quinta-feira, 30 de agosto de 2018

23/08/2018 – o dia do melhor programa d’A Praça é Nossa

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Na quinta-feira, dia 23 de agosto de 2018, um evento histórico sacudiu a televisão brasileira, pois foi nesse dia que “A Praça é Nossa”, o melhor programa humorístico da história do Brasil lançou o seu melhor programa no ano.

Já tive a inspiração de fazer um post desse tipo há um tempo atrás, quando assisti um excelente programa d’A Praça, mas apenas com esse último programa é que fiquei motivado, de verdade, para poder escrever esse texto, afinal, nesse programa, todas as partes lançadas no Youtube (plataforma onde assisto os programas e que os divide em 3 seções) tiverem ótimos momentos. Sendo assim, vamos ao pequeno review do melhor programa d’A Praça de 2018.

https://www.youtube.com/watch?v=RBSlDZV5_a8

Tudo começa com o Paulinho Gogó, personagem do comediante Maurício Manfrini, que está há mais de 10 anos sentando ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega n’A Praça e já passou por maus bocados. Já contou piadas ruins, já sofreu represálias do politicamente correto, já copiou piadas de outros comediantes e já teve o seu tempo de programa reduzido. No entanto, esse ano ele voltou para a Praça afim de se redimir com os fãs do programa e na semana passada não deu descanso. Começou com uma ótimo contextualização, emendando uma piada sexual atrás de outra, engajando o Carlos Alberto na conversa, como se fosse o encontro casual de velhos amigos (e talvez seja mesmo, após 10 anos, nem sei mais se ele considera aquilo um trabalho mesmo). Ainda citou o grande Dicró, nos lembrou da Nega Juju, incluiu o Paulinho Tuntum, seu filho e terminou com uma piada fantasticamente engraçada.

Depois foi a vez do Sangue, personagem da Marlei Cevada, que é sempre um quadro muito engraçado, mas nesse programa soltou até a palavrão. Como nem tudo são flores, após ele entraram dois novos personagens, interpretados por dois comediantes que há anos não se enquadram n’A Praça e aquele casal que é formado por um dos primas do Café com Bobagem, quadro que deveria voltar, inclusive. Mas a primeira parte terminou com o ótimo Porpetone, interpretando o Calça Grande, que some bastante nesse quadro, mas conseguiu se destacar com ótimas tiradas e piadas de duplo sentido muito engraçadas.

https://www.youtube.com/watch?v=_M47PsNuow0

A segunda parte já começou com um clássico, o deputado João Plenário, que não apresentou uma gostosa no programa, mas conseguiu espaço para fazer ótimas piadas contextualizadas ao âmbito político.

E logo depois, entra o atual diamante d’A Praça, Matheus Ceará, que não perdoou ninguém, emendou uma piada atrás da outra, ousando e inovando, expandindo os limites do humor dentro d’A Praça, com excelentes contextualizações e aquela baixaria caliente que todo brasileiro adora. Foi uma das melhores apresentações dele n’A Praça desde que ele entrou para o programa.

Nem tudo são flores e o nepotismo reina n’A Praça, com uma das netas do Carlos Alberto, que não tem graça, mas é um colírio para os olhos. Para equilibrar, entram os Malandrinhos de Niterói, um trio que nem sempre faz boas apresentações, mas quando fazem, sai de perto, porque serão horas e horas de risadas, lembrando suas ótimas piadas. Eles não são tão boas em contextualizar piadas, mas conseguiram emendar com sagacidade as piadas prontas que utilizaram e ainda improvisaram, provocando a audiência a compreender as implicações que A Praça é Nossa apresenta fora das câmeras. Eles não terminaram muito bem, mas a terceira parte começou de forma surpreendente.

https://www.youtube.com/watch?v=R4bpiDeCw3U

Aparentemente o Rey Biannchi vai fazer parte do elenco fixo d’A Praça e apareceu novamente para fazer uma participação incrível. Rey Biannchi é um artista telentosíssimo e muito inteligente, com um carisma monstruoso, mas n’A Praça acabou mostrando que é dono de piadas extremamente inventivas, apresentando piadas novas num terreno extremamente difícil que é A Praça é Nossa, com suas muitas décadas de existência e com um desafio gigantesco para os comediantes que querem fazer algo novo lá. Rey Biannchi não só fez isso, como fez isso muito bem, galgando um caminho para ser um mestre do humor.

