segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Melhores de 2016!

Desde que entrei na faculdade esse blog entrou na UTI e tem perdido um pouco mais da sua suave vida a cada dia que se passa. Aprendi um monte de coisa inútil na faculdade, renovei meu interesse por literatura, fiz amigos, perdi amigos, me apaixonei, me decepcionei, aprendi a beber cerveja, fiz muitos churrascos, visitei mais hospitais nos últimos meses do que em toda a minha vida até então, comprei livros, joguei muito dinheiro fora, aprendi a ficar sozinho, ri e chorei, esse ano tem sido uma merda. Mas não é uma merda perdida e por isso que nesse final de ano resolvi reviver esse blog, aplicar uma última dose de adrenalina antes de sua alma alcançar a luz e se desfazer no limbo dos blogs impopulares, com um post de melhores do ano, um pouco antes desse ano acabar.

É com certa obviedade que começo pelos melhores CD’s lançados esse ano, porque música é a única arte que eu realmente acompanho praticamente em tempo real, pois anoto no celular os lançamentos e assim que chega o dia já baixo e procuro ouvir. Logo no começo do ano, tivemos a triste notícia da morte do David Bowie, pouco depois do lançamento de seu último álbum, que é bom, mas não considero essencial. Apesar disso, acho que com a morte do D. Bowie a força que mantinha o universo unido foi partida em pedaços e o mundo virou o que virou, estou errado?

Mas o ano começou bem, apesar disso, com o ótimo Promise Everything do Basement, um hardcore melódico de primeira, de muita qualidade, vindo direto da terra da rainha para agraciar os ouvidos de todos os millenials que um dia já foram emos e que só querem um ombro pra chorar.

Depois veio Post-Pop Depression, o décimo sétimo álbum do Iggy Pop, reunindo os monstros Josh Homme, Dean Fertita e Matt Helders sob o mesmo estúdio para criarem um rock de peso, o que nutriria a falta de um CD do Arctic Monkeys, não fosse o fato de, um tempo depois, sair Everything You’ve Come To Expect do The Last Shadow Puppets, com suas letras inteligentes, sua atmosfera conceitual, criando um universo rico e próprio da dupla Turner-Kan, injustamente não aparecendo nas listas de melhores do ano.

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Então começou a temporada de verão lá hemisfério norte e, com ele, uma porrada de álbuns, a maioria dispensáveis, mas alguns muito bons, como o 99,9% do Kaytranada, o On My One do Jake Bugg, que nunca decepciona, a parte final da trilogia de álbuns experimentais com uma temática confessial do Swans: The Glowing Man. A mixtape Loose Grip do Jamie Isaac também merece um destaque especial, pois mostra que os meninos do sul de Londres ainda tem muitas cartas pra jogar nessa mesa da indústria fonográfica, derrubando paredes entre os gêneros e criando algo novo.

Mas antes mesmo do meu aniversário, veio algo que merece muito destaque, que é o excelente álbum de blues suburbano do Modern Baseball, Holly Ghost, cheio de letras fortes, muito confessionais, aquelas guitarras arrasadoras, dando um ritmo revitalizante à música, ótimo pra se escutar depois de uma tarde chuvosa, é um CD que continua revisitando, porque é muito bom. Felizmente aparecendo nas listas de melhores álbuns do ano, merecidamente, aliás.

2

Julho teve IV do BadBadNotGood e em agosto, Frank Ocean nos agradeceu, finalmente, não com uma, mas duas obras primas, Endless e Blonde, dois dos melhores álbuns do ano, sem sombra de dúvida, humilhando todos os (as) artistas pop que ousaram lançar um álbum pop esse ano. Desde o lançamento desses dois tesouros, o ano na música pop se dividiu em A.F.O (Antes de Frank Ocean) e D.F.O. (Depois de Frank Ocean), porque ele superou todos os álbuns que precederam seu lançamento e nenhum outro que veio depois pôde chegar aos seus pés.

3

E quando o verão lá no norte acabou, o período de música boa apareceu de verdade, revelando, aqui no Brasil, talentos como o BRVNKS, que lançou seu primeiro EP Lanches, projeto de uma menina goiana muito gata, o retorno do Não ao Futebol Moderno com Vida que Segue e a quase conclusão do História do Brasil de Vitor Brauer, que concluí ano que vem, mas o grande destaque é mesmo Touché Amoré, com o melhor álbum do ano, Stage Four, um clássico moderno fantástico, pesado, agressivo, emotivo, forte e devastador. É um daqueles CD’s que te fazem uma pessoa melhor a cada vez que se escuta.

4

Balance and Composure lançou seu álbum mais diferente e distante do hardcore, Light We Made, mas não decepcionou e o LP2 de American Football também foi bem recebido à coleção de CD’s principais desse ano. Cody de Joyce Manor é o álbum de pop punk do ano, enquanto Babes Never Die do Honeyblood é o melhor álbum feito por mulheres de 2016.

Sonho de Cachorro do Fábio de Carvalho e Move Thru Me do Turnstile são curtos, porém excelentes pedidas, o primeiro por apresentar uma nova faceta a um artista extremamente criativo e o segundo por ser o melhor álbum de música pesada que 2016 viu. E antes do ano acabar ainda deu tempo do Monster Rally voltar e nos agraciar com outra pérola exótica, Mystery Cove LP, imagina um filme onde casais numa ilha paradisíaca encontram o calor, a amizade, a tequila, uma tribo canibal, um torneio de surfe e o amor.

5

O post já ficou gigante, então vou acelerar o resto e ser bem breve. Como sempre, os cinemas brasileiros só exibem porcarias de blockbuster e os melhores filmes de 2016 eu só vou assistir ano que vem ou no próximo, mas consegui assistir ótimos filmes esse ano, como Ave, César, que é uma aposta certeira para um dos melhores filmes do ano. Infelizmente ainda não assisti A chegada e Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, mas devem ser bons também. Kung Fu Panda 3 e Zootopia são ótimos, mas o melhor filmes de animação do ano é The Red Turtle, sem sombra de dúvida.

6

Não consigo acompanhar os lançamentos de livro de forma tão assídua que saiba quais são os lançamentos de 2016, fora que tenho que ler um monte de porcaria pra faculdade,  mas existem dois excelentes livros que li esse ano que todo mundo deveria ler, House of Leaves, tem até post aqui no blog e Breves Entrevistas com Homens Hediondos é leitura obrigatória pra quem quer adrentar o mundo narrativo de DFW.

Superman-American Alien é um tapa na cara do Z. Snyder, esse diretor visionário e Atari Force não é de 2016, mas todo mundo tem que ler, porque é excelente.

9

Virei uma negação nos mangás esse ano e o ano nos animes tá uma poha! foi fraco, mas tivemos boas produções no começo do ano, como Boku Dake Ga Innai Machi  e Boku no Hero Academia, apesar do melhor anime do ano, na minha opinião, ter sido o Tonkatsu DJ Agetarou, que também apresenta uma trilha sonora magistral.

10

E assim eu termino esse post, até ano que vem, ou não, vai que eu não escrevo mais nada...

Adeus!

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Dica literária: "Brothers of Japan" de Taiyo Matsumoto (1994)

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Vinha adiando a leitura desse mangá há anos. Sendo fã do Taiyo Matsumoto não poderia deixar de lê-lo e é um mangá até que bem conhecido do autor, apesar de nunca ter sido publicado em inglês. Sua importância reside no fato dele ser uma compilação de one-shots.

As primeiras três histórias até parecem se conectar por que seus personagens aparecem nas histórias uns dos outros, mas as outras 6 histórias são "soltas", sem relação alguma. Os temas são diversos, desde um garoto apaixonado pela sua bicicleta até uma história sci fi sobre dois irmãos gêmeos (os irmãos do Japão) que cavam um buraco no quintal e vão até o outro lado do mundo.

