quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Dica literária: "O sol é para todos" (1960) de Harper Lee

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“O sol é para todos” é o primeiro e único livro escrito por Harper Lee, publicado em 1960, tornando-se rapidamente um sucesso de vendas.

No livro acompanhamos três anos na vida de Scout, uma garota que mora com o pai (Atticus), o irmão (Jem) e a empregada negra da família (Calpúrnia) na cidade ficcional de Maycomb County, Alabama, no meio da Grande Depressão que assolou os Estados Unidos nos anos 30. Além da ocasional presença de Dill, um garoto aventureiro que visita Maycomb todo verão.

A narrativa do livro lembra um pouco aqueles filmes da Sessão da Tarde, com crianças que se aventuram pelos cantos mais obscuros do bairro, sendo narrado por Scout, na forma de capitulos, geralmente fechados, em que cada um é mostrado um acontecimento diferente na vida da menina e das pessoas que as circulam.

Pelo fato de termos uma menina entre os 7 e 10 anos narrando o livro, somos apresentados à história de uma forma bem descontraída e inocente, mas engana-se quem acha que esse é um livro raso, fácil de engolir, pois sua história é ambientada no sul dos Estados Unidos, numa época que ainda vivia às sombras do período de escravidão, apresentando questionamentos sagazes de assuntos sérios como o racismo, o preconceito, o papel da mulher na sociedade, a diferença entre classes, compaixão, tolerância e honra. Tudo isso explorado em personagens longe do maniqueísmo habitual que iria se esperar de uma obra assim.

Pelo contrário, os personagens apresentados em “O sol é para todos” não são bons, nem maus, eles apenas vivem de acordo com aquilo que acreditam ser certo ou errado. Isso é algo muito bem explorado pelo Atticus, o pai de Scout, que lhe ensina que algumas pessoas têm opiniões erradas sobre determinados assuntos, por que são ignorantes, não por que são más e por isso não devemos odiá-las.

Esses pequenos ensinamentos são colocados no livro de forma completamente pura e inocente por Scout, que às vezes não entende o que o seu pai quer dizer, criando uma ligação com o leitor, que também pode não entender, forçando você a parar para pensar um pouco sobre determinada questão.

Tudo isso faz desse livro uma leitura ainda mais fascinante e brilhante.

A escrita de Harper Lee também merece destaque. Ela transmite em palavras os trejeitos e “gírias” caipiras típicas do sul dos Estados Unidos, presente em todas as páginas do livro, visto que ele é narrado do ponto de vista de Scout, que apesar de viver na cidade, está cercada de homens do campo, pessoas humildes e com um vocabulário menos vasto que o de seu pai.

“O sol é para todos” é um livro que eu adorei ler e está mais que recomendado, visto que os temas abordados e seus ensinamentos continuam mais necessários do que nunca, infelizmente.

4 pontos e meio