sexta-feira, 29 de março de 2019

A Europa decretou data limite para a internet

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Na última semana acontecimentos relacionados a internet assustaram todos aqueles que se preocupam com a liberdade no ambiente online.

A primeira delas e mais assustadora foi a aprovação dos nefastos Artigos 13 e 11 pela União Europeia e a aproximação do início de aplicação da lei do "Passe Pornô" no Reino Unido.

Uma breve explicação das leis:

  • Artigo 11: basicamente é uma lei que permite que empresas que anunciam em sites que hospedam propagandas como Google e Facebook cobrem desses sites pelos "links perdidos" quando anunciam neles. Como o Google e o Facebook personificam as propagandas para os usuários, algumas propagandas podem aparecer muito menos do que outras, mesmo usando o mesmo plano de anúncios.

  • Artigo 13: basicamente diz que os sites são responsáveis pelo conteúdo que é publicado neles. Ou seja, se o seu site contém uma imagem da Disney publicada por um usuário qualquer, seu site é responsável e não mais apenas o usuário que publicou a imagem.


Mais informações podem ser encontradas aqui.

  • Lei de Economia Digital: exige que os usuários de site pornô comprovem a sua idade para acessar o site. A comprovação poderá ser terceirizada por empresas que já atuam com esse tipo de trabalho ou através de um "passe pornô" com um número de 16 dígitos.


Mais informações podem ser encontradas aqui.

O que essas leis irão fazer nada mais é do que acabar com dois enormes pilares de sustentação da internet livre: memes e pornografia.

A internet tornou mais fácil o consumo de pornografia e a viralização de conteúdos engraçados. Esses dois elementos se tornaram pilares enormes de sustentação da internet, pois muitas pessoas só conhecem a internet através disso. Só acessam a internet para isso.

Agora como você consegue acessar memes se não puder postar imagens do gênio do Alladin? Como acessar o pornozim se tiver que comprovar a idade toda vez que fizer isso?

Já conhecemos as diretrizes restritivas de sites como Youtube, Twitter e Facebook que não permitem diversos tipos de conteúdo viralizarem com a justificativa de que isso ofende uns e outros. O resultado é uma internet mais chata e que se resume em discussões políticas vazias, conteúdos pagos e que já não tem mais tanta diferença de uma área dominada pelo marketing.

Pensa bem, hoje em dia está cada vez mais difícil ser alguém na internet sem dinheiro. Você paga empresas pra  migrarem links para o seu site, vende conteúdo para outras, enfim... como já disse em outro post, a internet não é mais aquele terreno livre que era há uns 10, quem dirá 20 anos.

Esse post aqui não é uma defesa a sites como Google e Facebook. Muito pelo contrário. Por mim, esses sites poderiam acabar que eu não estou nem aí. O problema é que essas leis não dificultam apenas a vida dessas grandes corporações, mas a vida de todo mundo querendo criar algum site de interação online.

Se a vida de uma grande corporação como Google vai ficar mais difícil, imagina de uma plataforma como o Disqus? Imagina o que vai ser da DeviantArt? E do Imgur? São sites povoados de conteúdos criados pelos seus usuários, muitos deles paródios, fanarts e afins... O que vai ser desses sites que não podem pagar advogados que cobram U$100.000 dólares pra defender eles numa corte judicial?

Eles terão que criar diretrizes restritivas e bloquear muito conteúdo pra poder continuar existindo.

E esse post aqui não é uma defesa da pornografia. Muito pelo contrário, sou contra a pornografia, mas qual a solução pra esse problema? Dar poder ao Estado? Aos políticos britânicos??? Pois é isso que essa lei faz. Ao criar um sistema de verificação de idade, o governo acaba tendo acesso (ou pelo menos opções centralizadoras) pra poder acessar e verificar os dados de seus cidadãos.

Não se engane. Essa não é uma lei anti-pornografia, é uma lei de controle estatal. A estratégia é antiga, olha-se para um problema e propõe uma solução ruim para ele. Logo a solução ruim é usada para outro problema e mais outro e quando você vê, aquilo você faz é um problema. Não precisamos nem pensar muito, imagina quanto tempo vai levar pra você ter que comprovar idade pra jogar games de tiro? Supostamente eles são feitos apenas para maiores de 18 anos. Quanto tempo vai levar pra você ter que comprovar a idade pra ver conteúdo de cosplayers no Twitter ou Facebook? Não muito.

