quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Dica cinematográfica: “Cloverfield” (2008)

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Ao assistir o péssimo “The Cloverfield Paradox” (que tem um final que salva o filme inteiro, diga-se de passagem, portanto vá assisti-lo apenas para levar um susto no final), percebi que nunca havia indicado esse clássico moderno por aqui, então, antes que o próximo filme da franquia saia (que parece ser tão ruim quanto o Paradox), vamos à dica de Cloverfield, o clássico de 2008.

Em “Cloverfield”, acompanhamos a noite da invasão de um monstro (carinhosamente apelidado pelos fãs de “Clover”) à cidade de Nova Iorque pelo ponto de vista da câmera de um dos protagonistas, Rob, que junto com amigos tentam escapar da cidade com vida. Em meio ao caos causado pelo monstro ainda somos conhecemos o romance entre Rob e Beth, sua amiga de infância, através de cortes de uma gravação antiga que ele havia feito meses antes.

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O filme é um primor do gênero “fita encontrada” e “horror” e ainda chamou muita atenção na época do lançamento pela sua campanha de marketing viral que contava com sites falsos, notícias e vídeos na internet, responsáveis por criar um quebra-cabeças que até hoje não foi montado.

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Outros filmes nessa mesma pegada já haviam sido feitos, como “A Bruxa de Blair” e foram feitos depois, como “Poder Sem Limites”, mas nenhum deles conseguiu manter a longevidade que Cloverfield manteve e isso não é explicado apenas pela insistência de J.J. Abrams, a grande mente por trás desse filme, em mantê-lo vivo, acredito que o grande fato desse filme manter sua longevidade é sua qualidade excepcional como um filme de horror/ficção científica/fita encontrada mesmo.

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“Cloverfield” é um filme que não chega a ter 1h30 de duração, mas quanto ao que realmente importa, a invasão do monstro, não chega a ter 1 hora de duração, pois os créditos ocupam quase 10 minutos e temos ainda mais de 20 minutos de cenas que nos apresentam os personagens, são as cenas de Rob e Beth passando um dia de abril juntos, as cenas antes da festa e as cenas durante a festa de despedida de Rob. Isso nos faz criar uma proximidade com os personagens que apenas os melhores filmes de horror conseguem criar e é ainda mais difícil de se encontrar filmes que fazem isso com 6 personagens. Rob, Beth, Lily, Jason, Hud e Marlena ficam tão próximos de nós, em tão pouco tempo, que nós realmente torcemos para que eles consigam sair de Nova Iorque vivos e lamentamos suas mortes. Além disso, nenhum deles é um clichêzão típico de filmes de horror ou de ficção científica, claro que temos o personagem responsável, o guia do grupo, a mente madura e o alívio cômico, mas essas não são as características determinantes dele e ao final do filme, se você gostou dele, acaba lembrando dos personagens pelos seus nomes e ações durante o longa.

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São os personagens humanos e sua relação pura que fazem com que o filme ainda hoje cative os fãs. Eu acredito que seja esse o fator responsável pela longevidade de “Cloverfield”, muito além de teorias conspiratórias, efeitos especiais ou mesmo a possibilidade de expansão desse universo num multiverso.

Embora isso seja um fator importante também, mas eu acho que secundário. Na época em que assisti o filme não tive a oportunidade de vê-lo nos cinemas, então assisti num DVD em casa, junto da minha mãe e do meu irmão. Não é um filme para se ver em família, mas eu tinha uns 14 ou 15 anos e essa seria a minha primeira experiência com um filme de horror, eu simplesmente não sabia onde estava me metendo, mas conforme o filme avançava, mais afundado no sofá eu ficava e grudado na tela da TV. Minha mãe que sempre foi uma chata (mas no sentido bom) e insistia em conversar comigo e com o meu irmão após cada filme, seriado, desenho, jogo ou livro que terminávamos de consumir, disse que a única coisa que salvava esse filme era a amizade dos personagens.