E saindo do ouro para a esmeralda, entrou o Saideira, interpretado pelo talentosíssimo Giovani Braz, junto com um figurante d’A Praça para contextualizar suas piadas de maneira fantástica ao lado de outra figurante. O Saideira então apresentou suas histórias engraçadas com um carisma único que garante o seu lugar n’A Praça há mais de uma década.

E para acabar com chave de ouro, da melhor forma possível, Ari Toledo, esse Godzilla da comédia, voltou para o programa e já atua lá há semanas ensinando os outros comediantes a fazer as pessoas rirem com maravilhosas piadas, ousadas e poderosas, dando um soco de direita no politicamente correto que Carlos Alberto, muito sabiamente, já mostrou ser contra.

Na última noite de quinta-feira, A Praça é Nossa provou ser o melhor programa de comédia atualmente no Brasil e já tem lugar garantido na história. Os melhores humoristas se encontram lá, contando as melhores piadas, da melhor forma possível, mas na última quinta-feira elevaram tudo isso à última potência. Eu não sei que caminho A Praça é Nossa vai seguir a partir daqui, talvez caia um pouco, por já ter alcançado um nível tão alto, mas fico feliz em saber que esse programa continua tão magnífico e sensacional.

Portanto, não deixe de dar audiência para esse programa tão incrível hoje à noite e, se não puder, assista-o em seu canal do Youtube amanhã, porque está valendo muito a pena.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

O que eu perdi: “Five Leaves Left” do Nick Drake (1969)

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Faz muito tempo que admire o trabalho desse fantástico música folk do Reino Unido, mas nunca tinha me inspirado a escrever um texto sobre ele, embora esse não seja o motivo principal para eu escrever essas dicas. Pois bem, agora não só estou inspirado, como estou com tempo livre para tanto e decidi começar uma série de dicas sobre a obra dessa fantástico artista.

“Five Leaves Left” é o primeiro CD lançado por Nick Drake, conta com uma história conturbada de produção, com muitos desentendimentos entre todos que trabalharam em sua produção, desde a equipe que mantinha o estúdio, passando pelo produtor e culminando no próprio Nick Drake, que não ficou nem um pouco contente com o caminho que o álbum seguiu.

No entanto, polêmicas à parte, o álbum é um petardo. Talvez até por tantos desentendimentos, ele tenha uma qualidade superior a outros. O álbum contém uma produção ousada para as ambições de Nick Drake, com arranjos que fazem referências a artistas de música clássica, participação de uma banda para ajudar na construção das músicas, mas ainda contém a aura pela qual Nick Drake ficaria conhecido, muitos anos após a sua morte, já que, em vida, ele nunca foi reconhecido.

O álbum, apesar de toda sua produção, é intimista, reservado e nos mostra um Nick Drake tímido diante de tantos elementos que se sobressaem sobre sua voz. Numa era em que o rock era o centro da música pop, com vocalistas cada vez mais imponentes não admira que este álbum tenha passado despercebido ou, quando percebido, chamando pouca atenção.

Suas letras simples, apresentam elementos narrativos típicos da era em que se situam, com muitas canções que nos retomam histórias, ambientes e personagens, criando um universo único para o álbum. Ainda assim, encontramos elementos que viriam a ser recorrentes nos álbuns de Nick Drake e que dizem muito sobre ele, reforçando o seu grau de intimidade para com os ouvintes, nos revelando seu eterno amor pela Mary Jane, por exemplo.

Ao final, temos uma noção de completude que poucos álbuns conseguem arranjar, muito menos nos dias atuais, tão influenciados por músicas soltas. Aqui, desde os arranjos até as letras, o álbum acaba formando um todo coerente.

