quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Dica cinematográfica: "Não Vai Ter Golpe" (2019)

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Após aquele desastroso filme divulgado no Brasil pela Netflix, o MBL se mobilizou e lançaram, no melhor momento possível, a história de seu movimento e muito do que acabou se tornando a direita brasileira.

Antes, vale um adendo sobre o Democracia em Vertigem: não, eu não assisti ao filme. Sei que deveria, mas não assisti pelo simples motivo de que eu sei que ele está recheado de mentiras e nem preciso assistir a ele para saber disso. Nunca antes na história desse país se falou tanto de política, soa absurdo que no país do futebol as pessoas não saibam quem são os atacantes da seleção, mas saibam em quem votaram pra deputado nas últimas eleições e quem é o chefe do congresso, programas de fofoca dedicam o mesmo tempo que o Jornal Nacional pra falar de Brasília, assim como já disse Josias Teófilo, a democracia não está em vertigem, a democracia está em ascese e eu insisto nessa tecla, vivemos o momento mais democrático do nosso país.

Voltando ao Não Vai Ter Golpe!, o filme também é meio enganoso, pois ele não é propriamente a história do impeachment e de como isso levou à atual situação do país, portanto não acredito que seja um filme-resposta ao de Petra. Muito pelo contrário, o filme do MBL termina quase onde o filme dela começa, ou seja, no impeachment.

Pois o filme do MBL é um filme do MBL, ou melhor, da história do MBL e isso ele faz de maneira maravilhosamente bem. A começar contando a história dos irmãos Alexandre e Renan Santos, entre diversos problemas e contratempos, os meninos do MBL já tinham apanhado bastante quando resolveram se envolver com política, quase que de maneira acidental, fazendo a campanha publicitária de um político em 2014.

Isso já mostra as raízes memísticas do MBL e parece claro que hoje em dia falaríamos de política mais com memes do que com seriedade (e não há nada mais brasileiro do que isso, convenhamos). Acompanhamos a entrada de figuras carimbadas como Kim Kataguiri, e outras, no mínimo, curiosas, como Pedro Deyroth e até mesmo Gabriel Calamari.

Seguindo a sua formação, acompanhamos sua trajetória de protestos que reuniram o maior número de pessoas nas ruas desde o Diretas Já!, sempre contando com a ajuda de outros movimentos como o Vem Pra Rua; até culminar na trajetória pra Brasília, que eu só lembro disso muito vagamente e o acampamento na frente do Congresso Nacional, que eu lembro de acompanhar isso com certa incredulidade.

Na época eu nem me importava tanto com política e acompanhava bem de longe, mas lembro que achava aquilo um absurdo, enquanto meu pai dizia que era necessário. Acho que nenhum de nós dois sabíamos de fato o que estava acontecendo.

O filme é claro em mostrar a relação íntima que o MBL teve com os políticos já naquela época, justificando inclusive as atitudes desastrosas que seus membros andam cometendo atualmente.

Mas lá para o meio do filme aparece o Pondé, numa cena muito bem trabalhada esteticamente, onde mostra apenas a sua silhueta contra uma janela onde entra um brilho branco. A fumaça de cigarro ao seu redor dá a impressão de se tratar de um filósofo do calibre de Chesterton, Oakshott ou, no mínimo, um Scruton e ele diz uma palavra muito propícia para este filme: mito.

Não Vai Ter Golpe! é um filme com a clara intenção de criar um mito em torno do MBL e se sai muito bem nessa missão. Das origens humildes ao envolvimento acidental com a política até projetos falhos, como a marcha pra Brasília e atitudes que pouco chamaram a atenção dos brasileiros, como o acampamento na frente do Congresso Nacional. Tudo é retratado de maneira épica no filme, mas de uma maneira despojada, sem melodrama. É um épico moldado no e para o século 21.

A sensação ao final do filme é de rejuvenescimento. Eu senti aquele antigo amigo liberalzinho ressurgir dentro de mim e me fez tirar a camiseta empoeirada do Mamãe Falei do armário pra usar naquele mesmo dia. E eu a vesti com orgulho, mesmo que o meu lado racional soubesse das falhas cometidas.

