quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Dica cinematográfica: "Era uma vez em... Hollywood" (2019)

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Quando assisti esse filme pela primeira vez o considerei muito bom, mas fiquei comparando-o com outros filmes do Tarantino e tentando colocá-lo ao lado deles para ver o que eu achava de fato dele. A questão é que o filme foi crescendo em mim e eu descobri que ele não pode ser comparado com outras obras do aclamado diretor.

Era um vez em... Hollywood conta a história de Rick Dalton, ator de cinema frustrado com os pobres resultados obtidos em sua carreira e Cliff Booth, seu melhor amigo e dublê profissional. Acompanhamos eles enquanto eles entram e saem de trabalhos pouco rentáveis e gloriosos, ao mesmo tempo que uma grande luz parece surgir para Rick, a mudança do lendário diretor de cinema Roman Polanski para a casa ao lado da sua junto com sua mulher, Sharon Tate.

Basicamente é isso a história do filme, sem eu ter que entregar muito e ao longo de suas quase 3 horas de duração a história do filme não sai muito disso. Acompanhamos Rick na caçada por um bom emprego, tentando convencer diretores a aceitarem trabalhar com seu dublê, Cliff, após Cliff ter puxado briga com Bruce Lee, fracassos e tristezas serem compartilhados até que, finalmente, Rick se muda para a Itália, casa-se com uma italiana linda, realiza uma porrada de filmes e volta para os EUA, tudo isso acompanhando de seu dublê e melhor amigo, Cliff Booth.

A história continua, mas prosseguir seria entregar demais e eu não vou estragar mais a diversão de alguém que está lendo esse texto antes de assistir o filme, mas a questão é que esse é um filme difícil de se resumir. Primeiro, porque ele tem dois núcleos que não se encontram. Segundo, porque nada acontece de fato.

E é porque nada acontece de fato que podemos conhecer um pouco mais da genialidade de Quentin Tarantino. Enquanto que sua grande maioria de filmes acompanham uma narrativa mais ou menos linear, outros filmes não fazem isso, como Pulp Fiction e The Hateful Eight. Ainda assim, são filmes recheados de ação, especialmente Pulp Fiction, então fazer uma propaganda do filme não fica tão difícil.

Agora neste aqui, nada de fato acontece e quando já tinha se passado mais de uma hora de filme e o Brad Pitt estava consertando uma antena no telhado de uma casa sem camisa, eu pensei: "Essa porra é um slice of life!"

E por até ser, mas isso não se torna demérito, porque em mais de uma hora nada tinha acontecido e eu estava super entretido. Tarantino se tornou um mestre narrativo, se aprofundando cada vez mais nessa arte, a arte da boa narração e é por isso, pela sua maestria que ele recorre, cada vez mais, à narrações em off. Aqui acontece pouco, mas acontece e serve a um propósito meta narrativo.

Como o próprio nome do filme nos diz, o que vemos é um conto de fadas, mas ele não se revela até os últimos minutos do filme, quando a gangue de satanistas medíocres seguidores de Charles Manson decide invadir propriedades privadas, o que culminaria na trágica morte de Sharon Tate e seu bebê.

CulminarIA... ia... pois aqui não se trata da dura vida real, mas dos suaves contos de fada tão valorizados e cultuados na antiga Holywood, que não existe mais, diga-se de passagem e o próprio Tarantino teve sua parcela de culpa nisso, ao criar talvez a obra mais pós-moderna do cinema: Pulp Fiction e outras pérolas como Kill Bill e Bastardos Inglórios. São excelentes obras do cinema, mas jogam toneladas de cal sobre a antiga Hollywood dos sonhos de filmes como ...E o Vento Levou, Cantando na Chuva e A Felicidade Não Se Compra.

O que temos em Era uma vez em... Hollywood é além de um conto de fadas metamoderno, uma homenagem à antiga Hollywood, a indústria dos sonhos, que levou esperança a tantas pessoas e disso que se trata esse filme, esperança!

