quinta-feira, 31 de março de 2016

Dica televisiva: "Boku Dake Ga Inai Machi" (2016)

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Muito bem, chega de enrolar, vamos pular todo o blá-blá-blá de como essa indústria (de animes e mangás) está fadada a uma morte lenta, gradual e dolorosa e falar de Boku Dake Ga Inai Machi, um dos melhores animes dos últimos anos.

Boku Dake Ga Inai Machi foi um mangá serializado entre 2012 e 2016, mas hoje eu irei falar do anime que estreou em janeiro deste ano e terminou semana passada. Trata-se de uma história de suspense seinen de Satoru Fujinuma, um desenhista de mangás que não consegue emplacar uma história sequer em alguma revista japonesa e que também tem a habilidade de voltar no tempo alguns momentos antes de alguma tragédia acontecer e assim ele consegue evitá-la. Tudo se complica quando, após o assassinato de sua mãe, ele volta no tempo 18 anos, numa época em que ele ainda era um estudante do ensino fundamental, dando a ele a oportunidade de prever um sequestro que culminou na morte de três crianças da sua idade.

O anime foi dirigido por Tomohiko Ito, um cara que é bom ficar de olho, pois tem um currículo promissor, começando como assistente de diretor em Death Note e trabalhando em um monte de séries meia boca, mas que me chamaram a atenção num primeiro momento pela qualidade de sua animação e me desanimara pela história, como Swrod Art Online, mas que, com essa série, está se provando ser um diretor foda.

Para começar, há um monte de camadas a serem desconstruídas nesse anime. De elementos mais óbvios como a voz da consciência de Satoru se misturando com a sua voz de criança, passando por alguns elementos que você precisa prestar atenção para notar (a cor vermelha sempre presente quando algo ruim de verdade está para acontecer e por que você pode ficar despreocupado quando a casa de Airi começa a pegar fogo no episódio 5), até elementos que só um olhar muito técnico notaria (em algumas cenas quando criança, o diretor faz o uso de widescreen para mostrar o quanto o mundo de Satoru, quando criança, parecia amplo antes dos acontecimentos trágicos). Tudo isso agrega um valor artístico muito forte à série, algo que é difícil de achar até mesmo nas melhores séries de animes (mesmo Cowboy Bebop, Samurai Champloo, Death Note e Fullmetal Alchemist, que são facilmente consideradas as melhores séries de anime por aí, você não encontra elementos tão distintos escondidos para ajudar a narrativa, elas são louváveis por outros pontos que Boku Dake Ga Inai Machi nem passa perto).

Mas é claro que só isso não sustenta uma série, afinal a história ainda está aí para atrair a nossa atenção. Boku Dake Ga Inai Machi é um thriller de realismo fantástico, por motivos bem óbvios. Como um thriller, seus personagens não podem contar com a sorte, mas sendo uma obra de cunho fantástico, a sorte pode nos ajudar sim, no entanto, isso não se faz presente em todos os momentos da obra, até por que, se isso acontecesse, sua narrativa perderia todo o valor e propósito. A narrativa é muito bem construída, o suspense é crescente e o mistério a ser desvendado, realmente é labiríntico, você se perde no meio dele tentando achar o culpado. Eu li e vi falaram por aí que o culpado é bem óbvio, mas não acho que ele é facilmente identificável desde o começo da série (há uma cena que muitos usaram para exemplificar isso, mas a desculpa que ele deu, acho totalmente válida, vai ver eu acredito demais no bem das pessoas). Sua culpabilidade fica mais evidente do episódio 10 em diante, eu diria. Isso é mérito do mangaká, que escreve e desenha o mangá e a história é dele, não do diretor, o que é um ponto a menos para o Tomohiko, mas eu acho que a questão é dar um bom trabalho pro cara, que ele sabe o que fazer com ele.

O final conta com um elemento meio deus ex machina, mas eu acho que não tinha outra escapatória mesmo, era aquilo ou o final seria bem decepcionante, no entanto, não deixa de ser realista, o culpado, no tempo em que a história se segue (após tantas viagens no tempo) não é culpado de nada (ele não cometeu nenhum crime) e o único erro que ele cometeu foi uma tentativa de homicídio que não deu certo.

No entanto, o final também acaba sendo muito interessante, também cheio de camadas, que eu mesmo não captei em sua totalidade, mas digo que valeu muito a pena.

Enfim, Boku Dake Ga Inai Machi é um anime com uma história intrigante, animação impecável, muitas camadas a serem analisadas e um final satisfatório. Faltou comentar que sua música de abertura é muito boa, sua trilha sonora não se destaca além da série, mas funciona perfeitamente dentro dela e a música de encerramento é chatinha como toda música de encerramento de anime.

4 pontos e meio

quinta-feira, 24 de março de 2016

Dica musical: "Live at Audiotree" do Tigerwine (2016)

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Essa dica é meio incomum, pois se trata de uma apresentação do Audiotree Live, que nada mais é que um programa de rádio online onde bandas novas são apresentadas, conheci muitos bons artistas através deles (La Dispute, Balance and Composure, Now Now, pra nomear alguns) e sem essa apresentação não teria conhecido o ótimo trabalho dos caras.

Tigerwine se define como uma banda de rock que tem a ambição de ser a banda mais barulhenta da história e parecem estar no caminho certo. Ano passado, lançaram o seu primeiro trabalho, um EP com 5 canções muito boas, guitarra e baixo distorcidos e pesados pra caramba, um baterista com excelente senso de ritmo, se destacando em todas as canções e letras críticas, inspiradas no seu passado mais tradicional (eles cresceram numa comunidade tradicional dos EUA e dizem que isso influenciou o seu senso crítico).

Na apresentação ao vivo, podemos notar o alto nível de excelência que assumem em seus instrumentais, mas o vocalista deixa um pouco a desejar, principalmente no final, quando vai perdendo o fôlego, o que é facilmente disfarçado em seu EP de estreia; "Lull". As 5 músicas do EP são cantadas nessa apresentação, numa ordem diferente da apresentada no trabalho original, o que gera uma certa dicotomia agradável entre os dois trabalhos, como se um completasse o outro.

