terça-feira, 15 de setembro de 2020

Dica quadrinística: "Slam Dunk" (1990-1996)

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Finalmente terminou a publicação de Slam Dunk no Brasil pela Panini numa edição de luxo que não deixa nada a desejar para as expectativas criadas em torno dela, mas será que a história valeu todo o investimento?

Slam Dunk conta a história de Hanamichi Sakuragi, um valentão que só se mete em confusão com outros valentões do escola colegial onde estuda, o Shohoku. No entanto, o rapaz tem um coração romântico e após levar mais um fora de uma menina que gostava, se apaixona por Haruko Akagi, que lhe apresenta o basquete e afim de impressionar a menina, Sakuragi entra no time de basquete do colégio.

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O problema é que o time de basquete é constituído pelo irmão mais velho de Haruko e pela sua paixão platônica, Kaede Rukawa, o qual também é um sisudo astro do basquete colegial. Takenori Akagi, o irmão mais velho de Haruko tem a ambição de fazer do Shohoku o campeão do campeonato intercolegial nacional e acaba aceitando a entrada de outros encrenqueiros no time, como Mitsui e Miyagi.

A partir daqui teremos spoiler, TEJE AVISADO!

Do começo do mangá até a entrada e formação de todo o time, acompanhamos um time desastrado lentamente entrar em ordem. E por lentamente, eu quero dizer, shonen-namente lento! As partidas de basquete, que no mundo real duram menos que a metade de uma partida de futebol, duram volumes inteiros, aprofundando-se ricamente em cada um dos personagens, cada um com seu próprio drama, passado e motivação. Essa lentidão serve pra criar uma aproximação do leitor com cada um dos membros do time e, ao final do volume 16, eu literalmente chorei.

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Imagine um filme de esporte muito emocionante... imaginou? Pois é, Slam Dunk é ainda melhor. O Shohoku é um time azarão, vindo de uma escola normal com um capitão (Akagi) que tem um sonho muito grande para a escola em que se encontra. No entanto, com a chegada de Rukawa, um astro do basquete, vê a oportunidade de entrar no campeonato. Sakuragi é um desastrado, mas suas habilidades evoluem muito e, acreditando nas palavras da irmã, Akagi decide dar uma chance para o ruivo. Por fim, Miyagi entra no time após se envolver numa briga com Sakuragi, mas se torna seu amigo e Mitsui, que havia perdido o controle de sua vida, volta para o time. Todos se reúnem em torno do técnico Anzai, que também tem seus próprios dramas, baseados num ex-aluno numa época em que era exigente demais. Aos poucos e depois de algumas derrotas feias, o time vai ganhando espaço, vencendo os jogos, conquistando campeonatos e sempre se superando. Nesse quesito é o típico shonen onde os personagens principais vão tirando poder do rabo e vencendo todos os vilões do nada, mas há uma diferença subtancial: esse não é um shonen comum.

Slam Dunk não se passa numa realidade paralela com poderes especiais, muito pelo contrário, é um mangá bem pé no chão e, ao mesmo tempo em que nos aprofundamos nos dramas pessoais de cada um dos jogadores titulares do Shohoku, mergulhamos também na arrogância dos jogadores dos times adversários que não acreditam que podem perder para um time pequeno como o Shohoku. Nós torcemos a cada página para a descoberta de novas habilidades, para a superação dos desafios e as vitórias que os azarados vão conquistando.

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E tudo tem um custo. Ao final do mangá, o time alcança um nível que, outrora, seria impossível de ser alcançado não fosse o fato de que, para isso, eles sacrificam os seus sonhos. É semifinal, se não me engano, do campeonato nacional e eles estão enfrentando o melhor time do Japão, todos dão tudo de si e nosso anti-herói ruivo sofre um acidente e, literalmente, sacrifica as costas para poder ganhar do melhor time do Japão. O jogo é incrível, super bem desenhado, com uma narrativa incrível guiada pelas sábias e talentosas mãos de Takehiko Inoue, mas é decepcionante.

Não é o jogo da final e o Shohoku acaba perdendo o campeonato. Sakuragi não joga basquete, embora ao final ele prometa para si mesmo que vai voltar a jogar, Akagi não consegue a bolsa esportiva pra jogar basquete, Rukawa não vai para os EUA e Miyagi e Mitsui são os únicos que continuam jogando basquete no Shohoku, ainda um time azarão, ainda não sendo uma potência no basquete japonês, basicamente começando tudo de novo.

É um pouco decepcionante, pois a relação que criamos com esses personagens é muito forte, mas isso é ver o copo meio cheio, pois ao longo do último jogo vemos um time que cresce unido, com jogadores confiando um nos outros e fazendo de tudo pelo time, não só por eles mesmos, mas para que todos pudessem ganhar e se dar bem. É uma baita lição de companheirismo, resiliência e vivência pela comunidade.

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O mangá é desenhado por Takehiko Inoue e é fruto da paixão do autor por basquete. Inoue tem mais fama, atualmente, pelo seu mangá de samurai, Vagabond, mas o traço dele é muito diferente em Slam Dunk. Ao invés do traço rabicado encontramos aqui um traço muito firme, detalhista e com um pé no realismo. A arte é incrível e na atual edição que a Panini acabou de lançar temos o prazer de ver rabiscos do autor e páginas coloridas. Infelizmente, na versão japonesa dessa edição de luxo, temos páginas pintadas mas apenas de vermelho, que é a cor do Shohoku e isso não foi mantido na edição brasileira. Uma pena e faz realmente muita falta, pois essas páginas são substituídas por terríveis tons de cinza bem mequetrefes, os quais não fazem jus ao preço que pagamos. Em todo caso, são detalhes que não diminuem o valor artístico dessa obra sensacional.

A sensação de ver o final dessa série que me acompanhou pelos últimos 5 anos é amarga, mas ao mesmo é um alívio não ter mais que gastar dinheiro com os quadrinhos inflacionados da Panini, como é o caso de Lobo Solitário, o outro mangá que estou colecionando.