terça-feira, 27 de março de 2018

Dica cinematográfica: “Polícia Federal: A lei é para todos” (2017)

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Estava devendo esse filme, que foi uma das pontas da tríada de filmes reaças lançados ano passado (junto com “Real: O plano por trás da história” e “Jardim das Aflições) e, apesar de eu estar focado em assistir todos eles (afinal, um reacinha safado como eu tem que assistir esses filmes), nem todos irão ganhar dicas aqui. Não porque são ruins, mas porque, às vezes, não chama a minha atenção o suficiente para que eu escreva uma dica.

Não é o caso de “Polícia Federal”, filme lançado ano passado e que acabou chamando mais atenção algumas semanas antes de seu lançamento, pelo trailer e pelas críticas dos canais canhotos de informação do país.

Direcionamentos ideológicos à parte, o filme é interessante. Não diria que muito bom, tampouco é mediano, é um filme bom, um thriller policial bem classudo, que não poupa efeitos especiais, carregando o filme de uma atmosfera ultra-moderna (vide as cenas em que os personagens se encontram na sede da PF, cercados de computadores) e músicas genéricas de suspense, que dão um clima bem carregado durante toda a sua projeção.

A obra conta a história do início das investigações da Lava Jato até culminar nas investigações ao ex-presidente Lula, do ponto de vista de personagens fictícios, que servem apenas para representar figuras de dentro da Lava Jato, até porque a operação não passou nas mãos apenas de uma pequena equipe de poucas pessoas.

No entanto, esse é um recurso necessário para contar a história de uma operação que vem se arrastando há anos, descobrindo podres cada vez mais fundos e ligações cada vez mais fantásticas, no sentido de ser algo difícil de acreditar. Logo no começo do filme, somos guiados por investigações que não tinham relações entre si, inicialmente, mas acabaram se encontrando e juntas descobriram um buraco ainda mais fundo, que levou ao maior doleiro do país.

É realmente algo de outro mundo e mostra a magnitude dessa operação, que é considerada por muitos como a maior investigação de corrupção do mundo. E nesse filme, descobrimos que isso não é à toa.

Porque a operação Lava Jato se arrasta por anos, começando com um esquema simples de lavagem de dinheiro, mas chegando até o principal patamar político do país e como brasileiro não leva nada a sério, acabou criando uma mitologia em torno da operação, Sérgio Moro é o Super-homem do Brasil, o Japonês da Federal virou piada, Nestor Cerveró tá com um olho no gato e outro no rato e por aí vai... O filme chega até a enaltecer essa mitologização de suas figuras quando nos agracia com a presença do Japonês da Federal e quando o ex-presidente pergunta ao ser enquadrado “O Japonês não tá aí não, né?”.

Acaba que o filme carrega um certo humor consigo.

Mas é muito mais dramático. Desde a ficionalização das investigações até os momentos em que somos apresentados ao pano de fundo da história de seus personagens. Um dos investigadores votou em Lula e discute com o pai sobre a “perseguição política”. Momentos que não são muito profundos, mas não chegam a cansar, porque o que motiva o filme é realmente o andamento das operações.

E por falar em “perseguição política”, o filme é muito didático nesse quesito, mas sem ser panfletário, embora sofra uma queda pra esse lado no seu final.

Ao longo da projeção de “Polícia Federal” somos guiados pelos caminhos da investigação, avançando muitos anos, com o auxílio de uma narração em off do personagem principal (Ivan) e isso acaba derrubando a acusação absurda que fazem de perseguição política. O filme explica de forma natural as consequências de se investigar o Lula (80% de aprovação quando saiu do governo, não é qualquer um), a questão absurda do foro privilegiado (que deixa livre caras como o Temer e o Aécio Neves) e a importância do vazamento de áudios, que pode ser criticado, mas era um mal necessário para o país naquele momento, afinal, se você tem que arrancar um pedaço do seu corpo pra vencer o câncer, você vai arrancar uma parte do seu corpo, não é?

No entanto, o último terço do filme acaba focando muito na imagem do Lula e o torna quase uma figura central dentro da película, dando a ele (o filme) ares de panfletarismo, o que acaba afastando pessoas com uma visão mais neutra no assunto, mas com tendências a acreditar na conversa pra boi dormir da esquerda.

Outro problema do filme foi logo no começo, quando conectam o problema da corrupção do Brasil com a chegada dos portugueses à América. Ok, o problema da corrupção é inerte ao ser humano, somos animais corruptíveis e tendemos ao mal, pois é através dele (misteriosamente), que alcançamos um prazer imediato, mas bater nessa tecla é enxugar gelo. Afinal, não dá pra mudar a natureza humana, isso é algo que só pode ser feito na consciência de cada um e é inegável que durante a história do Brasil nunca tivemos um Estado tão paternalista quanto o que temos agora. O problema principal surgiu no século XX.

No entanto, superando esse começo e deixando se levar pelo final, “Polícia Federal” se apresenta como um bom filme, mais uma adição de qualidade invejável do cinema nacional, que tem sofrido um bom renascimento nos últimos anos e, o que é melhor ainda, uma virada à direita.

3 pontos e meio