A internet é cheia de problemas, mas nós não podemos terceirizar a solução para eles. Nós criamos a internet e só nós podemos solucionar os seus problemas. Não é o Google, nem o Facebook, o Twitter ou o Imgur que irão solucionar esses problemas. Muito menos o governo britânico ou a União Europeia.

É triste ver a regressão que está acontecendo na Europa nos últimos anos. O berço da civilização ocidental vem caminhando para o seu fim a cada ano que passa e na última semana deram mais um passo em direção ao apocalipse cultural que se aproxima de lá.

 

quinta-feira, 28 de março de 2019

Dica cinematográfica: The Night of the Hunter (1955)

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Havia um tempo em que Hollywood produzia clássicos. Não pelo cuidado que seus produtores tinham com o filme, nem com a quantidade de dinheiro despendida para fazer uma obra, mas pela sinceridade com os filmes eram feitos. Essa belezinha aqui é um exemplo maravilhoso disso.

The Night of the Hunter conta a história de um ladrão que é condenado a morte pelo assassinato de duas pessoas e por um roubo que fez. O conteúdo do roubo é mantido com seus filhos, um casal de crianças, que mantém o dinheiro longe até mesmo da própria mãe. Na prisão, o condenado conhece outro preso, um ex-pastor, que ao saber do roubo resolve se passar por bom moço na cidade do condenado, motivado a tomar o dinheiro roubado para si, nem que para isso tenha que constituir uma família. Todos passam a gostar dele, exceto pelo filho, que suspeita do falso bom moço e não irá facilitar a vida dele.

Com essa premissa, já cobrimos uma boa parte do filme, mas esse é apenas o começo. A vida familiar se torna um cenário de suspense, que cria uma rivalidade entre padrasto e filho mais velho. Um motivado pela ganância, o outro motivado pela honra da família, já baixa, mas que ele não deixará sumir.

É uma obra singela, com um grande apelo emocional, mas se ser dramática. As questões de honra, parentesco e dever são colocadas de uma maneira extremamente forte nesse filme, mas não de uma forma didática, pedante. Ao final temos a sensação de que acabamos de assistir um filme moralizante, mas também altamente divertido.

Na questão técnica, o filme também se sai muito bem. Filmado em preto e branco, ele conta com uma direção muito competente e até ousada para a época. Há longas cenas de transição que parecem filmadas numa só tomada. Há uma definição muito boa no contraste das imagens.

Em suma, The Night of the Hunter é um desses filmes antigos que te deixam pensando no que aconteceu com o cinema norte-americano. Um clássico absoluto.

5 pontos

terça-feira, 26 de março de 2019

Dica teórica: Skin in the Game de Nassim Nicholas Taleb (2018)

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Esse foi o melhor livro que li em 2018. Pena que terminei ele tarde demais para inclui-lo na minha lista de melhores do ano. Vou tentar honra-lo com essa dica, mas isso é muito difícil, já que o livro apresenta uma diversidade de ideias tão grandes que qualquer tentativa de o resumir é uma atividade quase homérica.

Mas vamos tentar.

Skin in the Game é o último livro numa série de 5 obras chamada “Incerto”. Essa série trata, basicamente, de aleatoriedades. Primeiramente no mercado financeiro, com o seu primeiro livro e depois na vida, com o livro chamado “Black Swan”, finalmente como evita-la, sendo “Antifrágil”, o título do quarto livro e Skin in the Game é o que você precisa para ser anti-frágil. Traduzido como “Arriscar a própria pele”, o livro trata de exatamente isso, botar o seu na reta, dar a cara a tapa, enfim... fazer algo que, caso não dê certo, irá te acarretar alguma perda.

Um dos argumentos iniciais é de que a nossa sociedade está recheada de pessoas que não arriscam a própria pela e pior! Nós deixamos que elas nos digam o que fazer com a nossa vida. A partir daí Taleb nos guia numa longa jornada recheada de experiências, contos, fábulas e conhecimentos práticos nos ensinando como é importante arriscar a própria pele.