A apresentação inteira está disponível para ser ouvida aqui, com vídeo para a música final e custa só algumas doletas pra comprar e garanto que vale a pena comprar, por que a Audiotree repassa metade do dinheiro diretamente para o artista, sem passar por nenhum patrocinador ou produtor ganancioso, o que é sempre muito bem-vindo na era em que vivemos.

3 pontos e meio

quarta-feira, 23 de março de 2016

Dica musical: "Low" de P. Morris (2016)

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P. Morris é um produto musical e beatmaker de não-sei-onde (sim, eu não sei, por que encontrei ele através de um site musical do Reino Unido, mas a gravadora pela qual ele lança seus CD's é da Califórnia e não pude encontrar nenhuma informação pessoal pelas suas mídias sociais) que acaba de lançar esse EPzinho de 5 músicas apenas, mas que acaba valendo muito a pena.

O EP chamado de "Low", acompanhando de uma arte obscura em preto e branco, além de uma frase bem curiosa, para dizer o mínimo em seu bandcamp ("Deus fez a terra, a terra não machuca"), começa de maneira bem suave, com vários trompetes sobrepostos, criando uma atmosfera obscura, porém agradável de jazz, o tipo de música que você deixaria tocando numa madrugada solitária.

À partir daí o EP toma uma guinada para o lado negro da força, com uma música totalmente eletrônica, pesada, confusa, claustrofóbica até e essa atmosfera negra e pesada não abandona o EP em nenhum momento, apesar de ganhar pontuações mais leves em "Hot Life" e "Great Expectations", até terminar de forma melódica e até meio melancólica em "Bad Habits".

Enfim, "Low" é um álbum muito bem vindo, mesclando uma porrada de gêneros, do jazz ao noise, passando por diversos gêneros da música eletrônica, fortalecendo a confusão atual em que a música como um todo se encontra, mas seguindo por caminhos mais agradáveis, interessantes e misteriosos.

Vale a pena ouvir.

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3 pontos e meio

domingo, 20 de março de 2016

Dica televisiva: "Demolidor 2ª temporada" (2016)

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E a segunda temporada de Demolidor estreou mudando os pontos de vista que a série seguiu na primeira temporada e mantendo o nível de excelência.

Nessa segunda temporada, Matt encontra-se com um novo inimigo, Frank Castle, o Justiceiro, além de reencontrar uma conhecida de seu passado, Elektra, apresentando novos inimigos a serem enfrentados, revelando que a derrota de Wilson Fisk, o Rei do Crime, era apenas um primeiro passo para liberar Nova Iorque de seus males.

A segunda temporada segue a excelência que a primeira temporada definiu, não só para Demolidor, mas todas as séries da Marvel no netflix (não assisti Jessica Jones, mas creio que sejam parecidas). Logo no terceiro episódio, há uma nova cena no corredor, que dessa vez se estende as escadas e é muito boa, apesar de bem mais exagerada.

A perspectiva que a série segue aumenta, dando muita atenção aos personagens secundários; Karen está excelente, Foggie surpreende muito, o Justiceiro rouba a cena, até mesmo Stick e o Rei do Crime têm seus momentos. A Elektra não ficou muito legal pra mim, mas eu também nunca li nada da personagem, além daquele quadrinho lisérgico do Bill Sienkiewicz.

Enfim, a segunda temporada do Demolidor vale muito a pena e como já foi lançada em sua totalidade no netflix dá pra assistir rapidinho.

4 pontos

sábado, 19 de março de 2016

Dica Literária: "Kafka à Beira-Mar" de Haruki Murakami (1987)

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É o segundo livro de Haruki Murakami que leio e começo a entender por que sua popularidade atinge níveis cósmicos pelo mundo afora.

"Kafka à Beira-Mar" conta duas histórias em um livro apenas. A primeira história a como somos apresentados é a de Kafka Tamura, um menino que acabou de fazer 15 anos e resolve fugir de casa, de um pai abusivo, uma vida enfadonha, em busca de sua mãe e sua irmã, que saíram, as duas, de casa, quando ele tinha apenas 4 anos. A segunda história é a de Satoru Nakata, um senhor de idade, aposentado e com a estranha habilidade de falar com gatos, que vive de uma aposentadoria do governo e pra ganhar um pouco mais de dinheiro, faz bicos encontrando gatos que fogem de suas casas e, no momento em que acompanhamos a história, está atrás de uma gata chamada Mimi.

Além das duas histórias principais, este livro passa por diversos gêneros, criando uma mistura agradável e muito bem elaborada, afinal Haruki Murakami sabe guiar a miscelânea que cria nas páginas de "Kafka à Beira-Mar", temos uma história de uma adolescente em crise, um romance, uma história de investigação, uma história de investigação e mistério, toques de horror e tudo permeado por um realismo fantástico assombroso, não do ponto de vista literal (falando que ele nos assusta), mas de uma ponto de vista criativo (o livro nos surpreende toda hora), é realmente impressionante como o autor consegue adicionar pontos fantásticos e surreais numa história tão pé no chão e, ao mesmo tempo, fazer isso soar extremamente palpável.

Um dos pontos negativos de "Norwegian Wood", o primeiro livro que li do autor foi o uso excessivo da exploração da sexualidade do personagem principal, tudo terminava em transa naquele livro e o personagem principal é o clássico "manezão". Aqui, Kafka também é um tremendo manezão, que quando resolve mudar, se transforma num babacão, mas não vemos tudo se transformar em sexo, talvez por que se trata de uma obra legítima de "realismo fantástico", talvez por ter duas histórias, então o autor não teve que se preocupar muito em encher linguiça com o personagem Kafka. Em compensação, a história de Nakata é um deleite, um personagem intrigante, apesar de ser extremamente simples em seu universo, podendo ter sido usada apenas a sua história e ainda assim o livro seria ótimo.

