domingo, 29 de março de 2015

Dica literária: "O Longo Adeus" de Raymond Chandler (1953)

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"O longo adeus" é um livro publicado em 1953, escrito por Raymond Chandler e fonte inspiradora do filme "Um perigoso adeus" (embora eu tenha dúvidas de que esse seja realmente o título do filme no Brasil), o qual já foi mencionado mais de uma vez aqui no blog.

Me surpreendi ao terminar de ler o livro e constatar que ele é muito diferente do filme. Não que isso seja ruim, mas é um ponto a ser notado e algumas pessoas, que gostaram muito do filme, podem não gostar tanto do livro. Além disso, acho que as mudanças foram bem feitas e até necessárias, visto que o livro como é não poderia ser literalmente adaptado em um bom filme, apesar de ter nuances cinematográficas, que são marcas do autor. Isso será explicado mais para frente.

O livro começa com um encontro casual entre Phillip Marlowe e um bêbado qualquer, onde o detetive particular acaba salvando o rapaz, chamado Terry Lenox. Seguem-se mais alguns encontros e uma espécie de amizade nasce, apesar de ser um tanto quanto unilateral, já que só Marlowe parece se importar com a amizade que mantém por Lennox. Uma noite, Lennox aparece na casa do detetive e pede que ele o leve até Tijuana (como no filme), Marlowe faz isso e depois descobre que a mulher de Lennox, Silvia Lennox, uma milionária fácil, foi morta e o marido é acusado. Marlowe fica preso até que descobrem que Lennox se suicidou num vilarejo do México. O caso parece morrer, até que Marlowe aceita um trabalho da esposa de um escritor rico e alcoólatra, com uma certa tendência ao comportamento violento e suicida, que morava num bairro rico de Los Angeles, o mesmo em que moravam Terry e Sylvia Lennox e as histórias começam a se unir.

De fato, o livro não tem muito a apresentar em uma forma narrativa, as histórias parecem estar desconectadas e quando elas se unem no final não formam um laço forte, convincente, apesar de bem construída e por isso não funcionaria no cinema. No entanto, o livro ainda assim é ótima e seu peso reside no texto em si, nos pequenos comentários de Marlowe, nos diálogos de seus personagens, criando uma análise realista, crua e, por esse motivo, dolorida da sociedade ocidental.

Raymond Chandler é seco ao apresentar personagens complexos, no entanto vazios, que têm tudo o que desejam, mas ao mesmo tempo parecem ter sempre fome e sede, seja no multimilionário que prefere se fechar para o mundo e viver em seu mundinho particular perfeito, nas suas filhas, incapazes de criar laços afetivos com alguém, nos gângsteres que mandam e desmandam nas ruas de Los Angeles ou ainda no escritor que não faz o que gosta, mas continua fazendo apenas pelo dinheiro.

Assim como em "O Grande Gatsby", Raymond Chandler nos apresente uma história sólida, mas com uma intenção muito maior por trás, quase um ensaio em forma de prosa da sociedade podre e ilusória em que vivemos, mas ao contrário de Fitzgerald, Chandler vale-se muito da ironia, o sarcasmo, exponde seus personagens ao ridículo, sem que eles se deem conta disso, apresentando a face podre do mundo do ponto de vista de um personagem que está de fora e é o único ali que vê como as coisas estão erradas.

Aliás, o próprio leitor só percebe isso no final mesmo, ao ler a última frase, pois tudo também é novo para nós. Marlowe está sempre um passo à frente, acompanhamos suas falas da mesma forma que os personagens secundários, sem saber aonde ele quer chegar, revelando ao final um genialidade detalhista que não tem como não se surpreender.

"O Longo Adeus" é considerado a obra-prima de Raymond Chandler. Não li os outros livros, mas meu interesse só aumentou ao ler este, que já está na minha lista de livros favoritos de todos os tempos.

segunda-feira, 23 de março de 2015

3 filmes picantes que valem a pena.

Com o lamentável lançamento de 50 tons de cinza nos cinemas de todo o mundo e ficando, infelizmente, em primeiro lugar nas bilheterias por muito tempo, em muitos lugares, inclusive no Brasil (o que só prova minha teoria de de o que é bom no cinema é exatamente o que não vende bem ou seria o contrário?), muitos sites e canais “especializados” em cinema decidiram pegar uma carona no sucesso e fazer lista de filmes tão ou mais lamentáveis que 50 tons de cinza para indicar aos seus leitores lamentáveis. Isso acaba gerando uma onda de posts cada vez piores, com filmes horríveis que contém sexo, mas que o debatem de forma “adulta”, mesmo que para ser classificado como “debate adulto” o filme tenha que ter meia dúzia de tomadas com mais de um minuto mostrando o quarto da personagem principal, tenha uma mulher como personagem principal e mostre sexo explícito sem os característicos gemidos de filmes pornô (a não ser que o filme seja sobre lésbicas, aí tudo bem ter gemidos).

Eu também decidi montar uma lista com “filmes picantes”, mas para esta lista eu escolhi apenas 3 filmes, por que filmes “picantes” são lamentáveis.