Era uma vez em... Hollywood começou como um filme estranho para mim, mas logo subiu no meio conceito, transformando-se no meu filme favorito do diretor.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Links Sortidos de Quarta #24

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Uma palavrinha de esperança de Hoppe.

Esse texto sobre a cidade murada de Kowloon nos apresenta sua fantástica história e ainda nos provém com uma forte reflexão acerca da internet.

Este texto começou como uma resposta a uma indelicada manifestação de um jornalista de Nova Iorque contra um time de Louisiana e terminou com um dos mais belos textos que já li sobre a importância do seu local de origem.

Infelizmente o mundo está tomado de idiotas...

Na semana passada o papado foi vítima de polêmica, mas como sempre, não passa de fogo de palha.

Ainda no tema católico, porque é tão difícil defender o óbvio hoje em dia?

E pra finalizar, só terminei esse podcast semana passada e apesar de seu tamanho assustador, vale muito a pena: Café Brasil estrelando o Líder Cast com Ozires Silva!

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Dica teórica: "Liberty or Equality: the Challenge of Our Times" de Erik von Kuehnelt-Leddihn (1952)

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Mais um livro deste excelente autor austríaco que já foi indicado aqui no blog com o estupendo Menace of the Herd, o qual já recomendei, mas reforço a recomendação.

Se em Menace of the Herd, Kuehnelt-Leddihn nos alertava sobre os malefícios de um regime da maioria e como isso pode dar errado, aqui ele aprofunda esse debate partindo da elaboração da ideia de igualdade, a qual ele prova ser incompatível com a liberdade individual. Não leva muitas páginas logo no começo do livro para ele esclarecer o seu ponto: a igualdade não deve ser confundida com equidade, um conceito que origina-se dentro do cristianismo e tem uma dimensão jurídica.

Equidade é igualdade de oportunidades, direitos e a adaptação das leis vigentes de forma a tornar a sociedade mais justa, não excluindo as qualidades intrínsecas de cada um, que pode ou não colocá-lo na frente de outro. Já igualdade é uma padronização do que seria justo para toda a sociedade, mas não é necessário pensar muito no quanto isso é problemático. Se por um lado, beneficiaremos um lado para se tornar igual ao outro, por outro temos que podar um lado para que ele se uniformize ao meio, minando assim a liberdade de diversas pessoas.

O ideal de igualdade, popularizado com a Revolução Francesa, se tornou o bastião da democracia. A partir do século 19 a função da democracia passou a ser espalhar igualdade a todos os seus cidadãos, contrariando, como bem fundamenta Kuehnelt-Leddihn, os ideais democráticos antigos, já plantados na Grécia Antiga e que motivaram a criação da constituição americana, que nunca foi democrática, mas aristocrática.

E aí o autor passa a problematizar as instituição democráticas, mostrando não só como elas são incompatíveis com a liberdade, como também são frágeis. Já que a democracia se sustenta sobre a lei da maioria e a maioria nunca é excepcional, mas ordinária, seus líderes só podem ser ordinários. Essa ordinariedade favorece um esvaziamento do conteúdo dessas posições de lideranças, se tornando vazias, cada vez mais suscetíveis a um carisma, que acaba por criar formas de governo autoritárias, cedendo ao populismo e caindo no totalitarismo. Kuehnelt-Leddihn então nos mostra que os regimes totalitários do século 20, encabeçados pela trindade malévola (nazismo, fascismo e comunismo) não são regimes excepcionais, mas consequências lógicas de uma democracia.

No entanto, isso é só o começo do livro. Ainda temos muitas páginas pela frente, onde ele discorre então sobre a possibilidade da liberdade florescer num Estado. Ao contrário da posição libertária que diz que nenhuma liberdade é possível dentro de um Estado, Kuehnelt-Leddihn mostra através de uma extensa lista de referências como a monarquia não apenas é compatível com o ideal de liberdade, como ela, de fato, favoreceu esse ideal na sua longa história junto da espécie humana.