O final, além de surpreendente, é extremamente satisfatório, apesar de não entregar as respostas que esperávamos. É um final digno, além de fechar a obra com chave de ouro, mostrando que Haruki Murakami é, de verdade, um gênio da literatura.

A edição que li foi em ebook e tinha essa capa aí, não prestei atenção ao tradutor, nem ao editor do livro, nem sou entendido em japonês, mas acho que fizeram um bom trabalho. Em alguns momentos, a trama pode parecer meio dispersa, mas não creio que isso seja problema da tradução, acho que é mais uma característica da literatura japonesa, que tem suas peculiaridades mesmo.

Enfim, "Kafka à Beira-Mar" é um ótimo livro, tem lá os seus defeitos, mas eu, pelo menos, não esperava nada desse livro (por que tomava como base minha insatisfação com "Norwegian Wood") e me surpreendi em muitos pontos.

4 pontos

quinta-feira, 17 de março de 2016

Dica cinematográfica: "Death Powder" (1986)

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"Death Powder" é um desses filmes que você encontra no YouTube pra assistir, mas que quando você fala sobre ele, ninguém sabe do que se trata, a não ser aquele seu amigo estranho que morava nos fundos de uma locadora, mas é também considerado um marco no cinema, extremamente influente pra uma porrada de cineastas obscuros, no entanto o seus autores nunca receberam o devido reconhecimento. Trata-se do primeiro filme cyberpunk japonês.

O filme conta a história de um grupo de 3 cientistas que descobriram uma androide com supostas habilidades extraordinárias. Um deles foi incubido de cuidar da androide, mas parece estar enlouquecendo aos poucos. Os outros dois, um homem e uma mulher estão fugindo de uma suposta chuva radioativa que parece ter acontecido logo após a captura da androide, voltando para o esconderijo onde a androide está presa. Quando eles tentam entrar em contato com o cientista que está cuidando da androide descobrem que algo está errado.

Já adianto, não espera achar respostas neste filme. Inclusive, essa sinopse eu adaptei do filmow, por que eu mesmo não entendi bulhufas da história quando o assisti, apesar de que depois que eu li a sinopse algumas coisas passaram a fazer sentido.

No entanto, o que chama a atenção é a estética do filme e as saídas criativas que o diretor deu para o baixo orçamento que eles tinham. As cenas filmadas na rua foram feitas nas ruas mesmo, sem autorização nenhuma dos guardas e por isso você irá ver o rosto de algumas pessoas todo pixelado. As cenas, filmadas em cantos obscuros da cidade, adicionam aquele ar sujo que as obras de cyberpunk têm, além, é claro, dos painéis luminosos de Tóquio e as roupas dos personagens, que dá pra notar que são dos atores mesmo, mas as jaquetas de couro, os óculos escuros, as calças rasgadas, tudo acaba dando um ar especial de cyberpunk ao filme. O fato da equipe não ter dinheiro para mostrar "o que deu errado" no filme também geram cenas de suspense e terror psicológico muito boas, afinal, japoneses são excelentes nisso, criando uma mistura de gêneros que, pra época, era algo bem inovador.

Enfim, "Death Powder", cyberpunk de origem, filme de baixo orçamento, atores sem formação formal, efeitos criativos, 4ever.

4 pontos

quarta-feira, 16 de março de 2016

Dica cinematográfica: "Le Gai Savoir" (1969)

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Filmado originalmente para a televisão francesa, o filme "Le Gai Savoir" de Godard, que faz referência ao livro de Nietzsche foi filmado entre a revolução de maio de 68, considerada uma das revoluções mais importantes do século XX, por não se restringir a apenas uma camada da população como trabalhadores e camponeses, aderentes de ideias socialistas e comunistas, mas também a outras camadas da população, tendo uma adesão de diversos grupos étnicos, sociais e rompendo barreiras de idade, mostrando uma insatisfação geral com o governo francês daquela época. Subsequentemente, o filme foi censurado pela TV francesa e depois banido pelo governo francês da época, quando o filme foi programado para ser exibido nos cinemas.

A película acompanha os jovens Emile e Patricia em um estúdio de TV, no qual eles se reúnem todas as madrugadas para discutir sobre os temas revolucionários sobre educação, o discurso, a linguagem, imagem, som, ideologias e o caminho para a revolução.

Intercalando com a presença de Emile e Patricia, imagens, discursos e cânticos revolucionários são apresentados aos espectadores, rompendo com a narrativa formal, acrescentando diversas camadas ao filme que exploram diversos temas debatidos pelos revolucionários de 68. Num olhar raso, o filme pode ser encarado como uma obra simples do cinema militante, panfletário e socialista, mas estamos falando de Godard, não um cara qualquer.

Neste filme, Godard rompe não só com a narrativa formal do cinema e a estilização que ele inclusive ajudou a criar e que definiu a Nouvelle Vague, mas também com qualquer ideologia de esquerda ou de direita, muitas vezes criticando as formas de revolução (principalmente armada), outras vezes ridicularizando o seu discurso, mostrando o quanto esses grupos supostamente sociais se distanciavam do povo que eles tanto defendiam. As críticas ao capitalismo são fáceis e mostram a faceta cruel e, por vezes, irônica que esse sistema econômico adquire, aliando-se a qualquer tipo de ideologia política, ainda que de forma mascarada (em determinado momento do filme, Emile diz que vai roubar sonhos de artistas pop e vendê-los a tabloides sensacionalistas e o dinheiro recebido dará a causas revolucionárias, já Patricia admite que posa de lingerie para anúncios da revista L'Humanité. Eles simplesmente não conseguem escapar do sistema), é um sistema altamente adaptável.

No entanto, encontramos uma ideologia presente no filme e defendida de forma bastante racional, o desconstrutivismo literário, uma vertente pós-moderna preocupada com a relação entre palavras e seus significados, algo que hoje perdeu o seu brilho inicial, até por causa de certas abordagens ridículas feitas nos últimos anos, mas que teve sua importância, ainda mais se levarmos em conta que esse filme é do final dos anos 60.

