segunda-feira, 23 de março de 2015

3 filmes picantes que valem a pena.

Com o lamentável lançamento de 50 tons de cinza nos cinemas de todo o mundo e ficando, infelizmente, em primeiro lugar nas bilheterias por muito tempo, em muitos lugares, inclusive no Brasil (o que só prova minha teoria de de o que é bom no cinema é exatamente o que não vende bem ou seria o contrário?), muitos sites e canais “especializados” em cinema decidiram pegar uma carona no sucesso e fazer lista de filmes tão ou mais lamentáveis que 50 tons de cinza para indicar aos seus leitores lamentáveis. Isso acaba gerando uma onda de posts cada vez piores, com filmes horríveis que contém sexo, mas que o debatem de forma “adulta”, mesmo que para ser classificado como “debate adulto” o filme tenha que ter meia dúzia de tomadas com mais de um minuto mostrando o quarto da personagem principal, tenha uma mulher como personagem principal e mostre sexo explícito sem os característicos gemidos de filmes pornô (a não ser que o filme seja sobre lésbicas, aí tudo bem ter gemidos).

Eu também decidi montar uma lista com “filmes picantes”, mas para esta lista eu escolhi apenas 3 filmes, por que filmes “picantes” são lamentáveis.

No entanto, desses 3, um é bom, outro é genial, enquanto o último é surpreendente. São filmes que abusam da temática do sexo e num primeiro momento esses filmes parecem se tratar apenas disso, mas do meio pra frente, nos chocam com uma ideia nunca antes vista, usando o sexo para explorar nuances pouco exploradas da natureza humana, da vida e os laços que nos conectam como pessoas. Ao tratar o sexo com algo tão banal, esses filmes conseguem nos apresentar visões de mundo tratadas com inocência e normalidade sem um contexto sexual, mas que nunca sofrem o devido tratamento exatamente por estarem intimamente ligadas ao sexo, não completamente, mas uma parte delas.

1 - “Ninfomaníaca”

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O filme obscuro de sexo do polêmico Lars Von Trier nada mais é do que isso: Polêmica. Lars Von Trier é uma das piores figuras do cinema atual, um cretino que cria polêmicas disfarçadas de arte, apenas para enriquecer o seu bolsinho e poder sair por cima de todos como um gênio à frente de seu tempo.

Bem, ele não é, mas em “Ninfomaníaca” eu tive minhas dúvidas quanto a isso, confesso. O filme é dividido em duas partes, de quase 3 horas cada uma e a primeira é lamentável. Um show de cenas eróticas patéticas, contando com uma lista lamentável de estrelas, indo de garotas pré-pubescentes tendo orgasmos num banheiro molhado até focos em orgãos genitais cada vez mais bizarros, conforme a doença da personagem principal avança.

No entanto, a parte dois dá uma volta de 180º e, sinceramente, me surpreendeu. A personagem principal começa a ser atingida pelo bom senso, toma consciência de seus erros, da sua doença e o seu próprio corpo começa a reagir contra os seus instintos animais. A análise psicológica é muito profunda, as metáforas finalmente começam a fazer sentido no filme e a narrativa começa a ganhar corpo, tomando a forma de um romance noir, até que as questões começam a ganhar respostas.

Diante da segunda parte, as cenas de sexo do primeiro filme ficam ainda mais desnecessárias, mas não deixa de ser uma boa construção da personagem principal.

O filme termina de forma ainda mais surpreendente, com uma crítica chocante acerca da natureza humana. Difícil esquecê-lo.

2 - “Don Jon”

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“Don Jon” é o primeiro filme dirigido por Joseph Gordon-Levitt e é muito bem dirigido por sinal, com um jogo de câmera sagaz, é bem estiloso, com alguns toques surreais ao longo da película, mas que nunca perde a conexão com a realidade, apenas aumentam a inserção do telespectador na vida do personagem principal, o John.