São típicas histórias Taiyo Matsumoto, com personagens estranhos, os quais nunca deixam claro suas intenções, sendo sempre uma grande surpresa suas ações e uma pegada poética para abordar temas diversos, como morte, família, traição, desapontamento e até sexo, vejam só (explorado numa história que eu não consigo descrever melhor do que um "poema ilustrado").

É uma leitura fácil, dinâmica e simples, não tem muitos diálogos e conta com o traço típico do Taiyo Matsumoto, meio rabuscado, como se fosse rascunho, misturando o estilo ocidental com o oriental. Eu, que sou lento pra caramba pra ler, li em uns 30-40 minutos o volume todo com mais de 200 páginas.

Enfim, recomendado.

4 pontos e meio

sábado, 18 de junho de 2016

Dica literária: "3"" de Marc-Antoine Mathieu (2013)

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"3"" (leia "3 segundos") é uma HQ experimental de Marc-Antoine Mathieu, de acordo com seu site, um premiado artistas de hq's.

Nesse livrinho simpático de apenas 72 páginas, nós entramos numa partícula de luz, acompanhando o seu trajeto por 3 segundos, tempo suficiente para ela viajar 900.000 quilômetros, sendo refletida por olhos, espelhos, ferro, ouro, atravessando lupas, indo e voltando do espaço e enquanto isso nós temos a missão de decifrar um mistério que envolve um atentado, um escândalo político e esportivo, um acidente e uma exposição de arte.

É um trabalho simplesmente fantástico que surpreende não só pela sua premissa, mas pela sua execução, principalmente. Além da arte de Mathieu ser muito boa, ficando no meio termo entre o realista e o cartunesco, mas pelo alto grau de elaboração que fica claro que ele teve ao desenvolver essa obra prima.

No começo da obra, no que pode ser chamado de "prefácio", o autor nos dá as pistas necessárias para que possamos solucionar todo o mistério e apesar de se tornar até cansativo, nós realmente conseguimos resolver o mistério e achar sentido nessa exploração conceitual de temas típicos de um filme noir.

Por falar em noir, é uma HQ toda em preto e branco.

Ou seja, leia!!!

5 pontos

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Dica musical: "The Dream is Over" do PUP (2016)

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PUP é uma canadense de punk rock formada em 2013 e esse é o seu segundo álbum.

Conta a lenda, e talvez seja história, que o vocalista recebeu a triste notícia de seu médico que suas cordas vocais estavam ferradas depois de uma turnê e ele não poderia mais tocar. Como todo punk que se preve, ele simplesmente deu um chute na bunda do médico e começou a gravar o segundo álbum e é por isso que a primeira música (e primeiro single do álbum) chama-se "If this tour doesn't kill you, I will" e diversas outras letras do álbum tratam dessa espécie de crise existencial em que um vocalista de uma banda de punk que só sabe gritar, enquanto mal toca guitarra nos shows descobre que não há futuro para ele no mundo da música, que ele nunca será um Mike Patton da vida e o sonho acabou.

Esse tipo de perspectiva é debatida de diversas formas, mas sempre com um tipo de aceitação no final, como se o destino fosse inevitável e a única a se fazer é continuar vivendo, seguindo em frente com o que você tem disponível. É uma boa filosofia de vida e eu acredito nela, de certa forma.

Sonoramente, é um álbum punk rock puro. O som é velho, defasado, chame do que quiser, mas é bom. Enérgico, rápido, oras pesados, oras mais melódico, mas sempre jogando aquela boa quantidade de adrenalina no seu sangue através das ondas sonoras que ecoam pela sua cabeça muitas horas depois do álbum ter acabado de tocar.

"The Dream is Over" é um tudo o que um ótimo álbum de rock precisa ser; rápido, direto ao ponto, energético e de uma banda canadense, como o Japandroids um dia foi. Enfim, escute.

4 pontos

terça-feira, 31 de maio de 2016

Dica literária: "Hiroko at After School" (2009)

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Essa é a indicação literária na qual eu fiquei em maior dúvida quanto a postar aqui ou não, por motivos que serão abordados mais pra frente.

Hiroko at After School abordo alguns dias na vida de Hiroko, uma estudante colegial num mundo distópico onde a violência impera e a balbúrdia é passatempo. Todos os dias, depois das aulas, as alunas participam de atividades em clubes que pouco tem a ver com a realidade atual. Ela monta flores para poder vender e assim angariar dinheiro para a escola poder comprar mais armas. Um dia, ela acaba sendo selecionada para o clube de segurança e junto com outras meninas, invadem um covil de mafiosos.

Essa história, como podem notar, é bem maluca e aborda diversos temas, pra começar se trata de um mundo distópico, onde a violência se tornou tão banal que as estudantes colegiais vão pra escola armadas e participam de clubes que, de uma maneira ou de outra, se relacionam com a militarização da escola. Hiroko é uma menina que tem uma paixão secreta pela presidente do conselho estudantil, chegando a se imaginar fazendo sexo com ela. A presidente do clube de segurança veio de uma região pobre da cidade e, de acordo com Hiroko, é por isso que é tão cínica e consegue fazer o seu "trabalho" tão bem.

São uma porrada de temas que poderiam gerar uma discussão filosófica, social e política, mas que não são aprofundados e o mangá não passa de um exploitation de colegiais, lésbicas e violência gratuita. Um exemplo de pós-modernismo, do seu roteiro a sua arte rabiscada, suja, mas bonita. O one-shot não tem profundidade nenhuma, mas funciona para um contexto, puro e simples entretenimento e nada mais.

Enfim, "Hiroko at After School" não tem quase ou nenhum valor, mas eu gostei do que li, achei interessante e gostaria que o autor fizesse uma série, talvez até ganhasse valor, mas seu potencial ficou perdido na mídia a qual ela pertence, um one-shot ordinário.

3 pontos e meio

domingo, 22 de maio de 2016

Dica musical: "Things Will Matter" de Lonely The Brave (2016)

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Lonely The Brave é uma banda de rock alternativo do Reino Unido, com uma sonoridade bem única e específica, que só pode ser definida como "música para estádios". Esse ano, eles lançaram este ótimo álbum e não se engane pela arte hipster, ele vale muito a pena.

O "música para estádios" que cabe bem neles, sendo utilizado desde os anos 80 para músicos como Bruce Springteen e Foo Fighter, por exemplo, descrevendo aquele som potente, alto e imponente, claro e focado, enfim, um rock para massas, mas sem se apegar a elementos pop's demais. E esse é bem o caso de Lonely The Brave. Em "Things Will Matter" ouvimos um som potente e imponente, com guitarras distorcidas, porém claras, geralmente num ritmo não muito acelerado, porém não lento, com um vocalista muito bom, transmitindo uma energia muito forte para as canções.

O álbum é muito bem construído, tem canções mais melancólicas e canções mais pesadas, feito para agradar a todos os gostos e embora isso possa se mostrar um empecilho no futuro, atualmente funciona muito bem. Mais de uma canção, nota-se a influência de Kings of Leon (em sua fase mais expansiva, entre o terceiro e o quarto CD), seja nos vocais ou na melodia das canções, mas não fica por aí, há mais influências, que variam de bandas clássicas até outros gêneros musicais, como as trilhas sonoras de Ennio Moricone.

As letras também são boas, mas são meio gerais, não chegam a contar uma história, nem chegam a ser muito pessoais, o que deixa elas meio genéricas, não que isso prejudique o álbum como um todo, que contém melodias tão boas que chegam até a arrepiar.

Enfim, "Things will matter" é um ótimo álbum, com canções expansivas e imponentes, cobrindo uma lacuna que este ano ainda não foi preenchida por nenhuma das bandas mais famosas.