A premissa é até simples, mas é a viagem que conta e esse é o ponto forte do livro. Tudo é uma enorme viagem pelo pensamento ocidental, misturando um pouco de pensamento oriental (em especial árabe) numa argumentação clara e muito bem articulada. A todo momento, você é lembrado de que se você não tiver contato com a realidade, você não receberá nada real. Skin in the Game ou arriscar a própria pele é simplesmente isso, ter contato com a realidade.

Mas o livro é muito mais do que isso, pois Taleb se aventura numa vasta gama de assuntos, do mercado financeiro até a religião, passando pelo campo linguístico, literário, político, enfim... praticamente tudo, porque se há seres humanos envolvidos, é porque algo funciona e se funciona, é porque quem tá fazendo está em contato com a realidade, se arriscando.

O livro nem é volumoso, mas a quantidade de conteúdo que ele entrega é absurda. Informações demais em cada uma de suas páginas e nunca é maçante. Taleb escreve como poucos, principalmente porque ele passou uns 30 anos trabalhando para alguém. Ele sabe como servir alguém. E serve muito bem os seus leitores.

E não pense que sua escrita é boa, porque é fácil de engolir. Não são apenas informações bonitas sendo jogadas na sua cara, mas provocações mesmo. Algumas passagens não são fáceis de aceitar, mas sua argumentação é tão concisa e bem escrita, que você não pode fazer nada a não ser admirar o seu trabalho.

Ainda não li os outros livros do cara e posso estar enganado quanto ao resumo que fiz do Incerto no começo dessa dica, mas vou ler e, provavelmente, ainda voltarei a tocar nesse assunto no futuro.

5 pontos

sexta-feira, 22 de março de 2019

Vá paralisar a pultaquiopariu!

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O Sindicato dos Vagabundos Docentes da Minha Cidade resolveu fazer uma paralisação hoje contra a Reforma da Previdência. Nem vou entrar no mérito de discutir a tal da reforma, nesse post vou focar na paralisação e provar que isso é simplesmente ridículo.

Comecemos pelo "por que". Essa paralisação está sendo feita por causa de uma reforma que está sendo discutida pelos deputados, senadores e outros membros do alto escalão do governo lá em Brasília. O que eu, um cidadão brasileiro do interior do Sul do Brasil tenho a ver com isso?

Aparentemente tudo, afinal vivemos num democracia, mas é assim que as democracias funcionam? Afinal, o que é uma paralisação? Nada mais do que um ato coletivo que visa parar uma atividade trabalhista do país mostrando para o governo a falta que a classe trabalhadora faz para o país. Afinal, se um determinado grupo de trabalhadores para, uma parcela da economia deixa de existir.

No entanto, o caso aqui é um pouco mais complicado do que isso.

[caption id="attachment_4393" align="aligncenter" width="872"]Protesto de professores em Portim„o Não vocês, né queridos?[/caption]

Primeiro, porque numa democracia o cidadão é quem manda. Se você precisa fazer uma paralisação de toda uma categoria para que uma opinião seja ouvida, é sinal de que a democracia não está funcionando.

Segundo, o grupo de trabalhadores que está parando são servidores das escolas (e em especial a universidade) públicas da cidade. Se eles pararem de trabalhar, ao invés de gerar um rombo, uma falta na economia do país, irá gerar lucro! A cada dia que esses professores trabalham o governo tem que gastar com salários, conta de água, luz, internet, manutenção e até mesmo refeição. Se a classe dos professores simplesmente decidir parar de trabalhar, o governo vai ficar feliz. É menos gasto, simples assim. Não é uma hecatombe como a paralisação dos caminhoneiros.

O único prejudicado nessa história toda (e aí chegamos ao terceiro ponto) são os alunos. São pessoas como eu que só desejam terminar a faculdade em 4 anos, entre os meses de fevereiro e novembro e não ter que repor aulas no final de semana.