Como é apontado nesse livro, a monarquia já existia antes do nascimento de Cristo e poderia ser encontrada de diferentes formas ao redor do mundo. Hoje temos na cabeça uma ideia de monarquia absolutista e hereditária quando pensamos no termo, tomadas pela democracia e colocadas num lugar puramente simbólico. Mas esquecemos que existiam (e de fato ainda existem) monarquias eletivas e constitucionais.

Historicamente o ideal de liberdade encontrou solo mais frutuoso em democracias. Os exemplos de abusos de poder são numerosos, mas se encontram numa escala de tempo muito maior do que a escala de tempo em que a democracia foi tomada como forma de governo ideal. E ainda que descrições da vida sob um monarca sejam consideradas abusivas para nossos padrões, muitas vezes o que nos surpreende estava perfeitamente previsto dentro da constituição de seus países. Então a discussão se torna bem menos uma questão de exemplos, mas uma questão de seguir uma linha lógica de raciocínio.

E é na estrutura dessa linha lógica que o autor se esforça e consegue montar. Tomando como exemplo a forma mais comum de monarquia (hereditária e constitucionalista), o que se conclui é a formação de uma família real que, ao se preparar para exercer o poder, obtém um conhecimento muito superior ao conhecimento médio sobre o povo que irá governar. Esse conhecimento é jurídico, geográfico, histórico e sociológico, mas com amplas possibilidades de se estender para outros ramos como economia, pintura, música, literatura, educação, saúde, entre tantos outros.

Sendo assim, um líder numa monarquia é muito mais preparado para ser líder, conhecendo assim profundamente sua área de atuação, inclusive sua limitação de poder. Isso favorece o conhecimento de uma maneira geral, pois quanto mais inteligente, mais ele poderá usar da lógica e do debate para chegar às suas conclusões. Tendo ele o seu lugar garantido, seu regime também favorece a proliferação de ideias divergentes às suas, pois ele não tem que se preocupar com o término de mandato e a construção de uma narrativa que o favorece perante os eleitores. Seu papel já está definido até os seus últimos dias. Não há a necessidade de uma homogeneização de pensamento (para se alcançar a maioria), mas uma convergência de pensamento para um bem comum.

Essa linha lógica não precisa, mas encontra exemplos históricos na longa lista de monarquias que antecederam a criação de nações-estado e sua divisão geográfica.

A explicação de Kuehnelt-Leddihn é muito maior e rico, sendo exposta aqui uma ínfima recapitulação do que mais me chamou a atenção em seu livro, até porque nos capítulos seguintes a essa elaboração da monarquia como regime aliado às liberdades individuais, recebemos uma senhora lição de sociologia com um detalhamento da natureza dos países católicos (ao mostrar que a religião é uma característica mais determinante na natureza dos povos), não apenas mais aliados às liberdades individuais, como também anárquicos, personalistas, imperativos, caridosos, independentes e intensos. A definição da natureza dos países católicos é contraditória, mas também o é a teologia católica, que, apesar de totalitária na estrutura, é liberal no trato.

E aqui podemos voltar ao conceito de equidade.

Assim o autor consegue diferenciar a natureza desses países com os países mais ao norte da Europa, que são protestantes. A partir daí ele traça uma linha que começa em John Huss, passa por Lutero, Calvino, definindo a natureza mais sentimental, rígida e secular dos países protestantes, culminando na criação das ideias que viriam a influenciar o pensamentos de nacionalistas ligados a partidos socialista na Checoslováquia.

