domingo, 11 de agosto de 2019

Dica especial de dia dos pais 2019

41oyjtkj8el-_sx322_bo1204203200_

Essa dica é trágica e não agradará a todos os pais, mas sua entrada como dica especial para esse dia incrível no ano de 2019 vale a pena, pois é capaz de nos ensinar uma coisa ou duas sobre a paternidade.

A dica desse ano é o livro “The Road” (ou “A Estrada”), escrito por Cormac McCarthy e lançado originalmente em 2006. O livro conta a história de um pai e um filho (não nomeados) que atravessam um EUA devastado por alguma anomalia que queimou tudo e trouxe o apocalipse ao planeta. Sem recursos, sem amigos e sem certezas, pai e filho atravessam os EUA em direção ao sul do país, onde esperam poder encontrar alguma coisa que torne a vida deles mais fácil, embora não tenham certeza alguma disso, contando apenas com a certeza de terem um ao outro em todos os momentos.

Each the other’s world entire.

Como uma obra pós-apocalíptica, esse livro é triste e trágico, mas a trajetória de pai e filho consegue salvar essa obra em todos os momentos. Acompanhamos pai e filho conversando, sobrevivendo, discutindo e até mesmo se divertindo, num cenário completamente destruído, queimado, estéril ao extremo e frio. As imagens criadas ao longo da narrativa são destrutivas, mas aí reside o poder do livro, pois mesmo em tanta destruição há um pai e um filho que só podem contar um com outro e nunca perdem a esperança.

Ainda assim, ambos não são únicos, muito pelo contrário, há uma dicotomia latente presente no livro todo. O pai, até mesmo pela idade avançada e conhecer muito do mundo (inclusive, o mundo antes do evento apocalíptico), mantém-se cético e a todo momento mantém o seu filho distante de perigos, embora nem sempre eles sejam perigos declarados, como o encontro com pessoas.

Em contrapartida, o filho, que não conheceu o mundo antes do apocalipse, é alguém muito mais inocente e, portanto, esperançoso. Ele tenta fazer o pai se aproximar de outras pessoas, embora esteja sempre afastado pelo pai de todas as oportunidades que ele tem de socializar.

Essa dicotomia presente entre os dois promove alguns dos momentos mais belos do livro, tanto para o bem quanto para o mal. Por exemplo, quando o menino encontra outro garoto e o pai pega ele a força e os dois fogem, mesmo com o filho chorando. Mas nem tudo é tristeza, pois também temos o momento em que o garoto começa a perder a esperança de que as coisas irão melhorar, mas seu pai nunca deixa isso acontecer, lembrando-o de histórias lendárias e convencendo-o de que eles carregam “A Chama”.

Sendo um livro escrito por Cormac McCarthy é óbvio que esse livro estará recheado de referências mitológicas, como “A Chama” que os dois carregam. Além de referências da mitologia greco-romana, também cristã. Além disso, temos as digressões gramaticais, que acabam por reforçar o clima pós-apocalíptico da obra. Até mesmo na estrutura narrativa do livro, McCarthy não deixa de nos lembrar de que estamos lendo uma obra pós-apocalíptica. Não há a separação de capítulos na obra, apenas seções que compreendem um ou dois parágrafos, não há marcação de diálogos e as descrições são muito próximas do estilo naturalista, mas sem as comparações com o mundo animal. São descrições secas e baseadas nas qualidades materiais daquilo que nos é apresentado.

Pode não parecer a melhor obra para o dia dos pais, mas acredite, é. Este é um livro que nos apresenta o amor de um pai por seu filho, ainda maior que o amor que a mãe do garoto, que sobrevive a toda forma de destruição, mesmo quando não é mais fisicamente possível. É um amor profundamente transcedental, uma obra muito além do pós-modernismo, que marcou a carreira de C. McCarthy.

5 pontos