Calmo, relaxante e belo são os melhores adjetivos para um álbum tão bem feito.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Dica higiênica: detergente Ypê

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Mais uma dica higiênica para manter a saúde em dia e dessa vez de um item essencial nas cozinhas de todo o país.

A dica é do detergente Ypê, uma marca já tradicional nos lares brasileiros, mas que muitas vezes não recebe a merecida atenção. A razão disso é que muita gente não dá valor aos produtos de limpeza que utilizam para limpar pratos, principalmente porque o importante é tirar a sujeira superficial dos pratos e talheres, mas há outros detalhes envolvidos, como a gordura dos pratos, por exemplo.

Nesse ponto entra uma característica importante dos detergentes, a produção de espuma e a maioria dos detergentes (na falta de palavra melhor) populares do mercado não produzem uma boa quantidade de espuma. A espuma produzida pelo Ypê é mais encorpada, mais volumosa e com uma ação mais rápida, ela cresce e desaparece num instante, tudo depende da pressão exercida sobre o detergente, seja das suas mãos ou da água que sai da torneira.

Em outras palavras: é mais espuma feita de maneira mais rápida e que sai dos pratos num instante. O produto é realmente superior.

Um outro problema que ele enfrente é uma certa elitização do detergente, pois até mesmo em suas propagandas mais antigas ele se dizia mais caro. A propaganda dizia que era melhor gastar alguns reais a mais num produto melhor do que gastar o mesmo em mais produtos de qualidade inferior. É uma boa estratégia, na verdade, mas atrai menos a atenção de quem só se guia pelos preços.

De fato, o detergente Ypê é um pouco mais caro, mas ele faz valer cada centavo gasto com ele. Em suma, dúvida porquê? Detergente é Ypê.

5 pontos

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Dica literária: “The Girard Reader” (1996)

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Já apresentei a teoria mimética de René Girard em outros momentos aqui no blog, mas nunca apresentei nenhum trabalho do grande pensador, o Darwin das ciências humanas, simplesmente porque ainda não havia lido um de seus trabalhos de cabo a rabo. A razão não é apenas a complexidade de seus temas, que não é tão complicado assim, mas também pela raridade de suas obras. Seus livros em português que não estão esgotados, são muito caros, embora a coleção Girard da É Realizações tenha um acervo interessante de seus livros.

Pois bem, esse ano tenho que ler suas obras na íntegra, porque estou iniciando um projeto de iniciação científica e meu trabalho usará a teoria mimética extensamente. Minha orientadora, maravilhosa como só ela consegue ser, me indicou esse livro, que serve como uma introdução não apenas aos estudos miméticos, mas a toda a filosofia de René Girard, apresentando textos em tópicos, que são definitivos para a obra girardiana.

Esses tópicos vão além da simples teoria mimética, passando pela sua explicação do surgimento dos mitos, sua interpretação dos textos bíblicos e, por fim, sua relação com outros dois grandes nomes das ciências humanas, com quem o seu pensamento mais dialogou, Freud e Nietzsche.

Esperava encontrar nesse livro séries de textos de outros pesquisadores sobre sua teoria, mas acabei encontrando seleções de seus próprios textos, oriundos de livros, entrevistas e artigos escritos ao longo de sua carreira, que em 1996 já estava consolidada.

Através dessa obra temos acesso a todas as linhas de pensamento de Girard de forma cronológica, como ele mesmo indica, sua obra passou por três fases de descobrimento, primeiro a relação triangular do desejo, passando por uma análise original da literatura ocidental, depois sua relação com a origem dos mitos e por fim desembocando na sua original leitura dos textos bíblicos. Dessa forma, podemos ter acesos à voz própria do antropólogo e filósofo, em alguns momentos através de passagens muito densas, como as partes extraídas dos livros “Coisas Ocultas desde a Fundação do Mundo” e “Violência e Sagrado”, mas também através de passagens muito simples e até didáticas, como a entrevista no final do livro e o artigo que explica um pouco a origem dos mitos com base num mito de origem africana.

