terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Dica gourmet: Hambúrguer de carne bovina Frimesa

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Quem não gosta de hambúrguer? Um louco, apenas! E qual o melhor hambúrguer que existe? Hambúrguer caseiro, claro! Mas se você é alguém que não tem os dotes culinários ou os materiais ou ainda o tempo para fazer o seu próprio hambúrguer, qual a solução? Comprar hambúrguer! E eu estou aqui para te ajudar isso.

Já compro hambúrguers há anos e já deu muito com a cara no muro, chegando a comprar uma caixa inteira com 12 hambúrguers podres, mas isso não vem ao caso, pois estou aqui para indicar um produto que ganhou minha confiança no último ano.

Morando sozinho, tenho que me virar com um tempo curto e um orçamento menor ainda, então acabo recorrendo, com frequência ao hambúrguer, que é fácil de fazer e é gostoso.

No entanto, existe algo de diferente no sabor do hambúrguer de carne bovina Frimesa, é mais saboroso, mas não é mais salgado ou algo assim, ele realmente tem mais sabor de carne de boi e por isso eu sempre acabo dando preferência a ele, visitando mais de um mercado pra poder compra-lo, pois onde compro esse hambúrguer não tem o arroz buriti e onde tem o arroz buriti não tem esse hambúrguer.

No entanto, o esforço vale a pena.

Além disso, ele não cria tanta fumaça e nem cola na panela, mas você tem que ficar de olho, pois ele pode queimar rapidamente.

Enfim, espero que tenha ajudado suas refeições a serem mais saborosas e rápidas com essa dica.

4 pontos

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Dica cinematográfica: “Cloverfield” (2008)

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Ao assistir o péssimo “The Cloverfield Paradox” (que tem um final que salva o filme inteiro, diga-se de passagem, portanto vá assisti-lo apenas para levar um susto no final), percebi que nunca havia indicado esse clássico moderno por aqui, então, antes que o próximo filme da franquia saia (que parece ser tão ruim quanto o Paradox), vamos à dica de Cloverfield, o clássico de 2008.

Em “Cloverfield”, acompanhamos a noite da invasão de um monstro (carinhosamente apelidado pelos fãs de “Clover”) à cidade de Nova Iorque pelo ponto de vista da câmera de um dos protagonistas, Rob, que junto com amigos tentam escapar da cidade com vida. Em meio ao caos causado pelo monstro ainda somos conhecemos o romance entre Rob e Beth, sua amiga de infância, através de cortes de uma gravação antiga que ele havia feito meses antes.

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O filme é um primor do gênero “fita encontrada” e “horror” e ainda chamou muita atenção na época do lançamento pela sua campanha de marketing viral que contava com sites falsos, notícias e vídeos na internet, responsáveis por criar um quebra-cabeças que até hoje não foi montado.

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Outros filmes nessa mesma pegada já haviam sido feitos, como “A Bruxa de Blair” e foram feitos depois, como “Poder Sem Limites”, mas nenhum deles conseguiu manter a longevidade que Cloverfield manteve e isso não é explicado apenas pela insistência de J.J. Abrams, a grande mente por trás desse filme, em mantê-lo vivo, acredito que o grande fato desse filme manter sua longevidade é sua qualidade excepcional como um filme de horror/ficção científica/fita encontrada mesmo.

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“Cloverfield” é um filme que não chega a ter 1h30 de duração, mas quanto ao que realmente importa, a invasão do monstro, não chega a ter 1 hora de duração, pois os créditos ocupam quase 10 minutos e temos ainda mais de 20 minutos de cenas que nos apresentam os personagens, são as cenas de Rob e Beth passando um dia de abril juntos, as cenas antes da festa e as cenas durante a festa de despedida de Rob. Isso nos faz criar uma proximidade com os personagens que apenas os melhores filmes de horror conseguem criar e é ainda mais difícil de se encontrar filmes que fazem isso com 6 personagens. Rob, Beth, Lily, Jason, Hud e Marlena ficam tão próximos de nós, em tão pouco tempo, que nós realmente torcemos para que eles consigam sair de Nova Iorque vivos e lamentamos suas mortes. Além disso, nenhum deles é um clichêzão típico de filmes de horror ou de ficção científica, claro que temos o personagem responsável, o guia do grupo, a mente madura e o alívio cômico, mas essas não são as características determinantes dele e ao final do filme, se você gostou dele, acaba lembrando dos personagens pelos seus nomes e ações durante o longa.