No entanto, desses 3, um é bom, outro é genial, enquanto o último é surpreendente. São filmes que abusam da temática do sexo e num primeiro momento esses filmes parecem se tratar apenas disso, mas do meio pra frente, nos chocam com uma ideia nunca antes vista, usando o sexo para explorar nuances pouco exploradas da natureza humana, da vida e os laços que nos conectam como pessoas. Ao tratar o sexo com algo tão banal, esses filmes conseguem nos apresentar visões de mundo tratadas com inocência e normalidade sem um contexto sexual, mas que nunca sofrem o devido tratamento exatamente por estarem intimamente ligadas ao sexo, não completamente, mas uma parte delas.

1 - “Ninfomaníaca”

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O filme obscuro de sexo do polêmico Lars Von Trier nada mais é do que isso: Polêmica. Lars Von Trier é uma das piores figuras do cinema atual, um cretino que cria polêmicas disfarçadas de arte, apenas para enriquecer o seu bolsinho e poder sair por cima de todos como um gênio à frente de seu tempo.

Bem, ele não é, mas em “Ninfomaníaca” eu tive minhas dúvidas quanto a isso, confesso. O filme é dividido em duas partes, de quase 3 horas cada uma e a primeira é lamentável. Um show de cenas eróticas patéticas, contando com uma lista lamentável de estrelas, indo de garotas pré-pubescentes tendo orgasmos num banheiro molhado até focos em orgãos genitais cada vez mais bizarros, conforme a doença da personagem principal avança.

No entanto, a parte dois dá uma volta de 180º e, sinceramente, me surpreendeu. A personagem principal começa a ser atingida pelo bom senso, toma consciência de seus erros, da sua doença e o seu próprio corpo começa a reagir contra os seus instintos animais. A análise psicológica é muito profunda, as metáforas finalmente começam a fazer sentido no filme e a narrativa começa a ganhar corpo, tomando a forma de um romance noir, até que as questões começam a ganhar respostas.

Diante da segunda parte, as cenas de sexo do primeiro filme ficam ainda mais desnecessárias, mas não deixa de ser uma boa construção da personagem principal.

O filme termina de forma ainda mais surpreendente, com uma crítica chocante acerca da natureza humana. Difícil esquecê-lo.

2 - “Don Jon”

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“Don Jon” é o primeiro filme dirigido por Joseph Gordon-Levitt e é muito bem dirigido por sinal, com um jogo de câmera sagaz, é bem estiloso, com alguns toques surreais ao longo da película, mas que nunca perde a conexão com a realidade, apenas aumentam a inserção do telespectador na vida do personagem principal, o John.

No filme, John é um pegador, que consegue todas as mulheres que quer, nem que para isso ele tenha que investir um pouco mais de tempo na presa. O problema é que não importa quantas mulheres ele tenha, John não é capaz de deixar o pornô. Para ele, nenhuma mulher é tão boa quanto um bom filme pornô.

À partir daí já podemos ver o problema do personagem principal e ele sabe disso (John está sempre conversando com o telespectador, que é como se fosse a sua consciência). Para justificar suas atitudes, John cria as mais absurdas teorias acerca de mulheres, amigos, atrizes e atores pornô, gerando monólogos hilários, mas é um filme que cresce com o tempo.

No começo pode parecer apenas um besteirol lamentável, mas acaba se tratando de uma comédia de humro negro muito bem feita e eu sinto que ele bebe muito na fonte de um dos melhores mangás de todos os tempos, “Onani Master Kurosawa”, que também começa como um besteirol sem classe e se transforma em uma ótima crítica à sociedade japonesa e à própria natureza humana moderna.

Em “Don Jon” vemos muitas crítica escondidas à sociedade ocidental, em especial em relação aos homens, mas as mulheres não escapam também, além de uma sagaz análise do modo como nós, seres humanos modernos, cobrimos os vazios existenciais com coisas supérfluas, prazeres passageiros, sem manter um pensamento a longo prazo.

3 - “Um Show de Vizinha”

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Esse sim é um autodeclarado besteirol, mas de maneira não intencional acabou se transformando em um ótimo filme que mostra o valor da amizade.

No filme, conhecemos um perdedor do colegial, que recebe uma nova vizinha, uma loira escultural e muito gente boa. Os dois começam a se relacionar, uma espécie de relacionamento que está no limiar entre a amizade e o romance começa a crrescer, mas quando um de seus amigos perdedores mostra que a vizinha já fez filmes pornôs, ele é convencido a levá-la para o motel. A garota se decepciona quando descobre que ele a via apenas como um objeto de prazer e acaba desisitindo de ficar com ele, viajando para Las Vegas com um verdadeiro cafetão, pouco tempo depois. À partir daí, o perdedor colegial e seus amigos saem em busca da menina para mostrar que, não, ele não a via como um simples objeto de prazer.

A crítica está clara logo aí, mas ela fica escondida em meio à piadas ruins e uma objetificação da mulher que todos os besteiróis fazem. O grande trunfo de “Um Show de Vizinha” é que o filme termina apresentando uma mensagem incrível sobre a amizade, usando não só os amigos do garoto como exemplo, mas a menina também, pois ela não vira apenas sua namorada, um título a ser exibido como um troféu, ela vira a sua companheira.