4 pontos

sábado, 21 de maio de 2016

Dica musical: "Teens of Denial" do Car Seat Headrest (2016)

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Car Seat Headrest é uma banda de pós-punk que pega elementos de gêneros bem óbvios como o emo e o indie-rock para criar um som bem ordinário.

Mas nesse CD "Teens of Denial" a banda conseguiu dar uma inovada no som deles, crédito da produção do álbum, que está muito boa. É notável isso nas músicas "Vincent" e "1937 State Park", onde as guitarras melancólicas e a letra deprimente das canções abre espaço para pianos ou trompetes, muito bem executados, dando uma explosão de energia às canções. Algo que a banda ainda não tinha explorado até então.

Apesar de ser uma banda formada na mesma época que um monte de outras bandas do norte dos EUA, com influências no grunge, no hardcore e no puk, insatisfeitos com o destino da música indie, que se tornou banal ao extremo nos últimos anos, eles acabam tendo aquele som bem característico, um som explosivo e energético, mas melodioso e harmonioso, ao mesmo tempo. No entanto, em "Teens of Denial", eles abandonam um pouco essa vertente mais "suja" para adotar um som marcado por guitarras mais suaves, tendo uma pegada mais indie mesmo, lembrando às origens do gênero com bandas como Bloc Party, The Strokes e Franz Ferdinand.

Uma das coisas que mais me incomoda e continua me incomodando na banda é o vocalista. Sua voz é, simplesmente, muito chata para as canções da banda, ele muitas vezes não acompanha o ritmo das canções e sua voz é pesada, lenta, desanimada, passando uma sensação horrorosa de morosidade.

Já li que esse contraste entre o vocal e o instrumental é um dos pontos positivos da banda, mas eu não me convenci, continuando achando ruim mesmo.

As letras são pesadas e algumas são bem deprimentes, são muito pessoais, mas contém uma suave dose de ironia para aliviar a atmosfera que se forma em torno delas, facilitando a identificação do ouvinte. Eu, particularmente, acabei ficando com uma sensação meio agridoce quando ouvi o disco, por que gostei e ao mesmo tempo não gostei das letras. Há momentos em que eu acho que já superei meus momentos deprimidos, que isso já é passado e hoje minha vida é só alegria, mas álbuns como esse me fazem lembrar que não, eu ainda me sinto triste e perdido, nem tanto a maior parte do tempo, mas por uma parte boa.

E se tem algo de bom nesse álbum, no som que esses caras criam, é que coisas assim te fazem aceitar essas inevitabilidades da vida, nem tudo são flores, nem tudo são tempestades, a maior parte do tempo vivemos num limbo emocional, onde não sentimos nada de destaque, nada de especial e isso é normal. Além disso, há beleza em tudo, inclusive na melancolia.

3 pontos e meio

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Dica musical: "Tired of Tomorrow" de Nothing (2016)

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Nothing é uma banda de rock, da Filadélfia e como 90% das excelentes bandas de lá, eles têm uma pegada mais voltada ao post-hardcore, com influências do emo, do punk e do pop-punk, enfim... aquele som lá.

"Tired of Tomorrow" é o mais novo álbum dos caras que iniciaram a banda em 2011, ou seja, são novinhos ainda. Como o próprio nome do álbum já diz, eles estão cansados do amanhã e suas músicas, com letras introspectivas e meio deprimentes, com melodias ais letárgicas, acordes leves, um vocal cansado e agudo fazem questão de provar sua canseira.

Mas o álbum não é de todo ruim e vale a pena escutar, nem que seja só uma vez, de preferência naquela tarde chuvosa e fria, depois do seu time ter saído da Libertadores ou daquela garota bonita da escola ter te dado um pé na bunda.

Há influências bem claras, como o Deftones, o próprio Title Fight e sua pegada mais shoegaze de "Hyperview" e outras bandas mais famosas, porém mais estereotipadas e que não vale a pena comentar aqui, mesclando seu som mais letárgico e sentimental com uma pegada mais violenta e pesada.

Enfim, "Tired of Tomorrow" não é nenhuma obra-prima, mas é um álbum gostoso, que pode se encaixar perfeitamente em alguns momentos muito específicos da sua vida. Vale a pena escutar várias vezes "Vertigo Flowers" e "ACD".

3 pontos

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Dica musical: "99.9%" do Kaytranada (2016)

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Kaytranada é um beatmaker canadense e este é o seu primeiro álbum de estúdio.

Conheci o cara através da primeira música que ele liberou, chamada Bus Ride, uma música recheada de instrumentais, com uma pegada meio onírica, variando o ritmo e puxando muito para o jazz, do jeito que eu gosto.

No entanto, o álbum inteiro acaba decepcionando por um fator muito simples e que, me parece, que quase ninguém entende (ou fala sobre isso), que são as participações especiais. As batidas, os instrumentais, são muito bons, mas as participações especiais, em especial os vocais, que, para mim, apenas atrapalham as batidas que o Kaytranada cria.

Enfim, o álbum de estreia de Kaytranada é 99% podre, mas aquele 1%...

3 pontos

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Dica cinematográfica: "Capeitão Iracema: Treta Civil"

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Depois de Batman vs. Superman: A origem do fiasco, alguns ficaram ainda mais animados para Treta Civil e outros simplesmente não se importavam mais, como eu. Mas o filme surpreende, de várias maneiras.

A sinopse é aquela lá da HQ mesmo, com algumas adaptações. Após todas as destruições que os Vingadores causaram no mundo, mais de 150 países ao redor do mundo assinam o Tratado de Sekóvia, que estipula leis que os heróis devem seguir, se submetendo às vontades de um setor novo especial na ONU. O Capeitão fica contra, o Homem de ferro a favor e no dia em que todos os heróis iriam se reunir para discutir o tratado numa cidade europeia que eu esqueci qual é, uma bomba explode no local, matando um monte de civis e políticos importantes, entre eles o rei de Wakanda, país da África e principal argumentador a favor do Tratado de Sekóvia. O culpado, pensa-se ser, a princípio, Bucky Barnes, o Soldado Invernal e é aí que temos a primeira agradável surpresa; pois o Capeitão deixa de lado sua discussão política com Tony Stark para correr atrás do amigo de longa data e salvá-lo de seu tormento mental, iniciando assim a Treta Civil.

Como dá pra notar é um filme bem complexo, com vários ramos que vão criando mais ramos ao longo do filme, mas, ao final, consegue fechar tudo, te decepcionando um pouco a princípio, mas logo te animando no finalzinho, só pra te decepcionar de novo na cena pós-crédito (se você for fã do Bucky, claro e não se importar muito com o Pantera Negra).

O filme, como era de se esperar, é cheio de altos e baixos, a Viúva Negra continua sendo uma personagem completamente inútil para a narrativa do filme, servindo só como meio de fanservice mesmo, pois sua personalidade nunca é desenvolvida de verdade. As piadas fora de hora continuam ali, invadindo as cenas, quebrando toda a construção da tensão que as cenas mais épicas causam. Além disso, a "guerra civil" pode ser uma batalha muito intensa e bem feita, mas foi confirmada que não se trata de uma "treta civil" mesmo. Também conseguiram, assim como nos quadrinhos, tirar uns personagens que iriam desequilibrar pra caramba a batalha, no caso o Thor e o Hulk, mas o Visão, que é o Ajax da Marvel continua lá, todo fodão e a Feiticeira Escarlate também, gerando vários momentos deus ex-machina que ninguém fala, claro, por que o filme é perfeito. O vilão, uma versão genérica do Barão Zemo é um tremendo emo mesmo e eu acho um crime chamar um ator tão bom quanto o Daniel Brühl pra fazer aquele papelzinho meia boca. A aparição do Homem-Aranha, o melhor super-herói de todos, ficou muito legal, mas é um pouco além de exagero dizer que esse Aranha é melhor que o Aranha do Tobey Maguire com o Sam Reimi na direção (Homem-Aranha 2 ainda é o melhor filme de super-heróis que existe, com certeza), mas vamos ver seus próximos filmes solo, já começou errado com uma Tia May que não tem cabelo branco, mas quem sabe os roteiristas consigam suprir esse erro grave com uma boa história, aliado a uma direção no mínimo competente. Ainda tem os diálogos clichês e chatolinos, mas isso não convém comentar profundamente.

