quinta-feira, 15 de março de 2018

Dica musical: “Time & Space” do Turnstile (2018)

turnstile-time-space-2

Turnstile é uma banda de hardcore formada em 2010, na cidade de Baltimore, Maryland, EUA, mesma terra do All Time Low, mas, ao contrário de seus conterrâneos, Turnstile é uma das melhores bandas do rock atualmente.

E não é à toa, Turnstile consegue algo único no meio do rock atual, que é invocar elementos de todas as grandes bandas que os antecederam, tanto do hardcore mais bruto, como Snapcase, até o rock pesado mais popular, como Rage Against the Machine, mas de uma forma que só as partes boas dessas bandas vão para a versão final

Esse ano, eles lançaram esse petardo que é “Time & Space”, uma verdadeira obra-prima do hardcore, resgatando todos os elementos que mantém eles no topo do rock atual, mas expandindo o catálogo musical para influências que vão além da gritaria e agitação dos palcos. Tudo isso em apenas 25 minutos.

Logo no começo do álbum somos agraciados com 3 canções que exemplificam perfeitamente o que é o Turnstile. Em “Real Thing”, o hardcore raiz surge de forma calma e imponente, revelando aos poucos toda a sua energia, mas culminando numa explosão crescente de riffs marcantes de guitarra e um refrão que movimenta qualquer público que esteja se debatendo e lutando por espaço no meio de uma pista de dança fedendo a suor e recebendo malucos pulando do parque. São menos de 2 minutos, mas trazem toda a energia de quase 40 anos de história do gênero. “Big Smile”, a segunda do álbum, não vem crescendo, já começa explosiva e termina tão rápido começa, mas não sem antes impor um riff de guitarra dançante e agitado, com uma bateria marcante e um baixo tão pesado que você sente na garganta, culminando em “Generator”, a primeira música que pode dividir os fãs, com um início pesado, remanescente do heavy metal, mas acaba virando um post-hardcore experimental sem refrão, com direito a Ahã’s de fundo, uma ponte antes de trocar totalmente de ritmo e um solo de guitarra semi-virtuoso. Não é o seu típico hardcore, mas é muito bom, contendo tudo aquilo que o Turnstile faz de melhor, um som pesado, agitado, veloz e dançante.

Por si só, essas 3 músicas já fariam um EP perfeito, mas temos mais. Após essa música vem uma canção com menos de 1 minuto, um interlúdio para o que vem a seguir e o que vem a seguir é mais pedreira, mais agitação, com algumas canções mais lentas, porém sempre dançantes.

E essa palavra é o cerne da filosofia que motiva o Turnstile, “dançante”. Pois essa é a melhor característica do som deles, ser dançante. Numa entrevista antiga, foi perguntado a eles se eles se importavam de serem taxados como “dançantes” ao que responderam prontamente que não, pois o que eles querem é entregar uma boa experiência às pessoas que vão aos shows e como dar uma melhor experiência do que fazê-los dançar?

Seguindo essa linha, mas sem deixar de ser hardcore, “Time & Space” nos apresenta canções guiadas por baixo, uma linha de teclado fantástica em “High Pressure” e o baixista nos agradecia o prazer de ouvi-lo cantar em “Moon”. Uma das canções, outro interlúdio, ainda se chama “Disco”, revelando as possíveis influências do trabalho, que estão ali, mas como um pano de fundo, a mão que empurra a banda para frente e o resultado é uma obra dinâmica, inovativa e potente, cimentando o nome do Turnstile como um dos maiores nomes do rock atual (e na opinião d’O Sommelier de Tudo, o maior nome).

Para mim, Turnstile já é a melhor banda do planeta atualmente.

O álbum foi produzido por Will Yip, o mesmo cara que quase galgou um Grammy esse ano com Code Orange, disputando numa categoria de heavy metal. Não que o Grammy valha alguma coisa, mas isso é sinal de que os ventos estão mudando e soprando no nosso quintal, talvez o rock esteja numa posição privilegiada dentro da atenção das pessoas em breve. Quem sabe? Quanto a Will Yip, só mesmo um cara como ele poderia produzir um álbum tão bom, pois ele sabe dar liberdade e guiar as bandas ao mesmo tempo. Algumas músicas são tão feitas (como “Can’t Get Away” e a, refeita para o álbum, “Come Back for More/H.O.Y.”), que apenas “obra de arte” pode descrevê-la. É como um escultor que passa horas moldando o nariz de sua escultura para ficar perfeita, são horas em cima de uma música para deixa-la perfeita e nenhuma chega a marca de 3 minutos.

Além disso, tivemos ainda videoclipes extremamente criativos acompanhando os singles do álbum, referenciado Akira Kurosawa, tokusatsus, George Méliès e filmes xploitation, mostrando que os caras do Turnstile não são qualquer um. Eles têm senso estético.

Em suma, Turnstile lançou um dos melhores álbuns de rock dos últimos tempos, com certeza o melhor álbum de hardcore dos últimos anos e, provavelmente, um dos melhores álbuns dessa década. Não é apenas um conjunto de canções rápidas, enérgicas, diversas e potentes, é uma verdadeira obra-prima, uma amálgama de tudo que há de melhor dentro do hardcore desde o momento que o gênero nasceu, com mais um apanhado de ótimos elementos de gêneros tão diversos como heavy metal, disco e eletrônica.

5 pontos