Provavelmente quem escreveu o roteiro de “Um Show de Vizinha” nem estava pensando em passar tal mensagem, mas é o estranho caso de “erro feliz” que aconteceu aqui.

Bônus: “Sexo, Mentiras e Videotape”

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Este é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Conta a história de uma dona de casa sexualmente frustrada, pois não consegue dar prazer ao seu marido, nem sentir prazer. Seu marido a trai com a irmã e ela recebe em casa a visita de um amigo de seu marido da época do colegial. O rapaz está se mudando para a cidade e parece ter passado por alguns problemas pessoais que o transformaram em uma pessoa reservada e um pouco transtornada.

Eu, na verdade, acabei revelando muito do filme, que tem um clima bem noir, um certo suspense impera entre os seus personagens e a traição de marido é revelada de forma gradual, como um bom filme de suspense. Trata-se de um drama, mas com forte influência de filmes policiais, de suspense e do noir e por esse motivo é um filme tão bom.

Sem contar o debate que ele provoca, sobre sexo, sobre o modo como a nossa cultura vê o sexo e as implicações que isso gera, indo desde a forma como os casais se relacionam às ideias pré-concebidas sobre os gêneros masculino e feminino, por exemplo.

Esta é a minha lista de filmes picantes que valem a pena. Assistam, se divirtam, pensem.

domingo, 22 de março de 2015

Dica musical: "To Pimp a Butterfly" de Kendrick Lamar (2015)

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O novo álbum de Kendrick Lamar saiu no dia 16 de Março de 2015, 20 anos e dois dias depois de "Me Against The World", o aclamado terceiro álbum de estúdio de Tupac Shakur. "To Pimp a Butterfly" é também o, já aclamado, terceiro álbum de Kendrick Lamar, recheado de metáforas, uma grande diversidade sonora, presente em cada uma de suas canções, além de seu caráter artístico impecável, tornam este um dos melhores álbum da história do hip hop e não seria exagero dizer que ele é o melhor álbum da década.

Kendrick Lamar já chamou a minha atenção com seu aclamado segundo álbum de estúdio "Good Kid, M.A.A.D. City", mais pela intenção com a qual ele foi feito, o conceito por trás do disco; contar uma história de um garoto negro (ou qualquer garoto negro), nascido e criado em Comptom, Califórnia, desde pequeno se acostumando a ver as injustiças sociais tão presentes na vida de todos, o crime, a violência, a falta de esperança, enfim... Era um CD com muito conteúdo. No entanto, apesar de tanto conteúdo, ele vinha mesclado com canções não tão profundas e a sonoridade não me agradava tanto. Em parte por que era uma sonoridade reminiscente dessa nova leva de rappers que propagaram o estilo "bling bling", de usar correntes, ostentar o luxo e fazer batidas puramente eletrônicas. Em parte, por que era um CD que se concentrava mais no conceito mesmo, em apresentar uma história.

Mas só um conceito não sustenta um CD, por que afinal, trata-se de música e é necessário se ater a sonoridade também, algo que Kendrick Lamar faz muito bem aqui, puxando inspiração não só da era de ouro do hip hop, como também da era do "bling bling" e mais; Kendrick Lamar vai além e evolui a sonoridade de seu álbum, criando algo que pode, sim, ser chamado de inovador, ao menos dentro do hip hop, criando uma sonoridade que muda constantemente. Poucas são as canções do álbum que mantém a mesma batida continuamente por toda a sua extensão. As batidas mudam, evoluem e se modificam, sustentando, de verdade, a mensagem presente no álbum.

E por falar na mensagem, já nota-se que ela é profunda desde de cara. O título do álbum ("To Pimp a Butterfly") é uma clara referência a um dos melhores romances de todos os tempos, To Kill a Mockingbird, que, entre outros temas, debatia o tema do racismo de forma realista e, como consequência, dura, difícil de engolir.

A partir daí somos metralhados com uma enxurrada de temas, dos estereótipos raciais, à busca pela fama, a influência do dinheiro em nossas vidas, até a rivalidade e a exclusão presente entre os próprios negros; todos os temas relacionados, com maior ou menor intensidade, a vida de Kendrick Lamar e é por esse motivo que eles não perdem a força ao longo do álbum.

Em "To Pimp a Butterfly", Kendrick Lamar conseguiu algo que poucos artistas, não apenas rappers, conseguiram fazer com seus CD's; fazer com que eles mantivessem a mesma força e intensidade em todos os momentos, em todas as canções. Não há uma canção que você diga "Uhm... Essa canção é mais ou menos". Todas são igualmente excelentes, embora algumas sejam naturalmente mais fracas, provavelmente por serem mais intimistas, como "Momma" e "i", por exemplo.

A enorme variedade de temas não permitem que "To Pimp a Butterfly" seja escutado como uma narrativa única como "Good Kid, M.A.A.D. City", muito pelo contrário, são várias narrativas, no entanto, se tratam de canções que são facilmente "visualizadas" na mente do ouvinte (muito em parte devido ao alto nível descritivo e imaginativo que as letras têm), não como uma filme, mas como uma sucessão de esquetes, ou até mesmo contos, todos pertencentes ao mesmo conjunto e que não estão conectados, mas interligados por uma tênue, quase invisível, "cola", seja na forma de samples que continuam na canção seguinte, ou (mais comum ao longo do álbum) na forma de versos, que são repetidos e construídos no final de algumas canções, revelando-se por completo na última música do álbum "Mortal Man", um misto de rap, com spoken word e pseudo-entrevista com mais de 12 minutos e que revela, de forma surpreendente e emocionante, todo a dedicação e esforço dado por Kendrick Lamar para tornar esse álbum uma verdadeira obra de arte.