Um filme com mais de 50 anos, com uma abordagem ainda original, com temas ainda relevantes, solto de qualquer formalismo cultural, ideológico e técnico, "Le Gai Savoir" é mais uma joia rara, uma obra maravilhosa de Godard, com um grande apelo estético e denso, muito denso em sua profusão de temas.

4 pontos e meio

terça-feira, 15 de março de 2016

Dica cinematográfica: "A vingança do Ator" (1963)

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De vez em quando eu acabou encontrando essas joias escondidas em algum canto da sétima arte e me pego surpreendido.

"A vingança do ator" conta a história de Yukinojo, um ator de uma trupe de teatro que está passando por Edo. Na excursão ele acaba encontrando os responsáveis por levarem os seus pais ao suicídio 20 anos antes. Yukinojo então começa a colocar em prática o seu plano de vingança, a começar pela filha de um deles e depois, levando-os a ruína.

Este é um filme japonês, dirigido por Kon Ichikawa, um diretor muito reverenciado do cinema japonês e foi lançado em 1963. Como tantos outros filmes antigos, principalmente do Japão, este conta com um ritmo mais lento, perdendo tempo de narrativa para explorar profundamente os seus personagens principais, como, por exemplo, mostrando a hesitação de Yukinojo ao ver abrir-se uma brecha para que ele execute o seu plano de vingança. E sendo o personagem principal um ator de teatro japonês, o filme traça alguns pontos em comum com o próprio teatro japonês, como, por exemplo, a iluminação do filme, muito pontual, mostrando, muitas vezes, apenas um detalhe do rosto do personagem principal na cena, excluindo todo o cenário e também com a presença de um personagem que atua de forma quase onisciente sobre a história, fazendo considerações sobre o que está acontecendo com os personagens.

A trilha sonora também é excelente, com diversas músicas de jazz, intercalando com canções mais tradicionais, estas, presentes ao longo de todo o filme, deixando o jazz se destacar apenas quando se trata de uma cena de mais suspense ou ação.

Enfim, "A vingança do ator" é um filme muito bom, apesar de sua narrativa mais lenta, o que não se torna um empecilho para aqueles preparados para isso e que já conheçam o cinema japonês antigo, valendo a pena cada um de seus 113 minutos.

4 pontos e meio

segunda-feira, 14 de março de 2016

Dica musical: "III 7"" de Sheer Mag (2016)

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Sheer Mag é uma banda da Filadélfia de rock, com um som que lembra as bandas de rock mais clássico dos anos 70, mas com um toque suave, porém constante do punk/hardcore que domina a cena musical da Filadélfia nos últimos anos, se duvidar, na última década.

A banda só tem lançado EP's, este mesmo, nomeado "III 7"" contém apenas 4 músicas, mas são 4 músicas muito boas, que apresentam de uma forma muito boa a que a banda veio e deixa aquele gostinho de quero mais, aquela curiosidade em descobrir o que a banda pode fazer no futuro, com mais dinheiro e uma produção melhorada.

Já dá pra perceber que o negócio deles é juntar tudo aquilo que eles gostam e fazer algo que agrade aos ouvidos deles, sendo um quinteto, o resultado acaba soando inovador, ou ao menos, inesperado, eu sei que me surpreendi.

"III 7"" é um bom trabalho, de uma banda que está começando e parece ainda ter muito a nos apresentar e pode ser ouvido inteiro no bandcamp deles.

3 pontos e meio

domingo, 13 de março de 2016

Dica musical: "Emily's D + Evolution" de Esperanza Spalding (2016)

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"Emily's D + Evolution" é um projeto musical de Esperanza Spalding, no qual ele assume o papel de Emily para elaborar um álbum aparentemente confuso e desconexo, mas que esconde uma grande beleza por trás de tudo.

Logo de início somos confrontados com guitarras distorcidas e aparentemente fora de ritmo aliados à característica voz da cantora de jazz, até que percebemos o ritmo por trás, acabando por soar como uma música noise e então somos apresentados a, provavelmente, canção preferida da artista no CD "Unconditional Love", uma canção que soa deslocada por ser a mais romântica e presa a estruturas musicais.

Então, pelo resto do CD, Esperanza volta-se contra as estruturas musicasi pré-definidas, o que nunca deixa de soar meio noise, mas conseguindo manter um ritmo gostoso ao longo de todo o CD, uma nova forma de fusion, que alias gêneros musicais ainda mais improváveis com o jazz, misturando noise, samba, bossa nova e rock.

"Emily's D + Evolution" acaba sendo uma evolução de certa forma, a evolução de Esperanza Spalding, apresentando uma nova faceta, que parece que irá se estender para outras mídias, mas eu, sinceramente, não sei por que não acompanho tanto assim o trabalho da cantora. =/

Mas, enfim, o álbum chamou a minha atenção e eu acabei gostando bastante dele, abrindo os meus ouvidos para uma nova cantora de jazz, que ousa navegar por mares misteriosos e obscuros, iluminando o caminho para futuras gerações.

3 pontos e meio

sábado, 12 de março de 2016

Dica cinematográfica: "Kung Fu Panda 3" (2016)

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Após 2 filmes em que acompanhamos a evolução constante de Pô, no primeiro filme como um discípulo em dúvida quanto ao seu potencial e que tem que provar para os outros o seu valor e num segundo filme em que seu potencial já foi provado, no entanto Pô descobre que haverá sempre alguém mais forte e habilidoso à espera de desafiá-lo, o que poderíamos esperar de Kung Fu Panda 3? Nada mais que um excepcional trabalho de animação como nunca antes feito.