Por fim, paralisações, greves e afins já se tornaram tão demodê que ninguém mais liga pra isso. Esses "docentes" dizem lutar pela classe profissional com atitudes que não melhoram em nada a imagem dos docentes perante a população. Ninguém dá muita bola pra educação no país, aí quem é responsável pela educação diz não se importar com o dinheiro, grita aos 4 cantos da Terra que é subversivo e responsável por inserir um pensamento crítico nas crianças que vai fazer elas abandonarem as "estruturas opressoras" da sociedade e ainda deixa de trabalhar sempre que aparece alguma coisa minimamente polêmica na esfera do governo federal.

É simplesmente ridículo o que esses poucos professores fazem, nadando contra inclusive uma grande parte dos professores do país, que só querem ganhar um dinheirinho pra comprar o que precisa, ensinar aquilo pelo qual eles sempre foram apaixonados na vida (seja isso números, línguas ou histórias antigas) e manter uma rotina de trabalho estável. O sindicato de docentes, em sua maioria, são um tiro no pé dessa classe de trabalhadores.

Se vocês querem valorizar a classe terão que começar a promover mudanças de baixo pra cima. Pra começar, entendam que serviço público não gera riqueza, comecem a exigir salários mais altos da iniciativa privada, menos exigências das coordenações pedagógicas e abandonem esses sindicatos que só sugam as energias dos professores de bem.

Pra finalizar, um pequeno questionamento: é curioso que essas paralisações só ocorrem na sexta-feira.

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quinta-feira, 21 de março de 2019

Dica aplicativística: Youtube Vanced

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Cansado da propagando do iFood ou de terríveis filmes quando você vai assistir vídeos no Youtube? Seus problemas acabaram e não, eu não estou falando do AdBlock, estou falando de um app que veio para revolucionar o Android.

O Youtube Vanced é, basicamente, o Youtube Premium, só que de graça. Você baixa o apk em algum lugar da internet (basta procurar no Google) e instala no seu celular Android. Pronto! Você está pronto para assistir o Youtube da maneira que você sempre deveria ter assistido, ou seja, da melhor maneira possível!

Com este app todas as propagandas do app são bloqueadas. Você até vê a marcação de onde elas estão na linha do tempo do vídeo, mas elas não são exibidas na tela. Além disso, você pode sair do app, que o vídeo não para de tocar. E uma bruxaria ainda maior é poder bloquear a tela e deixar o vídeo tocando.

Além de tudo, o Youtube Vanced ainda apresenta a opção de trocar o visual do app, de branco para preto ou vice-versa, baixar os vídeos e outras funcionalidades que eu, sinceramente, não conheço. Meu único interesse é em acabar com as propagandas nos meus vídeos e isso eu consegui.

As propagandas foram as coisas mais nefastas que surgiram no Youtube, diminuindo a liberdade dos criadores e tornando o que antes era uma plataforma livre numa plataforma escrava do sistema corporativo. O Youtube (e a Google em última instância) é o único responsável pelo seu fracasso ao adotar uma estratégia de mercado obsoleta, baseada em anúncios, pra fazer dinheiro, ao invés de adotar estratégias que se aproximem do seu público, como o sistema de financiamento coletivo, por exemplo.

Por essas e outras indico o Youtube Vanced para acabar com essa empresa que não merece o público que tem. O Youtube nunca receberia uma indicação aqui no blog, mas o Youtube Vanced recebe e ganha nota máxima.

5 pontos

terça-feira, 19 de março de 2019

Dica cinematográgica: They Shall Not Grow Old (2018)

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Este não é um filme como qualquer outro.

Este filme é sobre a I Guerra Mundial, mas é muito mais do que um filme, é muito mais do que um documentário. Na falta de palavra melhor, é o state of the art do cinema. Resultado de 3 anos de trabalho, a obra foi comissionada pelo Imperial War Museum, 14-18 Now (uma produtora de artes sobre a I Guerra Mundial) e a BBC a Peter Jackson, que reuniu cenas de arquivos da guerra para criar o melhor documentário já feito sobre o tema.

Retratando a vida de soldados que batalharam nas trincheiras, o documentário relata os momentos desde antes das batalhas até um pouco depois. Do recebimento do aviso de que a Inglaterra havia entrado em guerra com a Alemanha até o retorno ao lar.