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São os personagens humanos e sua relação pura que fazem com que o filme ainda hoje cative os fãs. Eu acredito que seja esse o fator responsável pela longevidade de “Cloverfield”, muito além de teorias conspiratórias, efeitos especiais ou mesmo a possibilidade de expansão desse universo num multiverso.

Embora isso seja um fator importante também, mas eu acho que secundário. Na época em que assisti o filme não tive a oportunidade de vê-lo nos cinemas, então assisti num DVD em casa, junto da minha mãe e do meu irmão. Não é um filme para se ver em família, mas eu tinha uns 14 ou 15 anos e essa seria a minha primeira experiência com um filme de horror, eu simplesmente não sabia onde estava me metendo, mas conforme o filme avançava, mais afundado no sofá eu ficava e grudado na tela da TV. Minha mãe que sempre foi uma chata (mas no sentido bom) e insistia em conversar comigo e com o meu irmão após cada filme, seriado, desenho, jogo ou livro que terminávamos de consumir, disse que a única coisa que salvava esse filme era a amizade dos personagens.

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Ela, uma mulher com mais de 40 anos, que não vê valor nenhum em coisas negativas (portanto, filmes de horror, terror, violência e sexo excessivos, etc... estão completamente fora de questão nos seus gostos pessoais) captou a essência que “Cloverfield” transmite ao expectador, seja essa essência proposital ou não, afinal eu não confio muito na “genialidade” dos criadores de “Cloverfield”, que alcançaram o ápice nesse filme e nunca mais fizeram algo a sua altura.

E em volta dessa essência temos o monstro, o “Clover” não se parece com um Godzilla, mas destrói tanto quanto e abre diversas janelas para especulação apenas nesse filme, como, por exemplo, os animais que caem dele, bichos tão estranhos quanto ele, que comem humanos e se não comem, infectam com alguma coisa que nos faz explodir. Na época não dava pra entender direito o que era aquilo, seriam os filhos de Clover? No entanto, com o final de Paradox, que nos mostra uma versão do Clover ainda maior, confirmando as afirmações de J.J. Abrams de que o Clover era apenas um bebê assustado, dá pra imaginar que aqueles bichos eram apenas as pulgas de Clover. Assim como nós, Clover é um bioma que carrega em si uma série de outros seres vivos dentro de si e se ele, um bebê, já é do tamanho de arranha-céus, suas bactérias, micróbios e seres infecciosos são do nosso tamanho e podem nos destruir num piscar de olhos.

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Agora que o universo se expandiu e virou, definitivamente, um multiverso, temos ainda mais portas para especulação e coisas a serem debatidas, como as empresas que fazem parte de todo o universo, a Tagruato e a Slusho fazem parte de todos os universos, a Slusho é vista até em produções que não tem nada a ver com a série, então já podemos descarta-la, pois é apenas um “prop” deixado ali na produção. Já a Tagruato é, provavelmente a responsável pelo despertar de Clover, pois, de acordo com o universo do filme, era a empresa responsável pelo Slusho e tiravam o seu ingrediente secreto do oceano. No mangá (que eu não li) é revelado que Clover desperta no Japão antes de ir para Nova Iorque. Está tudo conectado e faz sentido, embora não seja confirmado.