Ao final do álbum você não tem muitas certezas, não há nenhum manifesto aqui, nenhuma verdade absoluta, mas há uma mensagem muito bela, que te propele a seguir um caminho melhor, a se tornar uma pessoa melhor. É um álbum cheio de ideias, metáforas e histórias, capazes de te deixar pensando, meditando por dias a fio, sentado no sofá, admirando a paisagem do lado de fora.

5 pontos

domingo, 15 de março de 2015

Dica cinematográfica: "Kingsman - Serviço Secreto" (2015) e uma leve discussão sobre a violência na sociedade pós-moderna

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"Kingsman - Serviço Secreto" é um filme de 2015, do gênero ação (quase um exploitation), levemente adaptado de uma história em quadrinho e vem do excelente diretor de "Kick Ass" e "X Men - Dias de um Futuro Esquecido".

O filme conta a história de Eggsy, um delinquente juvenil que é recrutado por uma elegante agência de espionagem chamada Kingsman para o seu extremamente competitivo programa de treinamento. Enquanto isso, um documentarista milionário e ambientalista começa a bolar um plano maligno para destruir a raça humana, ou, pelo menos, a parte podre dela.

O diretor Matthew Vaughn parece, aos poucos, criar um estilo de cinema fundamentado em basear histórias em quadrinhos e criar filmes que servem, puramente, o entretenimento.

O que poderia ser um ponto fraco se torna um ponto forte com ele, já que seus filmes entretêm e muito os espectadores, principalmente pela qualidade técnica com o qual os filmes são feitos e pela ousadia no tratamento dado às películas.

O principal diferencial em "Kingsman" é a violência excessiva do filme. Não se trata de uma obra a qual você deve se ater, mas uma obra em que você deve esquecer da realidade para poder aproveitá-la completamente e talvez por isso, entretenha tanto. As cenas de violência são exageradas, cheias de sangue, golpes impossíveis de serem executados na vida real e tudo feito de forma a parecer falso, de propósito, para manter o espectador longe do que está sendo mostrado. Em nenhum momento do filme a violência ganha um tom realista, lembrando muito os filmes exploitation, que exageravam em todos os sentidos os temas abordados, mas a diferença em "Kingsman" é a qualidade técnica por trás de tudo isso.

Matthew Vaughn gosta de fazer seus filmes de maneira completamente digital, então seus filmes não tem aquela saturação gostosa dos filmes antigos (o que garante um ar estiloso ao filme), em compensação conta com cores vibrantes, cenas recheadas de detalhes, uma movimentação de câmera muito sagaz e capaz de capturar movimentos rápidos com mais precisão.

Tudo isso ajuda a criar as cenas de ação incríveis, de fazer perder o fôlego e gerar admiração. Sim, mesmo com tanta violência e sangue, "Kingsman" não deixa de ser um filme bonito e, confesso, fez eu me sentir mal por admirar tudo aquilo quando a seção acabou. Afinal, você está admirando algo que, claramente, está errado.

Mas existe algo na violência que nos chama a atenção, talvez sejam os nossos instintos mais primitivos gritando em puro êxtase dentro de nós, talvez seja culpa da nossa sociedade que não permite que a violência seja explorada pelos indivíduos, mas permite que sejamos bombardeados com violência em diversos sentidos (desde o banho de sangue que são os jornais modernos até a violência psicológica sofrida em qualquer fila de um órgão do governo). Isso me fez criar um paralelo com a cultura exploitation japonesa, que por lá tem outro nome (Superflat), que tenta desconstruir a cultura pop que os japoneses criaram para si e virou sinônimo de cultura oriental, sendo que a cultura oriental é muito mais diversificada do que vemos em animes e ouvimos de dançarinas em 3D com cabelos azulados.

Há uma certa restrição no comportamento que um japonês ou japonesa deve apresentar em público e isso não envolve, de forma alguma, sexo, por exemplo, e não é novidade para ninguém que muitos "estudiosos" dizem ser isso a causa da perversão tão presente nas obras japonesas, como os animes e mangás. O superflat pega esse elemento (sexo), jutna com muitos outros igualmente reprimidos pela cultura japonesa (violência, comportamentos públicos e o papel de cada um na sociedade) e o desconstrói da maneira mais bizarra possível, indo desde animes com diálogos ridicularmente bizarros (conheci o superflat através de um anime cuja uma das cenas iniciais é uma menina colegial sendo capturada por um menino bonito da sua classe usando tentáculos metálicos, enquanto ele mostrava para ela fotos de mulheres peladas e justificava aquilo com uma tese sobre a importância dos peitos para a sustentação da sociedade moderna) até exposições de arte envolvendo esculturas de personagens no estilo de anime pelados e ejaculando como se estivesse soltando um kame hame ha que envolve todo o seu corpo. Isso me lembrou de "Tokyo Tribe", de Sion Sono, um filme muito violento também, mas que acaba sendo muito mais honesto em sua proposta de explorar esse estilo de "exploitation asiático".