O grande diferencial é que esse documentário não recupera apenas imagens, mas recupera também o áudio de entrevistas com sobreviventes da guerra. Entrevistas feitas pela BBC, que foram guardadas por anos até serem recuperadas para servir a essa maravilhosa obra de arte.

Munido de uma equipe de dubladores, restauradores e especialistas em leitura labial, Jackson recriou nesse documentário a I Guerra Mundial de um ponto de vista único. O ponto de vista daqueles que viveram um dos eventos mais devastadores do século XX. Além da narração feita pelos sobreviventes, o filme nos apresenta cenas de arquivos tratadas e coloridas, com efeitos sonoros adicionados e a dublagem de alguns dos soldados capturados em vídeo.

A obra é emocionante, do começo ao fim.

Além de ser um dos eventos mais conhecidos, porém menos comentados, a I Guerra Mundial nunca havia sido tratada da maneira que deveria ser tratada no cinema. O que esse filme faz é não apenas elucidar um momento tão determinantes para a história, mas honrar a participação de todos que estavam lá.

Ao final da obra, é cortante o comentário de que um dos sobreviventes dizendo que eles seriam esquecidos, mas nunca serão, nem deverão deixar de ser. O próprio avô de Jackson lutou na guerra e o filme é dedicado a ele.

Por esse documentário, Peter Jackson não merece um Oscar, ele merece uma medalha de honra.

5 pontos

sexta-feira, 15 de março de 2019

Contra a Astrologia

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Ontem, conversando com um casal de amigos muito bons, cheguei a conclusão de que desprezo mais as pessoas que acreditam em astrologia do que terraplanistas.

Não sei exatamente como essa conversa começou, mas creio que foi quando minha amiga recapitulava o momento em que um grupo de colegas da sala dela tentavam criar o mapa astral do futuro filho de sua professora. Tanto ela, quanto eu e meu amigo achamos isso um absurdo, católicos que somos.

As pessoas estavam tentando saber como seria o filho de uma professora que eles mal conhecem. Tudo baseado no dia em que o bebê irá nascer... a criança nem nasceu ainda! Por algum motivo meu amigo acabou falando que isso era pior do que afirmar que a Terra é plana e a conclusão lógica a que cheguei é: pessoas que acreditam em horóscopo são mais desprezíveis do que terraplanistas.

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Pensa bem, quem você gostaria que estivesse do seu lado: a pessoa que não gosta do seu filho, porque ele nasceu no “dia errado” ou a pessoa que quer entrar em órbita com um estilingue gigante? Um não vai nem na festa de aniversário da sua prole, o outro vai ter um protótipo de parque de diversões amalucado no quintal.

Diga para uma pessoa que acredita em astrologia que você é ariano e ela lhe fará cara feia. Diga para um terraplanista que você acredita que a Terra é mais ou menos esférica e que Newton estava certo e ele irá lhe perguntar “como você tem certeza?”.

A única coisa que um terraplanista faz é questionar aquilo que você tem como certeza na vida e eu lhe pergunto: não era exatamente isso que Diógenes fazia em 300 a.C.? Eles são os herdeiros de um pensamento científico que, em certa medida, é mais produtivo do que uma crença num exoterismo barato.

Não seja um trouxa, nunca! Mas se for para ser trouxa, seja um trouxa que não divide as pessoas em 12 castas celestiais.

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quinta-feira, 14 de março de 2019

Dica teórica: A Ética da Redistribuição de Bertrand de Jouvenel (1951)

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No final de 2018 fiz a promessa de não comprar mais livros até que terminasse de ler a pilha de livros ainda lacrados que tinha no armário. Durante a Black Friday da Amazon não resisti e acabei comprando essa belezinha aqui.

A Ética da Redistribuição é um livro do filósofo Bertrand de Jouvenel, pouco conhecido, mas com ideias muito sábias e que influencia bastante gente por aí, como o Paul Joseph Watson e o Nassim Nicholas Taleb, gente grande e pesada, com ideias fortes, mas muito sensatas. Neste livro, Jouvenel se dispõe a falar da redistribuição de recursos, entre eles, a renda, investigando a moral por trás de tal ato.