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Agora, não dá pra tentar criar uma única linha temporal com todos os filmes, pois em 10 Cloverfield Lane temos alienígenas e Paradox se passa muitos anos no futuro, mas dá pra especular que os eventos em Paradox causaram uma fissura em todos os multiversos, fazendo alienígenas invadirem a Terra em um e uma civilização de monstros aparecer no fundo do oceano em outro. Em Paradox os eventos ocorrem no passar de alguns dias, mas não dá pra dizer que o tempo transcorre da mesma forma em diferentes universos. O que foi alguns dias em Paradox pode ter sido vários meses em “10 Cloverfield Lane” e várias centenas de milhares de anos em Cloverfield.

O que eu acho que foi vacilo foram os alienígenas de “10 Cloverfield Lane”, pois uma espécie de Clover aparece em Paradox, então, não é como se houvesse muita diversidade nesse multiverso.

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Sei lá, é tudo muito confuso e eu só queria expor minhas teorias por aqui, por que eu também acho legal isso, mas o post é de Cloverfield e é uma dica. O que eu posso concluir aqui é que o filme é muito bem feito, até melhor do que os mais recentes, pois contou com uma produção menor e ainda assim se manteve atual. O monstro continua sendo muito bom, a destruição é realística pra caramba e aquela cena do helicóptero desafia a compreensão de que o filme foi feito com meros 25 milhões de dólares.

“Cloverfield” é ainda um filme atual, completa 10 anos esse ano e já conseguiu o seu espaço como um clássico do horror/ficção científica, ainda cheio de mistérios, mas acima de tudo isso, é um filme humano.

5 pontos

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P.S.: Só mais uma teoria, eu gosto de pensar que a Lily sobreviveu ao ataque e seria muito bacana se ela voltasse para a franquia de alguma forma.

 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Dica gourmet: Bolacha Toddy Wafer chocolate

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Se não tem mais Toddy de chocolate estilo torta, vamos de bolacha wafer mesmo.

Por muito tempo vaguei sem rumo pelas prateleiras de besteiras dos supermercados, mercearias, padarias, vendinhas da esquina e docelândias do país, mas não encontrei mais a minha tão desejada bolacha Toddy estilo torta sabor chocolate e minhas manhãs de sábado nunca mais foram as mesmas. Por causa disso, me deprimi, engordei, procurei prazer junto a outras bolachas, outros sabores e até outros quitudes, carregando a gordura em minhas mãos até hoje.

Então eis que vejo, no lugar onde antes restava tranquila a minha amada bolacha Toddy, sua prima distante, a bolacha wafer Toddy de sabor chocolate. Nunca fui fã de bolacha wafer, mas porque não experimentar? Era só o que me restava mesmo.

Então provei. Nem de longe o sabor é o mesmo, mas há algo ali que consegue me encantar. Em uma rápida comparação ela não é tão doce quanto a sua irmã, a bolacha Toddy wafer trufada, seu nível de açúcar é ideal, como era da sua prima distante e minha amada bolacha Toddy torta de chocolate.

Quanto ao wafer em si, não é do tipo que desmancha fácil, como acontece com muitas outras disponíveis no mercado, mantendo uma agradável crocância que não agride aos dentes e não parece borracha na boca.

Então, quase que sem querer, acabei encontrando um novo amor, não é tão ardente ou fulguroso como o amor que nutria pela sua prima, mas é firme, fiel e, o que mais importa, ele existe.

4 pontos

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Dica literária: “Luz em Agosto” (1932)

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A dica de hoje é de mais um livro de William Faulkner, o autor que mais me fascinou desde Salinger.

Em “Luz em Agosto” conhecemos Lena Grove, uma jovem moça grávida que sai do Alabama em busca do pai de sua criança (Lucas Burch) e acaba chegando em Jefferson, condado de Yoknapatawpha, Mississipi, onde Lucas chegou para trabalhar sob o nome de Joe Brown e morava com um certo Joe Christmas, que, na noite em que Lena chega na cidade e encanta Byron Bunch, mata Joanna Burden, uma velha conhecida da cidade, mas que ninguém conhecia de fato e bota fogo na casa onde a mulher morava. Unindo todos esses personagens, encontra-se Gail Hightower, um ex-ministro da cidade, cuja vida sofrida o levou a ter uma perspectiva sombria da natureza humana, mas a quem Byron não consegue deixar de se relacionar, pois o acha um homem sábio e abençoado.