Mas as coisas boas se sobressaem neste filme (ao contrário de BvS) e se você não procurar com atenção, acaba achando "Treta Civil" um filme perfeito mesmo, se você tiver menos de 14 anos vai achar ele perfeito não importe quantas vezes o assista. As cenas de ação são muito boas, as chaves de b*ceta que a Viúva Negra dá em todo mundo são as únicas boas que fazem a personagem boa, a treta civil é muito bem trabalhada, sendo caótica e passando um sentimento de exaustão legítimo a quem assiste, não só pelo fato de ser longa, mas pelo fato de acabar com os personagens mesmo, você sente o cansaço deles na pele, tudo isso, por que é tudo muito bem dirigido. Créditos aos irmãos diretores mesmo, que ainda deram uma estilizada legal no filme, as letras gigantes indicando a localização das cenas remete aos filmes de espião mesmo, por sua vez, criando uma espécie de estilo cinematográfico que o filme do Capeitão deve seguir.

Enfim, "Treta Civil" é mais um filminho da Marvel, um filme que se destaca no meio dos outros, conseguindo ser, assim como "Homem de Ferro", "Soldado Invernal" e "Guardiões da Galáxia" um filme acima de medíocre, impressionando em alguns momentos, podendo ser colocado ao lado de filmes de ação bons mesmo. Nunca será um clássico além do seu sub-gênero (filmes de super-heróis), mas vale a pena assistir pra passar o tempo, isso se você tiver paciência pra acompanhar esse Universo Cinematográfico por completo e tiver um certo conhecimento prévio do mundo das hq's Marvel.

O duro só vai ser continuar aguentando os Marvetes e seus eternos "CHUPA DC"'s.

3 pontos e meio

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Dica musical: "Nonagon Infinity" de King Gizzard & The Wizard Lizard

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Não conhecia essa banda de Melbourne, confesso, mas acabei conhecendo o álbum deles por causa de um review do Anthony Fantano e decidi ouvir o álbum, que está disponível na íntegra no Bandcamp deles.

O som de "Nonagon Infinity" é um rock de garagem meio psicodélico com uma pitada de noise e lo-fi, gerando uma mistura muito estranha, mas ao mesmo bastante interessante de se ouvir. As guitarras distorcidas apresentam aquele som rasgado tão comum às bandas de garage-rock e de lo-fi. Alia-se a isso uma bateria forte, marcante e bem ritmada, dando um som explosivo ao conjunto.

Suas melodias são bem pesadas, mas há momentos de leveza ao longo das músicas, geralmente os momentos mais psicodélicos, com uma presença marcante de sintetizadores, agregando uma pegada bem contemporânea para todo o álbum, é notável a influência das novas bandas de rock psicodélico, já não tão novas assim.

No entanto, "Nonagon Infinity" é um álbum primariamente de rock e rock pesado, são notáveis também as influências de bandas como Pink Floyd, Led Zeppelin e Black Sabbath, por exemplo e ainda assim o som deles não soa "preso no tempo", como seria de se esperar de uma banda que deixa suas influências se sobressaírem tão claramente num trabalho de estúdio.

Há também uma certa influência do surf-rock.

Devido a adição de elementos contemporâneos às suas canções, "Nonagon Infinity" realmente se apresenta como algo novo.

As letras apresentam um certo grau de mistério, aumentando a atmosfera obscura e pesada que o álbum tem, ao mesmo tempo, que sua sonoridade apresenta momentos de leveza e explosão total, com muita energia e barulho.

Enfim, um álbum de rock puro, simplesmente, puxando uma porrada de influências e criando algo único, divertido, agitado, dançante, obscuro e enigmático.

Vale a pena escutar.

4 pontos

 

terça-feira, 3 de maio de 2016

Dica literária: "House of Leaves" de Mark Z. Danielewski (2000)

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"House of Leaves" é um livro que eu queria ler há muito tempo, acho que desde 2009, sempre na esperança de que alguma editora fosse publicá-lo por aqui, mas isso nunca aconteceu. Este ano, tive a oportunidade de comprá-lo e desde que ele chegou ficava me assombrando da escrivaninha. Quando terminei de ler "Kafka à beira-mar", passei por cima de todos os livros que tinha empilhados para ler e comecei a me aventurar por "House of Leaves".

O livro é uma história dentro de uma história dentro de outra história. Conta a trajetória de Johnny Truant, um jovem a procura de um apartamento, que recebe uma dica de seu amigo Lude de um apartamento perto de um velho meio caduco chamado Zampanò. Após a morte do velho, Johnny descobre no apartamento dele um manuscrito que é, na verdade, um estudo acadêmico de um documentário chamado "The Navidson Record". A história, sendo tão interessante, chama a atenção do rapaz, apesar dele nunca ter achado evidência de sua existência. O tal "The Navidson Record" é um documentário feito por Will Navidson, um fotojornalista que se muda de Nova Iorque para Virgínia, com sua esposa Karen e seus filhos, Chad e Daisy. Inicialmente, Will espalha câmeras pela casa para documentar sua mudança e como sua família se adaptaria na nova casa, também para não se afastar demais de seu trabalho. No entanto, as coisas começam a ficar estranhas quando ele descobre que o espaço interno da casa é maior que o espaço externo, portas começam a surgir nos corredores e um corredor infinito surge, levando para lugar nenhum, a não ser um labirinto onde nenhuma luz atravessa.

Como dá pra notar, o livro não segue uma estrutura comum, com um layout totalmente não convencional, sendo descrito na wikipédia como um exemplo primoroso de "literatura ergódica" (seja lá o que isso quer dizer). Assim como "Graça Infinita""Graça Infinita", suas notas de rodapé, contém outras notas de rodapé, que podem levar também para os Apêndices, com suas próprias histórias e narrativas que elucidam pequenos detalhes que podem ou não auxiliar a trama principal. Além disso, o texto principal (o estudo acadêmico de Zampanò) é é recheado de citações para filmes, livros, músicas e peças de teatro que, em sua maior parte, sequer existem. Algumas páginas contém apenas algumas palavras organizadas ao longo da página para acompanhar os eventos que acontecem na história (por exemplo, uma palavra se localizar em cima da outra como uma escada ascendente).

Sendo escrito como um estudo acadêmico, ele explora uma faceta meio obscura da personalidade dos leitores de hoje em dia, que é a de achar a resenha ou o review da obra mais importante que a obra em si, o que é um puta soco no estômago e nos faz pensar no modo como lemos e consumimos literatura, no entanto, é também o principal recurso para engrandecer a obra.

É um livro que dá certo trabalho para ler e requer perseverança do leitor (talvez essa seja a maior característica da literatura ergódica), mas ao final, vale muito a pena. O que começa como uma história de horror com um nível Pinchoniano de paranoia se torna uma lição sobre sobre amor, perseverança e paixão, me arrepiando só de pensar, fazendo as horas de esforço para compreender e entender a leitura valerem muito no final.

Concordo com muitos que dizem que este é um livro muito difícil de ser adaptado para os cinemas, mas não impossível, só daria muito trabalho para quem fosse se atrever a fazer isso e a adaptação perderia um pouco do poder que o livro tem. Também acho muito difícil que uma editora traga ele para o Brasil, pois ele contém fotos coloridas no meio dele, a palavra "casa" é sempre azul e quando algum trecho faz menção ou se relaciona com o imaginário de um labirinto, todo esse trecho é vermelho e tudo isso poderia ser excluído da versão final, mas deixaria uma lacuna grandiosa e essencial para o entendimento da obra ao final.