O contrário de "Kingsman", que apesar de ser completamente irreal, ele não chega ao ponto de ser escroto ou falso por completo (até mesmo o cenário de "Tokyo Tribe" era visivelmente falso). No filme de Matthew Vaughn tudo é exagerado, porém feito com precisão cirúrgica para parecer verdadeiro, mas é tão verdadeiro, perfeccionista, ue vira falso de novo, só que do outro lado da moeda (o clássico "pecou pela excesso"), mais ou menos como nos filmes de Wes Anderson.

E também isso talvez seja um reflexo da nossa sociedade, que não consegue ver algo falso, não gostamos de nos sentir enganados, fazendo com que a arte se torne cada vez menos arte, afinal não vamos ao cinema como admiradores de arte, mas como consumidores.

No entanto, isso é assunto para outro post e eu já divergi demais o assunto abordado aqui, até por que "Kingsman" eleva ao exagero não os clichês dos filmes ocidentais, mas dos filmes de espionagem. Os personagens são todos britânicos (altamente recomendável assistir ao filme legendado), há uma energia toda especial de filmes britânicos, mesclada com aquela sagacidade de filmes de espionagem, onde o herói derrotava todo mundo sem amassar um centímetro do terno. As situações são todas irreais e exageradas e o filme até se permite um ou outro momento metalinguístico, além das diversas paródias, mais claras nos personagens secundários, mas que deve estar presente também nos personagens principais.

Deve estar, por que nem tudo é fácil de sacar para alguém como eu, que não cresceu vendo os filmes clássicos do James Bond, nem assisti MacGyver, então muitas referências serão mais fáceis de serem captadas pelo público mais velho (um pouco, só).

Todos esses elementos narrativos são muito bem equilibrados neste filme, apesar dele saltar muito rápido de uma cena para outra (e de um ano para outro também) em certos momentos, exemplificado por uma das primeiras cenas, em que é explicado um pouco da história do pai do personagem principal e já somos apresentados para ele jovem adulto. Não que isso prejudique o entretenimento que o filme oferece, mas é algo a se notar.

Enfim, "Kingsman" é um filme muito bom, tem seus defeitinhos aqui e acolá, aproveita-se de uma faceta contestável da nossa sociedade, mas deixa de ser um ótimo entretenimento para a sua tarde de domingo.

4 pontos

sábado, 14 de março de 2015

Dica cinematográfica: "Relatos Selvagens" (2014)

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"Relatos Selvagens" é um filme argentino de 2014, de difícil classificação, podendo ser considerado uma tragicomédia de humor negro.


Em "Relatos Selvagens" somos apresentados a seis histórias diferentes, seis contos, cada um separado do outro por milhas e milhas, mas conectados por um brilhante pano e fundo: a violência presente na nossa vida cotidiana. O primeiro conto trata-se da vítima de bullying na escola que decide explodir um avião. O segundo conta a história de uma garçonete de um restaurante de beira de estrada, que se encontra com o algoz de sua família e acaba tendo que escolher entre vingar-se ou esquecer o que se passou. No terceiro conto, dois motoristas se desentendem no meio de uma estrada no fim do mundo e acabam iniciando uma discussão irracional que só pode terminar em tragédia. No quarto, estrelado por Ricardo Darín (sempre ele), conhecemos um honesto engenheiro, que acaba sendo vítima das injustiças exercidas pelo poder público da cidade onde mora. O quinto conto nos apresenta um homem rico, cujo filho acaba de matar uma grávida enquanto dirigia bêbado, mas tenta a todo custo protegê-lo, nem que para isso tenha que corromper não só aqueles que conviveram com ele por quase 15 anos, como também o sistema judiciário. E para terminar, no sexto conto, conhecemos um casal recém-casado, mas que começam a discutir, conforme a podridão escondida embaixo do tapete de seu relacionamento vai se revelando.


É um filme extremamente interessante, que levanta mais perguntas do que as responde. Para começar, ele parece iniciar sempre com o olhar da vítima, somos forçados a acreditar nisso, mas se tem algo que esse filme prova é de que não há vítimas, apenas pessoas, que devem se responsabilizar por seus atos. Isso fica claro no terceiro conto (que começa apresentando uma vítima, que instantes depois vira agressor, mesmo que verbalmente, até se tornar vítima e agressor e vítima e agressor...) e evidente no quarto conto, onde o personagem principal se passa por vítima o tempo todo, até que vira o agressor e reage muito bem às consequências de seus atos.


"Relatos Selvagens" não é um filme de vitimização, muito pelo contrário, ele nos mostra como é fácil nos tornarmos agressores, cedermos aos nossos instintos naturais, mas levanta a questão sobre as causas (talvez sejam externas e completamente fora de nosso controle, mas também podem ser completamente interiores) e também sobre até que ponto isso é ruim, afinal você quer viver uma existência mundana ou que valha a pena ser vivida?