Nesse 3º filme, Pô já é um grande lutador, talvez o melhor e ninguém duvida mais de suas habilidades, no entanto após a anunciada "aposentadoria" de mestre Shifu, Pô recebe a missão de ser o novo mestre do templo de jade (acho que é esse o nome). Enquanto isso, um inimigo antigo de mestre Oongway (falecido no primeiro filme), o touro Kai buscou vingança por 500 anos e quando finalmente aprisiona o chi do mestre tartaruga consegue voltar para a terra, com o infame plano de destruir o templo de jade e acabar com o novo mestre. Paralelo a isso, surge o pai biológico de Pô, o panda Li, que, ao mesmo tempo em que provoca os ciúmes do pai adotivo de Pô, o sr. Ping, representa a única chance de Pô poder derrotar Kai e transforma-lo num "mestre chi".

Essa é, de longe, a trama mais ousada dos 3 filmes, o que representa um grande desafio para os roteiristas do filme, pois além de desenvolver o drama de Pô com seus pais, ainda têm que dar conta de contar uma história que mistura ação e comédia numa dose agradável para o público, sem pesar para nenhum dos dois lados. E eles conseguem fazer isso de forma bastante competente, apresentando de forma calma cada um dos pontos principais da trama, primeiro a assunção de Pô ao cargo de mestre, depois a vitória de Kai sobre o mestre Oongway no mundo dos espíritos e, por fim, a aparição de Li, gerando uma das cenas mais engraçadas do filme. Essa última trama, inclusive, foi o gancho usado no final do segundo filme, o que me deixou com um dúvida se isso iria prestar ou não, afinal, eu, como filho adotivo, fico super-analisando o tratamento que os filmes (e não só filmes) dão ao tema, geralmente apresentando os pais biológicos como os "verdadeiros" pais, sempre bons e apresentando a "verdadeira essência" do personagem que foi adotado.

Perdoe-me pela digressão, mas acho válido apresentar o meu ponto de vista, acho isso errado, pois eu penso que pai de verdade é aquele que cuida, por melhores que possam ser as justificativas sobre o abandono de um filho (como no caso deste filme em que uma guerra foi a responsável pela separação dos dois), é impossível simplesmente se ignorar 20 anos de existência por causa da descoberta de uma suposta "essência". Afinal, o que é essa essência? É a sua personalidade? Sua nacionalidade? Seu tipo sanguíneo? Sua cor? Sua raça? Por mais que essas questões sejam importantes para o desenvolvimento de alguém, isso nunca, na minha concepção, irá superar o ambiente em que a pessoa cresceu, que acaba sendo muito mais importante para o desenvolvimento do seu modo de pensar, do seu agir, sua moral, seus desejos, anseios e medos, enfim... Aquilo que te faz único de verdade. Nesse ponto, o filme deixa a desejar. Ele até une os dois pais no final, mas em todo o filme eu não conseguia parar de pensar que isso foi uma sacanagem com o sr. Ping e que se não vivêssemos em tempos em que todo mundo tem que tomar cuidado com o diz por aí, se não grupos organizados com nomes cada vez mais bizarros caem matando em cima de você, o final do filme seria diferente (nunca pensei que iria agradecer ao politicamente correto).

Se do ponto de vista moral o filme peca, do ponto de vista narrativo é um exemplo a ser seguido, desde o início do filme a trama se amarra com os seus antecessores e apresenta respostas para as dúvidas que vão surgindo quase que instantaneamente (por que Kai não voltou antes? Por que ele passou 500 anos lutando com outros mestres kung-fu falecidos. Por que? Para absorver o seu chi. Por que? Para voltar à terra? Por que? Por vingança? Como que ele derrotou o mestre Oongwai tão fácil? Por que a cada chi que ele absorve, ele fica mais forte.), nada passa despercebido pela cabeça atenta dos roteiristas desse filme.

E nem todas as respostas estão incluídas no texto, aliás. Por que Kai demorou 500 anos? Por que o mundo espiritual é muito vasto. Como você sabe disso? Pelas imagens deslumbrantes, tudo flutua no mundo espiritual, as cenas de ação são feitas de longe, usando um plano extremamente aberto para mostrar não só a extensão do terreno, como também o potencial dos poderes dos que lutam lá, usando poderes absurdamente fortes e expansivos.

A arte inclusive é o ponto que mais chama a atenção nesse filme, aliando 3D com 2D de forma magistral, mostrando que os artistas por trás de Kung Fu Panda são verdadeiros mestres, aprimorando cada vez mais, a cada filme, sua primorosa técnica de animar. Tudo flui perfeitamente nesse filme, de forma quase irreal inclusive, o que seria um ponto negativo, não fosse pela estilização forçada, porém linda, do tipo que um filme do Tarantino seria, não fosse pelo visual colorido, alegre e jovem que a séria de filmes usa e abusa, tudo isso amplifica qualquer sensação que qualquer cena queira passar, dramatiza ainda mais os dramas, acelera ainda mais as cenas de luta, amplia ainda mais a extensão dos poderes, magnifica ainda mais seus personagens, seguindo a própria filosofia que mestre Shifu apresenta no início do filme, a de que a entrada triunfal vence uma batalha antes mesmo dela começar. Kung Fu Panda já havia ganho o meu coração (e o de muita gente, tenho certeza) só pela sua arte, na segunda cena você já está com lágrimas nos olhos agradecendo a Deus por estar vivo para poder ver tamanha beleza digna de uma parede de museu sendo feita para ser distribuída em qualquer cinema no mundo. É simplesmente exuberante.

Além disso temos ainda os pontos elogiados nos outros 2 filmes da franquia, como, por exemplo, o trabalho de seus dubladores, dessa vez sem crítica alguma, por que após 2 filmes já é de se esperar eles estarem confortáveis em seus papéis e, é claro, a trilha sonora, adaptando temas sonoros típicos de produções ocidentais para gerar suspense, drama e tensão, por exemplo, mas usando instrumentos tipicamente orientais, esqueça a bateria, o violino e o trompete, entre o taikô, o liuqin e o erhu. Se no primeiro filme ouvimos apenas experimentos com esses instrumentos, no segundo, já se via a maestria que os responsáveis pela trilha sonora tinham, criando uma atmosfera pesada, típica de filmes de guerra e muito dramática, neste terceiro filme a trilha sonora é mais leve, porém é muito bem marcada e ritmada, arrepiando os seus pelos mais de uma vez ao longo da película.