Os ares épicos do filme não correspondem com a realidade dos fatos. O MBL só foi ganhar toda essa importância mesmo em 2016, quando foi o grande responsável pelos maiores protestos que esse Brasil já viu. Ele termina com o impeachment, como se fosse uma grande vitória, mas não foi. É sempre necessário lembrar que até hoje a Dilma tem seus privilégios políticos, até hoje ela anda de carro às custas dos brasileiros, com uma aposentadoria vitalícia vinda de impostos. Houve golpe sim!

E após isso o que foi do MBL?

Tirando alguns poucos exemplos locais como o surgimento do Arthur Mamãe Falei e o Gabriel Monteiro, o movimento acabou, ou pelo menos sua relevância. Fernando Holiday ainda se sustentou bem quando entrou oficialmente para a ALESP, mas o movimento em si cai cada vez mais em descrédito e nem é pelas críticas ousadas e necessárias ao Bolsonaro e sua dinastia, mas sim às próprias rupturas que criou, como as escabrosas defesas ao imposto, que é roubo e isso nem sequer é discutível.

Ainda assim o documentário é incrível, pois captura com emoção um momento marcante da história do Brasil, dando ares mitológicos a, talvez, o movimento de rua mais importante da história da Terra de Santa Cruz, ainda que isso seja hoje apenas peça de museu.

 

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Links de quarta #9

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O Raphael Hide lançou um vídeo que, apesar de eu ainda discordar de alguns pontos bases, me fez lembrar do motivo de eu ainda ser um libertário.

Uma breve e, confesso que nem tão satisfatória, explicação de como Hong Kong chegou até o ponto em que está.

Justin Truddeau, talvez o pior político do mundo vivo, foi pego fazendo blackface e imitações estereotipadas de jamaicanos, mas o que pode acontecer com ele? PJW manda a real.

Greta Thunberg está chamando a atenção de todo mundo, mas será que vale a pena prestar a atenção?

E um vídeo da Prager U pra acabar de vez com essa delinquente.

Ainda na ONU, aqui vai o discurso do nosso presidente.

Em mais um ato de utilidade pública, o Flow Podcast entrevistou o excelentíssimo sr. Paulo Kogos!

E claro, mais Praça é Nossa!

 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Lendo O Senhor dos Anéis pt.3

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Faz mais de um mês que terminei a leitura de As Duas Torres, mas devido a diversos problemas pessoais, fiquei adiando, empurrando essa postagem com a barriga, mas finalmente estou aqui, para fazer essa pequena resenha da segunda parte desse épico fantástico.

Compreendendo os livros 3 e 4 de toda a obra, As Duas Torres começa do ponto onde terminou A Sociedade do Anel: com o fim da sociedade. Os hobbits se perdem e Aragorn começa o livro descobrindo Boromir morto, após ouvir o último toque de sua trombeta. A partir daí, ele, Gimli e Legolas partem na aventura rumo ao leste, encontrando inimigos e fazendo novas amizades, culminando com o reencontro deles com Gandalf, magicamente revivido e agora o novo portador do manto branco e seu primeiro enfrentamento com Saruman.

No entanto, antes dessa culminação, acompanhamos ainda as desventuras de Merry e Pippin, que foram capturados ao final d'A Sociedade do Anel por um grupo de Orcs, o qual trabalha com um grupo de humanos, sob o comando de Saruman. Esse grupo acaba sendo atacado pelos Rohirrim, guerreiros de Rohan (uma espécie de cidade-estado da Terra Média), que terminam por encontrarem Gimli, Legolas e Aragorn. No entanto, Merry e Pippim aproveitam a ocasião para fugir e encontram os Ents, figuras mitológicas que lembram em tudo árvores.

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Os Ents são os grandes responsáveis por ajudar os guerreiros de Rohan, junto com o que sobrou da Sociedade do Anel, a derrotar Saruman, mas isso tem suas consequências, pois já prediz um enfrentamento ainda maior entre as forças do bem e do mal.

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O livro 4, bem diferentes do 3, foca completamente na trajetória que Frodo e Sam realizam após o final d'A Sociedade do Anel. Os dois conseguem capturar Golum e de forma sagaz, mas também inocente, fazem com que o monstrengo os guie até o Orodruin, o vulcão onde eles pretendem destruir O Anel. Entre tramoias obscuras, muitos questionamentos e até risadas, os hobbits conseguem chegar a Mordor, apenas para enfrentar uma aranha gigante e se perderem nas mãos de orcs.

