terça-feira, 20 de outubro de 2020

Qual o problema com A Escolinha?

Escolinha do Professor Raimundo

Ontem passei o dia com alguns parentes e tive o desprazer de ver a televisão de casa ligada na Globo, o que resultado em ver A Escolinha do Professor Raimundo, o humorístico da rede Globo que busca fazer um remake do clássico de Chico Anysio, um dos maiores humoristas desse país. Além da série tentar forçar uma consciência sociopolítica de maneira baixa, perda de oportunidades para fazer o humor pastelão que marcou o original e aliar o roteiro ao contexto terrível de uma pandemia, tentando normalizar a situação desumana em que somos forçados a viver, a série carrega um outro grande problema, o qual irei explorar nesse post e que é o seu principal problema: a imitação de antigos personagens.

Todos os personagens da série são imitações de humoristas atuais dos personagens de humoristas antigos, alguns, inclusive sendo feitos pelos filhos, como é o caso de Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho (algo até bem legal como conceito, mas que falha na execução). Isso acaba truncando os humoristas, pois eles não têm liberdade de fazer o que mais gostariam de fazer, que é contar as suas próprias piadas.

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E há no programa bons humoristas, mas eles têm que estudar e imitar humoristas do passado, fazendo sempre os mesmos bordões, as mesmas piadas e os mesmos trejeitos que já nos foram apresentados há mais de 20 anos atrás.

Além da falta de inovação, há a falta de empatia com o público, pois alguns personagens do programa original eram tão característicos de seus humoristas que é difícil separar o personagem do comediante como é o caso do Nerson da Capitinga, Joselino Barbacena e Seu Peru, para citar apenas alguns.

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Por fim, apesar de filhos seguirem os passos dos pais, eles não são a mesma pessoa. Já disse que a intenção de colocar os filhos para imitarem o papel dos pais é uma boa intenção da série, mas não funciona, pois cada um deles tem seus próprios trejeitos, estilo e até mesmo tempo. Chico Anysio é um showman superior ao Bruno Mazzeo, ele guiava a trupe de humoristas de um jeito que o atual não consegue fazer e Lúcio Mauro Filho será, para sempre, o Tuco, assim como seu pai foi, para sempre, Aldemar Vigário. Eu não veria problema nessa caracterização eterna que eles sofreram e imagino que seja até motivo de muito orgulho poder fazer parte da cultura brasileira dessa forma.

A nova Escolinha tem muitos problemas, mas este é o principal. É, de fato, difícil fazer um programa no estilo do humorístico com personagens novos, mas o programa já vai para a sexta temporada, o fetiche nostálgico já foi nutrido e eu acredito que seria melhor, para os telespectadores e os humoristas, se a rede Globo desse mais liberdade aos seus integrantes poder incluir novos personagens, fazer suas piadas e deixar o passado brilhar sozinho.