terça-feira, 14 de agosto de 2018

O que eu perdi: "Ótta" de Sólstafir (2014)

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É difícil eu falar de álbuns antigos aqui n'O Sommelier de Tudo, mas é para isso que serve o "O que eu perdi" e esse álbum merece ressuscitar essa seção do blog.

"Ótta" é o quinto álbum dessa banda de heavy metal islandesa, o que já é o suficiente para carimbá-lo como black metal, embora eu sempre me atenha a Black metal como aquele movimento ridículo de bandas do norte da Europa nos anos 90 e tudo que veio de bom associado a esse gênero é post-metal pra mim. Aliás, tudo que é de bom vindo do black metal acaba sendo associado ao post-metal, pois eles pegam elementos estéticos do black metal e o fundem com elementos de outros gêneros e tradições nacionais, criando uma mescla digna do prefixo "post". Não é diferente com Sólstafir.

Esse álbum conceitual, do jeito que eu gosto, se baseia num antigo sistema de contagem do tempo tradicional da Islândia chamado "Eykt", que dividia o dia em 8 instâncias, cada uma com o equivalente a 3 horas. E é a partir daí que o álbum é construído e como você já pode imaginar, as primeiras musicas são as mais obscuras, com os elementos musicaia mais opressores, como as guitarras distorcidas e a bateria imponente, marcando o passo lento, criando uma atmosfera pesada. As musicas do meio são as mais rápidas e as mais agitadas, uma delas em específico ("dagmal") tem até possibilidade de ser tocada em rádios, embora eu duvido que tenha sido tocada. Essas canções são as poucas que acompanham o brilho jovem do sol, sempre associado a infância, como deixa claro uma de suas letras, para então voltar ao misticismo e transcedentalismo da noite velha, que caminha para o seu fim, culminando na ressureição e essas canções são as que mais fazem o Solstafir soar como uma banda de rock progressivo, sempre expansivas e exigentes, buscando algo além do lugar a que pertencem.

Mas não tente aplicar parâmetros ocidentais ao que se escuta nesse álbum. Esse é também o álbum mais "islandês" da banda, extremamente tradicional de sua terra, que é isolada e de difícil compreensão para nós, latinos, infundados na tradição cristã. Como a primeira música já diz "o ódio negro em seus corações é o nosso Senhor". Eles são islandeses, o sol é para sempre uma criança e a noite é ao mesmo sua mãe, seu pai, sua vida e sua morte, é tudo é para nós isso beira a incompreensão. É necessário muita dedicação para se compreender a cultura islandesa e uma dedicação que, no meu caso, se volta para outras tradições europeias e não posso fazer uma analise muito extensa de todo o simbolismo que esse álbum carrega em suas letras, mas posso dizer que beira o épico, é tradicional e puramente islandês e essa mesma incompreensão é o que faz o time nacional deles ganhar da Argentina na Copa do Mundo é o que faz qualquer intenção ocidental de os imitar parecer a mais pura forma de ignorância para qualquer um que entende o mínimo da distancia cultural entre nós e eles.

De toda forma, o álbum é uma aventura incrível aos ouvidos de qualquer um que gosta de rock. Atmosferas desoladas, com elementos tradicionais vende-se sob vocais poderosos. Um álbum digno de nota e único, eu diria.

4 pontos