Conhecer sua teoria unificadora da natureza humana é realmente deslumbrante. Sua teoria é revolucionária, ao mesmo que é conservadora, recusa definições ao mesmo tempo em que procura definições bem claras, pode parecer contraditória, mas é por revelar a dualidade de nossas relações humanas que acaba conseguindo se aproximar de polos tão opostos. Tudo isso acaba fazendo parte de nossos relacionamentos.

Acabei de terminar a leitura do livro e ainda precisarei de muito tempo para poder absorver tudo que aprendi, mas por enquanto, deixo-vos com essa dica para que conheçam a obra desse que foi o pensador mais original do século XX.

5 pontos

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Dica literária: "The Menace of the Herd or Procrustes at Large" de Kuehnelt-Leddihn (1943)

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A dica de hoje é de um livro perigoso, mas também um livro muito bom. Não recomendo a todos, mas preciso falar sobre ele, porque afinal, seu conteúdo é de extrema importância para os dias atuais, embora detalhes possam corromper ele quase por inteiro, mas irei explicar meu ponto mais para frente.

"The Menace of the Herd" é um livro escrito por Eric Ritter von Kuehnelt-Leddihn em 1943, logo após a ida desse filósofo austríaco para os EUA, fugindo da invasão ideológica nazista em sua terra natal. O livro é uma obra de filosofia política que trata principalmente da defesa da tese de que o grande mal do século 20 é a "mentalidade de rebanho" ( Herdist sentiment), que ganhou mais fôlego a partir da revolução francesa, mas já tinha suas raízes plantadas no final da Idade Média com os avanços mercantis, principalmente na Itália, o que convencionou-se chamar de início do capitalismo.

A tese de Keuhnelt-Leddihn é a de que essa mentalidade contrasta com o que ele chama de espírito romântico e essa mesma mentalidade é o que afasta o homem de sua natureza, gerando mais conflitos em prol de uma suposta igualdade entre os pares. É interessante falar que embora a mentalidade rebanhista seja mais fortemente associada com movimentos de esquerda por o defenderem abertamente (leia-se "coletivo"), essa mentalidade também esta presente no seu oposto, capitalismo, individualismo, liberalismo, etc... Para a teoria de Keuhnelt-Leddihn são todos farinha do mesmo saco e eu tentarei resumir o por quê.

Com os avanços mercantis no final da idade média, começaram a surgir aglomerações cada vez maiores de pessoas, nos guetos, feudos, etc. Não é novidade que essa aglomeração gerou problemas, de desigualdade econômica, social, pestes e outros tantos conflitos. As promessas de riquezas nas cidades eram grandes, mas o custo moral era maior. No entanto, essa mentalidade rebanhista, que inclui sentimentos cosmopolitas, de se sentir parte de um todo material maior, que busca conforto na vida terrena sempre foi mais atraente, por isso as pessoas continuam caindo em seus encantos. Em fases posteriores, com um estratificação cada vez maior das sociedades os conflitos aumentaram e se tornaram mais violentos, culminando na revolução francesa e no surgimento da esquerda, que não só é uma representação extrema do sentimento rebanhista, como o aceita e o expande a níveis assustadores. O coletivo se sobrepõe ao indivíduo, com isso há uma perda total de identidade individual, nacional e toda forma de agressão passa a ser justificada, em ultima instância gerando formas totalitárias de governo como o nazismo e o comunismo stalinista, duas formas que ainda não haviam sido derrotadas quando esse livro foi escrito. O problema é que as formas de pensamento que surgem como uma reação a isso não são menos rebanhistas, o liberalismo econômico deu asas para formas de pensamento egoístas, que em ultima instância apenas reforçam o isolamento social e todas as suas formas de desigualdade, que destroem o homem a um nível moral, ao contrário do que pensa uma Ayn Rand da vida.

