terça-feira, 5 de março de 2019

Assistindo Shoa – pt.2

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Continuando a assistir Shoa, essa segunda parte levei mais tempo para ver e ainda mais tempo para digerir. Ao contrário do que eu pensava, essa segunda parte não começa de onde a primeira parte parou. Ela começa com Franz Suchomell, o nazista entrevistado por Lanzmann para nos mostrar a desumanidade viva.

Nesta segunda parte, Franz nos agracia com seus talentos musicais, cantando e sorrindo, mas ninguém parece compartilhar de suas lembranças.

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Seu linguajar acompanha a desumanização que ele ajudou a proporcionar no planeta. Ao invés de mortos, Franz utiliza a palavra “processados” para se referir aos judeus colocados nas câmaras de gás. Dezenas de milhares eram “processados” em mais de 12 horas de trabalho. Um trabalho o qual ele, definitivamente, não parece mostrar remorsos.

 

Mesmo assim, havia vida dentro dos campos de concentração. O relato de Abraham Bomba nos obriga a alcançar os limites da nossa imaginação ao nos dizer como era ser cabeleireiro dentro dos campos. Os nazistas recrutavam pessoas presas dentro do campo para fazer os trabalhos que eles não podiam realizar. Aos encarcerados era uma forma de escapar da “solução final”. De maneira crua, ele nos relata como era cortar o cabelo dos outros presos e chora ao relatar o dia em que seu amigo cortou o cabelo de sua mulher e filha.

Eu também chorei. Inevitável.

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Após isso, ainda falta mais da metade do filme para ver. Surpreendentemente ainda há o que ser relatado, como os planos de uma rebelião dentro de Auschwitz. O plano não foi para frente e os relatos são terríveis, envolvendo escolhas tão duras que os encarcerados preferiam morrer do que chegar ao final daquilo.

Nessa parte da obra acho possível realizar uma associação com Viktor Frankl, pois muitos dos relatos tratam do sentido de se estar ali. A única que os motivava era a criação de um sentido para continuar ali dentro, seja a esperança de encontrar algo lá fora, a lembrança da família ou algum problema não solucionado. Era essa busca de sentido que os motivava a continuar, a planejar uma rebelião, a se organizar e fazer de tudo para continuar vivo, mesmo que se sujeitando aos nazistas.

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O filme não entrevista Frankl, que inclusive foi enviado a um campo de concentração e elaborou sua teoria da busca de sentido com colegas de cárcere, mas é latente que o filme só reforça a tese do austríaco.

Todos os dias presos era uma nova busca por sentido. Foi isso que fez os sobreviventes continuar a seguir a vida deles após os acontecimentos terríveis. Como nos diz Ithzak Zuckermann: “se pudesse lamber meu coração cairia envenenado” e apenas a busca por um sentido poderia arrefecer tanta amargura.

O filme termina num tom mais do que triste, lúgubre, niilista e não poderia ser diferente. A história humana nos levou a essa conclusão. Termina em silêncio. Não há mais nada a comentar.

5 pontos