É difícil criar uma sinopse que envolva todos os personagens num só parágrafo. De fato seria mais fácil separar tudo por tópicos, mas se fosse assim não seria uma sinopse digna de um livro do Faulkner. Muito mais difícil é falar de todos os temas que envolvem esse livro, de forma que te deixe com vontade de lê-lo e, para tanto, irei topicalizar essa dica.

Pra começar, “Luz em Agosto” é um primor estético. Lendo essa obra eu realmente consegui entender o que Harold Bloom quer dizer por “estética” em literatura. É fácil entender sobre o que falamos quando falamos em “estética” quanto a literatura quando lemos poesia, pois os versos são feitos de forma que consigamos criar um ritmo em nossa mente, uma imagem, etc...; mas quanto a prosa? É difícil entender, mas “Luz em Agosto” é um exemplo maravilhoso para entender isso.

Cada um dos capítulos existe em si só, parecendo até contos, ao menos nos seus primeiros parágrafos, mas logo somos jogados dentro da história e lembrados dos personagens e da relação que cada um deles tem entre si. Pensamentos, falas e memórias existem de forma intercalada e para isso Faulkner usa aspas, aspa única e itálico indicando o fluxo das conversas, tanto externas quanto internas.

Então, ao adentrar esse universo que Faulkner cria para esse livro, ficamos com a sensação de estar vendo uma obra de arte se abrir na nossa frente. Nunca antes achei que pudesse usar de forma tão natural o adjetivo “bonito” para um texto. É um texto bonito de verdade e eu nem estou falando do conteúdo ainda.

Mas é porque é bonito que é fácil, muito pelo contrário, é difícil. Como eu já disse, cada capítulo parece existir por si só, muitas vezes, só depois de várias páginas é que você percebe quem são os personagens principais daquele capítulo. É difícil acompanhar o fluxo do tempo, pois Faulkner era um aderente da teoria do tempo de Bergman (la durée), que dizia que todo indivíduo é uma soma de tudo que existiu antes dele. Para Bergson, o passado e o presente existem ao mesmo tempo e a duração da vida do homem é inefável, podendo apenas ser vislumbrada indiretamente pela imaginação. No texto, Faulkner nos apresenta o passado de seus personagens junto ao presente e nem sempre conseguimos diferenciar isso de primeira.

Dá trabalho, mas vale a pena se esforçar para acompanhar e ao contrário de outras obras difíceis (como o próprio “O Som e a Fúria”), você não tem que estar no estado de espírito correto para compreender a obra, ela só exige esforço e atenção mesmo, por que, ao contrário de outras obras, “Luz em Agosto” nos apresenta uma história linear, com diversas divagações narrativas e espaços para meditações sobre a natureza humana, mas há uma história, com início, clímax e conclusão e que belo clímax nos encontramos nessa obra.

Aqui, vale mais elogios à atenção estética que Faulkner dá a sua obra, pois a imagem que ele cria num dos clímaxes da história (sim, há mais de um!) é simplesmente fantástica, uma imagem que parece ter saído do mais lindamente filmado western spaghetti da história, mas no século 20, no sul dos EUA e sem a trilha sonora épica. Aliás, se fosse filmado, seria uma cena apenas com os efeitos sonoros do ambiente.

E o segundo clímax é uma cena de perseguição que começa com a apresentação de um personagem que nunca foi mencionado no livro antes, mas em poucos parágrafos ficamos tão familiarizados com ele que não nos surpreendemos com sua atitude final, tão violenta e tratada de forma tão sutil que você tem que ler várias vezes. No meio há ainda uma cena de perseguição brilhante, que faria qualquer autor de livros policiais ficar de queixo caído.

