sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A celebração da falência da valorização à vida

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Um rapta o gado, outro a donzela,


Outro no altar cruz, taça e vela,


E disso anos a fio se jacta,


O corpo ileso, a pela intacta.


Por justiça o queixoso clama;


Na sala o juiz trona imponente,


Enquanto em vaga troante brama


Do motim o clangor crescente.


Dos bens do crime há quem se louve,


Visto que em cúmplices se esteia;


Mas: condenado! aterrado ouve


Quem na inocência se baseia.


Assim tudo se desintegra:


Se da honra e lei some o preceito,


Como há de estar o senso em regra


Que nos conduz ao que é direito?


Fausto II


O começo da semana foi avassalado com a morte de um jovem que assaltou um ônibus, fez quase 40 reféns e após quase 4 horas sua vida foi ceifada por um sniper da polícia, visto que as negociações não foram suficientes para dar um fim pacífico a questão.

A tragédia foi celebrada pelo ministro e o Paulo Kogos acabou defendendo-o, dizendo que deve ser celebrada a morte de bandidos.

Eu, como católico, digo não! Não deve ser celebrada a morte de ninguém, pois nunca sabemos qual foi o destino da alma desse jovem. Celebrar tal ato é o cúmulo da banalização da violência, é a declaração da falência da valorização à vida. Durante o Morning Show do dia seguinte, Caio Copolla disse que a morte é um caminho fácil demais, é uma solução fácil demais e em outras épocas eu concordaria com isso, mas hoje em dia não mais.

Concordo com o Caio que os crimes devem ter uma punição terrena, mas não porque a morte é fácil demais e sim porque pagar os crimes terrenos em outro plano é demais, pois lá é eterno.

No entanto, devemos celebrar sim a operação da polícia. A operação que salvou a vida de quase 40 pessoas, livrou suas famílias de um trauma e, apesar de trágica, é uma ação necessária.

Por mais que não gostemos de seu desfecho, a tragédia tem seu propósito, pois mostra que nosso país não é terra de bandido, pelo menos não desse tipo, praticamente um terrorista. Há décadas que o crime é financiado pelas elites políticas dessa abençoada terra para servir aos seu projeto de poder e têm conseguido muito. No RJ a situação é tão descarada que um jogador do naipe do Adriano Imperador posa em foto com traficante. É necessário um basta e, na atual situação, esse basta não tem como ser feito apenas com livros.