Enfim, "Kung Fu Panda 3" pode decepcionar em algum ponto (mas eu entendo que isso é uma questão de opinião e uma que não é muito popular por aí), mas em todo o resto é simplesmente maravilhoso, um excelente filme, que serve como um mais que digno encerramento para essa que pode ser a melhor trilogia de filmes animados da década.

4 pontos e meio

terça-feira, 8 de março de 2016

Dica musical: "Untitled Unmastered" de Kendrick Lamar (2016)

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Assim como bem disse Will Hermes para a Rolling Stones, "Untitled Unmastered" soa como a volta da vitória de Kendrick Lamar após o triunfo de "To Pimp a Butterfly".

Este CD apresenta 8 canções não finalizadas de Kendrick, demos de antes de "To Pimp a Butterfly", canções que ele não achou que fossem boas o bastante para a sua obra-prima, mas que ele acabou se apaixonando mais e mais conforme o tempo passava, ou mais ou menos isso que ele disse numa entrevista.

E de fato, você encontra traços dessas 8 canções em suas apresentações ao vivo, em especial "Untitled 1" e Untitled 2" que foram apresentadas em programas de TV. Escrevo traços por que não foram apresentadas as músicas desse CD em sua totalidade, elas foram refinadas, editadas, tiveram algumas partes cortadas e misturadas entre si, o que acaba datando um pouco esse trabalho. Se aqui nós tínhamos um Kendrick confuso, quase se achando culpado de alguns problemas que ele enfrentou, em suas mais recentes apresentações, ele aparece mais decisivo e realista em relação ao que fez, faz e irá fazer.

No entanto, ainda restam algumas questões em aberto, até por que nem todas as músicas podem ser consideradas demos com toda certeza. A maioria das canções nesse álbum apresentam datas ao lado dos nomes, outras não, o que deixa em aberto a época em que elas foram feitas, se antes ou depois do álbum ou se foram editadas depois do lançamento de "To Pimp a Butterfly" e assim alteradas.

Enfim, "Untitled Unmastered" é um álbum misterioso, reforçando a imagem legendária que Kendrick acabou criando em torno de si ao longo desse último ano, apresenta as dúvidas, os medos e as crenças de um artista que não quer se apresentar como maior que ninguém, mas explora as mesmas dúvidas e tensões que todos passamos de forma poética e nunca antes ouvida, ao menos no mundo do rap/hip hop. Os instrumentais são incríveis, apesar de alguns serem repetidos (afinal são demos de seu último álbum), no entanto, os inéditos levantam os pelos de seus braços facilmente.

Vale a pena escutar e depois assistir as apresentações de "Untitled 1" e "Untitled 2", conhecendo a evolução em tempo real de um excelente artista no pico da criatividade.

3 pontos e meio

segunda-feira, 7 de março de 2016

Dica literária: "Árvore e folha" de Tolkien (2013)

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Assim como Akon, já começo me desculpando, pois coloquei no título a data em que o livro foi publicado no Brasil ou, pelo menos, a data de sua última edição brasileira, por que não encontrei a data em que o livro foi publicado originalmente.

"Árvore e folha" é um livro que reúne dois textos de Tolkien e é considerado, por alguns, essencial para compreender a obra do excelentíssimo sr. Tolkien. O primeiro texto é um ensaio (acho que pode ser considerado um ensaio, mas não sei, de verdade) chamado "Sobre contos de fadas" escrito por Tolkien no final da década de 30 (acredito) quando ele ainda lecionava e nesse texto, Tolkien dispõe ideias acerca dos contos de fadas modernos, seu desvirtuamento, além da falha em considera-los obras puramente infantis, sem apelo para o público adulto, algo que ele considerava grave e que desviava a obra de seu intuito inicial. O texto apresenta algumas bases importantes, mas eu não diria essenciais, para compreender "O Hobbit" ou ainda "O Senhor dos Anéis", pois mostra que o lado puro, agora associado ao infantil, dos contos de fada não são necessariamente rasos ou de fácil compreensão ou ainda inocentes, como muitos apontavam na época em que Tolkien escreveu o texto e como acabou se solidificando nos dias de hoje. No entanto, sem ler o texto acredito ser capaz de aproveitar os seus livros sem maiores problemas, mas é um texto legal de se ler.

O segundo texto é um conto bem curto chamado "Folha, de Migalha", no qual é contada a história de Migalha, um homem cujo hobby é a pintura e no qual ele se dedica, dia após dia, a um quadro, que começou como uma pintura de uma floresta com algumas folhas passando na frente dela, mas Migalha acabou se concentrando tanto num folha que perdeu dias a fio pintando-a e preenchendo cada mísero detalhe dela e acabou enchendo o quadro de outros detalhes, expandindo-o infinitamente, sem nunca conseguir terminá-lo. Este conto é considerado uma meta-ficção, em que Tolkien explora, através de diversas alegorias, o seu próprio processo criativo e os resultados que ele traria.

O livro, como um todo, é bem curtinho, mas vale a pena, pois pode apresentar, ao leitor já iniciado no universo ficcional de Tolkien, detalhes a mais que podem ter fugido de seu alcance quando leu algum trabalho do brilhante autor alguma vez, aumentando ainda mais o prazer em lê-las. Enfim, leitura mais que recomendada.

4 pontos

domingo, 6 de março de 2016

Dica televisiva: "A escolinha do Golias" (1990-1997)

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"A escolinha do Golias" foi um programa humorístico exibido no SBT em diferentes horários (TV aberta é sempre uma bagunça) entre 1990 e 1997, contando com 3 temporadas, 81 episódios unindo suas 2 primeiras temporadas e uma terceira temporada que ninguém encontra em lugar nenhum pra assistir, por que não foi reprisado pelo SBT em 2007 e ninguém gravou na época que passou, originalmente.