As idas e vindas no tempo criam uma noção circular de história que coloca o homem como centro de suas vidas, temos o livre-arbítrio para isso, afinal e as ações dos personagens principais, Lena e Christmas são postas em cheque, cada uma gerando consequências condizentes com a vida que levam. A dualidade gerada com a história dos dois gera no final uma lição de moral que irá te fazer olhar para o céu ao final da leitura e ter a impressão de que o dia ficou mais bonito, de repente.

Não é apenas na estética que o livro é bonito, mas também na conclusão de sua história, que abre espaço para diferentes interpretações, mas o cerne é bem definido em torno do velho ditado “você colhe o que planta”. Faulkner nos diz, assim como muitos santos e filósofos antes dele, que nós somos o que construímos e construímos através de ações, sejam elas positivas ou negativas e suas origens não tem nada a ver com isso (lembra que você é o capitão da sua vida?).

Além disso, ainda poderíamos falar das questões de isolamento social, a ferida do racismo (que é tocada aqui de tal forma que ofende não apenas racistas esclarecidos da KKK como também os racistas enrustidos que defendem cotas em faculdade), a alegoria cristã (que acho um pouco de forçação de barra, mas até que faz sentido) e a relação entre indivíduo e sociedade, mas isso acabaria entregando muita coisa e eu só daria spoiler, portanto, vou encerrar por aqui.

Eu só tenho elogios para essa obra, que eu li em inglês e o único comentário que posso fazer que se aproxima de apontar um defeito é o fato de Faulkner se daqueles autores que sabem dar voz aos seus personagens e pelo fato da obra se passar no sul dos EUA, ao ler no original você vai se deparar com uma série de “erros” ortográficos, mas que ao serem pronunciados fazem todo sentido, como “de” ao invés de “the”. O problema é que no meio do livro, você corre o risco de adquirir alguns vícios de linguagem e sair falando por aí que nem um habitante de Jefferson.

Não sei como é a tradução, aliás, não sei como é nenhuma tradução de Faulkner ainda. Tenho que folhear algum livro na biblioteca da faculdade ou numa livraria qualquer ainda.

Enfim, elogios em cima de elogios, é um dos melhores livros que li na vida.

5 pontos

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Dica cinematográfica: "The Night Is Short, Walk on Girl" (2017)

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Ou “Yoru wa Mijikashi Arukeyo Otome” se você é daqueles otakus puritanos que só falam em japonês.

Enfim, o filme mais novo de um dos diretores mais criativos do Japão atualmente, Masaaki Yuasa, é também uma espécie de continuação de um dos animes mais inventivos dos últimos tempos, Tatami Galaxy e conta a história de uma menina, Kurokami no Otome, estudante de uma universitária, durante uma noite muito louca, onde ela conhece diversas pessoas excêntricas através de festa de noivado, festival universitário, feira de livros e uma peça de teatro ilegal. Senpai é o garoto apaixonado por ela e durante essa noite passa por bizarros desafios em busca do seu amor, como enfrentar o deus dos livros usados, entrar numa competição de comida apimentada e enfrentar um resfriado halucinógeno.

A história é cheia de bizarrices, como todo anime do Masaaki Yuasa, além de contar com seu característico estilo de animação, simples, porém recheado de detalhes e muito colorido. O anime se situa no mesmo universo que Tatami Galaxy, alguns personagens da série aparecem no filme, como a Ryouko e o Seytarou, mas nenhuma semelhança é explicitamente declarada, como a recordação de eventos passados. Ainda assim, os próprios personagens principais lembram os personagens principais do Tatami Galaxy.

Os personagens são verborrágicos e é difícil acompanhar as loucuras do filme, mas o melhor a se fazer é deixar rolar, simplesmente desligar o cérebro e se deixar levar por esse universo maluco e tão criativo que foi criado ainda em Tatami Galaxy. Os acontecimentos rolam de forma fluida, mas a própria noção de tempo é distorcida, propositadamente, como nos é mostrado logo no começo ao ser comparado os relógios da personagem principal e o relógio dos velhos formandos de filosofia na festa de noivado de uma amiga dela.