Dessa vez, a leitura foi muito mais dinâmica e aqui Tolkien revela-se como mestre da narrativa, de fato. A forma como é guiada as diversas trajetórias de As Duas Torres é primorosa, sendo uma fonte de inspiração para grandes épicos até os dias atuais, afinal basta lembrar da divisão feita por Martin nos últimos livros d'As Crônicas de Gelo e Fogo.

Vemos também se delinear a linha que irá culminar na grande batalha final aqui, algo que é previsto logo nas primeiras páginas do primeiro livro, mas que não se mostra como um horizonte possível. A genialidade do trabalho de Tolkien é incrível aqui.

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No entanto, vale ressalvas. Ainda que mais dinâmica, a leitura é arrastada em diversos momentos, principalmente quando Gimli, Legolas e Aragorn ainda estão perdidos e nas cenas desoladoras de Mordor, onde Frodo e Sam se encontram. Sem contar que o retorno de Gandalf não deixa de ser um deus ex machina. Eu gostaria que houvesse uma explicação mais elaborada para isso.

De qualquer forma, a obra é muito boa, consegue amarrar os ganchos que são deixados no primeiro e abrem espaço para novas possibilidades.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Dica cinematográfica: "Parasite" (2019)

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Não, esse filme não adapta aquele anime muito louco de um tempo atrás... eu também me confundi, mas não me arrependi.

"Parasite" conta a história de uma família de malandros. Tudo começa com Ki-woo arranjando um trabalho como professor de inglês da filha mais velha de um magnata da tecnologia. Após isso, Ki-woo arranja, através de farsas, que sua irmã, seu pai e, por fim, sua mãe também arranjem trabalhos na casa. No entanto, a realidade começa a romper quando tudo parecia se assentar num final de semana chuvoso.

O mais novo filme do gênio Bong Joo-ho foge dos gêneros aos quais ele mais se apegou e explora aqui um drama existencial familiar. Ainda que os eventos para o final do filme ganhe tons fantásticos, o drama nunca deixa de participar em sua completude da narrativa, conseguindo manter os pés no chão, as cabeças nas nuvens e o corpo bem visto.

É um filme com um pano de fundo bem crítico à sociedade sul-coreana. Infinitamente superior a sua contraparte nortenha, mas que também carrega as suas mazelas, também infinitamente superior a qualquer mazela até mesmo brasileira, pode ter certeza. Ainda assim é uma crítica válida, que carrega um fiapo de esperança, talvez, em seu final...? Não sei... você pode olhar o copo meio cheio ou meio vazio, eu sempre opto pelo meio cheio.

O filme tem mais de 2 horas de duração, mas passa rápido que é uma beleza. A forma como a narrativa é guiada através das peripécias, os acontecimentos aleatórios e alguns até fantásticos carrega leveza e muita variedade a um filme, que tem, basicamente, 2 cenários e 8 personagens. É um feito louvável o que Bong Joo-ho fez aqui.

Vale muito a pena ser visto.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Links sortidos de quarta #8

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O Spotniks é um dos melhores canais de informação séria no Youtube brasileiro e isso não é segredo para ninguém (decente) e eles elaboraram uma série sobre mitos e verdades acerca dos EUA. Confira os mitos que a esquerda precisa parar de acreditar sobre os EUA.

Torço muito pelos Hong Kongers, mas essa carta feita por um ocidental que fez sua vida em Hong Kong lança uma luz negra sobre o futuro da ilha.

Às vezes eu penso que vivemos no fim dos tempos e esse vídeo do PJW sobre a degeneração geral que vivemos só faz essa convicção se solidificar na minha mente.

E de novo o Spotniks, dessa vez apresentando uma conversa bem legal entre o editor da Superinteressante e um terraplanista. É hilário! O diretor da Superinteressante chega a suar! XD

O excelente Paulo Cruz, no canal do Brasil 200 explica um pouco sobre o conceito de meritocracia.

Mais um post do jornal do Novo sobre os países que adotaram o liberalismo e se deram muito bem, dessa vez falando da intrépida Hong Kong.

A ditadura do Politicamente Correto tentou mais uma vez derrubar o Silvio Santos, mas dessa vez, o véio deu a volta por cima com a ajuda da bela Lívia Andrade!

Os filmes que representam as megalópoles do mundo.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Dica musical: “Lapso” de Fernando Motta & eliminadorzinho

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Cara... como essa mistura deu certo!

