sábado, 19 de março de 2016

Dica Literária: "Kafka à Beira-Mar" de Haruki Murakami (1987)

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É o segundo livro de Haruki Murakami que leio e começo a entender por que sua popularidade atinge níveis cósmicos pelo mundo afora.

"Kafka à Beira-Mar" conta duas histórias em um livro apenas. A primeira história a como somos apresentados é a de Kafka Tamura, um menino que acabou de fazer 15 anos e resolve fugir de casa, de um pai abusivo, uma vida enfadonha, em busca de sua mãe e sua irmã, que saíram, as duas, de casa, quando ele tinha apenas 4 anos. A segunda história é a de Satoru Nakata, um senhor de idade, aposentado e com a estranha habilidade de falar com gatos, que vive de uma aposentadoria do governo e pra ganhar um pouco mais de dinheiro, faz bicos encontrando gatos que fogem de suas casas e, no momento em que acompanhamos a história, está atrás de uma gata chamada Mimi.

Além das duas histórias principais, este livro passa por diversos gêneros, criando uma mistura agradável e muito bem elaborada, afinal Haruki Murakami sabe guiar a miscelânea que cria nas páginas de "Kafka à Beira-Mar", temos uma história de uma adolescente em crise, um romance, uma história de investigação, uma história de investigação e mistério, toques de horror e tudo permeado por um realismo fantástico assombroso, não do ponto de vista literal (falando que ele nos assusta), mas de uma ponto de vista criativo (o livro nos surpreende toda hora), é realmente impressionante como o autor consegue adicionar pontos fantásticos e surreais numa história tão pé no chão e, ao mesmo tempo, fazer isso soar extremamente palpável.

Um dos pontos negativos de "Norwegian Wood", o primeiro livro que li do autor foi o uso excessivo da exploração da sexualidade do personagem principal, tudo terminava em transa naquele livro e o personagem principal é o clássico "manezão". Aqui, Kafka também é um tremendo manezão, que quando resolve mudar, se transforma num babacão, mas não vemos tudo se transformar em sexo, talvez por que se trata de uma obra legítima de "realismo fantástico", talvez por ter duas histórias, então o autor não teve que se preocupar muito em encher linguiça com o personagem Kafka. Em compensação, a história de Nakata é um deleite, um personagem intrigante, apesar de ser extremamente simples em seu universo, podendo ter sido usada apenas a sua história e ainda assim o livro seria ótimo.

O final, além de surpreendente, é extremamente satisfatório, apesar de não entregar as respostas que esperávamos. É um final digno, além de fechar a obra com chave de ouro, mostrando que Haruki Murakami é, de verdade, um gênio da literatura.

A edição que li foi em ebook e tinha essa capa aí, não prestei atenção ao tradutor, nem ao editor do livro, nem sou entendido em japonês, mas acho que fizeram um bom trabalho. Em alguns momentos, a trama pode parecer meio dispersa, mas não creio que isso seja problema da tradução, acho que é mais uma característica da literatura japonesa, que tem suas peculiaridades mesmo.

Enfim, "Kafka à Beira-Mar" é um ótimo livro, tem lá os seus defeitos, mas eu, pelo menos, não esperava nada desse livro (por que tomava como base minha insatisfação com "Norwegian Wood") e me surpreendi em muitos pontos.

4 pontos