Como os cenários são pequenos, todos os personagens acabam interagindo em um ponto ou outro do filme, até finalmente se unirem no final, levando a Menina até o seu tão esperando encontro com o seu Senpai.

Enfim, “The Night Is Short, Walk on Girl” é um filme muito divertido, um romance extremamente criativo que pode confundir e assustar num primeiro momento, mas assim que você se deixa levar pelas loucuras apresentadas pelo Masaaki Yuasa, a diversão é garantida!

4 pontos e meio

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Dica musical: "Snares Like a Haircut" do No Age (2018)

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O primeiro grande álbum de 2018 é o retorno à boa forma de uma das bandas que me apresentaram ao noise-rock por volta de 2010 e desde então não abandonou as playlists dos diversos dispositivos que passaram pelas minhas mãos.

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“Snares Like a Haircut” é o quinto álbum da banda de noise-rock No Age. Chamar o No Age de noise-rock é um estranho nessa altura do campeonato, mas quando eu os conheci um pouco antes do lançamento de “Everything in Between”, eles eram noise-rock e ponto. Ninguém questionaria isso.

No entanto, em algum ponto da carreira deles, o experimentalismo começou a dominar o seu som e veio “An Object”, álbum que eu detestei na época e nunca mais ouvi, então não sei qual seria minha reação ao ouvi-lo hoje. O que importa é que o No Age foi abandonando a agitação, o barulho e suas raízes punk para se dedicar a um som mais melódico, espacial e focado numa instrumentação que não era virtuosa e não me agradava.

E para miha surpresa, os extremos nos quais o No Age andava vagando convergiram em “Snares Like a Haircut”, criando um dos melhores álbums que eu já ouvi em anos e o melhor álbum da carreira deles.

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As canções são rápidas, explosivas, agitadas, mas também incluem elementos que a banda vinha trabalhando nos últimos anos, só que aqui esses elementos (como teclados e música ambiente) não ocupam o papel principal, mas são apenas elementos que ajudam a criar a atmosfera (nebulosa e barulhenta) do álbum, de forma harmoniosa.

Não deixa de ser noise-rock, mas é um noise-rock bem feito. É noise-rock, de fato, não é só um monte de barulheira sem sentido. O álbum inteiro passa pelos seus ouvidos como se fosse um filme indie muito barulhento e divertido.

No mais, vale muito a pena ouvir esse diamante raro aqui.

4 pontos

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Dica cinematográfica: "O Sol por Testemunha" (1960)

De forma ricamente ilustrada e uma narrativa amplamente elaborada, René Clement irá te convencer que o crime não compensa.

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Em “O Sol por Testemunha”, Alain Delon encarna Tom Ripley, um jovem e belo rapaz que vira amigo do rico e igualmente jovem Phillipe Greenleaf. Tom apresenta uma personalidade curiosa, que chama a atenção de Phillipe, principalmente pelas habilidades de observação de Tom, que o levam a ser capaz de até imitar a assinatura de outras pessoas com perfeição. O que Phillipe não esperava era que as artimanhas de Tom iriam se voltar contra o jovem rico.

Este é um daqueles filmes que vão te surpreendendo conforme avança a sua projeção, pois se inicia de uma forma, passa por uma mudança de 180º no meio e dali ele parte para outro ponto que sequer estava nos planos logo no começo. Não dá pra falar muito, se não estraga o filme, mas a narrativa é elaborada, com poucas ou nenhuma falha de roteiro (eu, pelo menos, não passei por nenhum momento que me fez dizer “mas se ele fizer isso e aquilo vai evitar tal coisa – no entanto, também não reassisti o filme) e que te prende de uma forma que é difícil resistir ao seu encanto.

E não é apenas a narrativa que é um prior, pois a direção de René Clement é maravilhosa também, apresentando em imagens garbosas do sul da Itália, personagens belos e muito bem apessoados. Cada frame do filme parece ter saído de um book de alguma moda masculina famosa, estilosa e absurdamente cara, mas extasiante em sua beleza, colorida, apesar de ter sido feito até mesmo antes da nouvelle vague.

