quinta-feira, 10 de maio de 2018

Dica cinematográfica: "Perceval, o Gaulês” (1978)

perceval

Eric Rohmer era um tradicionalista, mas também era um cidadão da segunda metade do século XX, então sua adaptação de um conto medieval francês só poderia gerar um filme descontraído, irônico e, acima de tudo, criativo ao extremo.

Em “Perceval, o Gaulês”, acompanhamos um jovem nobre gaulês que sai de casa onde vivia com a mãe para buscar uma vida de glórias como cavaleiro. Após conhecer o rei Arthur, o jovem fica fascinado com o santo Graal e parte em busca deste, mas antes aprende o real significado da cavalaria, apaixona-se por uma bela princesa e espalha a justiça por planícies e florestas, enquanto vaga na busca do santo Graal.

O filme já chama a atenção logo no começo, onde somos apresentados a um cenário de mentira, todo montado com objetos que parecem papelão, alumínio e papel machê, simulando os mais diversos terrenos, de florestas a planícies, praias e castelos. Num segundo momento, nos chama a atenção o fato dele ser todo narrado e cantado. A todo momento os personagens cantam e narram o que está acontecendo na tela, deixando para a narração os acontecimentos ao invés de mostrar a ação, uma subversão muito simples, porém ousada e criativa das convenções do cinema.

A narração, por si só, já é uma subversão das convenções mais tradicionais do cinema, mas colocar os próprios personagens, narrando os seus atos, num cenário de mentira. Isso é quase um tiro no pé, exceto quando é o Eric Rohmer, que faz isso muito bem feito.

Mas fora os aspectos criativos que são todo mérito do Rohmer e sua equipe criativa (para quem já conhece outros filmes do diretor, irá reconhecer alguns rostos apresentados), temos ainda a própria história de Perceval. Escrito por Chrétien de Troyes durante a Idade Média e inacabado, é um romance com uma complexidade significativa (talvez pela sua incompletude). O romance termina com uma narração de outro cavaleiro da Távola Redonda (Gauvain), que é adaptada dentro do filme, mas Rohmer termina com uma fantástica e simbólica cena da compreensão de Perceval sobre o santo Graal.

Ao final, “Perceval, o Gaulês” é um filme ambíguo, mas muito bem feito e extremamente criativo, revelando a genialidade desse que foi um dos melhores diretores do cinema de todos os tempos.

5 pontos