Os líderes desses partidos iriam brigar entre si, dissolver e recriar os partidos um milhão de vezes até que o nazismo fosse criado na Alemanha. Kuehnelt-Leddihn passaria facilmente por um teórico da conspiração ao criar tantas ligações, mas é importante salientar que uma coisa não implica necessariamente na outra, por que afinal muitas implicações estão em jogo. No entanto, é importante salientar o cuidado que devemos ter com cada detalhe que falamos, pois ele pode gerar consequências desastrosas. A separação entre Igreja e Estado já se encontra na Bíblia, mas a distância foi não apenas reforçada, como solidificada pela reforma e isso deu uma abertura muito maior para ideias anti-clericais ou que buscavam uma mudança no comportamento de líderes religiosos. E é uma mudança no comportamento desses líderes que o nazismo queria com a criação do cristianismo positivo.

Como todo bom livro de contrastes de ideias políticas, Kuehnelt-Leddihn não deixa de criar a sua própria utopia, baseando-se nas repúblicas que ele via darem certo (ou o mais próximo disso) no seu tempo, que eram os Estados Unidos e a Suíça. Sua utopia é uma monarquia constitucionalista hereditária, sim, mas é também aliada a um forte federalismo, sem partidos políticos e com ingressantes na vida política participando de um treinamento de pelo menos dois anos.

O livro é genial e eu gostaria que ele estivesse vivo hoje, pois seria interessante ele ver as diferentes evoluções que os regimes totalitários sofreram, com a criação de agências de controle internacional, a dissolução de grandes ideologias e narrativas, mas principalmente, o exemplo de sucesso em países tão distintos como Botswana e Nova Zelândia.

Esse clássico pode ser baixado de graça aqui.

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Dica literária: "O Mestre e Margarida" de Mikhail Bulgákov (1967)

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O trabalho da vida de um escritor e dramaturgo ucraniano contrarrevolucionário, seguindo os passos do mestre Goethe, inspirado pelo Fausto e por uma vida desgostosa com o regimo stalinista, esse é O Mestre e Margarida, clássico de Bulgákov, que li no final do ano passado e inicio desse ano como parte do meu projeto de vida de leitura de clássicos russos no final de todo ano.

No entanto, já chegamos numa discussão complicado. Bulgákov era ucraniano, mas na época sua cidade natal, Kiev, fazia parte da União Soviética, portanto foi abraçado pela nação russa e passa despercebido por muita gente como um escritor russo, seu maior livro aparece em lista de muitas clássicos russos, mas a confusão é problemática e uma visita ao memorial ucraniano em Curitiba é o suficiente para explicitar isso.

Mas vamos ao que interessa: o livro conta as desventuras de Satã na capital da Rússia sob o regime soviético. Ele encontra com pessoas da alta classe artística de Moscou, sua identidade passando despercebida pela maioria das pessoas, mas deixando os mais sensíveis loucos, literalmente.

A obra é recheada de passagens irônicas, que marcam uma crítica mordaz a sociedade soviética, criada de maneira totalitária após a revolução russa. Para começar, iniciamos o livro com uma hilária discussão entre dois ateus com o diabo, o que nos leva para um livro dentro do livro, que nos conta a trajetória de Poncio Pilatos. Aos poucos, a história vai se desenrolando e ficamos sabendo que a sociedade artística de Moscou convidou o diabo para se apresentar a eles, Satã tem curiosidade na obra do Mestre, que conta a história de Poncio Pilatos e seu secto diabólico (formados por demônios travestidos de homens e gato) vai envolvendo Moscou em loucura e desespero.

O livro é um belo exemplo do realismo fantástico. No começo somos apresentados a realidade moscovita simples da primeira metade do século 20, mas logo as coisas fantásticas vão acontecendo, inicialmente as mortes, mas logo após passagens mais simbólicas e bizarras mesmo, que te deixam confuso e me fizeram meditar um pouco sobre isso.

Em longas discussões com minha namorada, minhas opiniões federalistas são sempre contrastadas com a "bagunça que isso iria gerar", até mesmo o maior exemplo político mundo atual, a Suíça, foi vítima dessa afirmação. Acontece que para mim é muito fácil abraçar essa bagunça, esse caos e a mesma coisa vale para a arte. O Mestre e Margarida é um livro que irá te deixar no escuro em muitas passagens e em diversos você terá que balançar os ombros e se deixar levar pela obra.