A trilha sonora, regrada a jazz, dá aquele toque final que todo filme francês dos anos 60 precisa ter, angariando aquele tom “cool” e misterioso, com o qual é difícil imaginar tal história se desenrolando.

Tenho ainda que chamar a atenção para o título do filme em português: “O Sol por Testemunha” é um título brilhante, genial mesmo, que parece não fazer nada além de atribuir um certo mistério ao filme, mas faz todo sentido quando você assiste até o final. Muito melhor que o original “Plein Soleil” (pleno sol).

Enfim, “O Sol por Testemunha” é uma fantástica obra de suspense, um triller que foge a tradição dos filmes noir, mas não esquece suas raízes, surpreendendo e tirando o fôlego daqueles que se aventuram por suas águas tortuosas.

4 pontos

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Dica cinematográgica: Blade a lâmina do imortal (2017)

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Mais uma ótima adição a excelente filmografia do gênio Takashi Miike.

“Blade: a lâmina do imortal” conta a história de Manji, um samurai fugitivo que, no dia em que sua irmã é morta e ele conquista sua vingança sobre aqueles que a assassinaram, recebe a visita de uma velha misteriosa e ela insere vermes em seu sangue que o tornam um imortal. Anos depois, Rin Asano vê o próprio pai ser assassinado, também um samurai, por membros de uma gangue criminosa e sua mãe desaparece. Desconsolada, a menina encontra a velha dos vermes que o indica um guarda-costas. Esse guarda-costas é Manji e assim se inicia a trajetória da lâmina do imortal.

Não li o mangá, então não posso dizer se é ou não uma boa adaptação, mas o filme é distribuído pela Warner do Japão, a mesma empresa que distribui uma caralhada de adaptações live action bem sucedidas de mangás como Death Note e Samurai X. Posso presumir que seja uma boa adaptação, então.

Mas posso garantir que é um bom filme, embora não seja um filme para todos os gostos. Apesar de ser um filme do Takashi Miike e um filme de ação, eu acho que ele agrada mais ao público cult que curte filmes de ação como “Ran” e “Lady Snowblood”, filmes de ação, mas que exigem um pouco mais dos expectadores do que o típico filme de ação com sangue e explosões.

Há duas razões para isso, a primeira é que o filme é um drama muito pesado. Não apenas as histórias são pesadas, como a narrativa que o filme decide seguir transforma ele numa obra pesada, difícil de assistir, o que nos leva a segunda razão, que é o ritmo, incrivelmente lento para um filme do Takashi Miike. Talvez essa decisão tenha sido feita para se aproximar do ritmo do mangá, talvez para conseguir incluir todos os arcos da história original num filme de menos de 2 horas e meia... Não sei e o resultado é exigente, mas vale a pena.

As atuações são secas e eu li críticas para elas, mas acho que isso contribuiu para o ritmo arrastado do filme, para a criação da tensão e o drama de toda a história, que é trágica até o seu momento final, já deixo avisado.

A direção de Takashi Miike está sensacional nesse filme, que conta com um orçamento muito maior que os seus clássicos, mas isso não descaracteriza a direção, pois está tudo lá, tudo que amamos nos filmes do Takashi Miike, embora aqui tenha bem menos bizarrices (por uma limitação de história mesmo, afinal, se não tem no mangá, não vai ter no filme).

As cenas de ação são o ponto alto do filme, cheias de sangue, muito bem ensaiadas e totalmente exageradas, o que dá um tom épico ao filme, que começa num ponto qualquer da história de um qualquer, salta vários anos no tempo, vira uma história de vingança contra uma gangue e logo entram clãs de lutadores tradicionais, outro imortal e até o governo japonês no meio. É trágico, com toques de épico, sob as mãos de Takashi Miike... não tem como dar errado.

Enfim, “A lâmina do imortal” não é um filme fácil de ser assistido, mas vale cada momento.

4 pontos