Enfim, "House of Leaves" é um livro complicado, complicado de ler, de entender e de achar no Brasil, mas deixe ele na sua lista de comprar futuras para quando tiver a oportunidade de comprá-lo, por que eu tenho certeza que você não irá se arrepender de lê-lo.

5 pontos

domingo, 1 de maio de 2016

Dica musical: "White Hot Moon" de Pity Sex (2016)

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Pity Sex é uma banda de Michigan de rock com uma pegada meio noise e uns acordes melódicos, que confundem a cabeça de qualquer um que queira enquadrá-los em algum gênero. Pra piorar a banda tem dois vocalistas que também são guitarristas, um homem e uma mulher, que dividem os vocais em quase todas as músicas.

"White Hot Moon" é o segundo álbum de estúdio deles, seguindo na mesma pegada do primeiro CD, um som mais melódico, porém com uma pegada meio noise, vocais divididos e letras bem pessoais.

Aqui, as letras fazem, diversas vezes menção a lua, relacionando isso com um relacionamento amoroso. Tudo muito romântico, tão romântico que dá vontade de vomitar arco-íris. As letras acabam sendo um pouco piegas, mas o legal da banda é que eles sabem disso, até ironizando todo esse romantismo em versos aqui e ali ao longo do álbum.

Musicalmente, eu sempre considerei esse estilo musical meio limitado e o Pity Sex não é exceção à regra, não há grandes variações rítmica ao longo do álbum, no entanto "White Hot Moon" ainda é o álbum com a maior variação rítmica da curta carreira da banda, mostrando que eles estão, sim, crescendo e evoluindo, o que é um ponto muito positivo.

Enfim, "White Hot Moon" não é um álbum fantástico, mas é muito legal de se ouvir, as letras são boas e eles estão conseguindo evoluir o estilo musical deles, valendo a escutada.

3 pontos

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Dica cinematográfica: "Rua Cloverfield 10" (2016)

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Post tardio, mas antes tarde do que nunca, afinal, eu não podia deixar a oportunidade de falar desse filme passar.

"Rua Cloverfield 10" é a continuação "espiritual" de Cloverfield, de 2008, um dos melhores filmes da década passada, na minha opinião, um filmaço.

No entanto, "Rua Cloverfield 10" não tem relação alguma com "Cloverfield", o que inicialmente é um ponto negativo, mas falaremos disso depois.

Vamos a sinopse: uma jovem sofre um acidente na estrada a caminho da casa do seu namorado (eu acho) e acaba indo parar num bunker construído por um maluco conspiratório que diz que alienígenas marcianos invadiram a Terra. Desconfiada da história, ela tenta descobrir uma forma de se libertar daquele lugar, ao mesmo que descobre aos poucos, verdades pouco agradáveis sobre seu suposto salvador.

O filme ainda conta com outro jovem, que proporciona momentos engraçados ao longo do filme, um dos poucos momentos de relaxamento da película, que, assim como o último Godzilla, é um filme de construção do suspense. A tensão é mantida do começo ao fim e mesmo nas horas em que os personagens respiram e relaxam, há uma certa tensão escondida, algo que te deixa inseguro e apreensivo pelo que vai acontecer em seguida. John Goodman é um excelente ator para isso, que tem um porte físico assustador, ao mesmo tempo que tem um rosto meio infantil e que inspira confiança. Seu papel aqui lembra um pouco o seu papel em "Barton Fink".

Ainda assim, o filme não deixa de ser um baita de um "caça-níquel". A história por trás do filme, contada nessa página do Reddit em detalhes é que o roteiro desse filme é um desses roteiros que os estúdios compram e deixam em seu catálogo para qualquer diretor ou produtor pegar quando quiser. Seu roteiro original não tinha nenhum alienígena e seria apenas um thriller de suspense que não agradou muita gente pela sua simplicidade e até obviedade. Então entra o J.J. Abrams, que já tinha uma ideia de fazer um segundo filme de Cloverfield, mas não sabia como construir essa história e aí ele decide criar uma nova forma de franquia. E aí está o problema, além do nome, poucas coisas se relacionam entre os dois filmes, o nome da rua onde o bunker se encontra é Cloverfield e só sabemos disso no finalzinho mesmo. Nós nem sabemos que o monstro de Cloverfield é um alienígena pra poder se relacionar com os alienígenas de Rua Cloverfield, que, inclusive, um lembra um cachorro e outro um monstro de chtulhu, sem relação alguma com a aparência do monstro do primeiro filme.

Ainda assim, "Rua Cloverfield 10" é um bom filme, a tensão construída ao longo do filme é exemplar, seu aspecto técnico é primoroso, a trilha sonora trabalha em conjunto com as imagens para criar a tensão e o suspense que te prende do começo ao fim, os mistérios criados ao longo do filme são instigantes e até perturbadores, te fazendo sentir até um pouco de raiva e o final é, literalmente, explosivo, no melhor sentido da palavra. Enfim, o filme funciona e acaba sendo bom, o que até mudou minha concepção de "filmes caça-níqueis", que perdeu um pouco seu sentido pejorativo para mim, afinal, se feito direito, pode impressionar e divertir, ao mesmo tempo.

Claro que os créditos também vão para as campanhas desse filme, que esconderam sua existência até pouco tempo antes do seu lançamento, o que pode segurar um pouco as reações negativas do filme, evitando um possível boicote ou algo assim. Uma campanha de marketing parecida com a campanha de "Cloverfield", mas sem todas as teorias conspiratórias legais e o hype maneiro.

Enfim, "Rua Cloverfield 10" vale a pena, é um puta caça-níquel malandrão, mas vale a pena, pois impressiona, te manterá preso na cadeira do cinema ou no sofá de casa em toda a sua projeção e nem é tão longo assim.

4 pontos

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Dica musical: "Tiny Dots Soundtrack" de La Dispute (2016)

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Após o lançamento do ótimo documentário "Tiny Dots", a banda La Dispute lança a trilha sonora para o documentário, num belo trabalho de estúdio, expandindo seus horizontes musicais ao mesmo tempo em que agracia os fãs mais ferrenhos da banda.

"Tiny Dots" (o qual não tem dica aqui, por que eu sou um burro) foi um projeto no qual a banda se concentrou após o lançamento de Rooms of the House e durante as gravações de uma apresentação ao vivo numa igreja. O filme, que contaria apenas um pouco do processo de criação do álbum, acabou crescendo e virou um documentário sobre a história da banda, do processo de criação do álbum, da saída de Kevin Whittemore e os caminhos que eles gostariam de seguir dali pra frente, culminando com uma apresentação ao vivo na "All Saints Church", em Kingston, Reino Unido, apoiando uma associação beneficente.

Ao longo do documentário é possível ouvir algumas músicas, a introdução ao show é uma canção bem interessante também, mas não dá pra saber que são músicas do La Dispute, propriamente ditas, principalmente por soarem tão diferentes, são canções mais eletrônicas, puxando mais pelo lado da vertente ambient, com sons que se arrastam longamente e nenhuma batida para "animá-las".

Essas canções e talvez até mais, talvez menos (todas elas são nomeadas com letras do alfabeto, de A a G, mas falta a letra F) estão contidas no lado A do vinil lançado na Record Store Day, que foi nesse sábado. O lado B conta com algumas canções apresentadas no show deles na igreja, as favoritas deles e, realmente, as melhores daquele show (embora, todas as canções apresentadas sejam bem boas).