Nessa forma de pensamento, Kuehnelt-Leddihn antecede a teoria de que as ideologias se organizam numa espécie de ferradura, onde os extremos não são tão diferentes assim. Para o filósofo austríaco a resposta encontra-se num outro pólo, não é um meio termo entre os dois e sim algo localizado em outra dimensão de pensamento: o sentimento romântico. Esse sentimento é caracterizado pelo que ele cunha de personalismo, uma forma de identificação do indivíduo consigo mesmo, pela sua habilidade de relacionar-se com o mundo exterior, absorvendo para si o que mais lhe importa. Ao contrário do individualismo, para o personalismo, o homem não é "original", mas uma amálgama de tudo o que ele absorve ao longo da vida. A teoria girardiana do "Interdividual" se aproxima muito dessa noção de personalismo, assim como muitos aspectos do pensamento modernista de T.S. Eliot, por exemplo. Outro aspecto é a rejeição às grandes cidades, a paixão pelo campo, o louvor ao trabalho, a natureza compassiva que leva a doação, sem coerção. A rejeição ao capitalismo é presente, mas em prol de uma economia de comunhão e não qualquer forma de socialismo, que só trabalha através da violência. A igualdade, a seguridade, o nacionalismo é o internacionalismo, a homogeneidade das massas, a ordem horizontal e o sentimento de finitude dão espaço para a liberdade, a diversidade, o livre arbítrio, o supranacionalismo, a aptidão técnica, ao federalismo, a ordem vertical, a hierarquia, a responsabilidade pessoal e ao sentimento de imortalidade.

Não é difícil achar em sua tese uma defesa de valores cristãos, e isso não é a toa, ele era um católico fervoroso e é aí que se esconde o perigo. Kuehnelt-Leddihn se dizia de extrema direita, em um pedaço de seu livro faz uma análise psicanalítica terrível da homossexualidade, utilizando o termo "vício" para falar do assunto e em partes soa "transcendental" demais, mas é preciso compreender. Como austríaco, é óbvia sua ligação com formas de pensamentos mais reacionárias, vale lembrar que a Áustria é, talvez, o país mais conservador da Europa. Esse livro foi escrito antes do final da segundo Guerra Mundial e ao contrário do que muita gente (séria, inclusive!) pensa, não se pode analisar o pensamento de alguém fora de sua época. Eu adoraria falar que esse livro é perfeito, mas não é, no entanto, seus ensinamentos transcendem os poucos detalhes que estão atrelados a época de sua escrita.

Além disso, o livro ainda apresenta uma serie de contextualizados, reforçando a tese principal. Verdadeiras aulas de História estão presentes em suas páginas e tudo muito bem referenciado, para mostrar que ele não tira tudo que fala do rabo dele.

Finalizando, "The Menace of the Herd" é um livro extremamente importante. Já o era em sua época, mas sua importância apenas aumentou com o passar dos anos e apesar dos aspectos pertinentes a época em que foi escrito, seu valor continua incomensurável para entender os movimentos sociais, políticos e econômicos que assolam o nosso planeta desde tempos quase imemoráveis.

4 pontos e meio

terça-feira, 14 de agosto de 2018

O que eu perdi: "Ótta" de Sólstafir (2014)

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É difícil eu falar de álbuns antigos aqui n'O Sommelier de Tudo, mas é para isso que serve o "O que eu perdi" e esse álbum merece ressuscitar essa seção do blog.

"Ótta" é o quinto álbum dessa banda de heavy metal islandesa, o que já é o suficiente para carimbá-lo como black metal, embora eu sempre me atenha a Black metal como aquele movimento ridículo de bandas do norte da Europa nos anos 90 e tudo que veio de bom associado a esse gênero é post-metal pra mim. Aliás, tudo que é de bom vindo do black metal acaba sendo associado ao post-metal, pois eles pegam elementos estéticos do black metal e o fundem com elementos de outros gêneros e tradições nacionais, criando uma mescla digna do prefixo "post". Não é diferente com Sólstafir.

Esse álbum conceitual, do jeito que eu gosto, se baseia num antigo sistema de contagem do tempo tradicional da Islândia chamado "Eykt", que dividia o dia em 8 instâncias, cada uma com o equivalente a 3 horas. E é a partir daí que o álbum é construído e como você já pode imaginar, as primeiras musicas são as mais obscuras, com os elementos musicaia mais opressores, como as guitarras distorcidas e a bateria imponente, marcando o passo lento, criando uma atmosfera pesada. As musicas do meio são as mais rápidas e as mais agitadas, uma delas em específico ("dagmal") tem até possibilidade de ser tocada em rádios, embora eu duvido que tenha sido tocada. Essas canções são as poucas que acompanham o brilho jovem do sol, sempre associado a infância, como deixa claro uma de suas letras, para então voltar ao misticismo e transcedentalismo da noite velha, que caminha para o seu fim, culminando na ressureição e essas canções são as que mais fazem o Solstafir soar como uma banda de rock progressivo, sempre expansivas e exigentes, buscando algo além do lugar a que pertencem.