Como ele se propõe a investigar a moral por trás da redistribuição de recursos, ele não entra em detalhes econômicos. Muito pelo contrário, Jouvenel deixa bem claro que ignora esse aspecto, até porque não tem conhecimento sobre isso. O resultado é uma obra filosófica, que explora a lógica da redistribuição, sua motivação, consequências e, por fim, se há justificativa válida para isso ou não.

Não preciso dizer que a resposta de Jouvenel é negativa, né?

O autor vai no âmago da questão, deixando de lado questões de cunho mais funcionalista, mostrando que não há uma moral a ser defendida quando o assunto se trata de redistribuição. Não vou dar spoiler da obra, mas posso adiantar que é uma questão que vai da legítima posse de objetos até o roubo.

Jouvenel era uma pessoa muito sábia.

A edição que adquiri é a do Instituto Mises, que já lança livros nessa linha há um bom tempo. Aqui a crítica é a mesma que foi feita no “A Lei”, também publicado por eles. Há vários erros de português e a escolha de não separar as partes do texto pulando para a próxima página me incomoda. Dessa vez, o texto foi traduzido de seu original, já que o texto de Jouvenel foi publicado em inglês.

Em suma, é um livro obrigatório para se ter na estante de qualquer um que almeja ser inteligente.

5 pontos

terça-feira, 12 de março de 2019

Dica cinematográgica: Johnny English Strikes Again (2018)

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E Johnny English volta e volta com tudo para mais um filme que poderia agraciar as nossas tardes de domingo.

Nesse terceiro filme, Johnny English é um professor de uma tradicional escola inglesa, que contraria as expectativas dos pais de seus alunos, colegas professores e o diretor da escola, ensinando para as crianças técnicas de espionagem. Contente com seu novo trabalho, ele prontamente o abandona para servir o seu país, quando a Inglaterra se vê ameaçada por um hacker.

A partir daí acompanhamos Johnny English, o último espião que resta na Inglaterra após o hacker ter revelado as identidades de todos os espiões não aposentados pelo governo. Nadando contra a corrente do mundo tecnológico, Johnny English adota todos os métodos antigos dos espiões, provocando controvérsias dentro do governo, enquanto corre atrás de uma linha conspiratória que envolve espiãs russas, magnatas da tecnologia e o orgulho de ser britânico.

Há várias camadas a serem investigadas aqui. Como filme de comédia, ele trabalha através da sátira. Colocando a mídia num papel secundário, ela é basicamente feita de palhaça numa piada metalinguística. Ao colocar uma espiã russa que não representa grande perigo, o filme faz uma sátira com as últimas notícias que colocam a Rússia como o grande bode expiatório da mídia.

Outra questão que gostei muito foi a forma de utilizar as novas tecnologias como um grande inimigo. O vilão principal é um hacker, Johnny English rejeita todas as novas tecnologias e resolve usar um carro que polui o meio ambiente, pega em armas e usa equipamentos antigos para completar suas missões. Claro, ele sempre se atrapalha e nada sai como o planejado, mas em nenhum momento o filme se curva às novas tecnologias.

Para quem suspeita de inteligência artificial, o final é um deleite.

E o orgulho britânico está presente de uma maneira sutil, mas chamativa. Acompanhando as tendências atuais de explorar o conservadorismo de uma maneira leve e irônica, o filme caçoa das políticas de segurança e ambientais atuais, rejeita um magnata politicamente correto dos EUA, coloca a primeira-ministra num ridículo papel secundário, mostrando toda a sua insegurança e falta de saber e ainda nos apresenta um herói vestindo uma armadura medieval.

É claro, é necessário ter um senso de humor elevado pra apreciar esse filme, mas se você não for um chato, vai rir muito com essas conexões metalinguísticas.

Não podemos esquecer que é um filme do Rowan Atkinson, então o principal foco do humor aqui é na ação. Seguindo uma tradição que tem início lá com Charles Chaplin, R. Atinkson nos apresenta situações engraçadíssimas, prontas para aparecer em qualquer tarde de domingo com a família. É um filme para crianças e adultos, igualmente.