Reza a lenda que Fernando Motta, do alta das Minas Gerais, ficou cansado de fazer música triste. Então ele olhou para o Belo Horizonte e sentiu-se inspirado enquanto ouvia guitarras rasgadas sob o ritmo de baterias retumbantes e baixos marcantes. Esperançoso, ele desceu das Minas carregando apenas um rubi e duas esmeraldas.

A sanha por novos sons foi tamanha que ele se esqueceu de pegar seu carregador de celular e qual o melhor lugar para se achar um carregador pra celular do que a Santa Efígenia, no centrão da Terra da Garoa? Pois pra lá ele foi e lá ele se perdeu, encontrando abrigo das torrenciais chuvas de verão num bar podre com cheiro de cigarro e rock n' roll.

Foi lá, em meio a grossas fumaças, gente suada e caixas de som estourando que ele encontrou a Eliminadorzinho, uma banda formada por três caras que precisava urgentemente achar um jeito de pagar o aluguel. O valor? Um rubi e duas esmeraldas que foram prontamente entregues por Fernando Motta a eles. Como forma de agradecimento, eles emprestaram toda a sua selvageria musical e juntos eles criaram essa obra linda que se chama "Lapsos".

Muita barulheira, sons ensurdecedores que vão do shoegaze ao post-punk em apenas 4 canções resumem esse EP. É pouca coisa? É, mas é o que tem pra hoje e a gente tem que aproveitar, porque não é sempre que algo tão bom é produzido na nossa língua-mãe.

https://www.youtube.com/watch?v=lAe6sIZbDHk

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Dica cinematográfica: "Le Signe du Lion" (1962)

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O primeiro filme de Eric Rohmer foi um fracasso... mas será que era pra tanto?

"Le Signe du Lion" conta a história de Pierre, um músico parisiense que recebe uma herança da avó logo na época em que seu signo entrou em leão e decide celebrar com seus amigos boêmios. No entanto, no dia seguinte, Pierre descobre que fora deserdado da fortuna, a qual fora fora toda para o seu primo, que o considera um idiota, começando assim uma profunda onda de azar.

O filme trabalha através do simbolismo astral a questão dos impropérios da vida. Começando com uma tremenda notícia para Pierre, que sai para celebrar com seus amigos, sem o menor reforço, mais um período de sorte em sua vida. Visto que sempre que seu signo entrava na casa de leão, próximo ao seu aniversário, ele recebia sorte do universo.

Ao contrário de outros anos, Pierre entra num profundo episódio de azar e nós acompanhamos ele pela cidade de Paris, enquanto perde emprego, casa, amigos, tudo. No entanto, ao final, assim como no começo improvável, a sorte de Pierre muda completamente e temos a sensação de que signos, de fato, não querem dizer nada.

A obra é singela, como muitas das outras obras de Rohmer, mas não carregam o apurado senso artístico pelo qual ele ficou conhecido em suas obras posteriores. Seu simbolismo é raso e sua extensão longa, mas vale a pena ver por se tratar de Rohmer. Eu, como fã do cara, me senti na obrigação.

 

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Links sortidos de quarta #7

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Mais uma semana, mais links sortidos de quarta.

Como uma defesa do Cristianismo, no século 18, revoluciona a ciência até hoje?

E é sempre bom lembrar que é a falta do resultado dessa defesa do Cristianismo que está por trás da crise de replicação de artigos científicos... e sua falta de credibilidade com o grande público atualmente.

Excelente artigo de Jesús Huerta de Soto sobre a rivalidade entre o liberalismo e o libertarianismo. Um clássico que eu ainda não tinha lido, mas antes tarde do que nunca. Leitura incrível!

O que o lista de top 50 projetos mais bem pagos do Paypal tem a dizer sobre a atual cultura americana? Spoiler: nada bom e pior! Isso pode ser endêmico.

Privilégio branco é uma mentira!

Do melhor site da web: como ler livros grandes! Ótimo post, com dicas muito válidas para os leitores que querem se aventurar no mundo dos tijolões de papel.

Eu ainda não assisti, mas parece que o pessoal do politicamente correto está incomodado com Era uma Vez em Hollywood. Obviamente que sem motivo.

O mito dos países nórdicos, com o excelentíssimo Paulo Kogos!

E porque o Chile fica cada vez mais rico que o Brasil?

N'A Praça é Nossa, o Sangue teve sua melhor participação do ano!