Mas não tente aplicar parâmetros ocidentais ao que se escuta nesse álbum. Esse é também o álbum mais "islandês" da banda, extremamente tradicional de sua terra, que é isolada e de difícil compreensão para nós, latinos, infundados na tradição cristã. Como a primeira música já diz "o ódio negro em seus corações é o nosso Senhor". Eles são islandeses, o sol é para sempre uma criança e a noite é ao mesmo sua mãe, seu pai, sua vida e sua morte, é tudo é para nós isso beira a incompreensão. É necessário muita dedicação para se compreender a cultura islandesa e uma dedicação que, no meu caso, se volta para outras tradições europeias e não posso fazer uma analise muito extensa de todo o simbolismo que esse álbum carrega em suas letras, mas posso dizer que beira o épico, é tradicional e puramente islandês e essa mesma incompreensão é o que faz o time nacional deles ganhar da Argentina na Copa do Mundo é o que faz qualquer intenção ocidental de os imitar parecer a mais pura forma de ignorância para qualquer um que entende o mínimo da distancia cultural entre nós e eles.

De toda forma, o álbum é uma aventura incrível aos ouvidos de qualquer um que gosta de rock. Atmosferas desoladas, com elementos tradicionais vende-se sob vocais poderosos. Um álbum digno de nota e único, eu diria.

4 pontos

domingo, 12 de agosto de 2018

Dica especial de dia dos pais 2018

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Esse ano me propus a ler uma obra poética a cada final de semana e tenho conseguido manter um nível legal nessa meta, pois quase todos os finais de semana acaba lendo um livro de poesia, alguns com mais sucesso, outros com menos.

No início do ano me deparei com uma editora fantástica chamada Everyman's Library e essa editora tem uma coleção de livros de bolso de poesia que me chamaram a atenção pela sua qualidade gráfica. No meio dessa coleção encontrei coletâneas de poemas e um deles chamou tanto minha atenção que acabou virando dica especial.

Seu nome é "Fatherhood: Poems about Fathers", organizado por Carmela Ciuraru é um livro com uma proposta clara, reunir poemas que se relacionam com a paternidade, esse substantivo tão difícil de se definir. Seu conteúdo é subdividido em outros temas, poemas de pai para filho, de pai para filha, de filhos para pais, de rivalidade entre pais e filhos e até para avôs, pois eles também são pais e não seriam avôs se não fossem.

A seleção conta com poemas de diversos períodos diferentes, clássicos, românticos, simbolistas e modernos, além de incluir poemas de uma ampla gama de lugares, Europa, África, América e Ásia. Claro que ele acaba se centrando nos anglófonos, mas contém uma variedade interessante de línguas.

Já vi críticas negativas dizendo que é uma boa ideia de má execução, mas discordo disso. Acredito que para um iniciado em poesia, que já entenda bem de temas, períodos e lugares criadores de poesia, esse livro não seja uma adição muito interessante, até porque a grande maioria de seus poemas são velhos conhecidos do público literário, no entanto, para alguém que está se aventurando por essa terra misteriosa, é uma ótima adição, que serve não só como inspiração temática, mas para auxiliar na descoberta de novos poetas.

Dessa forma, esse livro é uma ótima dica para todos aqueles que amam seus pais e valorizam muito seu espaço em suas vidas.

4 pontos e meio

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Dica literária: "Poesia" de T.S. Eliot (2015)

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T.S. Eliot é um poeta difícil, um poeta para poetas, assim como grande parte da produção literária modernista em língua inglesa do século XX. Cheio de referencias obscuras e juntando fragmentos para criar algo que seja seu, uma atitude tipicamente modernista. E é  por isso que essa edição da coleção Cultura é tão importante.

