quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Dica musical: "THE OOZ" por King Krule (2017)

king-krule-the-ooz

O rei, o verdadeiro Rei finalmente voltou!

https://www.youtube.com/watch?v=K5-f1Bnltu8

Após uma série de vídeos que foram aumentando o hype em torno desse álbum, King Krule nos agraciou, em plena sexta-feira 13 com o lançamento de seu mais novo CD, “The OOZ”, dessa vez, apresentando um som ainda mais sólido que o seu álbum de estreia, explorando diferentes ideias, enquanto apresenta uma forma única de abordar a música.

Em “6 feet beneath the moon”, o excelente álbum de lançamento de King Krule, o jovem Archy Marshall estava mais interessado em rap, lançando até um projeto colaborativo de rap um tempo após o lançamento do álbum, mas muita água passou por baixo dessa ponte e o jovem Archy volta agora com outras experiências musicais prontas para influencia-lo, como o jazz punk do The Lounge Lizards.

Em “The OOZ”, Archy acha um terreno sólido para os seus experimentalismos musicais, podendo dar espaço para todos os artistas que ele passou anos escutando pudessem influencia-lo de uma forma ou de outra nas músicas desse CD, como Chet Baker, Berry White e Arctic Monkeys, artistas muito distantes entre si, mas que acabam se encontrando nas músicas de “The OOZ”.

https://www.youtube.com/watch?v=2XzXLzA2Hrc

E isso só é possível porque King Krule passou a ser menos um projeto de Archy Marshall para ser um projeto colaborativo entre seus amigos mais próximos. Archy dá espaço para que cada um possa mostrar o seu melhor, incrementando assim cada lacuna de cada música que o talento natural de Archy não pôde preencher. Isso fica claro quando ouvimos o (e ficamos sabendo do processo por trás do) saxofone, tão presente nesse álbum. Archy é um líder nato.

As letras trazem vívidas imagens do sul de Londres, pinceladas com toques de ficção científica e crítica social, mas cheias de uma poética de fazer inveja a qualquer millenium metido a poeta sensível. Como dito em uma entrevista, Archy é um cara muito atento à política e apesar de ter se alinhado com a extrema esquerda, ele agora entendo o valor do capitalismo e não sabe bem em que lado está, mas também não se conforma com as situações revoltantes que viu e ainda vê por Londres, uma das melhores cidades do mundo para se viver, mas que ainda tem mendigos na rua e deportam cidadãos (numa entrevista antiga, Archy revelou perder uma namorada assim).

O único problema desse álbum é apenas o fato de que King Krule é hipster demais. Sem brincadeira, todo esse experimentalismo, sem ser inaudível ou transgressor demais, as letras sensíveis, que mesclam ficção científica com confessionalismo e a atitude classuda de Archy são elementos que afastam os mais puristas, tanto do lado do rock, como do hip hop, encontrando espaço apenas entre os hipster tênis verde mesmo, que também entendem pouco ou nada da arte de King Krule.

https://www.youtube.com/watch?v=k2HRzIyyXvU

Mas King Krule não é apenas mais um, ele é único dentro desse espaço, pois, como dito numa entrevista recente, Archy não é apenas um desses artistas que gostam de misturar um monte de coisa e ver no que vai dar. Desde o começo ele já havia se interessado em músicas experimentais, mas seu início mesmo é no punk e é essa atitude punk que falta em artistas como o Cosmo Pyke e até mesmo em artistas como os da Geração Perdida de Minas Gerais; não basta apenas saber todos os mínimos detalhes da configuração de guitarras e microfone, os arranjos de baixo e bateria e os instrumentos de trabalho na mixagem. É algo que vai além e tem a ver com sua postura perante a música como um todo.

King Krule se aproxima da música com agressividade e é uma agressividade ativa, porém classuda, se aproximando da violência de um romance de Raymond Chandler, onde os grandalhões tiram os ternos antes de descer o sarrafo e depois temos as piadinhas.

Enfim, King Krule é algo além do comum, é algo único e “The OOZ” é a sua maior obra até então, não apenas objetivamente (são 19 canções!), mas também subjetivamente; é poético, é sujo, é classudo e é preocupado, tudo ao mesmo tempo. Na entrevista que citei anteriormente, Archy revelou estar ouvindo muito Beatles ultimamente e “quem sabe isso não acabe virando uma inspiração para um próximo álbum?”. Não sei quanto a um próximo álbum, mas vale a pena ficar de olho nesse moleque, porque ele é um dos melhores artistas musicais ativos.

5 pontos