Uma questão interessante, ao menos para mim, foi a de que todos os conflitos do filme teriam sido evitados, de todas as partes, se seus personagens tivessem simplesmente "deixado pra lá" (Dá nada não, sacumé, né?). Seja na hora de esquecer o seu passado conflituoso, na hora de deixar outro motorista ultrapassar seu carro, apesar de que os três últimos contos terem soluções muito menos óbvias. Na verdade, não há uma solução boa, apenas uma solução satisfatória, bastava ter paciência.


Outro ponto interessante do filme é que ele não apresenta altos e baixos, o filme é todo um alto. Todas as suas histórias são boas e igualmente interessante, apesar da última ser um pouco melodramática demais, além de exagerada pra caramba. Nenhuma das histórias do filme tem um tom realista alto, mas a última é simplesmente absurda.


Ainda assim, é um ótimo filme e mesmo a última história tem seus pontos fortes em relação a outros contos (é a única que usa a iluminação como forma de auxilar a narrativa, por exemplo).


Enfim, "Relatos Selvagens" é um filme que justifica todo o auê levantado na época de seu lançamento, reunindo ótimas histórias, com ótimas atuações e um excelente trabalho de direção, além das questões levantadas renderem muitos questionamentos que irão ficar vivos em sua mente por muito tempo.

domingo, 8 de março de 2015

O que eu perdi #1: "Room on Fire" (2003)

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Durante o carnaval, fiz uma viagem muito longa e um dos poucos pontos positivos dessas viagens é que eu posso revisitar toda a minha biblioteca musical no meu celular, o que faz com que eu redescubra alguns clássicos e me apaixone novamente por algumas bandas a artistas. Um dos meus amigos, que fez a mesma viagem, ficou ouvindo “The Rifles” no meu celular, enquanto eu ouvia “Reptilia” do The Strokes no iPod dele.

E naquela viagem eu percebi que havia deletado todas as minhas músicas do The Strokes, inclusive do meu computador. Algo que me fez baixar toda a discografia deles e tocar um projeto que eu tinha para o blog, mas nunca comecei; esse projeto eu apresento hoje e se chama “O que eu perdi”.

O objetivo é simples: Apresentar discos de diversos artistas musicais que eu considero incríveis o bastante para serem indicados no blog, mas como eu só indico CD’s novos (do ano em que eu estou postando), então eles nunca teriam um espaço, que não fosse dentro desse projeto.

Muito bem, o primeiro “O que eu perdi” contará com a presença farrista do The Strokes e o já clássico “Room on Fire”.

O segunda álbum de estúdio do The Strokes é um diamante brilhante e chamativo, a começar pela arte do álbum (a mais bonita de todos os álbums da banda, na minha opinião), escancarando, já logo de cara, as influências oitentistas presentes em todas as músicas do CD.

O som é muito rápido, muito bem marcado pela bateria, com riffs agitados de guitarra e solos enérgicos. O baixo, uma característica marcante no primeiro CD e algo que chama muito a minha atenção no The Strokes não é tão presente, no entanto é marcante, até por que ele assume o papel principal em diversos momentos e canções do álbum.

As canções, escritas por Julian Casablancas, não são nenhum primor criativo, pois eles nunca deixaram de ser filhinhos de papai mimados da cidade de Nova Iorque, mas em “Room on Fire” temos ótimos momentos e sacadas bacanas. Já logo de início ouvimos um desabafo: Julian Casablancas canta, em nome de toda a banda, que não quer ser lembrado. Em seguida, nos aletra que esse mundo não é para nós em “Reptilia” e, ainda na mesma canção, implora para não pararem ele. Conversava com uma garota? Pode ser. No entanto, ele também poderia estar falando com os chefões da indústria fonográfica. Quando o The Strokes se uniu para gravar “Room on Fire”, escolheram um produtor musical que foi logo mandado embora. O motivo? Ele fez o CD soar desalmado, de acordo com a banda. Conforme o CD avança, as influências oitentistas ficam cada vez mais descaradas e em outros momentos, Julian Casablancas mostra saber capturar como ninguém a aura boêmia da cidade de Nova Iorque, criando um certo estigma para a cidade que dura (e é até bem-vindo) até hoje. Tudo isso consegue esconder a medíocridade das canções, fazendo-as parecerem melhores do são.

Além disso, o The Strokes foi influente como nenhuma outra banda indie na história, claramente notável através do número da popularidade que as canções desse CD alcançaram, mas também pela “fórmula” que a banda criou e foi seguida por diversas bandas a partir de então; as músicas são marcadas por riffs de guitarra, geralmente agitados e dançantes, mas que acabam cedendo espaço para uma mudança repentina e brusca de ritmo no meio das músicas, algo que ficou conhecido como “estragar a música no meio”. Eu tinha diversos amigos que não gostavam de bandas indie exatamente por isso, por que elas começam muito bem suas músicas, mas estragam elas, do meio pro final.

No entanto, eles gostavam de The Strokes. Por que o The Strokes, como inventores dessa “fórmula” souberam usar e abusar dela como ninguém, explorando-a de todas as formas possíveis, até que não desse mais, criando após isso resultados medíocres como “First Impressions of Earth” e horríveis como “RCA”.