Essa edição baseia-se no ultimo livro de coleção de poesias do poeta, abrangendo toda a sua produção literária, reunindo desde os mais famosos "The Love Song of J. Alfred Pruffrock" até "The Wasteland" e indo para os menos falados "Coros de A Rocha" e "Quatro Quartetos" (de fato, a culminância final de toda a sua obra poética e, porque não?, do Ocidente), todos traduzidos pelo excelente Ivan Junqueira, que fez um maravilhoso trabalho aqui, mas comentarei sobre isso mais pra frente, numa edição linda, capa dura, a um preço muito bacana.

Os poemas de Eliot são muito importantes. Ele, aliás, foi um cara muito importante, talvez mais até pelos seus escritos teóricos, que mostram posições claras e polêmicas, porem muito sensatas de temas diversos que vão de literatura a política. No entanto, é ao se ler seus poemas que se pode ter uma visão clara de tudo o que ele queria dizer. Eliot não escreveu a toa, ele realmente tinha um plano em mente, que se consolida dentro de sua poesia. Ao conseguirmos observá-la em sua completude, claramente percebemos sua ordem.

Isso não exclui o fato de ser uma poesia de difícil compreensão, como salientam os comentaristas de sua obra e é aí que entra a importância de um volume como esse. Recheado de notas, referências e complementos às próprias referencias que Eliot havia deixado para seus poemas, esse livro consegue esclarecer diversos pontos para o leitor, não tratando-o como se ele fosse um burro, mas um amigo ao qual se conversa sobre poesia numa mesa de bar. O livro é inteligente, mas não te menospreza, muito pelo contrario, te trata com respeito.

Dessa forma, "Poesia" é um livro muito legal, inteligente e de grande auxilio não só para os iniciantes em poesia, mas também para os mais estudiosos.

5 pontos

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Dica cinematográfica: "L'Anglaise et le Duc" (2001)

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Mais uma dica de um filme deste diretor que só me impressiona, Éric Rohmer e dessa vez mais um romance histórico.

O filme se chama “A inglesa e o duque”, filme de 2001 que conta a história de Grace Elliot, uma aristocrata inglesa que vive na França do século 18, durante a Revolução Francesa. Grace não aprova os meios revolucionários, mas o duque d’Orleans, seu grande amigo, não só aprova, como deseja que os revolucionários avancem. Entre revoltas e julgamentos, Grace viaja de Paris para sua casa de campo fora da cidade, esforçando-se para conseguir fazer sentido da crise que seu país está passando.

A filmografia de Rohmer é marcada por 3 filmes históricos, “La Marquise d’O…” de 1976, “Perceval, le galois” de 1978 e, finalmente, em 2001, ele dirige “L’anglaise et le duc”. Ainda não assisti seu primeiro filme histórico, mas este filme contém uma característica muito marcante em acordo com “Perceval, le galois”. Ambos os filmes se esforçam para se distanciar do espectador através de sua montagem. Em “Perceval” tínhamos um cenário notoriamente falso, que fazia lembrar uma montagem de teatro. Aqui, Rohmer abre mão da sua característica utilização de cenários naturais, com pouca ou nenhuma modificação para as telonas e usa muitos efeitos digitais para criar os cenários. O resultado fica um pouco estranho, porque foi feito em 2001, mas foi feito de maneira propositalmente para ser falso e hoje ganha um ar de artificialidade estética meio nostálgica, não um envelhecimento tecnológico imprevisível.

Mas não é apenas a montagem desse filme que é impressionante. O mais impressionante é sua história, um retrato fiel e voraz dos horrores da Revolução Francesa, o movimento mais mal compreendido da história e que plantou sementes destrutivas que estão brotando até os dias atuais. Grace se opõe aos revolucionários, mas por não fazer parte dos círculos principais da cidade e ser estrangeira, acaba se distanciando dos horrores da revolução, mas nem por isso seu olhar deixa de presenciar a arrogância ditatorial dos jacobinos, suas injustiças, preconceitos e abusos. Ela vê suas amigas serem decapitadas, sua casa ser invadida e sofre diversos abusos psicológicos, o maior mal cometido pelos revolucionários e que, por esse motivo, os transformou em figuras lendárias, com um caráter de benevolência democrática que não poderia estar mais longe da verdade. Seus abusos psicológicos nunca poderiam ser medidos e por isso, até hoje, aprendemos nas escolas que a Revolução Francesa foi um período de grande progresso.