 

 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Dica televisiva: "Atti degli Apostoli" (1969)

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Mais uma obra cristã do grande Rossellini pra iluminar as páginas desse blog.

Em "Atti degli Apostoli", Rossellini adapta o quinto livro do Novo Testamento através do seu característico estilo de adaptação histórica para as telinhas. Acompanhamos os seguidores de Jesus após a sua ida aos Céus, enfrentando o jugo do império romano, as mazelas impostas por uma sociedade resiliente à Palavra de Deus e, por mim, seus casos de sucesso, como o ministério de Fillipe (cena aliás, belíssima em sua composição).

Consistindo em 5 episódios, que exploram acontecimentos relatados no livro bíblico de maneira conectada, sem grandes espaços entre um e outro, a série surpreende. Realizada para a TV italiana (Rai) nos anos 60, a obra conta com produção francesa, espanhola e suíça, além de cenas gravadas em locação na Tunísia. Seu grande número de atores e atrizes revela ainda a dedicada atenção que essa obra recebeu. Aqui, vemos um primor de Rossellini, com excelentes atuações e muito cuidado no trato do tema histórico e religioso.

Infelizmente a obra hoje já é considerada rara e de difícil acesso, mas é possível encontrá-la perdida e disponível por aí em cantos diversos da web cinéfila. Vale muito a pena correr atrás.

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Dica literária: "Ascent" de Ludwig Hohl (1975)

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A dica de hoje vem direto da Suíça, o grandioso país cuja política deveria servir como exemplo para o mundo todo, mas infelizmente não é.

"Ascent" é a história de dois alpinistas, Ull, um rapaz determinado e focado apenas em conquistar o topo da montanha e Johann, hesitante, querendo apenas curtir a subida e que, após diversos recuos, desiste de vez da subida. Resta a Ull terminar a subida e conseguir a glória sozinho, apesar da quase impossibilidade do fato.

Tratando-se de uma novela (não chega a 100 páginas), esse livrinho surpreende, conseguindo carregar muito em suas poucas página. Ludwig Hohl não é muito conhecido (acredito que inclusive não tem livros publicados em português), mas sabe escrever como poucos. Suas descrições de montanhas, céus, estrelas e qualquer outro objeto natural é magnífico, inventivo e detalhado, mas sem ser maçante.

E suas descrições de situações são carregadas de sentimentos, ora com uma urgência latante, ora com um distanciamento que cria uma atmosfera passível de meditação. Em muitos momentos, você se pegará pensando "tá, ele quer dizer algo mais com isso aqui". Se diz ou não, fica a cargo do leitor, mas o trabalho de Hohl foi feito, deixar a pulga atrás da orelha.

E não é esse o trabalho de todo escritor?

Não se deixe enganar pela brevidade do livro, isso nas mãos de Hohl vira um trunfo. Ele é um fiel seguidor da filosofia do blog: "pra bom entendedor, meia palavra basta"!

Apesar de não estar disponível em português e ser difícil de achar a edição em inglês do livro, vale a pena a procura e a espera. Como dica de compra, pode comprar pela Amazon sem medo. Demora pra chegar, porque eles aparentemente não reservam estoques desse livro, mas chega.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Links sortidos de quarta #6

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A Indonésia vai ganhar uma nova capital?

É hora de falarmos de Houllebecq nesse blog, porque ele é um dos escritores mais importantes da atualidade, apesar de ruim.

Do melhor site da web vem um post com os 4 P's para se ter um bom trabalho.

O Café Brasil fez uma séries de cafézinhos (podcasts curtíssimos) sobre os agrotóxicos. Como sempre, o Luciano Pires pesquisa e encontra respostas que fogem ao senso comum. Eis os programas I, II, III, IV e, por fim, o V.

Conheça Catalina Lauf, a AOC do bem!

Manter uma boa conversa não depende só de um, mas de dois. Além de dar o primeiro passo, para conhecer melhor o outro, devemos ter dar o segundo passo e nos deixar ser conhecidos pelos outros.

Confrontos com a polícia, bandeiras americanas, padres, anti-comunistas e mãos dadas por quilômetros em Hong Kong. Os protestos continuam e me fazem deixar uma lágrima de orgulho escorrer pelo meu olho.

Emílio Surita tem se mostrado um cientista política melhor do que qualquer formado em ciências sociais do Brasil.