E ao se deixar levar, você irá notar que as pontas começam a se ligar, mas nem tanto, até porque a segunda parte não foi extensamente revisada como a primeira parte e isso é notável. Ainda assim, é um livro muito engraçado e muito divertido, o realismo fantástico contribui para isso.

Realismo fantástico que contrasta com o realismo socialismo, o qual o mestre é sua antítese. Não faltam críticas sutis ao regime soviético, desde simbolismos presentes nos nomes, como Ivan, o ateu que enlouquece logo nas primeiras páginas do livro e escreve um poema anti-cristão; até mesmo até os elementos soviéticos que podem passar despercebidos, como a cena onde o "gerente" do teatro tem que passar por diversos setores públicos para depositar o dinheiro que ganhou com as vendas de ingresso do teatro.

Bulgákov era extremamente descontente com a revolução russa e nunca escondeu isso, chegando a pedir pra sair do país e queimar o manuscrito deste livro, que ele sabia que jamais seria publicado em seu tempo. De fato não foi e foi publicado antes fora da Rússia comunista. De suas páginas, por baixo da sátira, encontramos uma crítica a uma realidade ímpar, mas que encontra paralelos ainda hoje, como as elites artísticas que abraçam discursos igualitários na superfície, mas totalitários na essência.

De toda forma, esse tipo de discussão é feita pós-leitura, pelo menos na minha visão. Enquanto se lê O Mestre e Margarida o melhor é se deixar levar pelos elementos fantásticos e o Satã de Bulgákov, que melhor personifica o elemento caótica que serve à Ordem.

Ótimo leitura pra começar 2020 com tudo.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Links Sortidos de Quarta #23

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Tome cuidado: simplicidade não é preguiça!

Para este ano está prevista a ressurreição de baleias nos EUA.

Henri Ford não deveria ser lembrado apenas como o criador do carro moderno, mas também como um protetor dos trabalhadores!

Na mesa área de debates, o salário mínimo continua lastimavelmente aumentando e é necessário discuti-lo para saber, por exemplo, porque ele é tão ruim para os jovens?

5 fatos sobre a Guerra do Paraguai.

O debate acerca da liberdade de expressão parecia já ter sido encerrado, mas recentemente ganhou novo fôlego. Não me posicionei quanto a isso, pois queria saber mais e esses dois textos me ajudaram muito a entender o tema: não, a liberdade de expressão não é absoluta!

Como em todo ano, o relatório da OXFAM saiu falando que o mundo está cada vez mais desigual. Fomos bombardeados por tanto tempo com isso que nem nos impressionamos mais, no entanto, esse ano, ao menos alguém lançou a real sobre esse relatório descuidado.

Pra finalizar, o melhor Meme Rewind de 2019, do mito Cyranek! Ficou parecendo um rewind oficial dos bons tempos.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Dica musical: "Carole & Tuesday Vocal Collection vol. 2" (2019)

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Lançado juntamente com a Netflix, o anime de Carole & Tuesday foi separado em duas partes e a segunda parte foi lançado às portas do Natal e com a segunda parte veio o segundo volume de suas canções e eu espero que não seja a última, pois ainda há músicas a serem cobertas.

Seguindo o esquema do primeiro volume, as músicas são apresentadas na mesma ordem em que foram apresentadas no anime, com um diferencial, algumas das canções apresentadas no anime não são as mesmas canções finalizadas no estúdio, mas como o Shinichiro Watanabe não conseguiu se decidir qual das versões ele gostou mais, ele acabou mandando incluir as duas nesse CD. Sendo assim, temos duas versões das canções Army of Two, Give You The World e After The Fire.

Não sei se cheguei a mencionar isso na minha dica para o anime, mas a segunda parte dá uma certa freiada nas canções e a variedade também se torna menor. Obviamente que isso se reflete no CD, não na quantidade de canções, porque afinal são 19 canções apresentadas nesse CD, mas na variedade.