A trilha sonora de Tiny Dots, então, se apresenta como um relaxamento para a banda, uma forma de espairar as ideias e apresentar aos fãs alguns novos sons, apesar de não conter nenhuma música nova, mostrando o quão versátil e talentosos os caras do La Dispute são.

Escute apenas.

5 pontos

domingo, 17 de abril de 2016

Dica literária: "The Tipping Point" por vários artistas (2016)

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Fabrice Giger, desde criança, foi um fã de quadrinhos, no entanto, em 1974, enquanto acompanhava sua mãe fazia as compras, viu na prateleira de livros "Delirius" de Phillipe Druillets (perdoe-me se o nome estiver errado) e sua mente explodia com as elaboradas cenas de batalha e seu toque futurista. Sua mãe não comprou o livro para ele, dizendo que ele era muito novo para essas coisas (talvez até fosse mesmo), mas, como ele mesmo diz no prefácia de "The Tipping Point", a semente já estava plantada. À partir daí ele se tornou fã de artistas como Moebius e Dionnet, além de revistas como "Heavy Metal", voltando sua atenção sempre para artistas que procuram construir suas carreiras num campo de trabalho que não seja regido por grandes editoras buscando dinheiro em gêneros pré-estabelecidos, trabalhando com mais liberdade e, se der, quebrando paradigmas, misturando gêneros e até criando algo inédito, de vez em quando. Aquele dia em 1974 foi o seu momento crítico (seu tipping point). Para celebrar os 40 anos da editora Humanoids, 14 artistas diferentes do mundo inteiro foram convidados para explorar, através de histórias curtas, momentos críticos, pessoais ou não, da maneira como quisessem.

O livro conta com a participação de nomes de peso como Taiyo Matsumoto, Atsushi Kaneko, John Cassaday e Paul Pope, só para citar aqueles cujo trabalho eu já conhecia e admirava. Outros nomes não conhecia, mas chamaram a minha atenção, como Keiichi Koike, Naoki Urasawa e Emmanuel Lepage.

Alguns como Emmanuel Lepage, exploram momentos críticos de suas vidas pessoais (no caso, a descoberta de sua sexualidade), outros como Atsushi Kaneko e Keiichi Koike criam momentos críticos para os seus personagens explorados nessas curtas histórias e outros, como Taiyo Matsumoto criam momentos críticos metalinguísticos para levar o leitor a sentir, ao menos uma fração, aquilo que eles sentiram quando passaram pelo momento crítico de suas vidas.

O livro é uma verdadeira obra de arte contendo desde a arte minimalista (presente na história de Eddie Campbel) à artes mais elaboradas e detalhistas (como a Keiichi Koike e Bob Fingerman). É um compêndio excelente e impressionante apenas pela arte, mas seus artistas são realmente talentosos, criando momentos críticos que variam do drama mais profundo, passando por reflexões intensas, outras mais singelas até o humor, às vezes ácido, às vezes pastelão.

"The Tipping Point" acabou de ser lançado e pode ser adquirido em formato digital pelo site oficial e outras empresas menos legais por aí, valendo muito a pena. Eu não consegui achá-lo de forma "ilegal", mas acho que é por que é algo muito recente, realmente, mas logo logo deve figurar nas prateleiras do livro do ultra.

Enfim, leiam "The Tipping Point", uma experiência única.

5 pontos

domingo, 10 de abril de 2016

Dica musical: "Everything You've Come To Expect" do The Last Shadow Puppets (2016)

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E para a alegria geral de todos aqueles com bom gosto musical, o TLSP lançou seu tão aguardado segundo álbum (uma afirmação a qual eu tenho algumas ressalvas) e o trabalho, como já era de se esperar, não decepciona.

Muito especula-se sobre esse álbum, algumas críticas se atêm às personas de Miles Kane e Alex Turner (contestáveis desde alguns anos atrás, a de Turner desde de Sick it and See), sobre se eles conseguiriam apresentar algo "novo" através desse álbum e sobre a expectativa em cima desse projeto, mas todas essas críticas são infundadas, primeiro, por que as personas que os dois amigos assumiram são contestáveis e tal, mas isso não vem de hoje, veja as críticas feitas anos atrás dos últimos lançamentos dos dois e verá que ninguém se atentou a isso. Eu vejo essa crítica como um oportunismo sacana para esconder uma falta de talento do jornalista responsável pela crítica. Segundo, o álbum não tenta apresentar nada "novo", assim como o primeiro registro do projeto dos dois e por último, mas não menos importante, "The Age of Understatement" foi um marco, de fato, um CD excelente, mas sempre foi um projeto alternativo, algo que nenhum dos dois amigos considerava urgente, nem primário em sua lista de prioridades, então, eu mesmo, nunca esperei um segundo CD do TLSP com ansiedade, mas fiquei muito feliz com a notícia de seu lançamento.

Esclarecido esses pontos, vamos à crítica. O álbum é muito bom, continuando com aquela sonoridade mais pop, porém sofisticada, lembrando uma trilha sonora de algum filme 007 ou cantores britânicos de música pop dos anos 60 e 70, no entanto, dessa vez, eles assumem uma pegada mais vibrante, fazendo jus ao nome de Isaac Hayes, dito como principal influência dos dois amigos nesse segundo álbum. Algumas de suas canções conseguiriam caber fácil num filme blaxploitation, outras ainda conseguiriam se encaixar num filme do 007 e "Used to be my girl" parecia ter saido direto de Suck it and see.

A primeira música, "Aviation" poderia se encaixar fácil no primeiro álbum, mas logo pelo seu começo, com os violinos estridentes, marcando um tom meio sombrio, quase de filme de horror ao longo de toda a projeção da canção, já sinalizam que este é um álbum diferente, a continuação de uma trilogia, cuja terceira parte eles queriam fazer antes da segunda (o que me deixou pensando, este é a terceira parte ou a segunda? Se for a segunda, perfeito, mas não soa como uma conclusão, de forma alguma, o que daria a entender que a terceira parte já está montada, ao menos na cabeça deles ou em alguns rascunhos em suas casas).

Dessa forma, o álbum apresenta-se de maneira muito excitante e surpreendente aos nossos ouvidos, perdendo um pouco do fôlego apenas no final mesmo, quando Alex Turner parece chamar a responsabilidade para si e toca as duas músicas mais chatas do CD para finalizar com chave de tédio.

Miles Kane, o artista mais subestimado da história recente, está como de praxe, excelente neste álbum. É notável o momento em que sua guitarra entra em ação, estridente e forte, além é claro de assumir os vocais várias vezes, assim como no primeiro CD, mostrando que é tão talentoso quanto Alex Turner, talvez até mais.

Em relação às letras, elas são simplesmente fenomenais. Alex Turner, como ótimo liricista que é, cria descrições fantásticas para coisas ordinárias que sequer notamos, usa metáforas e figuras de linguagem como ninguém, criando letras poéticas ao extremo, tudo isso, usando termos dos mais diversos, até mesmo científicos para suas composições. O único ponto negativo, apontado em uma entrevista por Turner, mas sem a conotação negativa que eu acho que tem, é que eles se preocupavam menos em contar histórias com este CD, então as músicas parecem meio soltas, enquanto que no primeiro álbum elas, realmente, pareciam conectadas.

Além disso, toda a produção do álbum está muito boa, com um conjunto de cordas muito bom, que encaixa perfeitamente na temática do álbum todo, sem ofuscar os vocalistas e suas composições roqueiras.

Enfim, TLSP não decepcionou, criando a continuação perfeita para a sua "trilogia", com seus altos e baixos, Alex Turner e Miles Kane criam mais um marco na história da música, que tende só a crescer conforme escutamos mais e mais este CD.

4 pontos e meio

 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Dica musical: "Loose Grip" de Jamie Isaac (2016)

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Essa é mais uma daquelas dicas que não falam propriamente de um álbum, mas seu conteúdo é tão interessante que vale a pena ser comentado no blog.