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Ela, uma mulher com mais de 40 anos, que não vê valor nenhum em coisas negativas (portanto, filmes de horror, terror, violência e sexo excessivos, etc... estão completamente fora de questão nos seus gostos pessoais) captou a essência que “Cloverfield” transmite ao expectador, seja essa essência proposital ou não, afinal eu não confio muito na “genialidade” dos criadores de “Cloverfield”, que alcançaram o ápice nesse filme e nunca mais fizeram algo a sua altura.

E em volta dessa essência temos o monstro, o “Clover” não se parece com um Godzilla, mas destrói tanto quanto e abre diversas janelas para especulação apenas nesse filme, como, por exemplo, os animais que caem dele, bichos tão estranhos quanto ele, que comem humanos e se não comem, infectam com alguma coisa que nos faz explodir. Na época não dava pra entender direito o que era aquilo, seriam os filhos de Clover? No entanto, com o final de Paradox, que nos mostra uma versão do Clover ainda maior, confirmando as afirmações de J.J. Abrams de que o Clover era apenas um bebê assustado, dá pra imaginar que aqueles bichos eram apenas as pulgas de Clover. Assim como nós, Clover é um bioma que carrega em si uma série de outros seres vivos dentro de si e se ele, um bebê, já é do tamanho de arranha-céus, suas bactérias, micróbios e seres infecciosos são do nosso tamanho e podem nos destruir num piscar de olhos.

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Agora que o universo se expandiu e virou, definitivamente, um multiverso, temos ainda mais portas para especulação e coisas a serem debatidas, como as empresas que fazem parte de todo o universo, a Tagruato e a Slusho fazem parte de todos os universos, a Slusho é vista até em produções que não tem nada a ver com a série, então já podemos descarta-la, pois é apenas um “prop” deixado ali na produção. Já a Tagruato é, provavelmente a responsável pelo despertar de Clover, pois, de acordo com o universo do filme, era a empresa responsável pelo Slusho e tiravam o seu ingrediente secreto do oceano. No mangá (que eu não li) é revelado que Clover desperta no Japão antes de ir para Nova Iorque. Está tudo conectado e faz sentido, embora não seja confirmado.

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Agora, não dá pra tentar criar uma única linha temporal com todos os filmes, pois em 10 Cloverfield Lane temos alienígenas e Paradox se passa muitos anos no futuro, mas dá pra especular que os eventos em Paradox causaram uma fissura em todos os multiversos, fazendo alienígenas invadirem a Terra em um e uma civilização de monstros aparecer no fundo do oceano em outro. Em Paradox os eventos ocorrem no passar de alguns dias, mas não dá pra dizer que o tempo transcorre da mesma forma em diferentes universos. O que foi alguns dias em Paradox pode ter sido vários meses em “10 Cloverfield Lane” e várias centenas de milhares de anos em Cloverfield.

O que eu acho que foi vacilo foram os alienígenas de “10 Cloverfield Lane”, pois uma espécie de Clover aparece em Paradox, então, não é como se houvesse muita diversidade nesse multiverso.

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Sei lá, é tudo muito confuso e eu só queria expor minhas teorias por aqui, por que eu também acho legal isso, mas o post é de Cloverfield e é uma dica. O que eu posso concluir aqui é que o filme é muito bem feito, até melhor do que os mais recentes, pois contou com uma produção menor e ainda assim se manteve atual. O monstro continua sendo muito bom, a destruição é realística pra caramba e aquela cena do helicóptero desafia a compreensão de que o filme foi feito com meros 25 milhões de dólares.

“Cloverfield” é ainda um filme atual, completa 10 anos esse ano e já conseguiu o seu espaço como um clássico do horror/ficção científica, ainda cheio de mistérios, mas acima de tudo isso, é um filme humano.

5 pontos

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P.S.: Só mais uma teoria, eu gosto de pensar que a Lily sobreviveu ao ataque e seria muito bacana se ela voltasse para a franquia de alguma forma.