quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Dica cinematográfica: "Era uma vez em... Hollywood" (2019)

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Quando assisti esse filme pela primeira vez o considerei muito bom, mas fiquei comparando-o com outros filmes do Tarantino e tentando colocá-lo ao lado deles para ver o que eu achava de fato dele. A questão é que o filme foi crescendo em mim e eu descobri que ele não pode ser comparado com outras obras do aclamado diretor.

Era um vez em... Hollywood conta a história de Rick Dalton, ator de cinema frustrado com os pobres resultados obtidos em sua carreira e Cliff Booth, seu melhor amigo e dublê profissional. Acompanhamos eles enquanto eles entram e saem de trabalhos pouco rentáveis e gloriosos, ao mesmo tempo que uma grande luz parece surgir para Rick, a mudança do lendário diretor de cinema Roman Polanski para a casa ao lado da sua junto com sua mulher, Sharon Tate.

Basicamente é isso a história do filme, sem eu ter que entregar muito e ao longo de suas quase 3 horas de duração a história do filme não sai muito disso. Acompanhamos Rick na caçada por um bom emprego, tentando convencer diretores a aceitarem trabalhar com seu dublê, Cliff, após Cliff ter puxado briga com Bruce Lee, fracassos e tristezas serem compartilhados até que, finalmente, Rick se muda para a Itália, casa-se com uma italiana linda, realiza uma porrada de filmes e volta para os EUA, tudo isso acompanhando de seu dublê e melhor amigo, Cliff Booth.

A história continua, mas prosseguir seria entregar demais e eu não vou estragar mais a diversão de alguém que está lendo esse texto antes de assistir o filme, mas a questão é que esse é um filme difícil de se resumir. Primeiro, porque ele tem dois núcleos que não se encontram. Segundo, porque nada acontece de fato.

E é porque nada acontece de fato que podemos conhecer um pouco mais da genialidade de Quentin Tarantino. Enquanto que sua grande maioria de filmes acompanham uma narrativa mais ou menos linear, outros filmes não fazem isso, como Pulp Fiction e The Hateful Eight. Ainda assim, são filmes recheados de ação, especialmente Pulp Fiction, então fazer uma propaganda do filme não fica tão difícil.

Agora neste aqui, nada de fato acontece e quando já tinha se passado mais de uma hora de filme e o Brad Pitt estava consertando uma antena no telhado de uma casa sem camisa, eu pensei: "Essa porra é um slice of life!"

E por até ser, mas isso não se torna demérito, porque em mais de uma hora nada tinha acontecido e eu estava super entretido. Tarantino se tornou um mestre narrativo, se aprofundando cada vez mais nessa arte, a arte da boa narração e é por isso, pela sua maestria que ele recorre, cada vez mais, à narrações em off. Aqui acontece pouco, mas acontece e serve a um propósito meta narrativo.

Como o próprio nome do filme nos diz, o que vemos é um conto de fadas, mas ele não se revela até os últimos minutos do filme, quando a gangue de satanistas medíocres seguidores de Charles Manson decide invadir propriedades privadas, o que culminaria na trágica morte de Sharon Tate e seu bebê.

CulminarIA... ia... pois aqui não se trata da dura vida real, mas dos suaves contos de fada tão valorizados e cultuados na antiga Holywood, que não existe mais, diga-se de passagem e o próprio Tarantino teve sua parcela de culpa nisso, ao criar talvez a obra mais pós-moderna do cinema: Pulp Fiction e outras pérolas como Kill Bill e Bastardos Inglórios. São excelentes obras do cinema, mas jogam toneladas de cal sobre a antiga Hollywood dos sonhos de filmes como ...E o Vento Levou, Cantando na Chuva e A Felicidade Não Se Compra.

O que temos em Era uma vez em... Hollywood é além de um conto de fadas metamoderno, uma homenagem à antiga Hollywood, a indústria dos sonhos, que levou esperança a tantas pessoas e disso que se trata esse filme, esperança!

Era uma vez em... Hollywood começou como um filme estranho para mim, mas logo subiu no meio conceito, transformando-se no meu filme favorito do diretor.