Jamie Isaac é um música londrino de uns 20 e poucos anos, um cara que eu achava que já era um velho conhecido do blog por causa de um EP que ele lançou há uns dois anos, mas eu não indiquei-o por aqui (falha minha). Ele é do mesmo grupo de amigos do Archy Marshall, esse sim, já velho conhecido do blog pelo seu trabalho mais recente, mas cujo trabalho sob as alcunhas de King Krule (com um banda formada por alguns amigos seus de Londres) e Edgar The Beatmaker (fazendo beats, lógico) e como tal, Jamie Isaac também é um artista de neo-soul, só que muito menos influenciado pelo rap/hip hop como seus colegas da cidade, seguindo por uma trilha mais melódica, até melancólica e nostálgica, no entanto com um pé no futuro, utilizando como base para suas canções música eletrônica.

Não foi surpresa quando ele anunciou que seu próximo trabalho seria uma mixtape de remixes feitos por seus amigos de canções do seu EP. O trabalho, em si, não apresenta nada de novo, apenas variações de músicas já existentes, músicas boas por sinal.

Mas a cereja do bolo é a lista de colaboradores, pessoas que fizeram as expectativas de muitas pessoas crescer quando o King Krule estourou no mundo da música indie, como esperanças para um novo estilo de música a surgir. Logo após o lançamento do álbum de estreia de King Krule, Archy Marshall lançou um EP sob a alcunha de Edgar The Beatmaker, dando espaço para uma porrada de amigos seus rimar em cima de suas batidas. Além disso, a participação do ruivo londrino no programa "Sicknotes radio", comandado por alguns de seus amigos, ao lado de Rejjie Snow apenas aumentou as expectativas de todos, com as esperanças de um CD de Rejjie, que está levando uma vida para sair. Um grupo de jovens, talentosos, bebendo de referências muito boas, misturando gêneros musicais como numa batida muito gostosa foi algo que alimentou as esperanças de muita gente.

No entanto, o King Krule não deu sinal de lançar um CD tão recente, preferindo seguir por um caminho mais eletrônico com um projeto ousado e completamente diferente do que esperávamos. O que já é mais do que o Rejjie Snow fez, que até lança alguns clipes musicais aqui e ali, mas seu CD nem dá sinal de que um dia irá existir. Jamie Isaac lançou um EP de 4 músicas. Ragofoot aparentemente continua trabalhando, por que está falido como uma piada. A Sicknotes Radio acabou, mas o Benji B conseguiu o seu próprio programa na BBC Radio 1. MC PINTY até que lançou um CD ano passado de hip hop com batidas minimalistas, provando que ele é muito bom nas rimas, mas não chamou tanta atenção assim na época de seu lançamento. Jadasea é difícil lembrar que existe.

E todos esses caras, com exceção do Benji B, voltam para essa mixtape de Jamie Isaac e isso é sensacional. Rejjie Snow está muito bem na gravação que faz para a música de abertura. Jadasea volta produzindo o segundo remix. Archy Marshall volta como Edgar The Beatmaker, remixando 2 canções, mostrando, infelizmente, que continua seguindo por caminhos mais eletrônicos minimalistas e soturnos, criando as duas canções mais tediosas do trabalho. Ragofoot volta ao lado de Jesse James e MC PINTY cria um interlúdio memorável como um dos melhores momentos do álbum. Outros remixes ficam por conta de JJ e Mr. Malarky.

Todos eles adicionam suas marcas para o trabalho original de Jamie, mas a espacialidade, os toque jazzísticos e melancólicos continuam presentes, para você não se esquecer de que esse ainda é um projeto de Jamie Isaac.

Um projeto muito bem sucedido, por sinal.

4 pontos

sábado, 2 de abril de 2016

Dica musical: "CULT" do the caulfield cult (2016)

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Eu não sei que tipo de culto esses caras estão participando, mas eu sei que não é um que eu quero participar assiduamente.

Ontem, o the caulfield cult, banda que figurou por aqui lançou o seu novo trabalho de estúdio, um álbum completo com 11 canções, continuando com suas guitarras desritmadas, cheias de energia e letras introspectivas.

No entanto, diferente do último EP, este álbum reúne canções com letras ainda mais introspectivas, muito tristes, de verdade, debatendo temas que geralmente giram em torno de relacionamentos amorosos falidos, mas também abordando depressão, raiva, ansiedade, abandono, solidão, enfim... é um poço de tristeza esse álbum.

No entanto, eu acredito que há beleza na melancolia, já demonstrada através de tantas músicas, filmes, livros e pinturas, e para o meu gosto pessoal, esse CD até que é bem maneiro. Uma única ressalva que fica é em relação a quantidade de músicas, são 11 canções, mas poderiam ser bem menos. As 3 primeiras canções mesmo poderiam ser uma só, não apenas por serem curtas, mas por não serem tão diferentes ou se destacarem tanto assim uma da outra.

Acho que um dos problemas para isso é o fato do vocalista ser também o produtor do álbum, então eles não contam com uma opinião diferente diretamente na produção das canções, o que acaba gerando um resultado mais heterogêneo, fiel ao que o vocalista e provavelmente escritor de todas as canções pensou num primeiro momento, mas uma segunda opinião é sempre muito bem vinda, se apresentar resultados positivos.

Fora isso, o álbum é sólido, mantendo um ritmo mais lento e deprimente no começo para um crescendo, ganhando vitalidade e explodir no final com as últimas 3 canções (as melhores, para mim).

Custando apenas 5 dólares no bandcamp deles, "CULT" é um álbum legal, não decepciona se você gosta do gênero, valendo a pena o investimento.

3 pontos e meio

sexta-feira, 1 de abril de 2016

E o final de "Durarara!!"? Valeu a pena?

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Não, simplesmente não valeu pena.

Continuo mantendo as críticas que fiz no post sobre o segundo arco dessa segunda temporada de "Durarara!!": história bagunçada e animação fraca são os elementos que mais incomodaram nessa segunda temporada e, ao chegarmos ao final da série, o gosto ruim na boca que fica é disso aí.

O arco de história da Celty, por exemplo, é confuso. Os discursos das personagens envolvidas no arco são ininteligíveis e desconexos. A Celty, que era uma das personagens mais legais, simplesmente deixa de ser. Sua entrada triunfal, não tem nada de triunfal, sua saída, nem se completa. Eu entendo que muita gente gosta do romance dela com o médico, mas o final é piegas. A série mesmo diz que é uma história de amor doente, então por que mantê-la?

O arco de história do Minato é ridículo de tão nonsense, simplesmente não faz o menor sentido o seu final. Eu entendo que o personagem estava sendo usado e tal, mas a solução que deram foi fácil demais, simplesmente ridícula.

E o arco de história do Shizuo contra o Izaya é simplesmente decepcionante. O melhor personagem da série não tem o final digno que merecia e a morte mais esperada por todos (a morte do Izaya, o personagem mais odiável da série) não acontece.

Ou seja, toda essa segunda temporada não valeu de nada, por que o status quo se manteve e o pior é que isso é apresentado na série como algo bom, como se manter o status quo fosse algo legal.

Enfim, a segunda temporada de Durarara!! não valeu a pena, de forma alguma. Eu ainda não reassisti a primeira temporada (que é um dos meus animes favoritos) pra saber se minha opinião com a série mudou depois dessa segunda temporada ridícula, mas talvez eu faça isso, ou não, talvez, muito pelo contrário...

Nota: 0, não assistam essa bosta.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Dica televisiva: "Boku Dake Ga Inai Machi" (2016)

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Muito bem, chega de enrolar, vamos pular todo o blá-blá-blá de como essa indústria (de animes e mangás) está fadada a uma morte lenta, gradual e dolorosa e falar de Boku Dake Ga Inai Machi, um dos melhores animes dos últimos anos.