Alguns dizem que “Room on Fire” soa como uma continuação de “Is This It”, o que de fato é uma interpretação válida, visto que o álbum evoca a mesma fórmula usada no antecessor, mas eu vejo este CD como uma evolução, um passo à frente na mesma direção, o que leva a novos caminhos, novos sons e uma nova pegada para a banda.

A composição das canções, o ritmo das músicas, a voz rouca e zuada do Julian Casablancas, o baixo sendo usado como personagem principal em diversos momentos, a união de todos esses elementos, fizeram de “Room on Fire” um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos e eu ainda me pego escutando essas músicas, despertando lembranças antigas e marcando as novas.

Um CD eterno, brilhante, marcante, esse é “Room on Fire”.

sábado, 7 de março de 2015

Dica cinematográfica: "Looper" (2012)

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Looper é um filme de 2012 (acho)e conta uma história de assassinos, viagem no tempo e drama pessoal com grande maestria, apesar de contar com os problemas típicos do gênero.

Viagens temporais ainda não foram inventadas no ano em que a história de Looper se passa, mas em 30 anos essa tecnologia será inventada e logo será banida por todos os governos do mundo, o que não impede que seja usada pela maiores organizações criminosas do planeta. Essas organizações contratam pessoas do passado para eliminarem seus inimigos, chamados de “Loopers”, que recebem a ordem de matar alguém num local pré-determinado, matam essas pessoas e eliminam seus corpos, que não deveriam existir 30 anos no passado. Um plano genial, até que os Loopers encontram a si mesmos e têm que “se matar”. À partir de então eles ganham dispensa de seu trabalho e aproveitam os próximos 30 anos esbanjando tudo o que a vida tem de melhor a oferecer.

Quem nos conta isso é um Looper, que nunca viu essa situação como algo anormal, apenas como seu trabalho normal de todos os dias, até que ele se encontra consigo mesmo e o seu eu do futuro resolve brigar e escapar, iniciando uma perseguição por um fugitivo e vingança ao mesmo tempo.

Esse é só o início do trama, que se mostra cada vez mais complexa conforme o filme avança, tratando-se de um filme que vai muito além do gênero de ficção científica com viagens no tempo. O personagem do passado quer simplesmente livrar o seu pescoço da perseguição que está sofrendo e viver os próximos 30 anos em paz, enquanto o seu “eu do futuro”, após ter perdido tudo o que tinha de mais precioso na vida (leia-se aqui família), busca vingança tentando eliminar a causa disso tudo antes dela ter crescido (ou seja, ele quer matar uma criança). Óbviamente, o personagem do futuro carrega uma carga dramática muito maior, mas é impossível não se convencer com os motivos do personagem do passado, que quer proteger uma criança de um assassino sangue-frio.

O que acaba acontecendo é que os dois personagens carregam motivos muito bons para o que fazem (apesar do personagem do futuro querer matar uma criança, nós sabemos que essa criança se tornará o grande vilão da história), deixando o espectador numa grande encruzalhada, onde você não saba para quem torcer, aumentando a ansiedade para o desfecho.

Desfecho esse que surpreende, sendo extremamente corajoso, apesar de um pouco desapontador, mas visto os caminhos que a história seguiu, eu não conseguiria pensar em algo melhor para o final, que é capaz de levar as lágrimas os de coração mais mole.

Mesmo com uma história tão bem bolada e original, o filme comete os mesmos erros de outros filmes do gênero, que é a falta de congruência de fatos e ações tomados durante o filme; afinal algumas pontas são deixadas soltas e ao final, você se pega com um grande ponto de interrogação sobre a cabeça, o que atrapalha, sim, um pouco o aproveitamento da película.

Ainda assim é um ótimo filme, um dos melhores que já vi do gênero, não só pela história, mas também pelos fatores técnicos do filme; efeitos especiais de primeira, um visual de encher os olhos, mostrando um mundo futurista, mas não tão distante da nossa realidade, concentrando-se nos detalhes para mostrar que aquele é um mundo num futuro não tão distante, além das ótimas atuações.

Inclusive, esse é talvez o ponto que mais me chamou a atenção no filme: as atuações. Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt interpretam o personagem do futuro e do passado respectivamente, e apesar dessa ser uma das atuação mais medíocres de Bruce Willis, Joseph Gordon-Levitt impressiona, tornando-se quase irreconhecível em seu papel, criando um personagem extremamente carismático e convincente. É claro que o fato desse ser um filme com personagens muito caricatos ajudar bastante, mas ainda assim ele merece certo crédito pela interpretação.

Enfim, “Looper” contém os tradicionais problemas do gênero em que se enquadra, mas impressiona, seja pelo visual, seja pelas atuações de seus atores e atrizes ou, simplesmente, pela história, original, corajosa e desafiadora. Um filme que merece ser assistido e re-assistido várias e várias vezes.

4 pontos

terça-feira, 3 de março de 2015

Dica musical: "What For?" de Toro y Moi (2015)

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"What For?" é o novo CD de Toro y Moi, nome artísitico de Chazwick Bradley Bundick, um músico e produtor musical estadunidense.

Desde 2011, Toro y Moi atraiu a minha atenção, por que "Go With You", canção presente em seu álbum de 2011 "Underneath the Pine" é uma das minhas músicas preferidas, no entanto, eu nunca gostei de nenhum álbum dele, apenas desta canção, especificamente.

