terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Dica cinematográfica: "Tenet" (2020)


 Tenet é o mais recente trabalho de Cristopher Nolan, o diretor por trás de icônicos filmes como Cavaleiro das Trevas e A Origem. Sua sobras são alvos de grande apreciamento crítico desde que lançou sua primeira obra há exatos 20 anos atrás, Memento, mas tem e tornado alvo cada vez maior de críticas vorazes não apenas pelo seu conteúdo visto como polêmico nos dias atuais, mas também pela forma ambiociosa com a qual seus roteiros são elaborados. Em todo caso, me proponho aqui a discutir esse filme e mostrar que ele é um novo Memento.

Em Tenet encontramos um membro de uma força especial dos EUA que, após falhar em uma missão internacional na qual ele entra em contato com uma tecnologia que nunca tinha visto, é escalado para fazer parte de um time que deve deter a nova Guerra Fria, utilizando uma tecnologia que reverte o tempo ao seu redor.

Tão simples quanto é essa sinopse, é o começo do filme. Em pouco tempo somos apresentados ao herói principal, sua condição que o levou a ser parte de um time obscuro de agentes e a premissa principal por trás de todo o filme; a tecnologia que reverte o tempo. O filme é rápido, não respira, uma característica dos filmes do Nolan desde o terceiro filme do Batman e que é alvo das duras críticas que ele sofre, mas é algo interessante.

Em Tenet esse recurso não é maçante, porque o filme não se perde em longas elocubrações dos elementos de ficção científica que ele explora. Ao invés de entendermos a tecnologia, somos apresentados a solução por trás dela como mero "instinto" e as condições de sua criação, sua elaboração e a forma como foram obtidas também não são complicadas, mas também não são ruins. Muito pelo contrário, a simplicidade mantém a coesão do roteiro, que não se esforça em explicar muito, mas também não exige essa explicação.

Conseguimos acompanhar a jornada do Protagonista de maneira objetiva, clara nem tanto, mas direta ao ponto. O resultado é um baita thriller de investigação, paranoia e ação, uma espécie de James Bond bebendo Pynchon no café-da-manhã e indo dar uma caminhada com a série Bourne. É bom pra caramba e entretem como poucos filmes do Nolan conseguem fazer. Não me entenda mal, eu gosto dos filmes dele, mas é difícil reassisti-los. Esse não.

Mas então ele é claro? Não. E nem todo filme precisa ser pra ser um baita filme de ação. Ele é direto em sua elaboração, porém ainda é um filme com viagem no tempo e muito coeso, mas para entendermos a coesão temos que voltar diversos momentos algumas vezes. Eu me peguei voltando o filme algumas vezes em momentos-chave pra poder entender algumas passagens, especialmente quando as viagens no tempo começam a ficar mais frequentar, a partir da terceiro quarto do filme.

Por isso eu imagino que esse filme não agradará gregos e troianos (leia-se fãs e haters). Ele é direto demais pra agradar a base de fãs cabeçudos do Nolan, que gostam de um negócio complicado pra ficarem montando teorias, elocubrações e afins. Igualmente o filme continua sendo obscuro e rápido demais para os haters do Nolan, que ainda encontrarão um filme que não respira e muitas explicações que ainda exigem voltar o filme algumas vezes. Algo que os haters odeiam, mas eu gosto. Gosto de ser desafiado pelos filmes que assisto.

Por esse e outros motivos, é uma obra que destaca dentro da filmografia do Nolan. Não é muito como as outras coisas que ele já fez por aí, bem pelo contrário, a trilha sonora, apesar de ainda ser bem minimalista e ter um jogada bem inteligente, é barulhenta, tão impositiva que sentimos o seu peso na tela. As comparações com A Origem devem borbulhar em todo canto, mas Tenet é irmão mesmo de Memento.

Eu consigo ver muitos jovens, adolescentes mesmo, assistindo Tenet e gostando demais dele, indo, a partir daí, procurar o resto da filmografia do Nolan pra assistir. Tenet é um filme do Nolan que fala com a nova geração.

Em todo caso, é um baita filme, que merece ser assistido.