quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Dica cinematográfica: “O Despertar da Besta” (1969)

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Não sou grande fã de José Mojica Marins, vulgo Zé do Caixão, mas acabei de assistir esse filme e ele merece um dica.

Nesse filme feito como uma espécie de mockumentary, acompanhamos um psiquiatra num programa de televisão que senta à mesa com quatro autoridades no assunto que ele vai abordar: perversões sexuais e o uso de drogas. Um desses “especialistas” é o próprio José Mujica Marins. Sérgio, o psiquiatra realizou experimentos com LSD com quatro jovens para comprovar que perversões sexuais são frutos do uso de drogas. Enquanto narra as experiências que coletou, somos apresentados a essas experiências em primeira mão, ou como uma reconstituição. No entanto, tudo muda quando Sérgio droga suas cobaias e pede para que elas olhem para um cartaz de um do filme “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”.

O filme apresenta todo o niilismo exacerbado e a filosofia dionisíaca doente de Zé do Caixão, mas ainda assim vale a pena ser assistido. Quando as cobaias de Sérgio começam a delirar no final do filme, ele passa de preto de branca e vemos imagens surreais que só poderiam ter sido feitas após “Jigoku”, homenageado nesse filme e o fator que mais me levou a escrever essa dica rápida aqui.

Além disso, a obra está recheada de metalinguagem, apresentando até mesmo o Glauber Rocha elogiando o Zé do Caixão no meio da obra, servindo como um exemplo incrível de narrativa pós-moderna dentro do cinema brasileiro. Claro que não é uma obra pioneira nisso, vindo anteriormente a Jigoku e a nouvelle vague, por exemplo, mas ainda assim é um exemplo incontestavelmente bem-feito.

Apesar da qualidade meio fundo de quintal, que hoje em dia carrega mais uma aura rústica do que ultrapassada, o filme consegue ser bem produzido, principalmente nas partes coloridas. Sonoramente peca, mas isso são apenas detalhes numa obra como essa, em que as imagens dizem muito mais.

4 pontos