Ao contrário de outros programas estilo "Escolinha do prof. Raimundo", "A escolinha do Golias" concentra todo o humor em um só personagem, o Pacífico, interpretado por Ronald Golias. Todos os outros alunos da classe, com exceção da aluna que senta a esquerda de Golias são inteligentes, assim o programa foge da fórmula de unir um bando de humoristas sem talento contando piadinhas lamentáveis e estereotipadas ao longo do programa.

No programa, Pacífico geralmente chegava atrasado para a aula do professor Cagliostro (interpretado por Cazalberto) e aí a aula não prosseguia de forma alguma. As alunas lembravam o professor de algum fato que ele iria ensinar a elas naquele dia ou faziam perguntas, mas tudo virava motivo para piada na mente de Pacífico, ora suja, ora criativa, sempre de maneira excelente, muitas vezes sem seguir o roteiro, seguindo a linha de humor de improviso que só Ronald Golias dominou com maestria.

De fato, "A escolinha do Golias" é um dos poucos registros que sobraram do verdadeiro maior gênio do humor brasileiro, Ronald Golias. Muito se diz do pulha do Chico Anysio, mas ele nunca chegou aos pés de Golias, um verdadeiro gênio. A escolinha que Golias criou sempre foi e, provavelmente, sempre será o programa estilo "escolinha" mais engraçado, inovador e criativo da televisão brasileira. Seu típico humor de improviso é genial, sempre com ótimas tiradas, piadas prontas na ponta da língua, nunca apelando para o pastelão ridículo e chulo.

Por decisão judicial, "A escolinha do Golias" foi tirada do ar pela maldita rede Globo de televisão que acusou-os de plágio, de forma completamente injusta e numa demonstração ridícula de poder e prepotência. Felizmente, em 2007, o SBT fez uma reprise nas tardes dos dias de semana do programa, época em que o conheci e que alegrava muito minha família inteira, que se reunia em torno da TV para assistir o programa. Quem dera mais programas com conteúdo realmente interessante como esse atraísse mais famílias inteiras em torno da TV...

Enfim, "A escolinha do Golias" é o melhor programa humorístico estilo "escolinha" da história, um dos melhores humorísticos de maneira geral, do verdadeiro maior gênio do humor brasileiro, Ronald Golias e todos devem assistir, para passar o tempo, para conhecer humor em sua melhor forma, para se divertir e para reunir a família.

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sábado, 5 de março de 2016

Dica cinematográfica: "Creed" (2015)

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Então, eis que eu finalmente resolvo assistir "Creed" e me surpreendo muito ao me deparar com um dos melhores filmes de luta que eu já assisti.

Apesar de todas as críticas positivas que eu ouvi por aí, li pouco sobre o filme e comecei a assisti-lo sem saber o que esperar. Por essas e outras, o filme acabou me pegando de jeito numa história de superação sensacional, dramática, um apurado senso estético vindo de um jovem de diretor que sabe o que faz, ótimas interpretações de seus excelentes atores e umas cenas de luta fantásticas de tirar o fôlego, além de uma narrativa extremamente bem guiada e equilibrada.

"Creed" conta a história do filho de Apolo Creed, Adonis, vindo de um relacionamento extraconjugal, o menino é criado pela mulher de Creed numa mansão, não é mostrado no filme, mas é indicado que nada faltou ao garoto em sua vida, nem dinheiro, nem afeto familiar e ainda assim, Adonis desiste de um bom emprego para ir morar na Filadélfia e treinar para ser um lutador, como seu pai foi. Lá, ele encontra a lenda viva Rocky, vivendo solitário num apartamento em cima de seu restaurante, que outrora fora da sua mulher, mas que após o falecimento da mesma, Rocky toca o estabelecimento sozinho, enquanto seu filho mora no Canadá com a namorada. Após umas boas insistências de Adonis, Rocky decide começar a treinar o garoto para ser um lutador de boxe tão bom quanto seu pai.

Tudo neste filme é brilhantemente guiado. Apesar da premissa "caça-níquel" própria de Hollywood, seu diretor e realizadores (isso inclui não só o Sylvester Stallone, como também Ryan Googler, o excelente diretor desse longa, além dos atores, que realmente se dedicaram para fazer um bom filme, Michael B. Jordan - sempre excelente - eTessa Thompson) fizeram deste um dramalhão impecável. Desde o momento em que Adonis é adotado, ao momento em que ele abandona o emprego e vai morar em Filadélfia e dali em diante, o filme é um enorme crescendo de emoção e tensão em cada uma das histórias de seus personagens, minuciosamente explorados nesse filme. Nenhum, repito, NENHUM personagem nesse filme está aí para fazer volume (com exceção dos extras, claro). Até mesmo os antagonistas dos personagens principais ganham profundidade (o primeiro desafio de Adonis na Filadélfia é o filho de um amigo de Rocky que insistiu a vida toda para o ex-lutador treinar seu filho e quer, além de manter seu recorde invejoso de vitórias, provar para o Rocky que é mais digno de nota do que o filho de um ex-lutador famoso já falecido e o segundo lutador é um cara tão fudido da vida que não tem como você assumir lados na luta dos dois). Adonis, inclusive, é um tremendo playboy e o filme deixa isso claro em todos os momentos do filme, então não se trata de uma história que segue a clássica "jornada do herói", já que Adonis já começa o filme como um campeão, ou pelo menos, sentindo-se um, é mais uma história de redenção, nos moldes de "João de Ferro", em que o personagem principal se afunda e depois se levanta, descobrindo sua verdadeira força interna, aprendendo a humildade que todo homem de verdade deve ter no caminho, aprendendo a se controlar, respeitar os outros e os seus adversários também. O final, anticlimático, pode até ofender o espectador mais ingênuo, no entanto, é excelente para aqueles que aprenderam a ler as entrelinhas, quase me levando as lágrimas.

