terça-feira, 10 de outubro de 2017

Dica cinematográfica: "Alice ou a última fuga" (1977)

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Acho que trago, pela primeira vez, uma dica de um filme de Claude Chabrol, o inaugurador da nouvelle vague, esse movimento artístico que eu tanto amo.

O filme é “Alice ou a última fuga”, lançado em 1977, contando a história de Alice Carol, uma bela mulher que decide abandonar o marido por não suportar mais a vida que leva com ele. Partindo por uma estrada sem rumo, o para-brisa de seu carro quebra e ela é forçada a estacionar dentro do terreno de uma mansão, onde um velho diz que já a esperava. Como chove, Alice acaba passando a noite na mansão e pela manhã, descobre que está sozinha na casa e que seu carro foi consertado. Após o café-da-manhã, Alice decide continuar sua viagem, mas acaba descobrindo presa nos arredores da mansão, que revela propriedades fantásticas.

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Este filme é um exemplo magnífico de como se inspirar por uma obra e a obra no caso é “Alice no país das maravilhas”, claro, e sua continuação. Pra começar, o nome da personagem principal, Alice Carol, não tinha como ser mais óbvio. Depois, ela foge de casa e vai parar num lugar fantástico, onde eventos que fogem à explicação racional acontecem e não ganham explicação. É simplesmente a forma como aquele “espaço” funciona. E até mesmo o elemento mais icônico da história de Lewis Carol está presente, o buraco para o subterrâneo, mas indicar a sua existência no filme é spoiler demais.

As semelhanças são óbvias, mas não deixam de surpreender pela forma como são apresentadas. Como não sabia nada do filme até começar a assisti-lo, fui me surpreendendo conformo o filme ia se apresentando para mim, com cada elemento sendo jogado na tela de forma natural e aos poucos fui juntando os pedaços e montando o quebra-cabeça que Chabrol montou. Ele conseguiu pegar elementos da história de Lewis Carrol e montar algo novo, com uma bela lição de moral ao final e elementos fantástico que deixam o espectador irrequieto.

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Como um filme dos anos 70, ele já era colorido e apresentava aquela característica coloração de filmes antigos que agradam tanto aos hipsters de hoje em dia. A direção de Chabrol é praticamente uma aula de cinema, é possível notar facilmente quando Chabrol usa espelhos para iluminar cenas, para onde ele move a câmera e até mesmo prever o que irá ser mostrado para nós em algumas cenas, pela forma como ele guia as câmeras. Pode chamar isso de ortodoxia demais, mas é uma marca de direção e a cereja do bolo é, de fato, o final do filme, magistralmente revelado para o espectador, dando um novo sentido ao termo “plot twist”.

Enfim, “Alice ou a última fuga” é um dos primeiros filmes que assisti de Chabrol e, na minha epopeia de me aprofundar dentro dos filmes da nouvelle vague esse ano, nada mais justo do que correr atrás do material do diretor que é considerado o inaugurador do movimento, bem quando este maravilhoso filme completa 40 anos.

4 pontos e meio