O filme tem alguns momentos que poderiam ter sido dispensados, como, por exemplo, a cena da dança; em compensação poderia ter trazido alguns personagens de volta, como o agente Tucker, mas fazer o que, né? O filme ficou muito bom e é isso que importa.

Em suma, é isso mesmo, um ótimo filme para a família e que merece mais destaque do que recebe. Rowan Atkinson é o melhor comediante que a Inglaterra já deu para o mundo.

5 pontos

quinta-feira, 7 de março de 2019

Dica musical: WORKING PEOPLE (PART 1) do Self Defense Family (2018)

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Assim como o Monster Rally, na surdina o Self Defense Family lança um EP para encerrar 2018 numa nota melancólica, mas calorosa.

Utilizando os elementos do sul estadunidense, flertando com a música country, WORKING PEOPLE (PART 1) começa num tom melancólico, mas caloroso com “Full Literalism”. Essa canção é recheada com uma crítica ao nossa inabilidade em abstrair um sentido pleno da nossa realidade. Após tanta relativização, já não escutamos mais as músicas, nem conseguimos separar o joio do trigo. Seu sentido é negativo, mas o ritmo nos lembra um fim de tarde pensativo.

E assim entramos na noite escura e assustadora de “It Can’t Happen Here”, cheia de guitarras distorcidas, elementos eletrônicos e sons harmoniosos que criam uma atmosfera pesada, até mesmo desoladora. É notável o crescimento do Self Defense Family, pois esse álbum cria uma atmosfera muito linear, que vai do calor melancólico ao gélido e temeroso, desembocando no singelo e belo som de “What Would the Community Think”, cover da música já eclética do Cat Power.

Na versão de Self Defense Family, a canção deixa de ser um início de álbum para virar o encerramento digno de um EP, ganhando mais corpo e força na voz de Patrick Kindlon. Não há como não lembrar das homenagens feita a namorada do vocalista no último álbum da banda, tendo ainda mais significado, lembrando um nascer do sol amistoso.

WORKING PEOPLE (PART 1) é um dos melhores EP’s do Self Defense Family, se tornando o melhor lançamento da banda no ano. Excepcional.

5 pontos

terça-feira, 5 de março de 2019

Assistindo Shoa – pt.2

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Continuando a assistir Shoa, essa segunda parte levei mais tempo para ver e ainda mais tempo para digerir. Ao contrário do que eu pensava, essa segunda parte não começa de onde a primeira parte parou. Ela começa com Franz Suchomell, o nazista entrevistado por Lanzmann para nos mostrar a desumanidade viva.

Nesta segunda parte, Franz nos agracia com seus talentos musicais, cantando e sorrindo, mas ninguém parece compartilhar de suas lembranças.

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Seu linguajar acompanha a desumanização que ele ajudou a proporcionar no planeta. Ao invés de mortos, Franz utiliza a palavra “processados” para se referir aos judeus colocados nas câmaras de gás. Dezenas de milhares eram “processados” em mais de 12 horas de trabalho. Um trabalho o qual ele, definitivamente, não parece mostrar remorsos.

 

Mesmo assim, havia vida dentro dos campos de concentração. O relato de Abraham Bomba nos obriga a alcançar os limites da nossa imaginação ao nos dizer como era ser cabeleireiro dentro dos campos. Os nazistas recrutavam pessoas presas dentro do campo para fazer os trabalhos que eles não podiam realizar. Aos encarcerados era uma forma de escapar da “solução final”. De maneira crua, ele nos relata como era cortar o cabelo dos outros presos e chora ao relatar o dia em que seu amigo cortou o cabelo de sua mulher e filha.

Eu também chorei. Inevitável.

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Após isso, ainda falta mais da metade do filme para ver. Surpreendentemente ainda há o que ser relatado, como os planos de uma rebelião dentro de Auschwitz. O plano não foi para frente e os relatos são terríveis, envolvendo escolhas tão duras que os encarcerados preferiam morrer do que chegar ao final daquilo.