Aqui temos apenas canções pop, das mais variadas vertentes. Encontramos desde o pop neo-clássico de Desmond, interpretado no CD por Marker Starling até o pop mais chiclete de Angela, interpretado por Alisa, passando por canções mais pop rock, como a já mencionada Army of Two e o pop vazio de Mother, o We Are The World marciano.

Não é um álbum para todos os gostos, assim como o anime não é para todos os gostos, mas foi o primeiro (e talvez único) álbum que me fez ouvir pop em 2020. Algumas das canções são verdadeiros diamantes e poderiam figurar em qualquer álbum musical de seus respectivos artistas sem o menor problema, pela vivacidade e criatividade.

Assim como o anime foi criado em torno das músicas, vemos em seus CD's (e esse não é exceção) que aqui é que se concentra a alma dos vários personagens de Carole & Tuesday. Algumas canções te fazem chorar, outras vão te fazer querer dar uma festa e outras irão te fazer dançar sozinho, mas o que é importa é que esse álbum é bom demais e merece ser ouvido e ouvido e ouvido e ouvido e ouvido e ouvido...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Dica musical: "Share a View" do Turnstile e Mall Grab (2020)

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E o blog começa a dica musical de 2020 com Turnstile novamente, dessa vez um EP de música... eletrônica?

Pois é... completamente inesperado, mas é isso mesmo. O Turnstile, a melhor banda de hardcore do momento se uniu com um dj australiano (!) Mall Grab para o seu primeiro lançamento de 2020, um EP de remixes... e não é que a mistura deu certo?

https://www.youtube.com/watch?v=YrfXJaV1VxM

São apenas 3 canções remixadas pelo dj, todas retiradas do último CD Time & Space, um dos melhores lançamento de 2018. São elas Generator, Real Thing e I Don't Wanna Be Blind, que ganharam novos nomes nas suas versões remixadas.

Yes I Need My Generator é a primeira canção desse EP e inicia ele de maneira bem assustadora, com a frase Generator repetida várias vezes ao som seco de uma batida qualquer de EDM, o que faz você pensar que essa é a primeira pedra numa longa estrada de decepções que virá para o Turnstile, afinal esse é um álbum de música eletrônica. A entrada de toques num tecladinho eletrônico não ajuda nessa primeira impressão, mas com um minuto de música, acordes de teclado num tom diferente mudam completamente a roupagem, nos agraciando com uma melodia dançante leve e divertida, além do tratamento dado ao refrão da música original carregar o remix de uma atmosfera misteriosa e ao mesmo nostálgico, transformando a canção numa forte batida eletrônica que há muito não vemos tocando nas baladinhas por aí.

Depois é a vez de The Real Thing entrar com fortes batidas graves, acompanhada de uma sequência de batidas agudas que dão a melodia. O ritmo é desconcertante, mas quando entram os vocais, a canção se torna dançante e muito imponente. Ela é sombria e se encaixa como uma luva num daqueles inferninhos de baladas grandes e metidas, onde o povo fica se batendo toda hora e mal dá pra dançar, com umas músicas que dão um certo medo e tensão.

https://www.youtube.com/watch?v=hZqJQjh1cJ8

Pra terminar I Wanna Be Blind já começa com os vocais ao som de batidas graves num tom que parece ter saído diretamente de uma festa do meio dos anos 2000. Aqui é onde mais temos vocais, aliados a toques harmoniosos e graciosos, formando um belo conjunto eletrônico, bem clássico para os padrões do EDM moderno e muito divertido de escutar.

Surpreendentemente a mistura de hardcore com música eletrônica ficou bacana e a melhor banda do momento nos agracia com mais um lançamento incrível que pode muito bem se encaixar como um dos melhores lançamentos do ano. Claro que a responsabilidade é do dj Mall Grab, mas se o nome da banda está no lançamento é porque deve ter algum dedinho da galera de Baltimore aí.

https://www.youtube.com/watch?v=d6CtS1UMVMk

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Por que as grandes empresas têm interesse em pequenos veículos de comunicação?