No filme, John é um pegador, que consegue todas as mulheres que quer, nem que para isso ele tenha que investir um pouco mais de tempo na presa. O problema é que não importa quantas mulheres ele tenha, John não é capaz de deixar o pornô. Para ele, nenhuma mulher é tão boa quanto um bom filme pornô.

À partir daí já podemos ver o problema do personagem principal e ele sabe disso (John está sempre conversando com o telespectador, que é como se fosse a sua consciência). Para justificar suas atitudes, John cria as mais absurdas teorias acerca de mulheres, amigos, atrizes e atores pornô, gerando monólogos hilários, mas é um filme que cresce com o tempo.

No começo pode parecer apenas um besteirol lamentável, mas acaba se tratando de uma comédia de humro negro muito bem feita e eu sinto que ele bebe muito na fonte de um dos melhores mangás de todos os tempos, “Onani Master Kurosawa”, que também começa como um besteirol sem classe e se transforma em uma ótima crítica à sociedade japonesa e à própria natureza humana moderna.

Em “Don Jon” vemos muitas crítica escondidas à sociedade ocidental, em especial em relação aos homens, mas as mulheres não escapam também, além de uma sagaz análise do modo como nós, seres humanos modernos, cobrimos os vazios existenciais com coisas supérfluas, prazeres passageiros, sem manter um pensamento a longo prazo.

3 - “Um Show de Vizinha”

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Esse sim é um autodeclarado besteirol, mas de maneira não intencional acabou se transformando em um ótimo filme que mostra o valor da amizade.

No filme, conhecemos um perdedor do colegial, que recebe uma nova vizinha, uma loira escultural e muito gente boa. Os dois começam a se relacionar, uma espécie de relacionamento que está no limiar entre a amizade e o romance começa a crrescer, mas quando um de seus amigos perdedores mostra que a vizinha já fez filmes pornôs, ele é convencido a levá-la para o motel. A garota se decepciona quando descobre que ele a via apenas como um objeto de prazer e acaba desisitindo de ficar com ele, viajando para Las Vegas com um verdadeiro cafetão, pouco tempo depois. À partir daí, o perdedor colegial e seus amigos saem em busca da menina para mostrar que, não, ele não a via como um simples objeto de prazer.

A crítica está clara logo aí, mas ela fica escondida em meio à piadas ruins e uma objetificação da mulher que todos os besteiróis fazem. O grande trunfo de “Um Show de Vizinha” é que o filme termina apresentando uma mensagem incrível sobre a amizade, usando não só os amigos do garoto como exemplo, mas a menina também, pois ela não vira apenas sua namorada, um título a ser exibido como um troféu, ela vira a sua companheira.

Provavelmente quem escreveu o roteiro de “Um Show de Vizinha” nem estava pensando em passar tal mensagem, mas é o estranho caso de “erro feliz” que aconteceu aqui.

Bônus: “Sexo, Mentiras e Videotape”

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Este é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Conta a história de uma dona de casa sexualmente frustrada, pois não consegue dar prazer ao seu marido, nem sentir prazer. Seu marido a trai com a irmã e ela recebe em casa a visita de um amigo de seu marido da época do colegial. O rapaz está se mudando para a cidade e parece ter passado por alguns problemas pessoais que o transformaram em uma pessoa reservada e um pouco transtornada.

Eu, na verdade, acabei revelando muito do filme, que tem um clima bem noir, um certo suspense impera entre os seus personagens e a traição de marido é revelada de forma gradual, como um bom filme de suspense. Trata-se de um drama, mas com forte influência de filmes policiais, de suspense e do noir e por esse motivo é um filme tão bom.

Sem contar o debate que ele provoca, sobre sexo, sobre o modo como a nossa cultura vê o sexo e as implicações que isso gera, indo desde a forma como os casais se relacionam às ideias pré-concebidas sobre os gêneros masculino e feminino, por exemplo.

Esta é a minha lista de filmes picantes que valem a pena. Assistam, se divirtam, pensem.