mescla, fundindo riffs marcantes de guitarra, bateria marcante e baixo vivo com diversos instrumentos de sopro, vocais femininos de fundo, pianos e efeitos que criam uma atmosfera calma, porém misteriosa, ao mesmo tempo que é convidativa.

Além dos aspectos melódicos, liricamente o álbum mostra que Dan Auerbach consegue ser um excelente escritor, elaborando letras instigantes, criando metáforas interessantes e imagens que passam na frente de seus olhos como filmes. Ele consegue criar esse efeito nos ouvintes, por que é muito bom escrevendo.

https://www.youtube.com/watch?v=7RDBp_ofQL8

Para os fãs antigos de The Black Keys (e não me refiro aos caras que conheceram a banda com o Brothers, mas os antigos mesmo, os r00ts) não há quase nada aqui para eles, também não há muita coisa aqui para os fãs mais novos, como eu, mas há muito aqui para os admiradores de uma boa música e uma boa música feita com cuidado, trabalhada e desenvolvida com maestria.

Enfim, “Waiting on a Song” é um ótimo álbum, voltado para as letras bem elaboradas, um som mesclando uma vasta gama de influências que se solidificam num trabalho digno de nota. Vale a pena ouvir.

4 pontos e meio

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Dica televisiva: "Anna" (1967)

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Uma dica retrógrada hoje, mas que vale muito a pena ser assistida, este é o primeiro filme em cores feito para a TV francesa, dirigido por Pierre Koralnik e com trilha sonora de Serge Gainsbourg, o que não é lá grandes coisas, mas chama a atenção de qualquer jeito, ainda mais pela presença de Anna Karina e Jean-Claude Brialy.

“Anna” conta a história de um fotógrafo, Serge, que fica fascinado com a fotografia do rosto de uma mulher, mas como a exposição da foto é tão grande, aparecem apenas a boca, os olhos e linhas fracas de nariz e cabelo. A moça fotografada é Anna, uma colorista que trabalha no estúdio das tias de Serge. Os dois já se viram algumas vezes, mas ele não a reconheceu e sua paixão apenas cresce, enquanto que a admiração dela por ele também.

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O filme é um musical, daqueles bem feitos mesmo. Há muito bom humor, cenas bizarras, vestimentas impraticáveis, romance e, claro, muita música. É um filme muito divertido e gostoso de se assistir, tem pouco mais de 1 hora e 20 minutos, que passam rapidamente. Os personagens, como em todo musical, sofrem pouca modificação ao longo da história, centrando-se no romance, que tem muita ligação com a história da Cinderela, no entanto, o seu final, passa longe de ser o final feliz de um conto de fadas e, ainda assim, não deixa de ser afirmativo.

A trilha sonora é regada a rock dos anos 60, com guitarras sem distorção, muita percussão e instrumentos de sopros. Serge Gainsbourg criou composições muito interessantes e bem à frente de seu tempo (temos que lembrar que esse é um filme de 67 e há coisas aqui que poderiam ter vindo de Hendrix ou do The Who). A fotografia é soberba, mesclando cores exuberantes com o visual soturno e nebulosos de Paris, uma mescla de noir com musicais dos anos 50, uma obra moderna e ousada, jogando na sua cara todo o charme que a segunda metade do século passado podia dar.

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Ainda assim, o filme apresenta alguns aspectos que assustam, de certa forma e você precisa meio que se render a essas qualidades para poder admirá-lo. A primeira é a própria trilha sonora, as canções não são típicas de um musical, onde os intérpretes cantam e acompanham todas as canções com perfeição, muitas canções são apenas instrumentais e a maioria não seguem uma métrica, optando pela criatividade que apenas uma liberdade muito bem estruturada pode dar. O segundo aspecto se refere a própria história, é um romance que se desenvolve muito lentamente, Serge encontra Anna em diversos momentos, mas não a reconhece e você fica se perguntando como ele pode ser tão burro por diversos momentos. E pra terminar, mais para o final do filme, a história se rende completamente a subjetividade e sua estrutura se torna onírica e esparsa, mas continua belíssima.

Anna Karina, que pra mim sempre pareceu uma sonsa, mas uma sonsa que eu gostaria de chamar de “minha”, está incrível nesse filme, esbanjando charme, simpatia e interpretação, mostrando que ela gosta mesmo é de cantar. Já Jean-Claude Brialy continua ótimo nesse filme, interpretando um apaixonado perdido em Paris de maneira soberba. Serge Gainsbourg faz uma participação como amigo de Jean-Claude, mas não muda muita coisa, praticamente ele interpreta a si mesmo.

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“Anna” foi um verdadeiro achado pra mim, é difícil de acha-lo para download, mas eu sou uma boa pessoa porém vale a pena ser assistido, entrando facilmente na lista de melhores filmes de Anna Karina.

4 pontos e meio

terça-feira, 4 de julho de 2017

Dica musical: "Spin" de Tigers Jaw (2017)

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Preciso falar desse álbum antes que seja tarde demais.

https://www.youtube.com/watch?v=xG3E0SAw4uA

“Spin” é o 5º álbum de estúdio de Tigers Jaw, o primeiro como um duo (agora são apenas Ben Walsh e Brianna Collins), mais um pra conta do Will Yip e o primeiro lançamento da Black Cement, nova marca associada com a Atlantic Records (uma parceria, na verdade) que está lançando esse CDzinho bacana.

Como todo 5º álbum e logo após uma grande mudança na formação da banda, é de se esperar que esse álbum seria um desastre ou que não atenderia as expectativas, mas não. O álbum contém a mesma energia gostosa de álbuns anteriores da banda, com a mescla de dois grandes gêneros: emo e indie rock, criando algo novo e de difícil classificação.

As melodias tem toques melancólicos, mas também são divertidas de se ouvir, evocam uma melancolia agradável, suportável ou ainda, aquela calmaria depois da tempestade. Já as letras, tocam em temas pesados, não com tanta profundidade quanto outras bandas desse mesmo mundo musical em que Tigers Jaw se insere, relacionados a relacionamentos de longo prazo, coisas que criam uma fácil identificação com fãs de longa data.

E tudo vem aos pares agora, seja como uma forma de brincadeira ou seja despropositadamente, as canções se entregam a uma métrica manjada de pares, uma organização bem simples e até ordinária, mas que funciona e se expande até mesmo para compreender a atuação dos vocalistas, Ben e Brianna se dividem nos vocais, um canta uma música, outro canta outra, algumas têm a participação dos dois. Ele com uma voz mais seca e profunda, enquanto ela aparece com uma voz doce e melancólica.

É uma boa combinação.

https://www.youtube.com/watch?v=NW5XKQbPDto

Particularmente, nunca fui muito fã do Tigers Jaw, mas gosto bastante do autointitulado álbum de 2008 e gostei bastante de “Spin”, é simples e ordinário, mas absolutamente não é medíocre, é na simplicidade que o Tigers Jaw mostra as suas presas e abocanha os ouvidos das almas sensíveis.

Enfim, “Spin” é um bom álbum bem gostoso de se escutar, para aqueles momentos de relaxamento no final do dia, deitado na cama, admirando o pôr-do-sol, ouvindo as folhas das árvores se esfregando. Vale a pena escutar!

3 pontos e meio