Boku Dake Ga Inai Machi foi um mangá serializado entre 2012 e 2016, mas hoje eu irei falar do anime que estreou em janeiro deste ano e terminou semana passada. Trata-se de uma história de suspense seinen de Satoru Fujinuma, um desenhista de mangás que não consegue emplacar uma história sequer em alguma revista japonesa e que também tem a habilidade de voltar no tempo alguns momentos antes de alguma tragédia acontecer e assim ele consegue evitá-la. Tudo se complica quando, após o assassinato de sua mãe, ele volta no tempo 18 anos, numa época em que ele ainda era um estudante do ensino fundamental, dando a ele a oportunidade de prever um sequestro que culminou na morte de três crianças da sua idade.

O anime foi dirigido por Tomohiko Ito, um cara que é bom ficar de olho, pois tem um currículo promissor, começando como assistente de diretor em Death Note e trabalhando em um monte de séries meia boca, mas que me chamaram a atenção num primeiro momento pela qualidade de sua animação e me desanimara pela história, como Swrod Art Online, mas que, com essa série, está se provando ser um diretor foda.

Para começar, há um monte de camadas a serem desconstruídas nesse anime. De elementos mais óbvios como a voz da consciência de Satoru se misturando com a sua voz de criança, passando por alguns elementos que você precisa prestar atenção para notar (a cor vermelha sempre presente quando algo ruim de verdade está para acontecer e por que você pode ficar despreocupado quando a casa de Airi começa a pegar fogo no episódio 5), até elementos que só um olhar muito técnico notaria (em algumas cenas quando criança, o diretor faz o uso de widescreen para mostrar o quanto o mundo de Satoru, quando criança, parecia amplo antes dos acontecimentos trágicos). Tudo isso agrega um valor artístico muito forte à série, algo que é difícil de achar até mesmo nas melhores séries de animes (mesmo Cowboy Bebop, Samurai Champloo, Death Note e Fullmetal Alchemist, que são facilmente consideradas as melhores séries de anime por aí, você não encontra elementos tão distintos escondidos para ajudar a narrativa, elas são louváveis por outros pontos que Boku Dake Ga Inai Machi nem passa perto).

Mas é claro que só isso não sustenta uma série, afinal a história ainda está aí para atrair a nossa atenção. Boku Dake Ga Inai Machi é um thriller de realismo fantástico, por motivos bem óbvios. Como um thriller, seus personagens não podem contar com a sorte, mas sendo uma obra de cunho fantástico, a sorte pode nos ajudar sim, no entanto, isso não se faz presente em todos os momentos da obra, até por que, se isso acontecesse, sua narrativa perderia todo o valor e propósito. A narrativa é muito bem construída, o suspense é crescente e o mistério a ser desvendado, realmente é labiríntico, você se perde no meio dele tentando achar o culpado. Eu li e vi falaram por aí que o culpado é bem óbvio, mas não acho que ele é facilmente identificável desde o começo da série (há uma cena que muitos usaram para exemplificar isso, mas a desculpa que ele deu, acho totalmente válida, vai ver eu acredito demais no bem das pessoas). Sua culpabilidade fica mais evidente do episódio 10 em diante, eu diria. Isso é mérito do mangaká, que escreve e desenha o mangá e a história é dele, não do diretor, o que é um ponto a menos para o Tomohiko, mas eu acho que a questão é dar um bom trabalho pro cara, que ele sabe o que fazer com ele.

O final conta com um elemento meio deus ex machina, mas eu acho que não tinha outra escapatória mesmo, era aquilo ou o final seria bem decepcionante, no entanto, não deixa de ser realista, o culpado, no tempo em que a história se segue (após tantas viagens no tempo) não é culpado de nada (ele não cometeu nenhum crime) e o único erro que ele cometeu foi uma tentativa de homicídio que não deu certo.

No entanto, o final também acaba sendo muito interessante, também cheio de camadas, que eu mesmo não captei em sua totalidade, mas digo que valeu muito a pena.

Enfim, Boku Dake Ga Inai Machi é um anime com uma história intrigante, animação impecável, muitas camadas a serem analisadas e um final satisfatório. Faltou comentar que sua música de abertura é muito boa, sua trilha sonora não se destaca além da série, mas funciona perfeitamente dentro dela e a música de encerramento é chatinha como toda música de encerramento de anime.

4 pontos e meio

quinta-feira, 24 de março de 2016

Dica musical: "Live at Audiotree" do Tigerwine (2016)

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Essa dica é meio incomum, pois se trata de uma apresentação do Audiotree Live, que nada mais é que um programa de rádio online onde bandas novas são apresentadas, conheci muitos bons artistas através deles (La Dispute, Balance and Composure, Now Now, pra nomear alguns) e sem essa apresentação não teria conhecido o ótimo trabalho dos caras.

Tigerwine se define como uma banda de rock que tem a ambição de ser a banda mais barulhenta da história e parecem estar no caminho certo. Ano passado, lançaram o seu primeiro trabalho, um EP com 5 canções muito boas, guitarra e baixo distorcidos e pesados pra caramba, um baterista com excelente senso de ritmo, se destacando em todas as canções e letras críticas, inspiradas no seu passado mais tradicional (eles cresceram numa comunidade tradicional dos EUA e dizem que isso influenciou o seu senso crítico).

Na apresentação ao vivo, podemos notar o alto nível de excelência que assumem em seus instrumentais, mas o vocalista deixa um pouco a desejar, principalmente no final, quando vai perdendo o fôlego, o que é facilmente disfarçado em seu EP de estreia; "Lull". As 5 músicas do EP são cantadas nessa apresentação, numa ordem diferente da apresentada no trabalho original, o que gera uma certa dicotomia agradável entre os dois trabalhos, como se um completasse o outro.

A apresentação inteira está disponível para ser ouvida aqui, com vídeo para a música final e custa só algumas doletas pra comprar e garanto que vale a pena comprar, por que a Audiotree repassa metade do dinheiro diretamente para o artista, sem passar por nenhum patrocinador ou produtor ganancioso, o que é sempre muito bem-vindo na era em que vivemos.

3 pontos e meio

quarta-feira, 23 de março de 2016

Dica musical: "Low" de P. Morris (2016)

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P. Morris é um produto musical e beatmaker de não-sei-onde (sim, eu não sei, por que encontrei ele através de um site musical do Reino Unido, mas a gravadora pela qual ele lança seus CD's é da Califórnia e não pude encontrar nenhuma informação pessoal pelas suas mídias sociais) que acaba de lançar esse EPzinho de 5 músicas apenas, mas que acaba valendo muito a pena.

O EP chamado de "Low", acompanhando de uma arte obscura em preto e branco, além de uma frase bem curiosa, para dizer o mínimo em seu bandcamp ("Deus fez a terra, a terra não machuca"), começa de maneira bem suave, com vários trompetes sobrepostos, criando uma atmosfera obscura, porém agradável de jazz, o tipo de música que você deixaria tocando numa madrugada solitária.

À partir daí o EP toma uma guinada para o lado negro da força, com uma música totalmente eletrônica, pesada, confusa, claustrofóbica até e essa atmosfera negra e pesada não abandona o EP em nenhum momento, apesar de ganhar pontuações mais leves em "Hot Life" e "Great Expectations", até terminar de forma melódica e até meio melancólica em "Bad Habits".

Enfim, "Low" é um álbum muito bem vindo, mesclando uma porrada de gêneros, do jazz ao noise, passando por diversos gêneros da música eletrônica, fortalecendo a confusão atual em que a música como um todo se encontra, mas seguindo por caminhos mais agradáveis, interessantes e misteriosos.

Vale a pena ouvir.

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3 pontos e meio