O The Intercept do Verdevaldo é financiado pelo dono do Ebay. Qual o interesse do dono do Ebay ter um veículo de jornalismo aqui no Brasil?

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A resposta é simples. Se a gente olhar para os livros de história, pegar, por exemplo a Renascença, a gente sabia quais eram as principais famílias que estavam influenciando o jogo político. Tinham lá os Medici e todo mundo identificava, a gente fala disso nos nossos livros de história e era uma base localizada, menor evidentemente, de acordo com a capacidade de comunicação da época. Tudo tranquilo! Todo mundo sabia que aqui os Medici iam influenciar, ali seriam os Borgia e essas famílias estavam no jogo e eram levadas em consideração quando qualquer analista político tentava entender o que ia se passar, por exemplo, em Florença.

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Depois houveram uma série de mudanças, a base do poder e a sua organização se transforma, mas a gente tem no Brasil, que é um país patrimonialista, que tem seus oligarcas tradicionais, também famílias claramente identificáveis que sempre influenciaram o jogo.

Qual foi a grande mudança?

A gente passa, sobretudo na virada do século 20, a gente passa por uma transformação das comunicações e das tecnologias, que permitem um alcance maior, ou seja, a esfera de ação de um indivíduo comum é expandida de modo magnífico! Sobretudo se o cara tem muito dinheiro e muita capacidade de financiamento.

E isso leva então a situação em que certas famílias e certos grupos têm a capacidade de influenciar (como influenciam em qualquer lugar) através de grupos de pressão, do controle da discussão e do debate público e chegamos à base que se chama globalismo.

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Mas pra explicar de modo mais didático, o globalismo é, de fato, uma forma de imperialismo. Só que é um imperialismo que tem aspirações totalizantes, ele quer englobar o mundo todo.

John Lennon, mundo sem nações, sem fronteiras é globalismo puro.

E tem isso mesmo, ao menos uma tentativa, com avanços nessa direção. Temos que lembrar que o fato de algo ser impossível não quer dizer que pessoas não irão tentar realizá-lo. Se pensarmos, por exemplo, no comunismo, que é comprovadamente impossível. O Mises, da Escola Austríaca, mostrou que o problema no socialismo é que o cálculo econômico necessário para identificar a alocação de recursos tornam o comunismo impossível, mas isso não significa que, em nome do comunismo, as pessoas possam buscar o poder, exercer o poder e uma certa sedução sobre as massas.

Com o globalismo não é diferente.

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O globalismo na sua base tem, digamos, objetivos muito nobres. Paz de um lado e prosperidade de outro. Paz & Prosperidade. Vai-se acabar com as guerras, que eles acusam falsamente de serem culpa dos nacionalistas; nunca foram, sempre foi culpa de projetos de poder globalistas ou imperialistas (se formos usar a linguagem tradicional), sempre é um cara como Hitler, querendo expandir o seu território e dominar outros países e seus povos.

O fato que temos é o seguinte: há uma tentativa, um esforço, de mudar a base de poder de uma base territorial, onde você tem um território claramente delimitado, uma população contida dentro daquele território, tendo voz e participação por meio dos seus representantes (ainda que de modo imperfeito) para uma base funcionalista, ou seja, você deixa de ter essa base territorial e agora não é mais o Brasil e os brasileiros que decidem como certos problemas serão resolvidos. Você tem funções, por exemplo você vai criando agências, fundações e instituições que cuidam de certos problemas, e.g. uma agência que cuida apenas de saúde, outra do clima, OMC.

