quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Dica cinematográfica: "Os Exterminadores do Além contra A Loira do Banheiro" (2018)

 Esse filme deveria ter sido a dica de Halloween, mas como no Halloween eu ainda não tinha assistido essa pérola, então vai ser hoje mesmo que vou falar dele. Mas antes, é necessário dizer que, sendo um filme produzido pelo Danilo Gentili, eu já tinha conhecimento dele, mas nunca tive muita curiosidade em ver, apesar de ter gostado bastante d'O Pior Aluno da Escola. No entanto, após aquela patacoada que ele protagonizou no Flow Podcast e um comentário de um espectador lido ao final dizendo que o filme fora premiado internacionalmente e por aqui ninguém nem "tchau", resolvi ir ver, afinal, se o brasileiro não gosta, é porque deve ser bom.

O filme conta a história de Jack, Caroline e Fred, que junto com o cinegrafista Túlio, mantém um canal no Youtube fingindo que enfrentam coisas do além, igualzinho o que o SpookyHouses faz hoje em dia. E após um acidente envolvendo 2 alunos na Escola Isaac Newton, os quais invocam a Loira do Banheiro e um deles ter um "ataque epiléptico", o diretor os contrata pra gravar um vídeo e acalmar os ânimos dos alunos. O que ninguém contava é que o vídeo não contaria com a mesma produção porca de sempre da trupe de charlatões, pois a Loira não só é real, como ela querendo brincar com a vida de todo mundo.

A partir daí, o filme se desenrola num terrir maravilhoso. Cabeças explodindo, sangue jorrando pra todo lado, canibalismo, queimada assassina, telefone do mal, sexo com possuídos, ritual satânico, feto homicida e até mesmo um cocô possuído, enfim... bom gosto não define.

O filme é realmente um desses trashs incríveis que te farão gargalhar com tanta besteira, até muito mais do que as piadas. Além dessas escabrosidades todas, temos ainda uma série de participações muito boas, como a do Ratinho e do Sikêra Jr. que carregam o filme com bom humor. Dentro do filme há também uma sacada muito boa que é o núcleo formado por 2 professores, escalados pelos exterminadores do além e o diretor para aparecem no vídeo. No entanto, eles nunca são chamados para aparecer no vídeo, por causa dos acontecimentos terríveis dentro da escola e ficam alheios a toda a situação, conversando entre si sobre como dever ser organizado um filme de terror, gerando diversas piadas metalinguísticas que servem como uma boa transição entre uma cena de terrir e outra.

A produção do filme, infelizmente, ainda conta com alguns problemas técnicos (ou talvez deveríamos dizer características técnicas?) que incomodam. Uma delas é a própria direção, há cenas, como a da queimada, em que não temos dimensão de tudo o que está acontecendo, fora isso temos cortes muito abruptos nas cenas de destruição e, além disso, o som também não parece que foi bem masterizado, pois os gritos e falas muitas vezes ficam abafados em meio a trilha sonora. Tudo isso, sempre, nas cenas de terror. Talvez seja inexperiência do diretor com o gênero, talvez seja um estilo que ele decidiu adotar, porque já vi coisas assim em outras obras de terror. O que importa é que passa uma sensação de amadorismo.

No entanto, há o que se louvar nos aspectos técnicos também. A trilha sonora é excelente, a ambientação também, fizeram um filme de terror brasileiro, ou seja, nas cenas de dia tudo é muito claro, dando aquela sensação de calor que o nosso país exige. Como a maior parte do filme se passa a noite, talvez isso nem seja notado, mas é algo que chama a atenção logo no começo. Por fim, toda a construção do cenário ficou muito bem feita, cheio de pequenos easter eggs, que só os brasileiros irão captar. Tudo isso segue muito bem os parâmetros que nosso mestre, Mojica Marins estabeleceu décadas atrás e o grande recebe uma bela homenagem na obra.

E ainda assim "Os Exterminadores do Além contra A Loira do Banheiro" foi um filme muito premiado lá fora, o que me dá muito orgulho. Nossa produção nacional de filmes tem espírito criativo pra dominar o mundo, mas infelizmente não conta com todo o apoio necessário das empresas, instituições e até mesmo público e crítica nacional. Em todo caso, esse filme dá um fôlego novo para a cinematografia brasileira e, com certeza, se tornará um desses clássicos trash que iremos assistir em nossos computadores escondido e conversar com os amigos no bar, rindo muito.