Os atores estão excelentes em seus papéis, Michael B. Jordan, que fez o lastimável "Quarteto Fantástico" merece muito mais destaque do que está recebendo, o cara é um monstro da atuação e se você tem dúvidas, vá assistir "Fruitvale Station" (dirigido pelo mesmo diretor que Creed inclusive) e sua química com Sylvester Stallone faz você pensar que os caras são tipo pai e filho na vida real mesmo, simplesmente fantástico. O brucutu inclusive consegue até enganar nesse filme, quando a história começa a dar um pouco mais de atenção para ele e mostra o seu drama pessoal, revelando que não é só Adonis quem tem que enfrentar uma luta de superação nesse filme. Tessa Thompson surpreende demais, Anthony Bellew também e até Phylicia Rashad merece atenção especial.

Quanto ao aspecto técnico, esse filme é impecável. Além da direção, todo o trabalho de arte, fotografia, ambientação, montagem, jogo de câmeras, edição, é tudo muito bom. Apesar de ser um típico "caça-níquel" Hollywoodiano, Ryan Coogler tem um olhar artístico especial, dando uma boa encorpada nesse filme. Você nota que esse não é um filme qualquer na luta de Adonis no México, uma sequência extremamente bem dirigida, te dando a sensação caótica que lutas clandestinas devem ter, mas sem bagunçar a sua cabeça. As cenas noturnas no meio da cidade são belas, simplesmente e a sequência final, é brilhante, dando todo destaque para os dois lutadores no ringue, mas sem te deixar esquecer que há centenas de pessoas em volta e ainda assim, você irá se lembrar nitidamente dos dois lutando.

Enfim, eu poderia ficar dissecando esse filme parágrafos e mais parágrafos, poderia fazer um texto de 1000 palavras para cada cena da película, mas é como diz o velho ditado: "uma imagem vale mais do que mil palavras", então eu deixo aqui a minha dica, quase um suplíca; assista essa obra. É fenomenal.

4 pontos e meio

quarta-feira, 2 de março de 2016

Dica musical: "Post Pop Depression" de Iggy Pop & Josh Homme (2016)

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Após ouvir algumas vezes o novo álbum do Iggy Pop, decidi que ele merecia um post.

"Post Pop Depression" é o 17º (!) álbum de Iggy Pop, com produção de Josh Homme, que ajudou não só o álbum a tomar forma física, como também contribuiu nas letras e na composição das músicas, além da participação de Dean Fertita, nas guitarras e teclados e Matt Helders, na bateria. Por toda essa equipe, o projeto já está sendo chamado de "supergrupo", mas a sonoridade que ele passa aos ouvidos não é tão ambiciosa como o nome "supergrupo" soa.

O álbum é, de fato, muito bom, mas suas canções tem uma sonoridade mais introspectiva, algumas mais soturnas, outras mais agitadas, com um ritmo muito bem marcado, tendo uma pegada quase "funk", que é quase uma marca dos CD's produzidos por Hommes. No entanto, tudo nesse álbum funciona muito bem, Matt Helders não tenta se sobressair sobre nenhum dos instrumentos, marcando presença com seus toques de bateria sempre presentes e fortes. As guitarras, até tentam exagerar um pouco, mas acabam apenas se destacando, dando ainda mais corpo às canções, assim como os outros instrumentos que marcam fortemente sua presença, mas se sobressaem sobre nenhum outro.

Por ser o 17º álbum de algum artista, "Post Pop Depression" já surpreende e em se tratando de Iggy Pop, o que mais poderíamos esperar? Suas letras trazem uma resposta que condiz perfeitamente com a sonoridade mais soturna e instrospectiva de suas canções, lidando com o final da vida, o final de suas funções vitais nesse mundo e o que você vai deixar, o seu legado. Os vocais, quase fúnebres de Iggy Pop, acabam adicionando um tom de obscuridade a mais a todo o álbum e Josh Homme acaba fazendo um papel de backing vocal excelente, adicionando um certo tom "soul" às músicas, mostrando que o cara sabe o que faz e faz jus a credibilidade que possui em meio aos grandes nomes do rock.

De um começo calmo, até um pouco dançante, para um meio mais introspectivo, até um final mais pesado, soturno e até marcante, "Post Pop Depression" acaba se mostrando quase como um manifesto musical, feito por bravos artistas, que sabem, hoje, mais do que nunca, lidar com as intempéries da vida.

4 pontos e meio

terça-feira, 1 de março de 2016

Dica musical: "Praieiro" dos Selvagens a Procura de Lei (2016)

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E os Selvagens voltam em 2016 com o seu trabalho mais diversificado até hoje.

O disco "Praieiro", se não me falha a memória, contou com a ajuda dos fãs da banda para se tornar realidade (através de uma plataforma estilo Catarse) e sofreu um baita dum atraso, tendo sido programado para ser lançado no ano passado, mas só foi revelado hoje, em seu canal no YouTube, para animar essa triste terça-feira.

O CD conta com 11 canções, todas com sua própria sonoridade, indo do mais puro rock n'roll, fortemente inspirado pelo pós-punk das bandas indie dos anos 2000, passando por outras vertentes do rock, como o surf-rock e seguindo por outros gêneres musicais, como a MPB e o samba, por exemplo, inserindo aqui e ali instrumentos regionais do Nordeste para não deixar o ouvinte esquecer das origens da banda. No entanto, "Praieiro", apesar de sua vasta diversificação é um CD de rock, gênero que forma o maior número de suas canções e que vai agraciar os ouvidos dos fãs mais fechados a diferentes estilos.

Se, musicalmente, o CD é muito diversificado, liricamente ele não é, o que, de forma alguma é ruim, ao menos nesse caso específico de "Praieiro". Suas letras são fortemente carregadas com uma mensagem mais politizada, fazendo críticas ao governo, a sociedade e o modo de viver do brasileiro, algo que acabou se tornando uma marca da banda nos últimos tempos, mostrando um certo amadurecimento.

De surpresa, o Selvagens a Procura de Lei chegou e atacou os meus ouvidos, com um ótimo trabalho que faz jus à excelente discografia da banda.

4 pontos