Nessa parte da obra acho possível realizar uma associação com Viktor Frankl, pois muitos dos relatos tratam do sentido de se estar ali. A única que os motivava era a criação de um sentido para continuar ali dentro, seja a esperança de encontrar algo lá fora, a lembrança da família ou algum problema não solucionado. Era essa busca de sentido que os motivava a continuar, a planejar uma rebelião, a se organizar e fazer de tudo para continuar vivo, mesmo que se sujeitando aos nazistas.

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O filme não entrevista Frankl, que inclusive foi enviado a um campo de concentração e elaborou sua teoria da busca de sentido com colegas de cárcere, mas é latente que o filme só reforça a tese do austríaco.

Todos os dias presos era uma nova busca por sentido. Foi isso que fez os sobreviventes continuar a seguir a vida deles após os acontecimentos terríveis. Como nos diz Ithzak Zuckermann: “se pudesse lamber meu coração cairia envenenado” e apenas a busca por um sentido poderia arrefecer tanta amargura.

O filme termina num tom mais do que triste, lúgubre, niilista e não poderia ser diferente. A história humana nos levou a essa conclusão. Termina em silêncio. Não há mais nada a comentar.

5 pontos

sexta-feira, 1 de março de 2019

Post de apreciação do MC Gorila para o Carnaval 2019

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É o Carnaval mais uma vez. A festa mais odiosa do ano, onde a promiscuidade, a depravação e o caos imperam. A orgia carnavalesca que louva a Baco resulta apenas em violência, desastres e desencantes para o povo desse nobre país, no entanto, já está encravado em nossa cultura e reverter sua influência nefasta é uma tarefa que nem mesmo Hércules poderia enfrentar.

Eu, como todo cidadão de bem, fugirei para alguma fazenda longe dessa bacante devastadora, mas não podemos deixar de esquecer que todo ano um dos maiores gênios da MPB organiza o seu próprio bloquinho no RJ. Há muito tempo já planejava fazer um post de apreciação a esse mestre da música popular brasileira e agora tenho a oportunidade perfeita de lembrar da genialidade desse monstro, através de um Top 10 insano!!!

10 – Mamou Todos Nós

Parabéns por rimar “Jegue” com “Mick Jagger”

https://youtu.be/h_HEoktQFCA

9 – Você conhece a Kelly?

Merece um segundo parabéns por ressuscitar essa piada diretamente da 5ª série.

https://youtu.be/ukh8yChrE2w

8 – Gordelícia

Gordofobia aqui não!

https://youtu.be/FRZqcLbBTeg

7 – Sou um Jumento

As músicas do MC Gorila são um repositório de sabedoria popular, afinal não importa ter pau grande, tem que ter a cara de pau grande.

https://youtu.be/It0N1txZydE

6 – Deixa se Fuder

E é também uma oportunidade para repensarmos nossas atitudes. Não tenha olho grande!

https://youtu.be/51vzmOzQUyo

5 – Tava Cagado

Numa determinada altura da carreira, o MC Gorila focou na narrativa, criando histórias cheias de intriga, questões morais e desafios que tocam o âmago de qualquer ser humano.

https://youtu.be/VxZTA7IuzPg

4 – Meu Gato

Mas foi com essa música, feita em parceria com o rapper americano Akon, que o ápice narrativo foi alcançado. Palavras não conseguem exprimir a emoção que essa canção nos passa.

https://youtu.be/LHiA-98LPzc

3 – Cheio de Sal

Essa música foi uma das responsáveis por restaurar o status do MC Gorila nos últimos anos. Um clássico moderno!

https://youtu.be/N4Q4j1oSdUU

2 – As Novinha de Hoje em Dia

Você não recebe seu selo de internauta brasileiro sem ter assistido esse vídeo ao menos uma vez na vida.

https://youtu.be/Rbk5ysEzFgA

1 – Os Bonitin

Sei que deveria ter colocado Cheio de Sal ou As Novinha de Hoje em Dia em primeiro, mas, apesar da alta carga de ironia que esse post carrega, eu sou realmente fã do MC Gorila e acho que na fase atual de sua carreira ele está pronto pra se tornar um artista de renome mundial. E essa última fase teve início com esse clássico:

https://youtu.be/AycrgGE9iBw