[caption id="attachment_5430" align="alignright" width="169"]541ef710b0f2b93a334a0a1fdea78c5c David Mitrany[/caption]

E essa mudança de uma base territorial do poder para uma base funcionalista do poder foi inclusive teorizada por teóricos mainstream das Relações Internacionais, e.g. o David Mitrany, que o grande mentor do processo de integração da União Europeia, que fala justamente isso, pouco a pouco a gente vai tirando com a ideia de que um país, uma população não pode resolver sozinho os seus problemas, porque esses problemas se espalham através das fronteiras e precisamos de agências e organizações supranacionais que possam atacar esses problemas.

E qual o problema que isso vai criando?

Você começa a fazer isso como uma suposta solução e aí você vai criando agências e organizações que são formados por um corpo burocrático permanente, o qual tem uma agenda, uma ideologia e objetivos políticos, mas que não são eleitos, não tem nenhuma transparência. A maioria das pessoas jamais poderá saber quem toma as decisões na Unesco, na OMC, na Organização Mundial da Saúde, na própria União Europeia.

[caption id="attachment_5432" align="alignleft" width="250"]wendta_headshot_may2013_0 Alexander Wendt[/caption]

Quando pensamos, e.g. na ideia de chegar a um todo que direcione as diretrizes políticas temos a figura do Alexander Wendt dizendo claramente que ele propõe que se crie um governo mundial. Alexander Wendt é um dos 3 maiores nomes das Relações Internacionais atualmente. Aí você pega todos os analistas, os comentaristas, professores e acadêmicos dizendo "Olha aí a teoria da conspiração!", mas está lá nos professores, acadêmicos e pesquisadores que eles próprios usam como base. E muitas das vezes eles seguem nessa direção sem se dar conta, porque há uma promessa de Paz & Prosperidade, tirando o poder da base territorial, transferir para uma base funcionalistas e os problemas serão resolvidos tecnicamente.

Temos esse problema no Brasil, domesticamente, com a proliferação de agências que tomam decisões, supostamente, com base técnica e não com base política (e que não são, portanto, passíveis de um controle da população) e temos isso numa escala supranacional, se pegarmos os países que estão atentos a esse problema. O Reino Unido, por exemplo, fez um estudo pra levantar qual era a origem da maioria das propostas parlamentares que passavam pelo Parlamento Britânico, tradicional, poderoso e imponente. Mas eles descobriram que 70% dessas propostas tinham início fora do Reino Unido. Não eram pensadas por britânicos, por organizações e universidades britânicas, mas sim por grandes think tanks e organizações internacionais, que colocavam aquilo ali e o sujeito simplesmente pautava.

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Outro exemplo é quando pensamos na Base Nacional Comum Curricular. No momento em que isso começou a ser discutido aqui no Brasil, tínhamos o Common Core sendo discutida nos EUA, um currículo único, imposto de cima para baixo e todo mundo tem que seguir aquele mesmo currículo. E o mesmo sendo discutido na Itália, na França, no Reino Unido, etc...

Será que todo mundo teve a mesma ideia ao mesmo tempo ou será que a gente tem realmente agências e agentes capazes de influenciar as pessoas a seguir certas diretrizes.

[caption id="attachment_5435" align="alignright" width="232"]julian_huxley_1964 Julian Huxley[/caption]

Um exercício que fica é ler tudo o que o Aldous Huxley escreveu, mas atentar-se a uma coisa que costuma não aparecer na biografia dele é o que o irmão dele, Julian Huxley, foi o fundador da Unesco, pensando cultura, educação e tudo mais. Muito que o A. Huxley denuncia nos livros dele, as distopias, era justamente lendo os documentos, os manifestos e o trabalho que o irmão dele fazia. Ele mesmo tem comentários dizendo isso.

Então fica muito claro que lá atrás, em 1946, quando a Unesco foi fundada, o Huxley já enxergava que isso nos levaria a um mundo distópico sob o nome de um tecnicismo, que controlaria todos os problemas com soluções perfeitas.

Texto retirado da poderosa e certeira fala de Filipe G. Martins no Pânico na Rádio. Recomendo assistir o programa todo.