A principal é que Toro y Moi faz parte de um movimento que conta com uma certa falta de criatividade (ou seria liberdade criativa) que é o chillwave, um gênero musical marcado pela presença marcante de sintetizadores, loops, vocais fortemente filtrados, com uma pegada relaxante, quase preguiçosa e que tem esse objetivo; o de relaxar o espírito de quem ouve.

No entanto, Toro y Moi conseguiu se destacar dentre os seus "conterrâneos" musicais, provavelmente pelo fato dele ser um artista diversificado, que sempre busca se reinventar, usando e abusando de suas experiências pessoais para criar suas canções, o que acaba gerando uma diversidade sonora muito grande em seus álbuns, mas eu sempre achei que suas canções eram muito "doces" ou muito relaxadas para mim (se você ouviu os primeiros CD's dele vai entender o que eu estou falando).

E em "What For?", Toro y Moi muda de novo, mas (ao menos para mim) para melhor.

Suas canções continuam sendo relaxantes, porém não chegam a ser "preguiçosas", cansadas e que te botam para dormir (ou em depressão). Também continuam a ter uma forte pegada romântica, presente em todos os seus álbuns, mas com uma quebra muito boa de ritmo, um pouco mais agitado do que de costume, dançante.

Para isso, Toro y Moi foi buscar inspiração nos artistas setentistas tão em voga ultimamente e que funciona muito bem, ao menos para ele, que aprendeu a equilibrar muito bem diferentes ritmos em canções que não perdem a sua pegada original.

Sendo assim, Toro y Moi consegue inovar mais uma vez (ao menos dentro de sua carreira), diversificando a sonoridade de seu estilo musical, chamando a minha atenção e, dessa vez, conseguindo manter os meus fones de ouvido grudados nas minhas orelhas com suas canções tocando.

3 pontos e meio

domingo, 1 de março de 2015

Dica cinematográfica: "The Host" (2006)

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De acordo com o poster, este filme está pau-a-pau com "Tubarão" e pode ser considerado o Alien da nossa geração. Felizmente, o filme não decepciona e os elogios não são exagerados.

Em "The Host", um cientista estadunidense de um centro de estudos financiado pelo governo dos Estados Unidos na Coréia do Sul ordena que seu colega coreano despeje todo o conteúdo de diversos frascos largados no laboratório ralo abaixo, porque eles estão velhos e empoeirados, então não tem mais uso prático. O problema é que o conteúdo dos fracos era venenoso e meses depois uma enorme criatura marinha ataca pessoas próxima a um rio, colocando todas as autoridades coreanas em alerta.

O filme utiliza o artífice do monstro gigante que ataca a cidade para explorar os laços afetivos que unem uma família desfuncional. Gang-du é o filho preguiçoso de Hee-Bong, um vendedor de comidas numa barraquinha próxima ao rio onde está a criatura. Sua filha, Hyum-Seo é pega pela criatura e feita de "refém", então Gang-du, junto com seu pai, seu irmão, Nam-il e sua irmã, Nam-joo, decidem procurar pela garota desaparecida entre os esgotos de Seul.

Gang-du é um tremendo preguiçoso, que trabalha com o pai, por que não há nada mais para ele fazer. Sua irmã, apesar de ser uma atleta que disputa vários campeonatos de arco e flecha, nunca ganhou uma medalha de ouro, pois sempre desiste no final das competições. Já seu irmão, é um ex-estudante universitário, que se uniu ao movimento estudantil e nunca terminou a faculdade, nem tem um emprego, vivendo gastando seu dinheiro com bebida. Os únicos com a cabeça no lugar são a filha de Gang-du, alvo de todo o afeto da família e que é o único motivo deles se unirem e Hee-Bong, o avô (Não quero entregar spoilers, mas fica fácil imaginar o destino dos dois, não?). Ao longo de todo o filme, eles se unem, se separam, crescem, seguindo caminhos separados e seu unem novamente, para resgatar Hyum-Seo, fortalecendo o laço que os unia, descobrindo novas qualidades de cada um e criando novos laços, também.

Os efeitos especiais do filme não são lá essas coisas; e se dependessem deles o filme nunca ficaria pau-a-pau com "Tubarão" e "Alien", mas o desenvolvimento de seus personagens, com um tempo de tela muito equilibrado para cada um (créditos para a extensão do filme, que é longa, porém não cansativa), fazendo o telespectador se aproximar de cada um e criar empatia com eles, faz de "The Host" um dos melhores filmes do gênero, usando em seu favor o roteiro muito elaborado e não o ineditismo de "Tubarão" ou o choque de "Alien" ou ainda a inovação técnica de "Cloverfield", que também são filmes muito bons, mas não tem um roteiro tão bem elaborado quanto esse, ao menos não que seja centrado no desenvolvimento de personagens, muito menos familiares.

Há uma dose de humor muito grande no filme também, oque estraga alguns momentos, sim. Afinal trata-se de um filme coreano e o senso de humor dos asiáticos é muito diferente do nosso.

Enfim, "The Host" é um filme  que conta com alguns defeitos, mas suas qualidades superam eles e podem surpreender o telespectador que espera apenas mais um filme de destruição.

4 pontos