Aqui no filme conhecemos a face da aristocracia que não merecia passar pelo que a Revolução Francesa ocasionou e a história nos mostra que exemplos como os dela não eram a minoria. Grace ajuda os pobres e os oprimidos, dá aula para crianças escolhidas e trata seus servos com respeito. Isso não era uma minoria aritocrática, documentos históricos provam que mulheres como ela sempre existiram aos montes e eram a maioria. Eram minoria em Paris e em outros grandes centros urbanos da Europa, mas ao longo de todo o continente, a situação era diferente do que somos condicionados a acreditar e era muito parecida com o que Rohmer nos apresenta nesse petardo cinematográfico.

O contraste entre realidade e narrativa entra em choque com os diálogos entre Grace e o duque d’Orleans, revelando o porque do título; a inglesa entre em choque com o duque, a inglesa que nasceu no mesmo país de Edmund Burke, autor de “Reflexões sobre a Revolução na França”, mas uma inglesa que não abandona a França, assim como Tocqueville não abandonou. O paralelo é óbvio e provoca, de forma sutil (se não fosse sutil não seria um filme de Rohmer), mas evidente. Isso pode afastar algumas pessoas e, de fato, afasta, pois comprovei isso ao compartilhar esse filme com alguns colegas, mas ninguém deixa de admitir o seu valor artístico.

Os incríveis diálogos, os cenários bem elaborados e criativos são pontos muito positivos, sendo o único ponto realmente negativo nesse filme seu ritmo. O filme é longo e se torna cansativo, os diálogos sempre extensos e muito inteligentes não diminuem isso, a beleza de seus cenários não diminuem a densidade da obra, que exige muito de quem a assiste. De qualquer forma, o caminho é árduo, mas vale a pena.

Concluindo essa dica, só fica o recado: assista de mente aberta.

4 pontos e meio

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Dica higiênica: Papel Higiênico Neve

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A tão aguardada dica de papel higiênico finalmente chegou! Após meses de muito trabalho, pesquisa e comparação, finalmente pude chegar a conclusões interessantes que me possibilitam escrever uma dica higiênica.

O papel higiênico Neve já é figura carimbada nos mercados de todo o país. Um produto de tradição, brasileiro e que até já figurou nos intervalos das redes de televisão brasileiras. É um produto a ser respeitado, mas apenas isso não basta, pois a delicadeza de um papel higiênico é um fator de extrema importância.

De acordo com a embalagem, o papel higiênico Neve contém uma exclusiva tecnologia dermacare e ao se utilizar suas folhas duplas não resta dúvidas de que há algo diferente, ainda mais quando o comparamos com outros produtos disponíveis no mercado. Suas folhas proporcionam suavidade, delicadeza e, ao mesmo tempo, firmeza. As folhas duplas respeitam a lei da natureza de que um é pouco, dois é bom e três é demais. Os outros produtos que abusam do numero de folhas não entendem que sua excesso cidade acaba atrapalhando, mais do que ajudando. Absorção de primeira qualidade e uma amplitude que garante às suas mãos uma estabilidade de uso que quase não encontra desafios à altura nas prateleiras dos mercados.

Quase não encontra, porque existem sim produtos melhores que o Neve. Essa é uma dica isenta de patrocínio e, portanto, honesta. Porém, essa também é uma dica que procura analisar todos os parâmetros e um deles é o custo-benefício. Nessa questão, o Neve supera seus concorrentes, pois oferece um ótimo produto a um preço justo e que acaba não pesando no bolso, nem mesmo dos maiores cagões, como eu.

Dessa forma, o Neve se destaca e consegue um lugar de prestígio dentro desse tão querido blog.

4 pontos e meio