Um restaurante no Japão vai fazer Ramen de Piranha!!! Quem diria que esse peixe assassino, que eu tanto pesquei na infância seria considerado uma iguaria... Tem doido pra tudo no mundo.

Uzumaki vai ser adaptado!!!

E n'A Praça é Nossa, o Saideira não ganhou um vídeo próprio, mas deveria, porque sua participação foi excelente!

 

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Dica webística: Truediltom

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Faz um tempo que penso em começar uma nova categoria de dicas aqui no blog, dessa vez falando de coisas da web que eu gosto/acompanho/faço, enfim... coisas da web e 2 tristes acontecimentos recentes me fizeram querer indicar essa personalidade da web aqui no blog.

O primeiro acontecimento recente foi o final do melhor canal de ASMR que eu já tive o prazer de acompanhar na vida; a ChocolatASMR, uma italiana belíssima que fazia os melhores vídeos de ASMR que já vi. Fazia uns 2 anos que ela não postava vídeos novos, pensei em fazer um post de apreciação e, há umas semanas, descubro que seu canal foi apagado e eu nem sequer sabia seu nome real pra poder procurar mais informações dela na web.

O segundo acontecimento triste recente foi a extinção do canal no Youtube do cara que irei indicar aqui; o Truediltom!

Truediltom surgiu há alguns anos no Youtube, quando ainda era um singelo adolescente, fã de teorias libertárias e que ganhou popularidade no cantinho sujo dos ancaps por fazer uma série de vídeos sobre o marxismo. Então o menino entrou na faculdade de filosofia, conheceu um professor que se declarava de direita e após isso, o Truediltom começou a fazer vídeos explorando as teorias econômicas de Mises, a teoria política de Nozick e outros conceitos referentes ao libertarianismo.

Mas não ache que sua exploração desses temas foi meramente para servir a uma ideologia, com ares panfletários e apologéticos. Muito pelo contrário... como estudante de filosofia, Truediltom questionava seriamente os conceitos que abordava em seus vídeos e, aos poucos, gradativamente, ele foi deixando de ser um libertário.

Eu, que acompanhei o seu canal desde 2017, achei muito interessante como uma pessoa que se propõe a analisar e compreender, de maneira fria, as diversas ramificações do conhecimento humano começa a mudar de opinião, flutuando entre as esferas da ideologia, livre de qualquer proselitismo.

No entanto, não crie falsas expectativas, o Truediltom nunca deixou de ser um direitista. Sua suave mudança foi de libertário para matizes mais conservadores, adotando uma abordagem tradicionalista, afundando-se na antropologia generativa e enfim, desembocando no neoabsolutismo.

Tudo isso através de vídeos que exploravam o lado negativo da nossa cultura degenerada (ele criou vídeos falando do lado ruim da "hook up culture", Tinder e ponografia), historiadores como Spengler e até mesmo os pós-modernos que apresentam uma faca de dois gumes. Truediltom nos mostra que a abordagem revolucionária dos franceses pós-modernos mascarava algumas verdades inconvenientes que não foram amplamente adotadas pelos progressistas, mas que poderia ser usada pelos direitistas.

Mas peraí, o canal dele não existe mais, então porque você o está indicando Sommelier de Tudo?

Por que o canal dele no Bitchute ainda existe e, embora não contenha todo o seu conteúdo (principalmente seus primeiros vídeos mais libertários), ele ainda apresenta um ótimo conteúdo abordando o pensamento de caras como Derrida, Nietzsche e Deleuze, termos como formalismo e neoabsolutismo e vídeos abordando temas gerais como análises políticas, notícias e até mesmo humor.

Esses vídeos são altamente informativos, até porque muito da fonte onde ele bebe não é acessível. Autores como Nozick, Jouvenel e Eric Gans não são amplamente divulgados, embora sejam conhecidos e seus livros estão, em sua maioria, esgotados na maioria das livrarias por aí.

Os últimos do Truediltom apresentavam uma mensagem de despedida a um amigo dele, que aparentemente faleceu esse ano (eu não sei os detalhes da história). Talvez isso tenha desmotivado o Truediltom a continuar com seus vídeos. Enfrentar censura, inimigos ideológicos e criancices nos comentários não é tarefa fácil e a vida fora da internet é muito melhor.

Eu espero que ele esteja bem, saudável e contente, quem sabe elaborando algo maior, quem sabe um livro teórico? Precisamos disso.